Índice Cronológico
Olduvai - Lucy - Homem de Java - Caverna do Lobo - Naturak - Homem de Flores
(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
Olduvai - Lucy - Homem de Java - Caverna do Lobo - Naturak - Homem de Flores
GARGANTA DE OLDUVAI (1,9 MILHÕES DE ANOS-15.000 A.C.)
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ce/Olduvai_Gorge_or_Oldupai_Gorge.jpg/1920px-Olduvai_Gorge_or_Oldupai_Gorge.jpg
Fonte Wikipedia
A paisagem agreste, rude, da depressão conhecida como
Garganta de Olduvai, situada no norte da Tanzânia, um país africano, tem
surpreendido anos após ano a comunidade científica internacional, pelos seus
vestígios arqueológicos espetaculares, sendo também conhecida como “o berço da
humanidade”, nome advindo da extrema antiguidade dos restos humanoides aí
encontrados. Olduvai se caracteriza também pela enorme diversidade e quantidade
de material fóssil que já revelou. É a mina de ouro dos paleoantropologistas.
A depressão de Olduvai assemelha-se a um grande e comprido buraco, tipo um canal, escavado na terra, onde, no passado, uns dois milhões de
anos atrás, havia um imenso lago. Posteriormente esse lago foi gradualmente encoberto
por camadas de cinzas vulcânicas e drenado, denunciando uma atividade dessa natureza
poucas vezes igualada em outas partes do mundo, além de muitos terremotos.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/OlduvaiGorge-1.gif
Fonte Wikipedia
No mapa topográfico acima a parte azul maior
correspondente ao lago Eyasi (um lago estacional, isto é: só se forma em certas
estações do ano, depois seca); a menor corresponde ao lago Manyara; a grande
cratera arredondada corresponde à chaminé do vulcão inativo Ngorongoro, a
maior cratera de vulcão inativo, intacta, do mundo, com 260 km² de área. A
garganta do Olduvai são dois traços negros se cruzando perto do Ngorongoro.
Várias outras formas arredondadas, crateras de vulcões extintos, acima do
Ngorongoro, denunciam a intensa atividade vulcânica do passado.
Mas o que torna a Garganta do Olduvai tão importante,
arqueologicamente, são os achados de diversos fósseis humanos muito antigos,
além de ferramentas líticas, as mais antigas já encontradas. Entre os espécimes
de hominídeos encontrados em Olduvai salientamos:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b3/MEH_Homo_habilis_29-04-2012_11-50-21_2320x2980.JPG/640px-MEH_Homo_habilis_29-04-2012_11-50-21_2320x2980.JPG
Fonte Wikipedia
Os indícios humanoides mais antigos encontrados em
Olduvai se referem ao Homo habilis
(do latim ‘homem hábil’, dado ao encontro de artefatos de pedra associados aos fósseis
deles, principal indício que não eram animais comuns, além de bípedes), e
estendem a um período que vai de 1,9 milhão de anos a 1,2 milhão de anos atrás.
Há controvérsia se o Homo habilis
seria um ancestral direto do homem moderno ou seria uma espécie independente
que não vingou.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/55/MEH_Paranthropus_boisei_29-04-2012_11-33-51_2157x3508.JPG/640px-MEH_Paranthropus_boisei_29-04-2012_11-33-51_2157x3508.JPG
Fonte Wikipedia
O Homem habilis de Olduvai conviveu por longo tempo com
outra espécie de hominídeo, o Paranthropus boisei (do latim, ‘homem paralelo de
Boisei’, referente ao antropólogo Cherles Boise, que ajudou financeiramente a
custear a expedição que descobriu os fósseis do paranthropus), cujo crânio apresenta
um rosto muito largo e uma calota bem estreito. Com o cérebro 100 cm³ menor que
o do habilis, esse hominídeo extinto
devia ter menos recursos que os seus vizinhos. Os cientistas acreditam, pelo
estudo de sua dentição, que eles tinham uma dieta predominantemente vegetal,
com o acréscimo de insetos, semelhante a dos primatas selvagens e macacos, diferente
do habilis que às vezes agia como carniceiro oportunista, ingerindo maiores
quantidades de proteínas, o que permitiu a esse último desenvolver melhor a
inteligência. Pelo menos essa é a teoria atual. O Paranthropus viveu em Olduvai
de 1,8 milhão a 1,2 milhão de anos atrás.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/23/Homo_erectus.JPG/640px-Homo_erectus.JPG
Fonte Wikipedia
O último morador extinto
da Olduvai foi o Homo erectus, que
por lá esteve de 1,2 milhão a 700 mil anos atrás. Apesar da semelhança física
conosco, de ser um notável construtor de ferramentas e de dominar a produção e o
uso consciente de fogo, não há certeza ainda se ele seria um antepassado direto
do homem moderno, cujos primeiros representantes chegaram a Olduvai há 17 mil
anos!(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
LUCY (3,18 MILHÕES DE ANOS)
Pof
Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/31/Lucy_blackbg.jpg/220px-Lucy_blackbg.jpg
Fonte Wikipedia
Em 1974, foi descoberto na localidade de Hadar, 159 km ao
norte de Adis Abeba, capital Etiópia, o conjunto de ossos fossilizados acima,
que causou furor nos meios evolucionários. Era um indivíduo da espécie extinta Australopithecus afarensis, identificado
como uma fêmea, embora haja controvérsia a esse respeito, com 1m de altura, uns
20 aos de idade, 27 kg de peso. Seu crânio era muito parecido com o de um
chimpanzé, mas seu volume craniano era razoavelmente maior: entre 375 e 500 cm³
- constatado em ossos dessa espécie descobertos em outros lugares – e uma
pélvis típica de animais que andam eretos; exclusividade humana. O maior
impacto, porém, veio quando foi constatada a idade dos fósseis: 3,18 milhões de
anos!
Até aquele momento, a tese mais aceita entre os
neodarwinianos era de que uma mudança climática, um resfriamento, teria
provocado o desparecimento de muitas florestas na África, na região onde foram
achados os fósseis hominídeos mais antigos, obrigando aos nossos remotos ancestrais,
ainda apegados ao regime arborícola, a tentar sobreviver também no solo nu,
para pegar alimentos, principalmente fontes de proteínas (pequenos roedores e
insetos maiores), mais expostos aos ataques de ferozes predadores. Era
fundamental que eles tirassem partido de seu órgão de sentido mais importante:
a visão, e para isso ele teria desenvolvido a postura bípede para poder avistar
mais rapidamente a chegada dos predadores – valendo aqui a premissa darwiniana
da seleção natural: aqueles que sofreram transformações estruturais, casuais,
mais bem sucedidas: o alargamento da pélvis, sobreviveram. Ora, os dados da
paleoclimatologia coincidiam com os dos mais antigos achados fósseis ate ali.
Foi justamente isso que Lucy e o Australopithecus afarensis negaram com a sua antiguidade, pois na época
em que eles existiram, muito mais antiga do que se imaginava, as regiões onde
os achados foram feitos estavam cobertas por densas florestas. O que teria
feito essa raça de primatas largar o conforto, e a proteção do alto das árvores
para correr tantos riscos no solo? Qual o sentido do bipedismo num ambiente de
mata fechada? É muito mais vantajoso ter uma visão do alto! Foi uma “opção”,
negando o caráter passivo do evolucionismo darwiniano, ou devemos esperar outra
coisa?
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Australopithecus_afarensis.png
Fonte Wikipedia
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/32/A.afarensis.jpg/320px-A.afarensis.jpg
Fonte Wikipedia
Duas reconstituições presumidas do Australopithecus
afarensis. No topo uma reconstituição forense, acima, uma fêmea da espécie,
nos apresentando a forma mais provável de Lucy quando era viva – ela ganhou
esse nome por causa da música “Lucy in the Sky with Diamonds”, uma
controvertida música de John Lennon, dos Beatles, que, segundo alguns, tocava
no rádio durante a descoberta dos fósseis.
Alguns dados da espécie são os seguintes: o macho era
maior que a fêmea, dimorfismo sexual, tendo em média 1,5 m de altura e pesando
49 kg, enquanto elas variavam em torno de 1 m e pesavam 29 kg, em média. Eles,
aparentemente, viviam tão bem me árvores como no cimo das árvores, e sua dieta
devia ser predominantemente vegetal, enriquecida com pequenos insetos e
lagartos, além de carniceiros eventuais. Muitos cientistas acreditam que o
consumo de proteína animal, proveniente do consumo de carne, ajudou a aumentar
o tamanho do cérebro e, consequentemente, a capacidade mental do homem, se é
que essas duas coisas estão necessariamente relacionadas.
http://video.nationalgeographic.com/video/player/media/worlds-oldest-child-vin/worlds-oldest-child-vin_480x360.jpg
Fonte http://news.nationalgeographic.com
http://www.odec.ca/projects/2011/yuyuya/images/zeresenay%20alemseged.jpg
http://www.odec.ca
No topo, a reconstituição de mais um achado espetacular
da arqueologia moderna: uma criança afarensi, encontrada em Dikka, na Etiópia, em
2000. Essa criança, chamada de “bebê de Lucy” (Lucy’s baby), é na verdade o seu
tataravô remoto, pois é uns 120 mil anos mais velho do que ela! E a semelhança
de alguns de seus ossos com os dos símios é impressionante, e foi chamado de “Selam”,
que em língua etíope quer dizer "paz". Na foto acima aparece o descobridor de
Selam, o arqueólogo etíope Zeresenay Alemseged, com uma parte de sua
descoberta: o crânio da criança.
HOMEM DE FLORES
HOMEM DE JAVA
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/29/The_most_ancient_skeletal_remains_of_man_Plate_1.png/400px-The_most_ancient_skeletal_remains_of_man_Plate_1.png
Fonte Wikipedia
Em agosto de 1891, auxiliado por dois
sargentos do exército colonial holandês, comandando uma equipe composta por
presidiários, os únicos que se poderia conseguir para uma missão como essa, a
custo praticamente zero, o médico holandês Eugène Dubois conseguiu descobrir
alguns ossos muito antigos: uma calota craniana, um dente molar e um fêmur,
pertencentes a um animal, visivelmente primata, cujos estudos anatômicos
comprovaram que tinham uma postura perfeitamente ereta, além de similaridades
tanto com os humanos como com os macacos. Na foto vemos a curva do rio
Bengavian, perto de Trinil, em Java, na época das escavações. O pequeno
quadrado branco, bem no início do declive, na curva, assinala o local onde foi
encontrado o fêmur, enquanto o local da calota craniana está marcado pelo
quadradinho, próximo ao telheiro.
Seguindo uma classificação criada
após uma descoberta dente fóssil na Índia em 1878, Dubois a princípio batizou o
seu achado de Anthropopithecus, “homem-macaco”,
julgando-o mais próximo dos macacos que dos homens, mas em seguida, após
refazer os dados sobre a capacidade craniana da nova criatura (uns 940 cm³,
quando o maior cérebro dos primatas não humanos, o dos gorilas, possui no
máximo uns 550 cm³), Dubois começou a defender a tese de que ele seria uma
espécie de transição entre o homem e os macacos, tal como essa questão era
posta naquele tempo; a idade do fóssil e da espécie foi avaliada em uns 500 mil
anos, e foi ‘rebatizado’ para Pithecanthropus
erectus, “homem-macaco erectus”, ou “Homem de Java”. Era assim que aparecia
nos antigos livros de história.
Muita coisa mudou desde então e hoje se
sabe que a evolução humana é muito mais complexa do que imaginavam Dubois e a
sua geração, novas descobertas em Java (em Solo, Monjokerto e Sangiran) e em
outros lugares, comprovaram que essa espécie é muito mais antiga, datando de
até 1,8 milhão de anos, e o seu nome científico foi mudado definitivamente,
cremos, para Homo erectus erectus,
ficando em aberto a discussão se é ou não um de nossos ancestrais diretos.
http://images.solopos.com/2011/07/normalSangiran_Sragen.jpg
http://www.solopos.com
http://arsip.tembi.net/selft/0001/beritabudaya/01/20120125-3.jpg
Fonte http://arsip.tembi.net/
As imagens acima mostram um diorama,
uma grande reconstituição em três dimensões, de um grupo de homens de Java no
museu de Sangiran. As visitantes aparecem com a cabeça encoberta por lenços
porque a ilha de Java pertence à Indonésia, e esta é um país de cultura islâmica.
Essas imagens apresentam aquilo que se supõe ser um pequeno grupo deles, cujos
membros se achavam ligados, provavelmente, por laços de parentesco. O que ele
faziam para evitar a endogamia, que enfraquece fisicamente as espécies,
deixando-as mais propensas a deformidades e deficiências congênitas e à aquisição
de doenças graves? Eles não as evitavam.
O seu aspecto físico, testa e queixo
bem arqueados para trás, é compatível com os ossos descobertos, assim como as
ferramentas de pedra ou de conchas, que eles usavam para esquartejar pequenos
animais que caíam em suas mãos ou as carcaças que eles encontravam em suas
caminhadas. O tamanho deles também corresponde aos achados: 1,7 m, em média,
semelhante aos homens de hoje.
http://www.topnews.in/files/java-man.jpg
Fonte http://www.city-data.com/
O Homo
erectus responde pelo primeiro grupo humano que abandonou a África para
colonizar outros continentes, ao que se sabe até hoje, embora a data desse
acontecimento esteja recuando cada vez mais, à medida que novas descobertas são
feitas. Sabe-se que o Homo erectus já
produzia e usava do fogo regularmente, mas é incerto que o homem de Java o
fizesse também. Acima vemos mais uma reconstituição dele.
CAVERNA
DO LOBO (PALEOLÍTICO)
Prof
Eduardo Simões
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Susiluola_8.jpg
Wikipedia
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c9/Susiluola.jpg
Wikipedia
Caminhando pelas imediações de Karijoki,
um pequeno vilarejo de 1.369 pessoas, vê-se uma vegetação típica de zonas fria,
gramíneas bem rasteiras e árvores bem espaçadas, retratando a pobreza do solo e
rigor do clima, mas lá também há um fenômeno geológico que tem provocado
sensação nos meios científicos: a Caverna do Lobo (Susisuola, em finlandês, e
Varggrottan, em sueco, as duas línguas oficiais da Finlândia).
Em janeiro de 1996, os geólogos Kalervo
Uusitalo e Heikki Hirvas sinalizaram para o potencial arqueológico do lugar, e
pesquisas foram feitas com resultados surpreendentes: 200 artefatos e 600
pedaços, de material diverso, como quartzo, quartzito, rocha vulcânica, jaspe,
etc. muito antigos, que, expostos a métodos de datação modernos, alguns deram a
incrível marca de 120 mil anos atrás. O que faz esse local ser, de longe, o
abrigo dos mais antigos moradores da Península Escandinava, e a única
evidência, até agora, de que essa região chegou a ser atingida pelos homens de
neanderthal.
Entretanto, há uma acirrada disputa entre
os acadêmicos locais, sobre se os objetos mais antigos são, ou não, obras de
mãos humanas ou apenas formações naturais. A segunda versão é a mais aceita, o
que não tem impedido o fluxo turístico ao local, de onde a necessidade de levantar
uma cerca para impedir entradas não autorizadas.
O TERROR DE NATARUK: A MÃE DAS GUERRAS?
(10.000 ANOS)
Prof Eduardo Simões
http://www.albanydailystar.com/wp-content/uploads/2016/01/cains-first-followers-massacred-in-nataruk-10000-years-ago.jpg
http://www.albanydailystar.com/
__ As religiões sempre foram taxativas
sobre a origem e persistência das guerras, como resultantes de uma maldição ou
um embate primordial ou como uma perversão da natureza das coisas (o pecado), e
como tal um mal incurável das sociedades humanas, algo inerente à sua natureza,
superável só por intervenção externa, sobrenatural. Com o passar do tempo
surgiram tentativas para romper o imobilismo religioso diante da guerra:
Rousseau, a partir de seu idealismo ingênuo, especulou se a guerra não seria
fruto da desigualdade entre os homens que nasce justo da propriedade privada.
__ Essa ideia, ainda muito geral e
inconsistente, ganha ares de “ciência” com o advento do marxismo, que denuncia,
com a prolixidade que lhe é característica, todo o dano causado pela “invenção”
de “propriedade privada”, acumulada seletivamente, que divide as sociedades
humanas em classes antagônicas, e que em sua luta, até extinguir a “exploração
do homem pelo homem”, se tornam o “motor da história”, numa espécie de
justificativa das guerras “revolucionárias”, mas também como promessa de sua
extinção, junto com o fim da propriedade privada e da exploração do homem – Mao
Zedong, em seus Escritos militares, promete:
“A guerra... será finalmente eliminada pelo progresso da
sociedade humana; e o será num futuro não muito distante. Mas só há um meio de
eliminá-la:... opor à guerra revolucionária de classes à guerra
contrarrevolucionária de classes... Uma guerra sustentada pela grande maioria
da humanidade e do povo chinês [as lutas armadas marxistas] é indiscutivelmente
uma guerra justa... Quando a sociedade humana houver progredido até a extinção
das classes e do Estado, já não haverá mais guerras, nem contrarrevolucionárias
nem revolucionárias, nem injustas nem justas. E será a era de paz perpétua para
a humanidade. Ao estudar as leis da guerra revolucionárias, partimos da
aspiração de eliminar todas as guerras. Essa é a linha divisória entre nós, os
comunistas, e as classes exploradora” (Seis
escritos militares del presidente Maotsetung; p 197; traduzido do
espanhol). Na teoria dos modos de produção abre-se espaço para uma sociedade
idílica: a humanidade pré-histórica, anterior à descoberta da agricultura, fonte
inequívoca de propriedade privada, idílio eventualmente perceptível nos grupos
humanos ditos “primitivos”, em diversas partes do globo, que, por não conhecerem
a propriedade privada e filósofos salvacionistas, viveriam uma espécie de
“comunismo primitivo”, onde os homens buscam associação para enfrentar com mais
sucesso os desafios da natureza.
__ A realidade, entretanto, se nos impôs por
meio das perturbadoras observações do comportamento de chimpanzés, pela
primatóloga inglesa Jane Godall, num parque nacional na Tanzânia, que revelaram
momentos de agressividade mortal, aparentemente “gratuitos”, contra membros de
grupos externos e até membros do próprio grupo, inclusive filhotes, que por
vezes acabavam em canibalismo. A violência parecia estar na natureza mesma do
primata, não apenas como uma forma de garantir meios de sobrevivência, mas
antes como mera afirmação de prestígio ou simples eliminação de concorrência,
como acontece com vários predadores. Faltava, entretanto, uma confirmação de
algum tipo de guerra ou conflito sangrento entre humanos antes do advento da
agricultura e da propriedade privada.
https://britishmuseumblog.files.wordpress.com/2014/07/sahaba-site-plan_1000px.jpg
https://britishmuseumblog.files.wordpress.com
__ Entre 1965 e 1966 foi escavado em Jebel
Sahaba, no norte do Sudão, um antigo cemitério, entre 14 e 13 mil anos atrás,
onde estavam sepultadas várias gerações de membros de uma comunidade de
caçadores coletores, que casou grande surpresa: dos 59 corpos achados (24
mulheres, 19 homens com mais de dezenove anos, 13 crianças entre a infância e
os quinze anos, além de três corpos de sexo não definido), além de alguns
restos. Ora, entre 40 e 45% deles apresentavam marcas de morte violenta, feitas
por armas humanas (marcados de rosa na ilustração acima), inclusive em 26
corpos foram encontrados, restos de artefatos pontiagudos, como pontas de
flechas e lanças, foram encontrados misturados aos ossos, próximos a pontos
vitais como ao redor do esterno, abdômen, crânio (mandíbula), pescoço,
ferimentos que se mostraram fatais, além de uma série de outros ferimentos da
mesma natureza encontrados em outros corpos. Estamos diante de uma existência
muito violenta, embora ainda não exista a propriedade privada, e de certa forma
inexplicável, fora de um quadro de guerra constante entre grupos de
caçadores-coletores, mas ainda não é a prova ou a evidência, de um grande e
único ataque, como em uma batalha. Essa evidência apareceu em Nataruk.
__ Em 2012, nas proximidades do Lago Turcana,
no Quênia, lar de alguns dos mais magníficos sítios arqueológicos mais
magníficos do mundo, foram encontrados corpos que pareciam não obedecer
qualquer espécie de ordem na sua disposição, estando muito próximos à
superfície, e em posição estranha, com o rosto voltado para baixo, que fez
muitos desconfiarem se eles não teriam sido simplesmente abandonados ali,
sendo, posteriormente cobertos com sedimentos até a erosão trazê-los de volta,
naturalmente. À frente das escavações ficou a professora argentina, Marta
Mirazón Lahr, da Universidade de Cambridge, Inglaterra.
__ O estranho sítio constava das ossadas de
27 pessoas, caçadores-coletores, que viveram há 10 mil anos, na época em que
essa região era coberta por matas e lagos piscosos, capazes de abrigar uma
grande população humana. O que, aliás, nunca aconteceu, por motivos que os
fósseis aparentemente revelam.
a) Ao todo foram achados 27 esqueletos (6
crianças entre 3 e 6 anos, um jovem de 12-15 anos, e 20 adultos nas seguintes
faixas etárias: 3 mulheres e 2 homens entre 20-30 anos, 3 mulheres e 5 homens
entre 35-45 anos, 1 homem e 1 mulher com mais de 45 anos) espalhados por uma
grande área. Entre estes havia 12 esqueletos (7 homens e 5 mulheres), jogados a
esmo sobre o solo.
http://www.ancient-origins.net/sites/default/files/field/image/smashed-skulls.jpg
http://www.ancient-origins.net/
b) Dez desses doze esqueletos apresentavam inequívocos
sinais de violência, como grandes lesões por toda cabeça (foto acima), nas mãos,
como se tivessem sido quebradas ao tentar evitar um golpe; joelhos, costelas e
pescoço, mostrando lesões típicas de casos de violência; pontas de flechas
alojadas entre os ossos, na cabeça e no tórax.
c) as lesões teriam sido causadas por pelo
menos três tipos de armas: projéteis de pedra, como pontas de flecha; porrete, como
os tacapes de nossos índios; e um tipo de tacape, com lâminas de pedra encrustadas,
capazes de causar cortes profundos.
d) Dos 12 esqueletos, só dois não
paresentavam sinais de morte violenta, mas estavam com os ossos numa posição
típica de quem está amarrado, inclusive o cadáver de uma mulher, em adiantado
estado de gravidez, e que assim foi deixada até à morte, como se pode deduzir
dos ossos do feto junto a ela.
e) O material lítico constante dos
projéteis achados junto aos corpos são feitos de um tipo de rocha que não é
encontrado na região, o que apontaria para a chegada inesperada de um grupo muito
agressivo de invasores. Veja a ilustração esquemática abaixo dos corpos das
vítimas, feita pela doutora Mirazón Lahr, mostrada na prestigiosa revista de
ciências americana Nature, online http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/fig_tab/nature16477_F2.html
http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/images/nature16477-f2.jpg
Figura A: homem com dois projeteis de pedra
no crânio e golpe de tacape nos joelhos; B: homem com os ossos abaixo do nariz
quebrados pelo golpe de um tacape encrustado; C: mulher com um golpe agudo,
cortante na bochecha e fratura na mão, como se quisesse impedir um golpe; D:
mulher jovem grávida com mãos e pés amarrados; E: mulher com um projétil nas
costas e mão direita fraturada; F: homem atingido na cabeça por um tacape; G:
homem amarrado com múltiplos ferimentos de flechas; H: mulher que levou
tremendos golpes no tórax, com os joelhos e talvez os pés fraturados, parece
que estava com os pulsos amarrados; I: homem sem sinal de ferimentos, mas com as
mãos amarradas; J: homem golpeado na cabeça, com fratura de ossos no entorno do
golpe, e um projétil no lado direito da cabeça; K: homem com os ossos do crânio
severamente arrebentados a golpes de porrete; L: mulher com um terrível golpe
na cabeça, com depressão do osso frontal, o esqueleto está pouco preservado
para se ter uma ideia exata de sua posição.
__ Embora ainda não seja uma certeza, as
evidências são acachapantes, e apontam fortemente a um fim brutal e inesperado
para esse grupo que vivia “placidamente” às margens de uma região rica o bastante
para alimentar muita gente, e que fica inexplicável se tentarmos entender o comportamento
dessa gente como ditada pela lógica da cooperação para a sobrevivência, como
seria o caso do comunismo primitivo.
__ O mais intrigante ainda é que entre os
antigos grupos de caçador-coletores era comum os ataques inesperados, pequenos raides,
para a captura de mulheres e crianças, para engrossar a comunidade, mas não foi
isso que aconteceu. O grupo, aparentemente, foi emboscado, sofrendo perdas imediatas
avassaladoras e, posteriormente, os sobreviventes sofreram o mesmo fim trágico
das primeiras vítimas, independente do sexo. Será que sobrou alguém? Entre as perguntas
ainda não respondidas, a mais pertinente é: por que os animais não atacaram os
mortos? É possível que os atacantes tenham permanecido por algum tempo no lugar,
o que teria afugentado grandes predadores.
__ Seja por razões territoriais, eliminação
de concorrência, razões de prestigio, etc., não podemos deixar de reconhecer
que o instinto de caça, de combate, do homem, pelas razões acima aduzidas, se
voltou também, desde muito cedo, para os seus semelhantes, e que não se explica
pela via da racionalidade utilitária que move o nosso mundo, e que por vezes
até o agrava ou espicaça, e isso, mais do que outra coisa está na origem das
guerras, e mostra o quanto ainda temos a caminhar para um dia chegarmos a um
mundo sem guerras, se é que isso é
possível.
Fontes
https://pensaryhacer.files.wordpress.com/2010/06/seis-escritos-militares-del-presidente-mao-tesetung.pdf
http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/fig_tab/nature16477_F1.html
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/massacre-de-10-mil-anos-mais-antiga-evidencia-de-guerra-entre-grupos-humanos-18511305#ixzz3yvnWTvon
http://www.abc.es/ciencia/abci-cruel-matanza-primera-guerra-historia-201601201857_noticia.html
Wikipedia em inglês – Nataruk, Cemetery 117
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d3/Homo_floresiensis_cave.jpg/1024px-Homo_floresiensis_cave.jpg
Fonte Wikipedia
Uma estreita faixa de terra; assim é a ilha de Flores, uma das 17 mil que formam o arquipélago da Indonésia. Essa ilha em esse nome porque foi colonizada por comerciantes e padres portugueses, desde o século XVI. Portugal perderá a soberania sobre essa ilha somente em 1851, quando o govenador local, José Joaquim Lopes Lima, resolveu vendê-la aos holandeses, sem a autorização de Lisboa, como se fosse sua propriedade particular!
Flores, entretanto, é mais conhecida porque em 2003 a equipe do arqueólogo australiano Mike Morwood, descobriu na caverna de Liang Bua (foto acima) os ossos daquele seria uma das mais espetaculares descobertas arqueológicas de todos os tempos. Uma nova espécie humana com características singulares.
http://i.livescience.com/images/i/000/034/319/i02/hobbit-skull.jpg?1355255478
http://www.livescience.com/
http://www.livescience.com/
http://images.fineartamerica.com/images-medium-large/modern-human-and-homo-floresiensis-mauricio-anton.jpg
Fonte: http://fineartamerica.com/
A espetaculosidade dessa descoberta se deve ao seguinte: os esqueletos, ou restos, encontrados, em número de nove, até agora, batizados de Homo floresiensis (Homem de Flores), apontam para uma população baixa estatura, em torno de 1 metro ou metro e meio – os pigmeus africanos oscilam entre 1,30 m e 1,50 m – com um volume cerebral absurdamente pequeno, em torno de 380 cm³, semelhante aos dos primeiros hominídeos (os australopitecos, desaparecidos a 2 milhões de anos atrás) e dos chimpanzés, com uma grande diferença: o Homem de Flores fabricava armas muito sofisticadas, e alguns desses restos foram datados de 12 a 13 mil anos atrás. Isso significa que eles conviveram com ancestrais dos homens modernos que povoaram essa ilha há uns 45 mil anos atrás! As duas espécies conviveram juntas. Ainda não está claro o que causou extinção do Homem de Flores. A hipótese mais provável é a do seu isolamento em uma pequena área atingida por uma erupção vulcânica.
http://i.imgur.com/dfRtcJd.jpg
Fonte: http://w11.zetaboards.com/
A ilustração mostra alguns exemplares da fauna local, com a qual o homem de Flores teve que se haver, como o estegodonte, um ancestral dos elefantes e mamutes, mas de uma espécie anã; com o tamanho de um búfalo, pesando 800 kg; ratos gigantes de flores, com uns 70 cm de comprimento e 40 de largura; um dragão de Komodo, maior que os atuais, que têm uns 180 kg e três metros de comprimento, e marabus gigantes de Flores (aves parecidas com os nossos jaburus ou tuiuiús), com 1,8 m de altura e uns 16 kg, que não voavam.
http://static.wixstatic.com/media/bc9c59_26feadaf302b477da7be7cd549d2a809.jpg
Fonte: http://imgkid.com/
Dois homens de Flores atacam um dragão de Komodo turbinado, que existia em Flores – ainda hoje há dragões em Flores, de tamanho menor - com suas lanças muito bem construídas. Muito lento, o pobre réptil não tinha chance, mesmo contando com uma mordida potente e venenosa, e um com chicoteio de cauda capaz de quebrar ossos facilmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário