LIÇÕES
FINLANDESAS 2.0 (DE PASI SAHLBERG)
Tradução,
entre aspas e em itálico, e
comentários [entre colchetes]: Eduardo Simões
https://www.hastac.org/sites/default/files/styles/main/public/upload/images/post/assessment_comic_-_climb_tree.jpg?itok=P0QuHorB
https://www.hastac.org
A
representação mais exata que eu encontrei sobre os testes de avaliação que no
presente torturam professores e alunos em nossas escolas, e que definem índices
como SARESP, IDEB, IDESP, AAP, etc. O avaliador diz aos animais à sua frente: “Para
haver uma seleção justa é necessário submeter a todos ao mesmo exame: Por favor
subam naquela árvore!”
Comentário de Diane
Ravitch
“O Presidente Barack Obama e o Ministro da
Educação Arne Duncan foram defensores entusiásticos de “reforma” no ensino. Seu
programa, chamado de “Corrida para o topo”, foi lançado em 2009, e apresentava
os seguintes ingredientes chaves: testagens [contínuas avaliações, que só
podem ser feitas, por motivos óbvios, por meio do sistema eufemisticamente
chamado de “múltipla escolha” ou prova “objetiva”], controle [ou centralização],
seleção. Os educadores foram pegos de surpresa, uma vez que eles esperavam que a
proposta de Obama acarretasse o fim do tão odiado programa do ex-presidente
George Bush, “Nenhuma criança para trás” (NCPT). Porém, o programa de Obama foi
montado justamente sobre as bases do NCPT. Ao invés de extinguir os testes de
alta performance, o Corrida para o topo aumentou ainda mais a sua importância.
Agora, não somente alunos e escolas seriam medidos pelos testes, mas também
professores poderiam receber bônus ou serem demitidos em função de seus
resultados”.
[O
teste de alta performance é uma criação de prestidigitadores americanos, gurus
da nova era da gestão empresarial, todos eles confortavelmente instalados, que
sobrecarrega de estresse e responsabilidades os testados, ainda mais porque em
função dos resultados desses testes, em geral de múltipla escolha, o futuro de
uma criança ou um profissional pode ser definitivamente sepultado]
“Uma matéria de capa do Newsweek Magazine,
nesta primavera [em 2010], dizia:
“Nós devemos demitir os maus professores”, como se asa escolas estivessem
lotadas de “maus” professores. Nesse outono, o filme “Esperando pelo superman”
foi lançado com uma propaganda massiva. Sua mensagem era: as nossas escolas
públicas estão falhando, e a única esperança para uma criança presa em uma
escola pública “falha” é emigrar para uma escola administrada pela iniciativa
privada” [a chamada Charter School,
cujo prédio pertence ao Estado mas a administração é entregue a uma empresa
privada]
“Vários estados como Michigan, Wisconsin e
Indiana voltaram atrás em acordos coletivos, barganhando direitos, e os
sindicatos de professores se tornaram bodes expiatórios, acusados pelos baixos
índices nos testes e pelos altos custos da educação, em virtude dos
auxílios-pensões e gratificações a professores”.
[alguma
diferença da caça às bruxas levadas a cabo no Brasil, em especial em São
Paulo?]
“O que muitos educadores americanos amam em
Lições finlandesas 2.0 é que elas são o retrato de uma realidade alternativa,
onde se respeita o professor e se os capacita para fazer um trabalho melhor...
Sahlberg reconhece que a experiência finlandesa em educação contrasta com o que
acontece nos EUA e em outros países, orientados por movimentos educacionais que
reforçam os controles e a seleção, que ele chama de Movimento Global de Reforma
Educacional (MGRE).
Sim, enquanto EUA,
Inglaterra e outros países
[Brasil e São Paulo, especialmente] estão
contaminados pelo MGRE, Lições finlandesas 2.0 são a desinfecção [existe
melhor comparação?]. Elas nos lembram que
uma nação pode construir um admirável sistema escolar, se focar a sua atenção
nas necessidades das crianças, se seleciona e prepara bem a seus professores,
se constrói comunidades educacionais não apenas fisicamente atraentes, mas que
também são capazes de recuperar a alegria de ensinar e aprender”.
Comentário de Andy
Hargreaves
[após
fazer uma breve síntese dos percalços da educação americana na segunda metade
do século XX, sempre a correr atrás de suas congêneres opostas: a soviética nos
anos 60 e a chinesa, mais recentemente, Andy Hargreaves conclui] Apesar de já termos percorrido duas décadas
de reforma educacional, tudo que os EUA, e outros países de cultura
anglo-saxônica, fizeram foi confirmar aquele dito popularizado por Einstein:
“se você apenas acrescenta mais do mesmo, você não pode esperar um resultado
diferente”. Força, pressão, ameaça, intervenções de cima para baixo, destaques,
competição, modelagem, controle por meio de exames, facilitar e acelerar a
aprendizagem, enquadramento de escolas fracas, demissão de professores e
diretores ineficientes e novos começos com novos professores, em escolas
recentemente criadas, são estratégias que nesses últimos vinte anos vêm sendo
continuamente propostas e repropostas, com o mesmo vigor e determinação”
[não é isso que copiam de forma tão escancarada, salvo detalhes, os governos de
Brasil e São Paulo?].
[Após
chamar o programa de Obama de “Corrida dos lemingues ao topo”, ironizando a
corrida lendária desses roedores do estremo norte para o mar, onde morrem
afogados, Hargreaves cita um crítico da reforma de Obama: Fullan] A estratégia [de Obama], diz Fullan, dá pouca ou nenhuma atenção à
capacitação de diretores e professores ou tenta integrá-los como em um sistema,
antes se baseia na premissa falsa de que a qualidade do ensino melhora
automaticamente em um sistema de recompensas competitivas e se apoia num modelo
muito equivocado de gestão, onde cada gestor é responsável exclusivo pela sua
unidade escolar e o único responsável pelos resultados, enquanto compete com
outros diretores por, criando feudos, ilhas, nas escolas, desestimulando esses
profissionais a ajudarem uns aos outros... O plano [de Obama] promove a entrega da gestão de escolas
públicas para iniciativa privada, mesmo quando as evidências mostram não haver
diferenças consistentes entre estas e as públicas, e que elas simplesmente
“atraem os melhores alunos das comunidades pobres [cujos pais estão
sedentos para verem seus filhos numa boa escola privada, trombeteadas como
“melhores” pelas autoridades educacionais, de lá e de cá].
“Yong Zhao, reconhecida autoridade americana
em reformas educacionais na China e no Sudeste Asiático, assinala que a
China... está descentralizando o seu currículo, diversificando a sua avaliação
[enquanto nos EUA, e aqui, observa-se o monopólio, até por uma necessidade
prática, do sistema “múltipla escolha” ou prova “objetiva”], encorajando a inovação e a autonomia
local... enquanto a China descentraliza e Singapura busca promover um ambiente
de criatividade na escola, insuflado pelo slogan “Ensine menos e aprenda mais”,
os americanos seguem submissamente “na direção do autoritarismo... (Zhao, 2009)””
[isso é tanto mais irônico, porque os americanos entraram nesse autoritarismo
todo tentando copiar as nações orientais, em especial japoneses e coreanos, dos
anos 80, que já apresentavam índices de aprendizagem melhores em testagens
internacionais, se é que essas testagens merecem confiança]
[OBS:
É interessante considerarmos as críticas de Diane Ravitch e Andy Hargreaves ao
sistema americano de ensino, porque é exatamente este sistema que nós
procuramos reproduzir aqui no Brasil, em sua versão mais diluída e
aparentemente mais bem-sucedida... no PISA...: o sistema “australiano”.
Hargreaves e Ravitch, menos manhosos e mais transparentes, e também mais “por
dentro” dessa realidade, tratam esses sistemas todos como uma coisa só, chamada
“países anglo-saxões”. É sempre mais do mesmo!]
[Após
apresentar o autor do livro, Pasi Sahlberg, Hargreaves apresenta alguns
segredos do sucesso finlandês]
“
* Eles desenvolveram uma filosofia própria
de mudança social e educacional vinculadas à inclusão e à criatividade, sem fazer
concessão a visões bitoladas e estandardizadas vindas de fora.
*
integraram e uniram professores muito bem
treinados, e com uma alta qualificação acadêmica, com títulos de Mestrado e Doutorado,
muito motivados a cumprir sua missão social com autonomia e todo o suporte que
necessitam – compare-se isso com a facilidade de ingresso e formação às pressas
[em São Paulo temos o costume de suprir as carências de professores em cursos
de fins de semana ou palestras pela TV!], além
da intensa rotatividade dos professores, como acontece na Inglaterra e Estados Unidos[e no Brasil].
*
há uma estratégia especial de educação inclusiva
onde aproximadamente metade das crianças recebem algum tipo de reforço pelo
menos uma vez durante a educação básica de nove anos, ao invés de uma estratégia
de educação especial baseada na identificação legal, colocação, e rotulagem,
favorecido pelos anglo-saxões [no sistema americano, a criança deficiente
ou superdotada é logo identificada e recebe tratamento especial, em detrimento
de sua integração ao grupo, em especial as do segundo grupo]
*
eles desenvolveram nos professores a
responsabilidade e a capacidade de, em grupo e com autonomia, de desenvolver
tanto o currículo como a avaliação diagnóstica, mais que apenas seguir um
currículo prescrito, escorado por testes de avaliação estandardizados, impostos
pelo governo central.
*
eles ligaram a reforma educacional ao
desenvolvimento criativo da competitividade econômica assim como o estímulo à
coesão social, inclusão e solidariedade comunitária dentro da sociedade
nacional.
[O
último parágrafo de Hargreaves é valioso e cabe como uma luva no nosso sistema
escolar, em especial São Paulo] Uma das
formas dos professores melhorarem o seu trabalho é trocando experiências uns
com os outros. Escolas melhoram realizando trocas com outras escolas. Nós temos
despendido décadas estimulando o isolamento de nossos professores dentro de
nossas escolas. É tempo de acabar com a ideologia da diferenciação ou do
destaque dentro dos Estados Unidos e nações anglo-saxônicas, se nós queremos
fazer reformas que realmente inspirem os nossos professores a melhorar a
aprendizagem de todos os nossos alunos – em especial aqueles que têm mais dificuldades
[massacrados nos EUA, abandonados por aqui]. Nesse quesito em especial Pasi Sahlberg é um dos melhores professores do
mundo.
[a
quebra da unidade dos professores e do sistema é feita, aqui em São Paulo, por
meio dos exames para receber aumento de salários, pelo sistema de bônus ligado
a resultado de provas, pela classificação das escolas de acordo com SARESP e
outras pseudoavaliações, pelo distanciamento hierárquico do cargo de diretor, inatingível,
como se fora um “feitor” dentro das escolas].