Contemporânea

Índice Cronológico
Luis XVI e Maria Antonieta - Constituição Civil do Clero - Carmelitas de Compiègne - Mayerling - Sissi - Roubo da Mona Lisa - Assassinato de Sarajevo -  Poilus (1914-18) - Taxis do Marne - Roza Shanina 


LUIS XVI E MARIA ANTONIETA (1774-1793)

Prof Eduardo Simões


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Nascido em 1754, Luís Augusto de França, casou-se com apenas quinze anos, por razões políticas, com a princesa austríaca, sua prima, Maria Antônia, ou Antonieta, como era conhecida pelos franceses. Ele era um rapaz obeso, muito introvertido e superindeciso. Noutras palavras um imaturo, e muito imaturo, emocional. Ela uma menina inteligente, mas muito mimada e um tanto fútil, com fama de preguiçosa. Ambos cresceram abandonados pelos pais, entregues aos cuidados de tutores, exceto no ultimo período da vida de Maria, na Áustria, quando a sua mãe, Teresa, resolveu assumi-la como sua filha, mas para usá-la de acordo com os seus interesses políticos. O povo francês a detestou desde o início, e ela também não ajudou.


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Governar é preciso. Mais interessado em consertar relógios e em trabalhos de marcenaria, Luis XVI a muito custo desemprenhava suas tarefas como rei de França. Na ilustração ele aparece planejando a viagem de circunavegação da terra pelo almirante francês Jean François de La Perousse (o rei está de roupa clara, sentado) – a viagem, iniciada em agosto de 1785, termina tragicamente, em janeiro de 1788, quando a expedição zarpou de Sidney, na Austrália, e nunca mais foi vista. O fotograma embaixo mostra atriz Kirsten Dunst, protagonista do filme “Marie Antoinette”, muito bom por sinal, num momento alusivo a um grande embaraço do casal. O desinteresse mútuo retardou em sete anos a consumação do casamento, fazendo o casal ser vítima dos mais maldosos mexericos, lançando suspeita sobre a paternidade dos filhos da rainha


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Consciente das suas falhas, e sem vontade ou forças para superá-las, o rei resolveu satisfazer todos os desejos da rainha, desde os mais estranhos até os mais caros, aumentando ainda mais o falatório e a impopularidade da rainha, fazendo-a retornar aos tempos de garotinha mimada. As festas se tornavam cada vez mais suntuosas, e as despesas da corte disparavam, justo no momento em que o estado francês enfrentava uma crise financeira terminal. Os bancos já lhe negavam empréstimo. A miséria da população aumentava perigosamente, mas o rei, orientado por conselheiros nobres e antiquados , só conseguia esboçar medidas paliativas, como quando aparecia nos arrabaldes pobres das cidades para dar esmolas aos famintos. Por mais esmolas que ele desse seria sempre muito pouco em comparação com o que ele poderia ter feito por essa gente, se ao menos parasse de atrapalhar.

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Essa situação não podia durar muito tempo, até que em junho de 1789 a somatória dos todos os erros antigos e repetidos, mais os que eram fruto dos novos tempos, explodiram de maneira violenta, trazendo a tona o ressentimento irrefreável da burguesia e das massas populares. Aquela querendo ampliar conquistas, essas buscando reduzir perdas ou sair da miséria ancestral. Era um novo mundo que se anunciava, por meio de uma revolução sangrenta. Luís e Antonieta, mau preparados, preferiram aferrar-se ao passado, buscando ativamente sabotar os avanços da revolução, chegando a trair o seu país, até que a morte inglória, no patíbulo da guilhotina, retirou-os de seu mundo de sonhos e colocou a ambos dentro da história, em janeiro e em outubro de 1793.


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CONSTITUIÇÃO CIVIL DO CLERO (1789)
Prof Eduardo Simões

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         Após um momento muito difícil, com várias e sangrentas perseguições, a Igreja Cristã conseguiu se consolidar dentro do Império Romano, até se tornar a religião oficial do Império, com o Edito de Tessalônica, de 380. A partir daí, o prestígio da Igreja junto aos imperadores só fez crescer, até chegar ao ponto de o bispo de Milão, Santo Ambrósio, impedir a entrada do imperador na sua catedral, em virtude dele ter ordenado uma cruel matança contra o povo de Tessalônica, conforme se vê na ilustração acima, do século XIX.
         Os imperadores toleravam essa, e outras ingerências, em virtude de o cristianismo ter se tornado o principal, senão o único, fator de unidade em um império tão vasto e heterogêneo, tendo, inclusive, isentado o clero católico daquilo que foi a grande praga do final do Império Romano: os impostos. E foi justamente essa condição de “isento”, associada a muitas e generosas doações, que permitiu ao clero católico acumular um patrimônio fabuloso ao longo de toda Idade Média, e, principalmente, na França.

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         Na França, onde o clero católico sempre gozou de muito prestígio junto aos monarcas e à nobreza local, ao final do século XVIII possuía um espetacular patrimônio fundiário e mobiliário, entre os quais se incluía a monumental Abadia de Cluny, modelo acima, e cujo valor era calculado em dez vezes a renda nacional anual; e aquilo despertou olhares muito cobiçosos, ao mesmo tempo em que o alto clero relutava em abrir mão desse patrimônio, o que não deixava de causar um certo estresse entre parcelas do clero, uns a favor outros contra, sobre que fazer com tanto patrimônio.

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         Porém, em 20 de junho de 1789, os deputados do Terceiro Estado, rompendo com os nobres, o alto clero e o rei, se reúnem na quadra do Jogo da Pela, que ficava próximo ao local oficial das reuniões parlamentares, de onde o Terceiro Estado fora enxotado, fizeram um juramento de só sair do recinto depois de terem dado uma constituição à França, transformando os Estados Gerais em Assembleia Nacional Constituinte. No quadro acima, chamado Juramento do Jogo da Pela, do pintor francês Jacques-Louis David, aparecem no centro do quadro, em primeiro plano, um monge católico de branco, Dom Gerle, um pároco de preto, o célebre Padre Gregório, e um pastor protestante, vestido de casaca marrom, confraternizando-se com o evento, refletindo um pouco a divisão que havia no seio do clero.
         O grande problema que provocara a convocação dos Estados Gerais, era a falência do Estado, causada tanto pelos gastos irresponsáveis dos últimos reis, como pela estrutura aberrante do sistema fiscal, que isentava nobres e padres, possuidores de enormes fortunas, do pagamento de impostos, direcionando uma grande parte da renda nacional em benefício desses dois grupos.
Na mente da maioria esmagadora dos deputados do Terceiro Estado, e até de uns do Primeiro e do Segundo, estava claro que chegara a hora do clero e da nobreza darem a sua cota de sacrifícios em benefício do país, em especial estaria na hora de um clero abrir mão de parte de seu espetacular patrimônio para que este pudesse servir de lastro para novas emissões de dinheiro e recuperar o crédito do país junto aos bancos privados. Para tratar dessa questão foi nomeada uma comissão especial, o Comitê Eclesiástico, que, a partir de agosto de 1789, começou a redigir um documento, chamado Constituição Civil do Clero, aprovado em 12 de junho de 1790.
         Os principais pontos da Constituição Civil do Clero são:
         a) Redução das dioceses, cujo território ficaria, agora, restrito ao território das divisões político-administrativas francesas: os departamentos, em número de 83: antes havia 130 dioceses.
         b) Vários cargos eclesiásticos são suprimidos, como os de cônego, as prebendas, capelães sem encargo das almas, simplificando e barateando os custos da estrutura.
         c) Os bispos seriam eleitos pelos eleitores de cada diocese, conforme o constante nas listas de eleitores do Estado, quer ele fossem católicos ou não!
         d) O Bispo será sagrado não mais pelo papa, mas pelo bispo metropolitano ou a mais antigo. O Papa, de agora em diante, será apenas a cabeça visível da Igreja e sinal de unidade.
         e) Antes de serem sagrados os bispos devem fazer um juramento de fidelidade ao rei, à nação e á Constituição. Esse juramento também deve ser feita pelos padres.
         f) O estado se encarregaria de pagar salários para o clero, conforme o cargo que ocupassem: os bispos receberiam 20 mil libras por ano, os vigários episcopais entre 8 e 2 mil libras por ano, os curas de Paris receberiam 6 mil libras e os do campo receberiam 1200 .
         g) Alguns cargos públicos eletivos eram vedados aos religiosos que, em compensação, poderiam se candidatar à Assembleia Nacional (o equivalente à nossa Câmara dos Deputados).
         Outro fato que derivou imediatamente dos trabalhos da Comissão Eclesiástica foi a nacionalização dos bens do clero, para servir como garantia para emissões e empréstimos para o Estado.

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         A Constituição Civil do Clero causou, como era de se esperar, um tremendo mal estar na sede da Igreja Católica, com o Papa da ocasião, Pio VI, na ilustração, se manifestando fortemente contra o texto da Constituição e a obrigatoriedade do juramento, causando uma ruptura entre o Papado e a França, enquanto internamente todos os bispos e quase metade dos padres se recusavam a jurar a Constituição civil do Clero – noventa e nove padres deputados, entretanto, prestam juramento, fazendo surgir uma contenda dentro do clero, que dividiu os eclesiásticos em dois grupos: os padres juramentados, que prestaram o juramento e são, por isso, sustentados pelo Estado, mas ficam rompidos com Roma, e os padres refratários, que não prestaram juramento, e são expulsos de suas paróquias pelo estado, passando à clandestinidade, a lutar daí por diante contra a Revolução.

AS CARMELITAS DE COMPIÈGNE (1794)

Prof Eduardo Simões

         Compiègne, no final do século XVIII, era uma pequena cidade próxima a Paris, com uns 8 mil habitantes, mas com uma grande relevância histórica. Nela foram construídos, ao longo de mais de mil anos, vários castelos-moradias para os reis de França, nos quais se realizaram reuniões, tratados e outros fatos significativos para a história do país. Nunca foi um lugar seguro para as grandes damas da França, afinal foi nas suas imediações que, em 23 de maio de 1430, Joana D’Arc foi capturada pelos Borguinhões, família francesa aliada aos ingleses, e entregue a estes para ser morta.
         O Carmelo Descalço de Compiègne, um afloramento da reforma da Ordem do Carmelo, iniciada na Espanha por Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, foi fundado em abril de 1641, numa edificação que não existe mais, próxima ao castelo real, e durante mais de cem anos gozou da simpatia da população e do patronato de reis e rainhas de França, que o cercaram de mimos. Eventualmente, moças da nobreza, além de gente do povo, ingressavam no convento, mostrando a enorme afinidade que havia entre o clero francês e a ordem social anterior à Revolução.
         Esse prestígio e proximidade com o trono, tão invejado num determinado contexto, mostrou-se, porém, ser perigoso e mortal, quando as circunstâncias mudaram.

Comunidade sob Ataque

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         As carmelitas são, como se sabe, monjas enclausuradas, ou seja, professam seus votos de probeza, obediência e castidade, ligadas inarredavelmente a uma construção, uma casa, que pode ser classificada como abadia ou priorado, mas que no caso carmelita é chamado simplesmente de convento. Portanto as carmelitas que professam num convento, e, em geral, passam o resto de suas vidas nele, são contemplativas, podendo sair do convento em algumas circunstâncias especiais, como fundar outro convento, e não são admitidas pessoas estranhas e do sexo oposto no interior de seus conventos. As freiras recebem as visitas por meio de uma janela gradeada, chamada parlatório, numa área só para isso, isolada do resto.
         Esse enclausuramento tão rigoroso, sempre gerou no homem comum um misto de curiosidade e especulações pueris sobre o que ocorreria lá dentro, ainda mais porque a rotina do Carmelo, apesar de dirigida às mulheres, é muito pesada. Mas tudo isso está mais que divulgado em livros de memórias e divulgação feitas pelas próprias freiras, e nas biografias de seus santos.
         E como fantasiavam os teóricos da burguesia francesa do século XVIII! Quando a monarquia mostrou-se incapaz de dar uma reposta adequada à grave crise econômica em que o país mergulhara, deflagrando Revolução Francesa, muitas especulações desarrazoadas se transformaram em ação de estado, em política nacional, uma delas é que afirmava que muitos padres e freiras eram mantidos contra a vontade dentro dos conventos, uma vez que se decidira que o celibato era “antinatural”, afirmação negada na prática por mais de 90% de religiosos católicos, que se recusaram a deixar seus conventos quando a isso foram autorizados pelos revolucionários.
         Em 2 de novembro de 1789, ainda na fase inicial, “moderada”, a Assembleia Nacional, que evoluíra, por pressão da burguesia, dos Estados Gerais, decretou o confisco de todos os bens da Igreja na França, que passariam a fazer parte dos ativos do Tesouro Nacional. O objetivo era usar da riqueza eclesiástica, clero da Igreja Católica na França, que durante o período monárquico não pagava impostos, da mesma forma que a nobreza, para minimizar a crise financeira gerada pelos desmandos reais. Os religiosos, segundo determinação da Assembleia, poderiam ficar morando nessas edificações temporariamente. Nesse momento as freiras do convento de Compiègne, em número de 21, veem a sua clausura forçada por funcionários do governo, para fazer um levantamento minucioso dos bens da comunidade.
         Em 13 de fevereiro de 1790, um novo e mais duro golpe as atinge: todos os votos religiosos proferidos até ali se tornaram inválidos, além de ficar proibida a profissão de votos religiosos na França daí para frente, e os religiosos são convidados a retornar para as casas de seus pais, se quisessem, podendo os outros continuarem a morar nos seus conventos, agora na condição de funcionários do estado, recebendo salário do Estado. Era um salário era muito baixo; uma forma de desestimular os pretendentes a essa vocação, inclusive uma carmelita chegou a ironizar: “o Estado agora nos priva de nossos votos, exceto o de pobreza!”
         A situação era delicada, e exigia prudência. A França se tornara uma monarquia constitucional com a Carta de 1790, que garantia amplos poderes ao rei, dentro de um sistema político mais moderno e adequado aos tempos. Porém, aconselhados por homens insensatos e oportunistas, o rei e a rainha resolvem fugir às ocultas para o estrangeiro, a fim de liderar uma contrarrevolução, sendo aprisionados na cidade de Varennes, perto da fronteira. Foi uma desmoralização! Não só para o casal real como para todos os moderados, que ainda tentavam dar prosseguimento às reformas necessárias ao país, inclusive muita gente da nobreza, da burguesia e do clero, mas o caldo fora entornado e os radicais não tardaram a se aproveitar disso. Lidera-os Maximiliano Robespierre,

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O homem errado, na hora errada no lugar errado. Luis XVI é preso à noite de 21 de junho de 1791, quando sua comitiva fizera uma parada para a troca de cavalos, na cidade de Varennes-en- Argonne. No centro, a rainha tenta controlar a situação e acalmar o pânico dos filhos; atrás, Luis XVI aperta as mãos num sinal visível de preocupação e medo, enquanto uma multidão enfurecida tenta invadir a sala onde faziam a refeição.

         Os efeitos desses acontecimentos na vida dos religiosos logo se fez sentir: uma nova decisão da Assembleia, em agosto de 1792, determina a dissolução de todas as congregações e a expulsão dos religiosos que ainda morassem em conventos.  A comunidade carmelita de Compiègne, então dirigida pela priora Madre Teresa de Santo Agostinho, resolve fazer um ato coletivo de consagração a Deus, “para que a divina Paz, que o seu filho Jesus, veio trazer ao mundo, traga a paz nas relações entre a igreja e o estado”. Ou seja, elas estão dispostas a dar sua vida para pacificar a sociedade e salvar o catolicismo na França.

Da Clandestinidade ao Cadafalso

         Em 14 de setembro de 1792, as carmelitas de Compiègne são expulsas do seu convento e retornam à vida civil, indo morar em pequenos grupos de quatro irmãs, em diferentes casas de família, que se dispuseram a recebê-las. Nesses pequenos grupos, elas, mesmo fora do claustro e sem seus hábitos, procuram manter os rituais de convivência comunitária e litúrgica prescritos na regra, renovando a cada dia seus votos e a sua consagração especial. Assistem à missa, todas juntas, numa igreja próxima, entrando discretamente por uma porta lateral. O povo e as autoridades de Compiègne convivem tolerantemente com aquilo. Não querendo despertar ódios desnecessários, e ainda porque os bispos franceses liberaram, elas prestaram o juramente de “Igualdade e Liberdade”, justo quando elas estavam sendo privadas da liberdade de seguir a vocação que escolheram, mas recusaram-se a jurar a Constituição Civil do Clero.
         Os acontecimentos se atropelam. Em 13 de julho de 1793, uma mulher, filha de um deputado girondino executado, resolve se vingar e assassina a Jean-Paul Marat, um dos mais populares representantes dos jacobinos. As perseguições e as execuções se multiplicam. No Parlamento, em 10 de junho de 1794, é aprovada a lei de 22 do prarial/ano II, que justificara o aumento da repressão e do terror de estado.
         A fúria terrorista da República Francesa atinge as carmelitas em cheio. Visando destruir fisicamente os inimigos internos, sem exceção, os “revolucionários” começam uma caçada paranoica pelo país, atrás de qualquer um que manifeste qualquer indício de oposição ao regime de “liberdade” que se queria impor, ainda que, objetivamente, não contrária às leis, mas contrária uma “mentalidade” que se queria impor, com era o caso das carmelitas. Uma ordem de inquirição e aresto, justificada pela luta contra o “fanatismo religioso”, foi assinada contra as carmelitas de Compiègne, em 20 de junho de 1794, e cumprida quase imediatamente. Nos dias 23-24 elas são presas, e levadas a um convento, transformado em prisão.
         As acusações contra elas, muito genéricas, e sustentadas pela descoberta de alguns objetos “comprometedores” como cartas, onde alguém criticava a o andamento da “revolução”; uma imagem do Coração de Jesus, devoção que estava muito em voga naquela época principalmente no interior do país, inclusive na região da Vendeia, onde se iniciara uma revolta, chefiada por nobres e padres, contra a Revolução. Foi encontrada ainda uma imagem de Luis XVI.
         No transporte para Paris, onde seriam julgadas, elas tiveram que passar três dias em carroções desconfortáveis, cercadas por uma guarda armada, para impedir que elementos vis, insuflados pelo governo, as trucidassem. Chegadas em Paris, foram levadas à famosa Conciergerie, uma prisão de onde saíram milhares de pessoas para ser guilhotinadas, no curto espaço de um mês e meio, que durou o Terror.
Lá, dentro, vestidas com seus hábitos, elas encontram também presa, uma comunidade de monjas beneditinas inglesas, que haviam se transferido para a França, fugindo da intolerância religiosa em seu país, e que serão as principais testemunhas desse período na vida delas, e darão ao mundo o conhecimento do que aconteceu às carmelitas. Na prisão, estas retomam, imediatamente, a sua vida conventual, rezando o ofício, renovando votos, fazendo as reuniões de praxe, como se nada demais tivesse acontecendo. Segundo testemunho dos que sobreviveram.
No dia seguinte, 17 de julho, elas são levadas à julgamento, uma mera formalidade, uma paródia grosseira. Seu acusador, Antoine Fouquier de Tinville, é um burocrata apaixonado e intolerante, que abusava de sua magistratura para humilhar os réus. Ele acusou as irmãs de organizar reuniões conspiratórias, de preservar sua organização conventual, de se corresponder com fanáticos, de guardar escritos que tramavam contra a liberdade. Tudo circunstancial e passível de interpretação.
Elas se apresentaram diante do juiz do “Tribunal Revolucionário” sem advogado de defesa, sem júri, e a única testemunha arrolada não compareceu. Um dos destinatários das cartas das carmelitas, o senhor Mulot, é denunciado, pelo promotor, como sacerdote “refratário” – sacerdote que se recusara a jurar a Constituição Civil do Clero – embora ele fosse casado e vivesse regularmente com sua esposa. Tudo feito às pressas, sem nenhum cuidado com as mais elementares normas do direito, da justiça e da verdade. Ainda assim o juiz acolheu a denúncia e procedeu a leitura da sentença, condenando-as à guilhotina, imediatamente.
Uma hora depois de terminado o “julgamento”, as freiras estavam na carroça padrão, a infame “bière des vivant” (expressão com um duplo sentido, pois “bière” quer dizer cerveja, bebida que alegra, e era grande a alegria dos que viam o carro dos condenados, indo ao cadafalso, mas o termo remete também à expressão “meter na cerveja”, que significa, para os franceses, “por no caixão”, o que fatalmente ocorreria com os passageiros), com corrimão vazado, para deixar os condenados visíveis e entregues à fúria dos passantes, que não raro lhes atiravam ofensas, piadas, frutas podres e o que mais tivessem á mão. Antes de saírem da prisão elas têm uma despedida emocionada com as beneditinas inglesas, que pedirão seus antigos trajes de prisão e os levarão como relíquias para a Inglaterra – hoje esses trajes estão na cripta do atual Carmelo de Compiègne.
Ao todo eram dezesseis pessoas, a saber: Madre Teresa de Santo Agostinho, a priora; irmã São Luis, subpriora; Irmã de Jesus Crucificado; Irmã Carlota da Ressurreição; irmã Teresa do Santo Coração de Maria; ex-priora Madre Henrieta de Jesus; Irmã Teresa de Santo Inácio; Irmã Julia Luisa de Jesus; Irmã Maria Henrieta da Providência; Irmã Eufrasia da Imaculada Conceição; Irmã Constança; Irmã Maria do Espírito Santo; Irmã Santa Marta e Irmã São Francisco Xavier, e mais duas mulheres que nem eram freiras, mas serventes do convento, que preferiram, livremente, seguir as suas patroas (!): Catarina e Teresa Soiron.
Na carroça dos condenados elas atraíaram toda sorte de olhares. Conta-se que alguns padres, disfarçados, seguiram a carroça dando-lhes discretamente a absolvição, à distância, enquanto elas cantavam o Miserere – versão cantada do Salmo 50 (ou 51), entoado nos momentos de penitência e arrependimento dos pecados – e a Salve Rainha até que chegaram à praça do Trono Derrubado, atual Praça da Nação, onde estava montado o cadafalso. O carrasco que as esperava era o famoso Charles-Henry Sansão, executor de quase três mil pessoas, durante a Revolução. O que aconteceu em seguida é quase indescritível.

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Elas descem da carroça e cantam o Te Deum, um hino solene de ação de graças. Após o que começam a cantar o hino Venit Creator, hino ao espírito santo, que sempre é cantado no momento que as freiras fazem seus votos. Madre Teresa de Santo Agostinho se adianta e pede para ser guilhotinada por último, a fim de poder encorajar as suas filhas. Sansão concorda. A Irmã Constança, a mais jovem, é a primeira a ser executada. Ele se ajoelha diante de Madre Teresa, pede-lhe a benção e autorização para morrer, e então sobe ao cadafalso cantando o Laudate dominum omnes gentes (o Salmo 117 ou 116, um canto de alegria, elevado toda vez que se inaugurava um Carmelo). Uma após a outra, todas fazem o mesmo ritual, deixando a multidão na praça pasma, ante o que via.
Seus corpos e cabeças foram jogados numa vala comum do cemitério de Picpus, que abrigará os corpos de muitos dos “justiçados” durante o Terror, junto com 108 padres, 136 monges, 108 nobres, 178 militares, 579 homens comuns, 51 mulheres nobres, outras 7 freiras e 123 mulheres do povo.

Epílogo

Dissemos, no início que a comunidade do Carmelo de Compiègne era formada por 21 freiras, no início da Revolução, e, no entanto, só 16 foram executadas; a razão é que duas delas morreram em 1791. Outras duas, Irmã Estanislava da Providência e Irmã Teresa de Jesus, no momento das prisões, haviam saído de viagem, para uma cidade distante, para acudir à irmã de Teresa de Jesus, que enviuvara. Teresa de Jesus Morrerá aos 82 anos, em 1830, e a Irmã Estanislava se perderá da história. A última delas, Irmã Maria da Encarnação, estava em Paris na ocasião, resolvendo umas pendências pessoais com o estado francês. Ela continuou como carmelita, e foi uma grande continuadora do culto à memória de suas amigas e irmãs na fé e de profissão. Irmã Teresa morrerá em 1836.

Vórtice Sanguinholento

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Na noite de 27-28 de julho de 1794, um grupo de golpistas formado por conservadores e radicais, invade violentamente um quarto do Hotel Ville de Paris, onde se encontrava a elite dos Jacobinos, provisoriamente em desgraça em virtude de acusações de corrupção e incompetência financeira. Nessa ocasião, segundo alguns, o gendarme Charles-André Merda, desfere um tiro contra o rosto de Roberspierre, quebrando-lhe a mandíbula – outra versão fala em tentativa de suicídio. Seu irmão, Augustin Robespierre, tenta se suicidar, pulando da janela do quarto, mas apenas quebra a perna.

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Quem nunca teve piedade de ninguém não poderia esperar piedade. Mesmo ferido, Robespierre é “julgado” imediatamente, nas mesmas condições que, rotineiramente, se oferecia às suas vítimas: sem advogado, sem testemunhas, sem provas, sem seriedade, e sumariamente condenado à morte na guilhotina.

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         Robespierre, o pequeno burguês, o advogado, que se tornou senhor absoluto da França, agora está de pé, junto à escada do patíbulo, com uma atadura envolvendo a sua cabeça, na manhã do dia 28 de julho (10 do thermidor), enquanto assiste a exibição da cabeça de 21 companheiros, que lhe antecederam, para a multidão delirante. Na hora de guilhotiná-lo o carrasco tirou a atadura que lhe envolvia o rosto, causando uma dor intensa, que o fez gritar intensamente, até o golpe da lâmina acabar com aquilo. Seu corpo foi jogado numa vala comum, no cemitério de Errancis, e sobre seu corpo foi atirado cal, dissolvendo os ossos. Mais tarde um anônimo escreverá um epitáfio a seu respeito: “Passante, não se apiede de eu estar aqui, pois se eu não estivesse morto, seria você quem estaria aqui”.


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         Filho da pequena nobreza rural, Antoine Fouquier de Tinville tinha tudo para fazer uma boa carreira como advogado. Quando estoura a Revolução de 1789, ele exercvia pequeno cargo público, e, ressentido com o seu passado e com seus reveses pessoais, sem medir meios para ascender na carreira, ele se aproxima dos elementos mais radicais e se torna um dos promotores de justiça mais encarniçados da França. Ele foi, por assim dizer, a “alma” dos tribunais durante o regime do Terror.

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         A sua subserviência covarde, e o seu
 carreirismo oportunista, ficaram patentes quando ele participou da condenação à morte de Robespierre, para quem trabalhara devotadamente, até ali. Não havia, porém, como escapar da devassa que se seguiu nas hostes jacobinas, após o 28 de julho, e ele foi preso sob a acusação de que levara a juízo centenas de pessoas desconhecidas, indiscriminadamente arroladas em um mesmo processo; de levar a julgamento e condenar centenas de pessoas sem uma acusação clara formada; de levar à execução pessoas que nem sequer haviam sido julgadas; por fazer com que pessoas não condenadas fossem executadas no lugar de outras já condenadas; de precipitação no julgamento e condenação de muita gente inocente; etc. Para comprovar tais absurdos foram ouvidas de 29 de março a 1° de maio de 1795 cerca de 419 testemunhos, sendo 223 a favor – a sua tese de defesa foi condenar os seus superiores, já mortos, em especial Robespierre, que o estaria perseguindo (!), uma tática que seria repetida pelos genocidas nazistas 150 anos depois.  Fouquier teve o que nunca propiciou às suas vítimas: um julgamento justo, mas não foi o suficiente para salvá-lo da condenação à morte. Até o último momento ele alegou inocência, e ainda previu que, no futuro, seria reconhecida a sua inocência; o que, até hoje, não aconteceu. Ele foi guilhotinado no dia 7 de maio de 1795, junto com outras 15 pessoas. Acima a mais famosa vítima do impiedoso promotor: a rainha Maria Antonieta, cena bastante idealizada pelo pintor. 

TRAGÉDIA DE MAYERLING (1889)

Prof Eduardo Simões

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O príncipe Rodolfo de Habsburgo, nascido em 1858, era filho de Sissi e do Imperador Francisco José da Áustria-Hungria, um homem de temperamento romântico, sensível, artístico, até certo ponto frágil, escolhido pelo “destino” para suceder ao seu pai no comando de um Império gigantesco e problemático, sendo obrigado, desde a mais tenra idade, a se submeter ao ritual sufocante da corte vienense, por um pai emocionalmente frio e enrustido, o suprassumo do convencionalismo.


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Obrigado a se casar com uma princesa belga, o príncipe se vingava dessa e de outras imposições sociais e dinásticas, para ele vazias e sem sentido, tornando-se vida boa e um amante compulsivo, saindo de uma conquista amorosa para outra, até, achar-se perdidamente apaixonado pela baronesa húngara Maria Vetsera, que, pelo que se deduz da foto, além de seu encanto exótico, nada germânico, correspondia ao padrão de beleza geral mais apreciado da época: mulheres “cheinhas”, um pouco diferente de hoje.

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Ninguém sabe exatamente o que aconteceu. O imperador fez de tudo para ocultar o caso. Mas o certo é que no dia 30 de janeiro de 1889 o príncipe e Maria Vetsera, foram encontrados mortos num aposento do pavilhão de caça imperial, em Mayerling. O corpo dela foi posto, às pressas numa carruagem de passeio e mandado para a família, enquanto o dele saiu numa imponente cortejo do pavilhão de Mayerling, como mostra a ilustração acima. Rodolfo foi pranteado pela mãe, mas só por ela, o pai, Francisco José, quando soube do ocorrido, limitou-se a dizer: “morreu como um alfaiate”, e nunca mais falou do assunto. Sissi, então, passou a se vestir só de preto, nunca mais pôs os pés em Viena, e só muito esporadicamente via o marido, a quem passou a tratar como um amigo, distante, até o seu assassinato, o dela, em 1898.



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Eis uma foto pavilhão de caça imperial em Mayerling, no ano
 de 1889. O episódio foi tratado na época como um pacto de morte entre amantes, seguido de suicídio, a tiros, mas em 1945, um obus soviético, quando da tomada de Viena, acertou a tumba de María e expôs seus ossos. Um estudo feito não encontrou buraco de bala, compatível com a versão oficial de que o príncipe a matou, se matando em seguida, e, posteriormente, uma autopsia feita nos ossos de Rodolfo comprovou ferimentos sérios no topo do crânio, incompatível com a tese do suicídio. Será que o casal foi morto? Havia sinais de luta e sangue espalhado no quarto onde o casal foi encontrado.  Rodolfo era considerado alguém muito perigoso pela elite austríaca em virtude de seu estilo de vida e de suas ideias políticas “avançadas”, sem falar de sua extrema admiração pela França, para horror do chanceler alemão Bismarck. A possibilidade de um complô, com a concordância ou indiferença de Francisco José, não é improvável.

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ÁLBUM - ELISABETH DA ÁUSTRIA-HUNGRIA (1854-1898)

Prof Eduardo Simões


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Elisabeth Amalia Eugênia (1837-1898), era uma belíssima duquesa bávara (da Bavária, uma região da Alemanha), que conseguiu conquistar o coração do jovem imperador Francisco José, da Áustria-Hungria, na verdade destinado, pela sua mãe dominadora, a se casar com a irmã mais velha de Elisabeth, graças à sua beleza incomum e ao seu jeito alegre e vivaz, que encantou o imperador de apenas 23 anos (ele começara a reinar com 18 anos), enquanto ela tinha somente 16! Entretanto, o casamento, acontecido no ano seguinte, foi infeliz, a noite de núpcias uma catástrofe, sem falar que o imperador, apesar de jovem, era muito caseiro (o oposto de Sissi, o apelido de Elisabeth), dominado pela mãe e muito bitolado. Na pintura vemos uma de suas características: ela nunca cortava os cabelos.

Fonte: Wikipedia inglesa
  

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWaTw6ipf1BrbO9it2CAe9Gh-ufW_L_hYPcCs7SRkY2qUltIC5eVh0fuQr2FuyDpr13b5W9nWBabvlY5BwTTEOIXaD3n0CvxrApTbXAopFinuljwfJ0ttSJxK_laBiGI8PH21BBDYJ96E/s1600/sissi_schicksalsjahre_einer_kaiserin_09.jpg

A vida de Sissi, em especial a sua longa relação com Francisco José, foi altamente idealizada em um filme de 1955, Sissi, que fez tanto sucesso que se seguiram outros dois, Sissi a imperatriz, de 1956, e Sissi e seu destino, de 1957, assistidos por umas 20 ou 25 milhões de pessoas, mostrando a parelha imperial como um casal perfeito, acossado por pequenos problemas. Um modelo de família para um mundo perfeito. Mas a realidade foi diferente, e Sissi viveu o resto de sua vida fugindo de seu marido, que só procurava submetê-la ao rígido protocolo da corte de Viena, e ela sempre resistindo. Nesse meio tempo o filho mais velho do casal, Rodolfo, se suicida num episódio que ficou famoso, em 1889. No filme o papel de Sissi foi interpretado pela belíssima atriz alemã Romi Schneider.
Fonte: http://teaattrianon.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html

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A imagem de Sissi era controvertida. Para uns ela era uma mulher à frente de seu tempo, enquanto que para o povo ela era uma pessoa distante. Para ativistas e revolucionários nascidos da exploração desumana da classe trabalhadora da época, ela era apenas uma mulher rica e fútil, que não se importava com as condições de vida dos mais pobres, enquanto viajava de um balneário exclusivo para outro, torrando dinheiro para se manter bonita ou evitar encarar seus problemas pessoais, à custa do dinheiro da nação. Um desses revolucionários, o anarquista italiano Luigi Lucheni, um homem irrequieto, que teve uma infância infeliz e sacrificada, fingindo um tropeção, cravou um estilete no coração da imperatriz no dia 10 de setembro de 1898.  Na foto, Luigi Lucheni sorri no momento da prisão. Ele sempre se orgulhou muito do que fizera, inclusive pediu para si a pena de morte, para ser contado entre os mártires do anarquismo, mas só conseguiu prisão perpétua, até 1910, quando se enforcou com o seu cinto.
Fonte: http://www.fuenfseenland.de/personen/sisi/sisi-7-1.php
            http://dictando.blogspot.com.br/2006_06_01_archive.html

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ROUBO DA MONA LISA (1911-1913)

Prof Eduardo Simões

http://ichef-1.bbci.co.uk/news/ws/304/amz/worldservice/live/assets/images/2013/12/11/131211183431_monalisa_ladrones.jpg
http://www.bbc.com/

         No dia 21 de agosto de 1911, uma segunda-feira, pela manhã, quando o pintor francês Louis Béroud foi montar seu cavalete diante da Mona Lisa, no Museu do Louvre, em Paris, para copiá-lo em uma tela, notou a falta de uma coisa... justo do quadro. Imediatamente ele acionou a direção do museu, e esta a polícia.
         O que acontecera é que um ex-funcionário do Louvre, o encanador italiano Vicenzo Peruggia, chegara um pouco antes, às 7:00 h, e, sabedor da fragilidade da segurança, roubara o quadro, e o levara escondido debaixo de suas roupas. Como mostra a ilustração acima.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f8/Mona_Lisa_stolen-1911.jpg
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         Imediatamente foi dado um alerta de segurança nacional e as fronteiras do país foram fechadas. A polícia convocou seus melhores agentes e deu início a uma caçada, na busca pelo quadro e o autor do crime.
A notícia corre o mundo inteiro, e o Louvre, quando reabre, uma semana depois, recebe uma avalanche de gente nunca antes vistas, só para ver a parede vazia, no local onde o quadro ficava, como se as pessoas não acreditassem na notícia. Uma comoção mundial faz com que milhares de pessoas e até empresas, se dedicassem à busca da Gioconda – a imagem do quadro foi reproduzida em embalagens de produtos diversos, alertando para o seu desaparecimento. O resultado disso é que a fama do quadro aumentou enormemente, consolidando em definitivo a sua posição de ícone da arte ocidental.
         Na França a polícia concentrou suas buscas junto a um grupo de artistas modernistas, alguns dos quais haviam feito espalhar a ideia de botar fogo no Louvre e, em especial, destruir obras como a Mona Lisa, cujo “culto”, na concepção deles, bloqueava a renovação da arte ocidental. À frente desse grupo estava o artista espanhol, ainda pouco conhecido, Pablo Picasso, e o grande poeta modernista francês Guilherme Apolinaire. Ambos foram presos, mas soltos pouco depois, por falta de provas.
         Em fins de 1912 a polícia entrega os pontos, e o quadro é definitivamente retirado do acervo do museu.
        

         Em 11 de dezembro de 1913, um renomado antiquário italiano, Alfredo Geri, de Florença, a mesma cidade onde o quadro fora pintado uns 410 anos antes, recebe a proposta de venda do quadro de da Vinci, pelo valor de 500 mil liras. Geri, acompanhado do curador da Galeria degli Uffirzi, vai até o endereço dado e confirma: aquele era a Mona Lisa original de Leonardo. Imediatamente entram em contato com a polícia, e Vincenzo Peruggia é preso. O quadro é devolvido à França, mas antes faz uma turnê pela Itália, onde os cuidados com a segurança foram excepcionais, como se pode ver na foto.


         No inquérito e julgamento, Vincenzo Peruggia alega que agira por patriotismo, uma vez que o quadro, segundo ele, fora levado da Itália, à força, por Napoleão Bonaparte, em sua invasão no final do século XVIII e início do XIX – Peruggia, coitado, especulava em vão acerca desse quadro, pois a Mona Lisa fora comprada a peso de ouro pelo rei Francisco I, de França, ao discípulo amado de Leonardo, Andrea Salai, que herdara o quadro nos últimos anos de vida do mestre. Peruggia é condenado, e amarga sete meses na cadeia pelo roubo. Peruggia está sentado, de frente, entre os guardas, ao fundo.
         No final das contas tudo acabou bem. Graças ao roubo a Mona Lisa fica mais conhecida e famosa ainda – alguns dizem que a sua fama atual é fruto desse roubo – e Peruggia chegou mesmo a voltar à França, usando documentos falsos, onde morreu, em 1925, aos 44 anos.


ASSASSINATO DE SARAJEVO (1914)

Prof Eduardo Simões

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        O Arquiduque Francisco Fernando, acima, era sobrinho do Imperador Francisco José I, da Áustria, que acabou se tornando o herdeiro do trono, após a morte de seu primo Rodolfo, que teria se suicidado em Mayerling (1889), e do seu pai, em 1896. Era, aparentemente um homem muito aberto a novas ideias e pessoalmente flexível, para o padrão dos Habsburgos austríacos – casou por amor com uma moça da nobreza alemã, Sofia Chotek, contra a vontade e Francisco José, que não a achava nobre o bastante para casar com um príncipe da Áustria, e que só a muito custo, e pressão, concordou em aceitar o casamento, mas nem ele, nem nenhum representante da família da família imperial austríaca, ou da alta nobreza, participou da cerimônia de casamento, em 1º de julho de 1900, após o casal ter se comprometido que nenhum de seus filhos jamais se sentaria no trono.
         Do ponto de vista político, Francisco Fernando era adepto de reformas profundas na monarquia austríaca, esclerosada pelo longo governo míope e conservador de Francisco José, um crítico dos métodos de dominação violenta dos húngaros, e preconizava mais liberdade para as diversas nacionalidades que viviam nos territórios do império austríaco, defendendo a melhoria das condições de vida dessa gente como a melhor forma de conter ressentimentos. Seu projeto era transformar a monarquia dual austro-húngara numa federação.

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  Contra as pretensões austríacas, e superdesconfiada do Arquiduque, estava a Sérvia, um país eslavo, vizinho da Áustria, inconformada por haver muitos de seus nacionais ainda sobre domínio alemão, tal era a quantidade de sérvios que viviam em territórios austro-húngaros, e queria a todo transe que esses territórios passassem para o seu controle, em uma disputa encarniçada pela hegemonia política dos Balcãs, a região mais violenta da Europa nessa época.
     A região da Bósnia e Herzegovina, por exemplo, tinha uma grande população sérvia, muito mobilizada contra o domínio austríaco, ainda mais porque sofria a influência de agentes sérvios infiltrados. Uma das organizações que lutava contra os austríacos era a Jovem Bósnia, fundada em 1911, contando com ampla cobertura e apoio de organizações terroristas sérvias, formadas por oficiais do exército sérvio, como a Mão Negra. A Jovem Bósnia, que tinha esse nome por recrutar seus agentes, principalmente, nos meios estudantis, tinha um objetivo nitidamente terrorista, voltado para o assassinato de personalidades do governo.
         Na foto acima vemos os jovens que formavam a organização em 1911. Sentado, à direita, um jovem adolescente, com um olhar aparentemente tranquilo, de apenas 14 anos, chamado Gavrilo Princip.

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http://kids.britannica.com/

         Em julho de 1914, apesar dos avisos alarmantes do serviço secreto austríaco e da polícia Bósnia, Ferdinando resolveu ir para a Bósnia, a fim de participar de exercícios militares. Sua esposa, que nunca o acompanhava em visitas oficiais, conforme acordado antes do casamento, dessa vez o acompanhou, uma vez que ele ia como Comandante em Chefe do exército austro-húngaro ela podia acompanhá-lo à vontade, além de um pretexto mais sentimental: no período das manobras o casal faria aniversário de casamento.
No dia 28 de junho eles chegam a Saravejo, e dão início à agenda oficial de desfiles e visitas às 10:00 h da manhã. Na foto acima vemos o casal imperial se esforçando para deixar uma boa impressão ao ser cumprimentado por um transeunte, nas ruas de Saravejo, pouco antes do assassinato.

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      A comitiva pegou a rua que margeava o rio Miljiacka, e num dado momento, um dos conspiradores, Nedeljko Cabrinovic, arremessa uma bomba contra o carro que rebota, após bater na capota arreada do conversível do príncipe, e explode alhures, ferindo várias pessoas. Cabrinovic é preso pela polícia. A comitiva segue a toda velocidade para a prefeitura, de onde partem, minutos depois, com a intenção de visitar as vítimas da explosão no hospital.
     No caminho, porém, a comitiva se perde, e enquanto o motorista do arquiduque manobra, para tomar o caminho correto, fica bem na mira de um dos conspiradores, Gavrilo Princip, que, armado com uma pequena pistola manual, aproxima-se e dá dois tiros a queima roupa; uma bala atinge o arquiduque na jugular e outra a duquesa, no abdômen – segundo Princip, a morte da duquesa foi acidental, pois ele queria atingir o odiado governador Oskar Potiorek, no banco da frente.
     Percebendo a gravidade da situação o arquiduque teria dito: “Querida Sofia não morra, viva para os nossos filhos!” Em vão. Indagado sobre os seus ferimentos ele repetiu várias vezes: “não é nada!”, suas últimas palavras, pois, apesar de ser atendido por um médico, ele faleceu às 11:00 h da manhã.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/Gavrilo_Princip_captured_in_Sarajevo_1914.jpg
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https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e6/1914-06-29_-_Aftermath_of_attacks_against_Serbs_in_Sarajevo.png/800px-1914-06-29_-_Aftermath_of_attacks_against_Serbs_in_Sarajevo.png
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      A foto mais acima foi batida logo depois do assassinato do casal imperial. Por muito tempo acreditou-se que ela captava a prisão de Gravilo Princip, mas uma última vertente, colhida de uma testemunha ocular, advoga a versão de que se trata de um cidadão comum, que tentou evitar o linchamento de Princip pela multidão furiosa, e acabo alvo da fúria desta. Aliás, nos dias seguintes, grandes levas de bósnios, insuflados tanto pelo governador Potiorek e pelo bispo Josip Stadler, atacou propriedades de cidadãos sérvios no país, espalhando seus bens pelas ruas, como se vê na foto mais abaixo, batida no dia seguinte ao atentado. A onda de violência que se seguiu gerou a morte de 700 a 2200 sérvios nas prisões, além da condenação à morte de 460 deles; suspeitos de subversão e espionagem pró-Sérvia.
        Esse assassinato foi um dos mais trágicos da história, pois, por causa dele, a Europa mergulhou numa grave crise, a “Crise de Julho”, que levaria o mundo à Primeira Guerra Mundial, a mais violenta e mortífera guerra havida até então, com quase duas dezenas de milhões de mortos ao final.

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      Os conspiradores são levados a julgamento, que se realizou em Sarajevo, de 12 a 23 de outubro de 1914. A sentença saiu em 28 de outubro. na primeira fila vemos, da direita para a esquerda, Cubrilovic (16 anos de prisão), Ilic (morte por enforcamento), Princip (20 anos de prisão), Cabrinovic (20 anos de prisão), Gabrez (20 anos de prisão) – segundo a legislação do império austro-húngaro, aqueles que tivessem menos de 20 anos só poderiam ser apenados a no máximo 20 anos de prisão. Isso nos dá uma ideia da juventude deles.
      Na prisão, sob vigilância estrita, submetido a trabalhos forçados, maltratos e a confinamento rigoroso, Princip adquiriu tuberculose óssea, que obrigou à amputação do braço direito, e ao morrer, seis meses antes de acabar a guerra, tinha apenas 40 kg, peso semelhante aos das modelos que sofrem de anorexia grave.

O Fantasma de Gavrilo Princip

     Ao terminar a 1ª Guerra, os austríacos tentaram se livrar dos restos mortais de Princip, para evitar culto a sua pessoa, mas foi em vão. Os sérvios descobriram-nos e os trasladaram para Belgrado onde lhe deram o sepultamento de herói, e como herói ele passou a fazer parte da história da Yugoslavia, o grande sonho de hegemonia eslava da Sérvia, realizado após os tratados da Primeira Guerra, que penalizaram brutalmente a Áustria, sobre a qual caiu a ira de todos, como principal causadora da Guerra.
       Entretanto nem após a sua morte seus restos descansaram: sua casa paterna foi destruída três vezes e três vezes reconstruída, transformada hoje me dia em museu comemorativo, o local do assassinato, considerado como o sítio de um heroico feito nacional, ficou repleto de marcas e placas comemorativas, rapidamente retiradas após o colapso sangrento da Yugoslávia.
    De fato, a Yugoslávia, que nasceu como consequência desse assassinato bárbaro, acabou da mesma forma que começou: num colossal banho de sangue, durante a guerra civil de 1991 a 1999, que a esfarelou em diversas republiquetas mutuamente intratáveis.

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     É proibido aprender, ou o resto do mundo que se exploda! Ignorando solenemente todas as consequências do desastroso atentado, inclusive para a Sérvia, que teve perdas humanas (em torno de um milhão de mortos) e materiais terríveis, durante a Primeira Guerra Mundial, para conseguir o seu objetivo, e perder tudo em 80 anos – hoje a Sérvia tem quase o mesmo tamanho da Áustria, mas sua renda per capita é quatro vezes menor – os sérvios continuam mantendo, ao exagero, o culto à pessoa de Gavrilo Princip, até como um incentivo para que as novas gerações façam o mesmo em situação análoga. É pela violência cega que se consegue os grandes objetivos nacionais, embora a experiência histórica da Sérvia mostre justo o contrário! Acima, um rapaz vestido a caráter repete o gesto de Princip, junto a uma enorme estátua comemorativa ao infeliz assassinato, levantada na parte sérvia de Seravejo, em junho de 2014, na passagem dos cem anos do episódio.
    O culto a Princip é tão intenso que alguns tocam a sua estátua como se fosse um objeto sagrado ou milagroso. Loucura passada de pai para filho... 



POILUS 1914-1918
Prof Eduardo Simões


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Os soldados franceses iniciaram a guerra de 14-18 usando vistosos uniformes vermelhos e azuis bem chamativos, típicos do século XIX, mas totalmente inadequados para a guerra moderna, o que os tornava alvos perfeitos. O seu quepe de pano, também vermelho, só servia mostrava o melhor alvo para o atirador inimigo: a cabeça, da mesma forma que era inútil contra estilhaços. Era um uniforme de parada e demonstração, não para uma guerra. O soldado francês da Primeira Guerra era chamado genericamente, “poilu”.
Fonte - http://www.thedrinksbusiness.com/2014/01/wine-and-warfare-part-9-le-salut-au-pere-pinard/


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Eis a verdadeira razão porque eles eram chamados “poilu”, “peludos”, pois ainda usavam longas barbas e bigodes, típicos da zona rural do século XIX, que já deixara de ser moda nas grandes cidades. Esse nome, dizem, começou nas guerras de Napoleão III, quando muitos homens do interior, que não tinham o hábito de barbear-se, se engajaram no exército. Em 1915 o uniforme mudou para um azul claro, e apareceu um capacete de metal mais confiável que o quepe antigo
Fonte, http://delpoincom.skyrock.com/550527409-Qu-est-ce-qu-un-poilu.html



http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/4/41/Poilusrepos.jpg

Nem sempre o dia era belo e ensolarado como o da foto, nem era seguro ficar posando, assim relaxados, para foto. Entre esses poilus, relativamente pelados,nota-se um negro, provavelmente oriundo de uma das colônias francesas na África.
Fonte - http://en.wikipedia.org/wiki/French_Army_in_World_War_I


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Jovens franceses revivem, nos dias de hoje, o odisseia de seus tataravôs. Um povo que não cultiva a sua história não tem futuro
 Fonte: http://darkroom.baltimoresun.com/2013/11/veterans-day-celebrated-around-the-world/france-12/ 


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TAXIS DO MARNE (1914)

Prof Eduardo Simões

http://www.planetfigure.com/attachments/mounted-uhlan-jpg.95841/
Fonte http://www.planetfigure.com

No início de setembro de 1914 os responsáveis pela defesa de Pais foram abalados por notícias preocupantes: um grupo de cavaleiros alemães, os famosos ulanos, estavam fazendo atividades de reconhecimento a poucas dezenas de quilômetros da capital francesa. O rolo compressor alemão seguia esmagando tudo à sua frente, e se tomasse Paris dificilmente os franceses se sustentariam na guerra por muito mais tempo. Era preciso enviar mais tropas para a frente de combate, a fim de detê-los e salvar Paris.

http://www.cpa-bastille91.com/wp-content/uploads/2010/06/Juin-2010046.jpg
Fonte http://www.cpa-bastille91.com

Paris, nessa época, já era uma cidade cosmopolita, moderna, que dispunha de uma frota de 10 mil taxis, embora na ocasião só houvesse uns 3 mil, uma vez que 7 mil taxistas já tinham sido convocados par servir nas forças armadas – na foto vemos uma fileira de taxis estacionados no centro do boulevard (avenida) Saint-Martin, em 1914, com ônibus circulando dos dois lados.
O general comandante da defesa da cidade, o Joseph Gallieni, teve então a deia de convocar os motoristas de taxi ainda em atuação para ajudar no transporte da 7ª divisão de infantaria, uns 6 mil soldados, para a frente de combate. Seu chamado foi respondido com entusiasmo.

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Fonte http://www.flatout.com.br/

Em 6 de setembro, 600 taxis partem do seu ponto de encontro, a enorme praça em frente ao Hotel dos Inválidos, levando a sua cota de soldados, seguido no dia 7 por outros 700 veículos que levaram o resto da tropa. Como não havia espaço para todos em alguns veículos os soldados foram em pé nos estribos laterais ou mesmo sobre a capota, arrancando aplausos e vivas dos pedestres as ruas. Um belo feito propagandístico.

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Fonte http://www.2groupeduracaof.com

Em pouco tempo as estradas próximas ao front ficam abarrotadas de todo tipo de transporte coletivo. Cada taxi percorreu entre 120 e 200 quilômetros para cumprir sua missão, custando a cofres públicos a quantia de 70.120 francos (uma média de 20 centavos o quilômetro), ao mesmo tempo que deu uma indicação do enorme potencial das unidades motorizadas, que farão sucesso na guerra mundial seguinte, mas que os generais franceses não perceberão.
Esse episódio causou furor patriótico na população e aumentou muito o ímpeto dos franceses nessa guerra, mas quanto ao fato de ter causado alguma mudança significativa na batalha que se seguiu: a Primeira Batalha do Marne, que salvou Paris, foi praticamente nulo.

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Fonte http://actualitesdegagny-blog.20minutes-blogs.fr


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Fonte http://oglobo.globo.com/


No topo, Kleber Berrier, ao centro, o último taxista do Marne ainda vivo, sendo homenageado nas comemorações do 70º aniversário do evento. Ele morrerá no ano seguinte. Acima, os franceses comemoram o centésimo aniversário do feito de seus antepassados. O povo que não conhece nem ama a sua história não tem futuro.


ROSA SHANINA (1943-1945)

Prof Eduardo Simões

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__ Os “bons de bico” da antiga União Soviética, pensavam duas vezes antes de jogar sua “farofa” em cima da bela garota da foto, com o rostinho de estrela de cinema. O nome dela era Roza Shanina, uma pessoa nascida para o esquecimento, que se tornou um símbolo de força e coragem de uma nação.
__ Nasceu em Yedma (nem tente procurar num mapa), filha de uma ordenadora, em uma fazenda coletiva, e de um lenhador aposentado por ferimentos de guerra (da 1ª Guerra), sempre foi uma criança muito esforçada, consciente das dificuldades de sua família, e, devido a essas mesmas dificuldades, precocemente amadurecida – como não havia transporte escolar, ela andava 13 quilômetros todos os dias, para frequentar a 5ª série na escola, em Bereznik, e também aos sábados, quando ia para lá cuidar de uma tia doente.
__ Com 14 anos de idade, contra a vontade dos pais, ela caminho, sozinha, 200 km, até uma estação ferroviária, onde pegou um trem para Arkangelski, a fim de continuar seus estudos, tendo se alojado no dormitório dos alunos, junto com seu irmão Fiodor, que já estava lá. Tornando-se frequentadora do estádio Dínamo, onde jogava vólei, e dos cinemas locais. Nos dois últimos anos do ensino secundário (o nosso Ensino Médio), ela trabalhou como professora num jardim de infância da cidade, fazendo boa fama entre as crianças e os pais delas. Entretanto com a invasão nazista à União Soviética, e a notícia da morte de um de seus irmãos nos primeiros combates em torno de Leningrado, em dezembro de 1941 (outros dois morrerão mais tarde).

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__ Shanina então resolve se alistar, e no início de 1942, com 18 anos é incluída num programa de treinamento de atiradores de elite, ou franco-atiradores, do exército soviético – a crença entre eles era que as mulheres tinham um biótipo ótimo para serem atiradoras: membros mais flexíveis (podem se meter mais facilmente em qualquer buraco), são mais pacientes e ardilosas que os homens, são mais resilientes ao estresse de combate e ao frio, que no inverno da Rússia seria uma qualidade muito preciosa. Na escola de atiradores ela se destacou por sua grande habilidade de atingir alvos em movimento e acertar dois alvos com dois tiros rápidos e consecutivos.
__ Em abril de 1944, ela é incorporada a um pelotão feminino de atiradores da 148ª Divisão de Rifle, e entrou em ação nos combates que se seguiram à derrota alemã em Stalingrado. Próximo a Vitebsk ela matou seu primeiro inimigo. “sua pernas colapsaram, após esse primeiro encontro, e ela deslizou para dentro da trincheira dizendo: “eu matei um homem!” Uma mulher, que estava junto corrigiu-a: “Ele era um fascista, e você acabou com ele”. Sete meses mais tarde Shanina escreveu no seu diário que ela agora matava o inimigo com sangue frio e que agora ela via um sentido para os seus atos e para a sua vida” (Wikipedia em inglês – Roza Shanina). Em fins de maio ela atingira a marca de 17 nazistas mortos, e tornou-se capa de um jornal militar.
__ Com o início da Operação Bragation, que visava expulsar definitivamente os alemães do solo russo, pela destruição de um vasto número de tropas que compunham a espinha dorsal do poderoso o Exército do Centro alemão, na Rússia, em junho de 1944, o Alto-comando resolveu dispensar as atiradoras do exército russo, dando por encerrada a sua participação. Ela ficou completamente indócil, utilizando toda sorte de subterfúgio para continuar na linha de frente, tendo, inclusive escrito pessoalmente a Stalin, pedindo por isso, chegando a ser punida por ir à linha de frente sem autorização. No seu diário ela escreverá: “a necessidade premente – de enganar o inimigo e matá-lo – tornou-se uma lei irrevogável na minha caçada” (Wikipedia em inglês). É possível que a guerra já estivesse mexendo com a cabeça da bela professorinha com tranças do Jardim de Infância. E, provavelmente ela nem percebeu a mudança, mas tudo indica que, para além do dever com a pátria, ela estava começando a gostar do que fazia...

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__ Certa vez ela teve que se defrontar com um “atirador-cuco” alemão – uma modalidade em que o atirador se aninha numa árvore, com uma posição de tiro mais privilegiada. Ela esperou o entardecer, quando a luz de fundo projetou a sombra dos galhos no solo, e ela descobriu onde estava o atirador... Em agosto a 148ª invadiu o território alemão da Prússia Oriental, e no final do mês ela atingiu a marca de 42 nazistas mortos. Cinco em um só dia. Surgia a legenda do “terror invisível da Prússia Oriental”, dada por um jornalista canadense. No seu diário ela escreverá: “A essência da minha felicidade é lutar pela felicidade dos outros. Não é estranho que, gramaticalmente, a palavra “felicidade” só exista no singular? Isso se contrapõe ao seu real significado, após tudo... Se for necessário morrer pela felicidade comum, então eu estou preparada” É um pensamento cercado de morte. Mas podia ser diferente depois de tudo que ela e a sua geração vivenciaram. Nós, no Brasil, não conhecemos isso e, talvez, por isso, não levamos nada a sério, mais do que seria razoável.
__ Seu país já reconhecera todo o seu esforço heroico, lhe premiara com as mais altas honrarias, para a sua condição de soldado, e já lhe liberar da guerra. Mas ela não se liberava, e continuava com a sua angustia existencial procurando algo que ela talvez não soubesse bem o que. O povo russo, certamente, não ficaria tão feliz com o seu sacrifício até o fim, que em tê-la de novo em sala de aula, preparando com competência as futuras gerações, sem guerra por fora ou por dentro, mas não era assim que ela pensava até que o inimigo veio lhe dar a paz que ela não conseguia achar por si mesma.

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__ No dia 27 de janeiro de 1945, numa região do front onde os combates foram particularmente selvagens, dois soldados encontraram-na junto a uma peça de artilharia e do corpo de um oficial que ela tentara, em vão, proteger. Suas vísceras estavam para fora e seu peito aberto por um estilhaço do escudo do canhão, que devia protegê-la. Levada para um hospital, perto de Ilmsdorf (atual Novobobruysk), na Prússia Oriental. A enfermeira que lhe atendeu disse que ouviu ela ainda dizer que lamentava ter feito tão pouco.
__ A garota que um dia se descreveu como “sem limites e excessivamente falante”, terminou, com a guerra, falando só para si, em seu diário, e com que intensidade! “Não posso aceitar que Misha Panarin não vive mais. Como ele era bom! E agora está morto... Ele me amou, eu sei, e eu a ele... Meu coração está pesado, eu tenho vinte anos, e não consigo me aproximar de um rapaz amigo...” (idem). Mais tarde conheceu a, Nikolai, “que não tinha o brilho cultura nem da criação”, mas que acabou por romper com ele, uma vez que “eu já fui dada a outro e não quero amar a nenhum outro”. Nas últimas páginas do diário ela escreve: “não tenho consolo” além de “não servir para ninguém” (idem). Sua mãe, segundo o seu irmão mais novo, Marat, ao receber a notícia de sua morte, o quarto dos seus filhos que se fora, limitou-se a dizer repetidamente, sem derramar mais lágrimas que ela já não tinha, limitou-se a repetir: “Isso é tudo, isso é tudo!” Isso é a guerra!

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Na foto acima vemos ela e sua acompanhante, na Prússia Oriental, oito dias antes de sua morte. Quando da sua morte ela contará 59 inimigos abatidos, oficialmente reconhecidos.


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