Pré-Hist

Índice Cronológico

Olduvai - Lucy - Homem de Java - Caverna do Lobo - Naturak - Homem de Flores 


GARGANTA DE OLDUVAI (1,9 MILHÕES DE ANOS-15.000 A.C.)

Prof Eduardo Simões

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ce/Olduvai_Gorge_or_Oldupai_Gorge.jpg/1920px-Olduvai_Gorge_or_Oldupai_Gorge.jpg
Fonte Wikipedia

A paisagem agreste, rude, da depressão conhecida como Garganta de Olduvai, situada no norte da Tanzânia, um país africano, tem surpreendido anos após ano a comunidade científica internacional, pelos seus vestígios arqueológicos espetaculares, sendo também conhecida como “o berço da humanidade”, nome advindo da extrema antiguidade dos restos humanoides aí encontrados. Olduvai se caracteriza também pela enorme diversidade e quantidade de material fóssil que já revelou. É a mina de ouro dos paleoantropologistas.
A depressão de Olduvai assemelha-se a um grande e comprido buraco, tipo um canal, escavado na terra, onde, no passado, uns dois milhões de anos atrás, havia um imenso lago. Posteriormente esse lago foi gradualmente encoberto por camadas de cinzas vulcânicas e drenado, denunciando uma atividade dessa natureza poucas vezes igualada em outas partes do mundo, além de muitos terremotos.

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Fonte Wikipedia
No mapa topográfico acima a parte azul maior correspondente ao lago Eyasi (um lago estacional, isto é: só se forma em certas estações do ano, depois seca); a menor corresponde ao lago Manyara; a grande cratera arredondada corresponde à chaminé do vulcão inativo Ngorongoro, a maior cratera de vulcão inativo, intacta, do mundo, com 260 km² de área. A garganta do Olduvai são dois traços negros se cruzando perto do Ngorongoro. Várias outras formas arredondadas, crateras de vulcões extintos, acima do Ngorongoro, denunciam a intensa atividade vulcânica do passado.
Mas o que torna a Garganta do Olduvai tão importante, arqueologicamente, são os achados de diversos fósseis humanos muito antigos, além de ferramentas líticas, as mais antigas já encontradas. Entre os espécimes de hominídeos encontrados em Olduvai salientamos:

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Fonte Wikipedia
Os indícios humanoides mais antigos encontrados em Olduvai se referem ao Homo habilis (do latim ‘homem hábil’, dado ao encontro de artefatos de pedra associados aos fósseis deles, principal indício que não eram animais comuns, além de bípedes), e estendem a um período que vai de 1,9 milhão de anos a 1,2 milhão de anos atrás. Há controvérsia se o Homo habilis seria um ancestral direto do homem moderno ou seria uma espécie independente que não vingou.

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Fonte Wikipedia
O Homem habilis de Olduvai conviveu por longo tempo com outra espécie de hominídeo, o Paranthropus boisei (do latim, ‘homem paralelo de Boisei’, referente ao antropólogo Cherles Boise, que ajudou financeiramente a custear a expedição que descobriu os fósseis do paranthropus), cujo crânio apresenta um rosto muito largo e uma calota bem estreito. Com o cérebro 100 cm³ menor que o do habilis, esse hominídeo extinto devia ter menos recursos que os seus vizinhos. Os cientistas acreditam, pelo estudo de sua dentição, que eles tinham uma dieta predominantemente vegetal, com o acréscimo de insetos, semelhante a dos primatas selvagens e macacos, diferente do habilis que às vezes agia como carniceiro oportunista, ingerindo maiores quantidades de proteínas, o que permitiu a esse último desenvolver melhor a inteligência. Pelo menos essa é a teoria atual. O Paranthropus viveu em Olduvai de 1,8 milhão a 1,2 milhão de anos atrás.


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/23/Homo_erectus.JPG/640px-Homo_erectus.JPG
Fonte Wikipedia
O último morador extinto da Olduvai foi o Homo erectus, que por lá esteve de 1,2 milhão a 700 mil anos atrás. Apesar da semelhança física conosco, de ser um notável construtor de ferramentas e de dominar a produção e o uso consciente de fogo, não há certeza ainda se ele seria um antepassado direto do homem moderno, cujos primeiros representantes chegaram a Olduvai há 17 mil anos!

(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br) 


LUCY (3,18 MILHÕES DE ANOS)

Pof Eduardo Simões


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/31/Lucy_blackbg.jpg/220px-Lucy_blackbg.jpg
Fonte Wikipedia

Em 1974, foi descoberto na localidade de Hadar, 159 km ao norte de Adis Abeba, capital Etiópia, o conjunto de ossos fossilizados acima, que causou furor nos meios evolucionários. Era um indivíduo da espécie extinta Australopithecus afarensis, identificado como uma fêmea, embora haja controvérsia a esse respeito, com 1m de altura, uns 20 aos de idade, 27 kg de peso. Seu crânio era muito parecido com o de um chimpanzé, mas seu volume craniano era razoavelmente maior: entre 375 e 500 cm³ - constatado em ossos dessa espécie descobertos em outros lugares – e uma pélvis típica de animais que andam eretos; exclusividade humana. O maior impacto, porém, veio quando foi constatada a idade dos fósseis: 3,18 milhões de anos!
Até aquele momento, a tese mais aceita entre os neodarwinianos era de que uma mudança climática, um resfriamento, teria provocado o desparecimento de muitas florestas na África, na região onde foram achados os fósseis hominídeos mais antigos, obrigando aos nossos remotos ancestrais, ainda apegados ao regime arborícola, a tentar sobreviver também no solo nu, para pegar alimentos, principalmente fontes de proteínas (pequenos roedores e insetos maiores), mais expostos aos ataques de ferozes predadores. Era fundamental que eles tirassem partido de seu órgão de sentido mais importante: a visão, e para isso ele teria desenvolvido a postura bípede para poder avistar mais rapidamente a chegada dos predadores – valendo aqui a premissa darwiniana da seleção natural: aqueles que sofreram transformações estruturais, casuais, mais bem sucedidas: o alargamento da pélvis, sobreviveram. Ora, os dados da paleoclimatologia coincidiam com os dos mais antigos achados fósseis ate ali.
Foi justamente isso que Lucy e o Australopithecus afarensis negaram com a sua antiguidade, pois na época em que eles existiram, muito mais antiga do que se imaginava, as regiões onde os achados foram feitos estavam cobertas por densas florestas. O que teria feito essa raça de primatas largar o conforto, e a proteção do alto das árvores para correr tantos riscos no solo? Qual o sentido do bipedismo num ambiente de mata fechada? É muito mais vantajoso ter uma visão do alto! Foi uma “opção”, negando o caráter passivo do evolucionismo darwiniano, ou devemos esperar outra coisa?

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Fonte Wikipedia


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/32/A.afarensis.jpg/320px-A.afarensis.jpg
Fonte Wikipedia

Duas reconstituições presumidas do Australopithecus afarensis. No topo uma reconstituição forense, acima, uma fêmea da espécie, nos apresentando a forma mais provável de Lucy quando era viva – ela ganhou esse nome por causa da música “Lucy in the Sky with Diamonds”, uma controvertida música de John Lennon, dos Beatles, que, segundo alguns, tocava no rádio durante a descoberta dos fósseis.
Alguns dados da espécie são os seguintes: o macho era maior que a fêmea, dimorfismo sexual, tendo em média 1,5 m de altura e pesando 49 kg, enquanto elas variavam em torno de 1 m e pesavam 29 kg, em média. Eles, aparentemente, viviam tão bem me árvores como no cimo das árvores, e sua dieta devia ser predominantemente vegetal, enriquecida com pequenos insetos e lagartos, além de carniceiros eventuais. Muitos cientistas acreditam que o consumo de proteína animal, proveniente do consumo de carne, ajudou a aumentar o tamanho do cérebro e, consequentemente, a capacidade mental do homem, se é que essas duas coisas estão necessariamente relacionadas.


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Fonte http://news.nationalgeographic.com

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http://www.odec.ca


No topo, a reconstituição de mais um achado espetacular da arqueologia moderna: uma criança afarensi, encontrada em Dikka, na Etiópia, em 2000. Essa criança, chamada de “bebê de Lucy” (Lucy’s baby), é na verdade o seu tataravô remoto, pois é uns 120 mil anos mais velho do que ela! E a semelhança de alguns de seus ossos com os dos símios é impressionante, e foi chamado de “Selam”, que em língua etíope quer dizer "paz". Na foto acima aparece o descobridor de Selam, o arqueólogo etíope Zeresenay Alemseged, com uma parte de sua descoberta: o crânio da criança.


HOMEM DE JAVA

Prof Eduardo Simões

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/29/The_most_ancient_skeletal_remains_of_man_Plate_1.png/400px-The_most_ancient_skeletal_remains_of_man_Plate_1.png
Fonte Wikipedia

Em agosto de 1891, auxiliado por dois sargentos do exército colonial holandês, comandando uma equipe composta por presidiários, os únicos que se poderia conseguir para uma missão como essa, a custo praticamente zero, o médico holandês Eugène Dubois conseguiu descobrir alguns ossos muito antigos: uma calota craniana, um dente molar e um fêmur, pertencentes a um animal, visivelmente primata, cujos estudos anatômicos comprovaram que tinham uma postura perfeitamente ereta, além de similaridades tanto com os humanos como com os macacos. Na foto vemos a curva do rio Bengavian, perto de Trinil, em Java, na época das escavações. O pequeno quadrado branco, bem no início do declive, na curva, assinala o local onde foi encontrado o fêmur, enquanto o local da calota craniana está marcado pelo quadradinho, próximo ao telheiro.
Seguindo uma classificação criada após uma descoberta dente fóssil na Índia em 1878, Dubois a princípio batizou o seu achado de Anthropopithecus, “homem-macaco”, julgando-o mais próximo dos macacos que dos homens, mas em seguida, após refazer os dados sobre a capacidade craniana da nova criatura (uns 940 cm³, quando o maior cérebro dos primatas não humanos, o dos gorilas, possui no máximo uns 550 cm³), Dubois começou a defender a tese de que ele seria uma espécie de transição entre o homem e os macacos, tal como essa questão era posta naquele tempo; a idade do fóssil e da espécie foi avaliada em uns 500 mil anos, e foi ‘rebatizado’ para Pithecanthropus erectus, “homem-macaco erectus”, ou “Homem de Java”. Era assim que aparecia nos antigos livros de história.
Muita coisa mudou desde então e hoje se sabe que a evolução humana é muito mais complexa do que imaginavam Dubois e a sua geração, novas descobertas em Java (em Solo, Monjokerto e Sangiran) e em outros lugares, comprovaram que essa espécie é muito mais antiga, datando de até 1,8 milhão de anos, e o seu nome científico foi mudado definitivamente, cremos, para Homo erectus erectus, ficando em aberto a discussão se é ou não um de nossos ancestrais diretos.

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http://www.solopos.com


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Fonte http://arsip.tembi.net/

As imagens acima mostram um diorama, uma grande reconstituição em três dimensões, de um grupo de homens de Java no museu de Sangiran. As visitantes aparecem com a cabeça encoberta por lenços porque a ilha de Java pertence à Indonésia, e esta é um país de cultura islâmica. Essas imagens apresentam aquilo que se supõe ser um pequeno grupo deles, cujos membros se achavam ligados, provavelmente, por laços de parentesco. O que ele faziam para evitar a endogamia, que enfraquece fisicamente as espécies, deixando-as mais propensas a deformidades e deficiências congênitas e à aquisição de doenças graves? Eles não as evitavam.
O seu aspecto físico, testa e queixo bem arqueados para trás, é compatível com os ossos descobertos, assim como as ferramentas de pedra ou de conchas, que eles usavam para esquartejar pequenos animais que caíam em suas mãos ou as carcaças que eles encontravam em suas caminhadas. O tamanho deles também corresponde aos achados: 1,7 m, em média, semelhante aos homens de hoje.


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Fonte http://www.city-data.com/


O Homo erectus responde pelo primeiro grupo humano que abandonou a África para colonizar outros continentes, ao que se sabe até hoje, embora a data desse acontecimento esteja recuando cada vez mais, à medida que novas descobertas são feitas. Sabe-se que o Homo erectus já produzia e usava do fogo regularmente, mas é incerto que o homem de Java o fizesse também. Acima vemos mais uma reconstituição dele.


CAVERNA DO LOBO (PALEOLÍTICO)

Prof Eduardo Simões

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Susiluola_8.jpg
Wikipedia

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c9/Susiluola.jpg
Wikipedia

         Caminhando pelas imediações de Karijoki, um pequeno vilarejo de 1.369 pessoas, vê-se uma vegetação típica de zonas fria, gramíneas bem rasteiras e árvores bem espaçadas, retratando a pobreza do solo e rigor do clima, mas lá também há um fenômeno geológico que tem provocado sensação nos meios científicos: a Caverna do Lobo (Susisuola, em finlandês, e Varggrottan, em sueco, as duas línguas oficiais da Finlândia).
         Em janeiro de 1996, os geólogos Kalervo Uusitalo e Heikki Hirvas sinalizaram para o potencial arqueológico do lugar, e pesquisas foram feitas com resultados surpreendentes: 200 artefatos e 600 pedaços, de material diverso, como quartzo, quartzito, rocha vulcânica, jaspe, etc. muito antigos, que, expostos a métodos de datação modernos, alguns deram a incrível marca de 120 mil anos atrás. O que faz esse local ser, de longe, o abrigo dos mais antigos moradores da Península Escandinava, e a única evidência, até agora, de que essa região chegou a ser atingida pelos homens de neanderthal.

         Entretanto, há uma acirrada disputa entre os acadêmicos locais, sobre se os objetos mais antigos são, ou não, obras de mãos humanas ou apenas formações naturais. A segunda versão é a mais aceita, o que não tem impedido o fluxo turístico ao local, de onde a necessidade de levantar uma cerca para impedir entradas não autorizadas.


O TERROR DE NATARUK: A MÃE DAS GUERRAS? (10.000 ANOS)

Prof Eduardo Simões

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http://www.albanydailystar.com/

__ As religiões sempre foram taxativas sobre a origem e persistência das guerras, como resultantes de uma maldição ou um embate primordial ou como uma perversão da natureza das coisas (o pecado), e como tal um mal incurável das sociedades humanas, algo inerente à sua natureza, superável só por intervenção externa, sobrenatural. Com o passar do tempo surgiram tentativas para romper o imobilismo religioso diante da guerra: Rousseau, a partir de seu idealismo ingênuo, especulou se a guerra não seria fruto da desigualdade entre os homens que nasce justo da propriedade privada.
__ Essa ideia, ainda muito geral e inconsistente, ganha ares de “ciência” com o advento do marxismo, que denuncia, com a prolixidade que lhe é característica, todo o dano causado pela “invenção” de “propriedade privada”, acumulada seletivamente, que divide as sociedades humanas em classes antagônicas, e que em sua luta, até extinguir a “exploração do homem pelo homem”, se tornam o “motor da história”, numa espécie de justificativa das guerras “revolucionárias”, mas também como promessa de sua extinção, junto com o fim da propriedade privada e da exploração do homem – Mao Zedong, em seus Escritos militares, promete: “A guerra...  será finalmente eliminada pelo progresso da sociedade humana; e o será num futuro não muito distante. Mas só há um meio de eliminá-la:... opor à guerra revolucionária de classes à guerra contrarrevolucionária de classes... Uma guerra sustentada pela grande maioria da humanidade e do povo chinês [as lutas armadas marxistas] é indiscutivelmente uma guerra justa... Quando a sociedade humana houver progredido até a extinção das classes e do Estado, já não haverá mais guerras, nem contrarrevolucionárias nem revolucionárias, nem injustas nem justas. E será a era de paz perpétua para a humanidade. Ao estudar as leis da guerra revolucionárias, partimos da aspiração de eliminar todas as guerras. Essa é a linha divisória entre nós, os comunistas, e as classes exploradora” (Seis escritos militares del presidente Maotsetung; p 197; traduzido do espanhol). Na teoria dos modos de produção abre-se espaço para uma sociedade idílica: a humanidade pré-histórica, anterior à descoberta da agricultura, fonte inequívoca de propriedade privada, idílio eventualmente perceptível nos grupos humanos ditos “primitivos”, em diversas partes do globo, que, por não conhecerem a propriedade privada e filósofos salvacionistas, viveriam uma espécie de “comunismo primitivo”, onde os homens buscam associação para enfrentar com mais sucesso os desafios da natureza.
__ A realidade, entretanto, se nos impôs por meio das perturbadoras observações do comportamento de chimpanzés, pela primatóloga inglesa Jane Godall, num parque nacional na Tanzânia, que revelaram momentos de agressividade mortal, aparentemente “gratuitos”, contra membros de grupos externos e até membros do próprio grupo, inclusive filhotes, que por vezes acabavam em canibalismo. A violência parecia estar na natureza mesma do primata, não apenas como uma forma de garantir meios de sobrevivência, mas antes como mera afirmação de prestígio ou simples eliminação de concorrência, como acontece com vários predadores. Faltava, entretanto, uma confirmação de algum tipo de guerra ou conflito sangrento entre humanos antes do advento da agricultura e da propriedade privada.

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https://britishmuseumblog.files.wordpress.com

__ Entre 1965 e 1966 foi escavado em Jebel Sahaba, no norte do Sudão, um antigo cemitério, entre 14 e 13 mil anos atrás, onde estavam sepultadas várias gerações de membros de uma comunidade de caçadores coletores, que casou grande surpresa: dos 59 corpos achados (24 mulheres, 19 homens com mais de dezenove anos, 13 crianças entre a infância e os quinze anos, além de três corpos de sexo não definido), além de alguns restos. Ora, entre 40 e 45% deles apresentavam marcas de morte violenta, feitas por armas humanas (marcados de rosa na ilustração acima), inclusive em 26 corpos foram encontrados, restos de artefatos pontiagudos, como pontas de flechas e lanças, foram encontrados misturados aos ossos, próximos a pontos vitais como ao redor do esterno, abdômen, crânio (mandíbula), pescoço, ferimentos que se mostraram fatais, além de uma série de outros ferimentos da mesma natureza encontrados em outros corpos. Estamos diante de uma existência muito violenta, embora ainda não exista a propriedade privada, e de certa forma inexplicável, fora de um quadro de guerra constante entre grupos de caçadores-coletores, mas ainda não é a prova ou a evidência, de um grande e único ataque, como em uma batalha. Essa evidência apareceu em Nataruk.
__ Em 2012, nas proximidades do Lago Turcana, no Quênia, lar de alguns dos mais magníficos sítios arqueológicos mais magníficos do mundo, foram encontrados corpos que pareciam não obedecer qualquer espécie de ordem na sua disposição, estando muito próximos à superfície, e em posição estranha, com o rosto voltado para baixo, que fez muitos desconfiarem se eles não teriam sido simplesmente abandonados ali, sendo, posteriormente cobertos com sedimentos até a erosão trazê-los de volta, naturalmente. À frente das escavações ficou a professora argentina, Marta Mirazón Lahr, da Universidade de Cambridge, Inglaterra.
__ O estranho sítio constava das ossadas de 27 pessoas, caçadores-coletores, que viveram há 10 mil anos, na época em que essa região era coberta por matas e lagos piscosos, capazes de abrigar uma grande população humana. O que, aliás, nunca aconteceu, por motivos que os fósseis aparentemente revelam.
a) Ao todo foram achados 27 esqueletos (6 crianças entre 3 e 6 anos, um jovem de 12-15 anos, e 20 adultos nas seguintes faixas etárias: 3 mulheres e 2 homens entre 20-30 anos, 3 mulheres e 5 homens entre 35-45 anos, 1 homem e 1 mulher com mais de 45 anos) espalhados por uma grande área. Entre estes havia 12 esqueletos (7 homens e 5 mulheres), jogados a esmo sobre o solo.

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http://www.ancient-origins.net/

b) Dez desses doze esqueletos apresentavam inequívocos sinais de violência, como grandes lesões por toda cabeça (foto acima), nas mãos, como se tivessem sido quebradas ao tentar evitar um golpe; joelhos, costelas e pescoço, mostrando lesões típicas de casos de violência; pontas de flechas alojadas entre os ossos, na cabeça e no tórax.
c) as lesões teriam sido causadas por pelo menos três tipos de armas: projéteis de pedra, como pontas de flecha; porrete, como os tacapes de nossos índios; e um tipo de tacape, com lâminas de pedra encrustadas, capazes de causar cortes profundos.
d) Dos 12 esqueletos, só dois não paresentavam sinais de morte violenta, mas estavam com os ossos numa posição típica de quem está amarrado, inclusive o cadáver de uma mulher, em adiantado estado de gravidez, e que assim foi deixada até à morte, como se pode deduzir dos ossos do feto junto a ela.
e) O material lítico constante dos projéteis achados junto aos corpos são feitos de um tipo de rocha que não é encontrado na região, o que apontaria para a chegada inesperada de um grupo muito agressivo de invasores. Veja a ilustração esquemática abaixo dos corpos das vítimas, feita pela doutora Mirazón Lahr, mostrada na prestigiosa revista de ciências americana Nature, online http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/fig_tab/nature16477_F2.html

http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/images/nature16477-f2.jpg

Figura A: homem com dois projeteis de pedra no crânio e golpe de tacape nos joelhos; B: homem com os ossos abaixo do nariz quebrados pelo golpe de um tacape encrustado; C: mulher com um golpe agudo, cortante na bochecha e fratura na mão, como se quisesse impedir um golpe; D: mulher jovem grávida com mãos e pés amarrados; E: mulher com um projétil nas costas e mão direita fraturada; F: homem atingido na cabeça por um tacape; G: homem amarrado com múltiplos ferimentos de flechas; H: mulher que levou tremendos golpes no tórax, com os joelhos e talvez os pés fraturados, parece que estava com os pulsos amarrados; I: homem sem sinal de ferimentos, mas com as mãos amarradas; J: homem golpeado na cabeça, com fratura de ossos no entorno do golpe, e um projétil no lado direito da cabeça; K: homem com os ossos do crânio severamente arrebentados a golpes de porrete; L: mulher com um terrível golpe na cabeça, com depressão do osso frontal, o esqueleto está pouco preservado para se ter uma ideia exata de sua posição.

__ Embora ainda não seja uma certeza, as evidências são acachapantes, e apontam fortemente a um fim brutal e inesperado para esse grupo que vivia “placidamente” às margens de uma região rica o bastante para alimentar muita gente, e que fica inexplicável se tentarmos entender o comportamento dessa gente como ditada pela lógica da cooperação para a sobrevivência, como seria o caso do comunismo primitivo.
__ O mais intrigante ainda é que entre os antigos grupos de caçador-coletores era comum os ataques inesperados, pequenos raides, para a captura de mulheres e crianças, para engrossar a comunidade, mas não foi isso que aconteceu. O grupo, aparentemente, foi emboscado, sofrendo perdas imediatas avassaladoras e, posteriormente, os sobreviventes sofreram o mesmo fim trágico das primeiras vítimas, independente do sexo. Será que sobrou alguém? Entre as perguntas ainda não respondidas, a mais pertinente é: por que os animais não atacaram os mortos? É possível que os atacantes tenham permanecido por algum tempo no lugar, o que teria afugentado grandes predadores.
__ Seja por razões territoriais, eliminação de concorrência, razões de prestigio, etc., não podemos deixar de reconhecer que o instinto de caça, de combate, do homem, pelas razões acima aduzidas, se voltou também, desde muito cedo, para os seus semelhantes, e que não se explica pela via da racionalidade utilitária que move o nosso mundo, e que por vezes até o agrava ou espicaça, e isso, mais do que outra coisa está na origem das guerras, e mostra o quanto ainda temos a caminhar para um dia chegarmos a um mundo sem  guerras, se é que isso é possível.  

Fontes
https://pensaryhacer.files.wordpress.com/2010/06/seis-escritos-militares-del-presidente-mao-tesetung.pdf
http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/fig_tab/nature16477_F1.html
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/massacre-de-10-mil-anos-mais-antiga-evidencia-de-guerra-entre-grupos-humanos-18511305#ixzz3yvnWTvon
http://www.abc.es/ciencia/abci-cruel-matanza-primera-guerra-historia-201601201857_noticia.html
Wikipedia em inglês – Nataruk, Cemetery 117  

HOMEM DE FLORES

Prof Eduardo Simões


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d3/Homo_floresiensis_cave.jpg/1024px-Homo_floresiensis_cave.jpg
Fonte Wikipedia

Uma estreita faixa de terra; assim é a ilha de Flores, uma das 17 mil que formam o arquipélago da Indonésia. Essa ilha em esse nome porque foi colonizada por comerciantes e padres portugueses, desde o século XVI. Portugal perderá a soberania sobre essa ilha somente em 1851, quando o govenador local, José Joaquim Lopes Lima, resolveu vendê-la aos holandeses, sem a autorização de Lisboa, como se fosse sua propriedade particular!
Flores, entretanto, é mais conhecida porque em 2003 a equipe do arqueólogo australiano Mike Morwood, descobriu na caverna de Liang Bua (foto acima) os ossos daquele seria uma das mais espetaculares descobertas arqueológicas de todos os tempos. Uma nova espécie humana com características singulares.


http://i.livescience.com/images/i/000/034/319/i02/hobbit-skull.jpg?1355255478
http://www.livescience.com/

http://images.fineartamerica.com/images-medium-large/modern-human-and-homo-floresiensis-mauricio-anton.jpg
Fonte: http://fineartamerica.com/

A espetaculosidade dessa descoberta se deve ao seguinte: os esqueletos, ou restos, encontrados, em número de nove, até agora, batizados de Homo floresiensis (Homem de Flores), apontam para uma população baixa estatura, em torno de 1 metro ou metro e meio – os pigmeus africanos oscilam entre 1,30 m e 1,50 m – com um volume cerebral absurdamente pequeno, em torno de 380 cm³, semelhante aos dos primeiros hominídeos (os australopitecos, desaparecidos a 2 milhões de anos atrás) e dos chimpanzés, com uma grande diferença: o Homem de Flores fabricava armas muito sofisticadas, e alguns desses restos foram datados de 12 a 13 mil anos atrás. Isso significa que eles conviveram com ancestrais dos homens modernos que povoaram essa ilha há uns 45 mil anos atrás! As duas espécies conviveram juntas. Ainda não está claro o que causou extinção do Homem de Flores. A hipótese mais provável é a do seu isolamento em uma pequena área atingida por uma erupção vulcânica.


http://i.imgur.com/dfRtcJd.jpg
Fonte: http://w11.zetaboards.com/

A ilustração mostra alguns exemplares da fauna local, com a qual o homem de Flores teve que se haver, como o estegodonte, um ancestral dos elefantes e mamutes, mas de uma espécie anã; com o tamanho de um búfalo, pesando 800 kg; ratos gigantes de flores, com uns 70 cm de comprimento e 40 de largura; um dragão de Komodo, maior que os atuais, que têm uns 180 kg e três metros de comprimento, e marabus gigantes de Flores (aves parecidas com os nossos jaburus ou tuiuiús), com 1,8 m de altura e uns 16 kg, que não voavam.



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Fonte: http://imgkid.com/
Dois homens de Flores atacam um dragão de Komodo turbinado, que existia em Flores – ainda hoje há dragões em Flores, de tamanho menor - com suas lanças muito bem construídas. Muito lento, o pobre réptil não tinha chance, mesmo contando com uma mordida potente e venenosa, e um com chicoteio de cauda capaz de quebrar ossos facilmente.

  

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