Medieval

Índice Cronológico

Suevos - Satí - Ataque a Lindisfarne - Bogatires - Carlos VI - Príncipes da Torre


REINO SUEVO (409-585)

Prof Eduardo Simões


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Fonte http://nubiadiaseiolandaalves.blogspot.com.br/

O inverno de 406 foi particularmente rigoroso, facilitando a formação de uma grossa camada de gelo sobre o rio Reno, que separava as terras do Império Romano do Ocidente, do caldeirão de povos hostis que era a Germânia. Esse rio, que sempre se mantinha navegável, constituía-se em uma barreira natural, economizando, aos romanos, os custos da fortificação de suas porções mais largas. Essa situação, porém, mudou naquele ano. Na noite de 31de dezembro de 406, ignorando as pontes fortificadas que uniam as margens, uma confederação de vários povos germânicos, entre os quais se encontravam os suevos e os vândalos, atravessou a pé o Reno congelado, e começou a saquear várias cidades da Gália (atual França), aproveitando-se que boa parte das forças romanas estava ocupada, tentando deter a pressão dos poderosos visigodos, e a briga dos generais romanos para se tornarem imperador. A causa mais provável dessa invasão, e das outras,  é que esses povos fugiam do ataque de povos asiáticos, os hunos, esparramando-se sobre os territórios do Império Romano.

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fonte: http://scalemodelworld.net/

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Fonte http://www.wildfiregames.com/

Uma das características mais marcantes desses rudes guerreiros da Idade do Ferro, logo, tecnologicamente, bem inferiores aos romanos, era um nó lateral ou sobre a cabeça, tipo um coque, como o usado pelas mulheres hoje em dia, mas que naquele tempo era um privilégio masculino e sinal de status, que destacava o seu possuidor como um guerreiro de coragem, um nobre ou um rico senhor. Esse atavio era tão valorizado que foi encontrado em algumas múmias preservadas em regiões pantanosas do norte da Alemanha, onde se vê claramente o nó original ainda preservado sobre crânios parcialmente descarnados.

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fonte Wikipedia

Em 411, ainda chefiados pelo rei Hermerico, eles penetraram na Península Ibérica, chegando lá por volta de 411 nos territórios hoje pertencentes a Portugal. Segundo o historiador português Hermano Saraiva, os suevos (“sueben”, no mapa) logo se misturaram com a população local, assumindo os hábitos e a religião católica dos habitantes hispano-romanos, instalando a capital de seu reino na cidade de Bracara Augusta, atual Braga (Portugal). O mapa acima, com legendas em alemão, mostra a máxima extensão do Reino Suevo (em tom marrom), lá por volta de 455, com o rei Requiário. O crescimento do reino suevo, entretanto, preocupou a outro povo germânico que também invadira a Península, os visigodos (“westgoten”, no mapa), que, com o auxílio dos romanos, impuseram uma derrota definitiva a Requiário e ao reino suevo, em 456. As manchas marrom escuro, na extremidade da Península, representam áreas colonizadas por povos celtas, fugidos da Inglaterra, durante a invasão de outras tribos germânicas à sua ilha.


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Fonte Wikipedia

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3d/Gallaecia-suev.png/800px-Gallaecia-suev.png
Fonte Wikipedia

Gradualmente os suevos são empurrados para o norte, pelo rolo compressor visigodo, até que só lhe resta a região da Galiza ou Galícia, no norte de Portugal e Noroeste da Espanha, o berço da língua portuguesa – no mapa do topo vemos os nomes em latim das cidades, e, entre parênteses, seus nomes atuais, onde se destacam Bracara, capital dos suevos, e Tolosa, capital dos visigodos – até que o reino se extingue, em meio a sangrentas lutas entre elementos da família governante pela posse do trono,  muito comuns nos reinos germânicos da Alta Idade Média. A capital do reino é tomada e saqueada pelos visigodos, e a partir de 586 a Galiza será governada por um dux (governador civil-militar) nomeado pelo rei visigodo. De cor marrom claro, no mapa, vemos o reino suevo em seu final, com as principais cidades; na parte listrada vemos a área disputada por suevos, bascos e visigodos; na parte roxa o reino dos visigodos; e na área verde o reino dos francos.


SATÍ (510)

Prof Eduardo Simões

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__ Em primeiro lugar é preciso deixar bem claro que o satí é antes de tudo uma forma exótica, para nós ocidentais, de controle social, sem querer, com isso, determinar uma intenção secreta, por parte de quem o praticava, compatível com a lógica ocidental, como dizer que o satí é uma forma de preservar a vida do marido, em especial do nobre ou rei, de uma conspiração por parte da esposa. Embasando essa prática tão estranha estão valores e uma compreensão de mundo bem diferentes da que estamos habituados, e que colocam questões muito delicadas e objetivas do tipo: onde acaba a cultura e começam os direitos humanos, da forma como o Ocidente os entende e que, até certo ponto, os impõe a outros povos? Basicamente o satí, que é um termo hindu, é o ato aparente de lealdade e dedicação extremas, evidenciado pelo autossacrifício da esposa, que se mata, de preferência voluntariamente, durante o funeral do marido, que, no caso indiano, ocorre pela cremação, junto com do corpo deste.
__ A sua justificativa deriva de antigas histórias ou mitos, que falam de uma mulher, Sati, que, vitoriosa sobre várias provações que o deus Shiva a submeteu, teve como pedido satisfeito o de casar-se com o próprio deus. O pai de Sati, Daksha, que não conhecia o poder de Shiva nem quem ele era, enfureceu-se com o fato de sua filha preferir aquele estrangeiro, aparentemente pobre, como marido, e começou a perturbar o juízo da filha, até que, numa festa, quando Shiva estava ausente, de tanto ouvir o pai falar mal de seu esposo, ela resolveu concentrar-se e, demonstrando um altíssimo grau de espiritualidade, incendiou-se voluntariamente, só com a força do pensamento (ilustração acima).

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__ Outro mito, mais ajustado à prática habitual do satí, uma vez que no caso anterior a mulher se mata, por motivo “fútil”, estando o marido ainda vivo, aparece no Mahabharata, um livro religioso hindu escrito entre 200 a.C. e 200 d.C., que narra a história de Pandu, um rei, proibido de fazer amor, mas que deixa-se arrastar pelo desejo e copula, à força, com a bela Madri, sua segunda esposa, morrendo em seguida. Madri, conhecedora da maldição, tenta lhe resistir, em vão, e, em consequência de seu desejo descontrolado, Pandu morre. Madri fica desconsolada e sentindo-se culpada, uma vez que fora a sua beleza que, supostamente, arrastara o esposo à morte, resolve atirar-se voluntariamente à pira funerária de seu marido, para servi-lo após a morte ou no “outro mundo”.
__ Bem, isso é a lenda ou a propaganda do gesto, mas quando essa tradição de fato começou? Embora o satí esteja muito ligado à Índia, não foi lá que começou a prática nem o único lugar onde foi praticado em tempos históricos. Sabe-se de sepultamentos de séquitos inteiros nas tumbas dos primitivos faraós (escravos, sacerdotes e esposas) com o intuito de servi-lo no mundo dos mortos, a mesma coisa se observa entre os sumérios, os chineses, tribos nômades da Rússia, etc. Os historiadores gregos que seguiram o exército de Alexandre o Grande, narram ter testemunhado satis durante e depois de sua expedição. Na Índia, o primeiro caso registrado data de 501.
__ Analisando os documentos mais antigos a respeito, constantes nos verbetes sobre sati, da Wikipedia em inglês e em espanhol, percebe-se uma evolução na forma de encarar e valorar esse costume. Nos livros mais antigos da literatura indiana, os Vedas (1200-700 a.C.), não há menção explícita a essa prática, que já podia ocorrer em algumas tribos locais, como observado pelos gregos. Mais tarde, no Dharmasutra, surgiu a recomendação de que a viúva se abstivesse de alguns alimentos e de se casar de novo, pelo espaço de um ano, guardando luto. Diz Baudhayana: “a viúva deverá evitar no transcurso de um ano o consumo de mel, carne, licor, sal e deverá dormir no chão. Ao passar um ano, com o consentimento dos sábios, e no caso de que não tenha filhos, poderá engendrar um filho com o irmão do defunto” (Wikipedia em espanhol). Esse costume, de casar com o irmão do defunto, é também descrito na Bíblia, e se chama levirato.

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__ As Leis de Manu, que provavelmente se seguiram às acima, já recomendam o celibato permanente da viúva, acrescentando que aquela que, movida pelo desejo de gerar filhos, romper seu celibato de viúva “atrai para ela a desgraça neste mundo e perde seu lugar no céu, junto do marido” (idem). E assim, gradualmente, as esposas vão sendo induzidas a cada vez mais aceitar algum tipo de sacrifício permanente, após  a morte do marido. Ao final da dinastia gupta, entretanto, começam a aparecer textos cada vez mais diretos, como aparece no Pancharatra, entre 650 e 850, onde um deles diz: “a mulher que imola a si mesma, resgata o seu esposo do inferno, e goza de felicidade celestial, sempre na companhia dele” (idem). No século XI a imolação de viúvas era muito enaltecida e considerada como um ideal superior. Muitas outras conquistas maravilhosas espirituais eram prometidas à mulher que voluntariamente praticava o sati, como o tornar-se uma deusa, ter um templo construído para ela, em geral no local de sua imolação, para onde acorriam multidões de peregrinos, pedindo graças, e peregrinas, pedindo forças para um dia ser como ela.
__ Três questões se põem: quais eram as modalidades de satí? De uma maneira geral consistia na cremação da esposa, ainda viva, junto à pira onde seria incinerado o cadáver do marido. Outro método, nas regiões onde se praticava o sepultamento, era o seu sepultamento viva, junto com o cadáver. O satí era um ato voluntário? Certamente que era isso que se buscava ao se enaltecer esse sacrifício, mas nem sempre, ao que parece, era assim. Segundo algumas testemunhas ocidentais e alguns poucos indianos, houve casos de tentativa de fuga da mulher de morte tão dolorosa. Em vão. Elas eram capturadas pela multidão, posta ao redor da pira, e arremessada de volta. Houve casos da pira ficar dentro de buracos, para dificultar a fuga da viúva ou de amarra-la em postes, junto ao marido – eventualmente elas podiam ser anestesiadas com alguma beberagem anestésica – mas também há abundantes registros de satís voluntários. Os satis eram muito numerosos? Em média, calcula-se, entre 500 e 600 por ano. Li em alguns sites que o satí era predominante, senão exclusivo, da casta dos Xátrias, os guerreiros, pelo menos na antiga Índia. A propósito: a recíproca não era verdadeira, e o marido não estava obrigado a se matar caso enviuvasse primeiro.

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Era considerado uma "graça" assistir a um sati, mais ou menos como uma luta de gladiadores, onde se esperava ver atos de heroísmo e coragem diante da morte.

__ Quando os europeus chegaram à Índia, a partir do século XV, a prática já estava muito disseminada e era chocante aos recém-chegados, mais ou menos como o canibalismo dos indígenas americanos. Os portugueses o proibiram imediatamente, enquanto os ingleses e franceses faziam gestos tímidos de combate e convivência com essa prática, que os holandeses encararam com “naturalidade”. Mas aos poucos os ingleses se apoderam da quase totalidade da Índia, de maneira efetiva ou por meio de reis clientes, os marajás, e coube a eles dar uma resposta a essa questão.
__ Em 1812 o Governador Geral, inglês, da Índia baixou uma recomendação aos oficiais de polícia para que tomassem todas as providências possíveis, pelo convencimento ou a pressão sutil, afinal havia poderosos interesses financeiros ingleses envolvidos na Índia, para evitar a consumação dos satis, assunto que já havia sido discutido, inclusive, na Câmara dos Comuns, em Londres, com um dos mais importantes políticos da época, William Wilberforce, tomando essa questão muito a peito, de sorte a forçar o banimento unilateral, via lei inglesa, do costume. Os indianos sentiram a pressão e o resultado foi justo o inverso: uma corrida ao sati, de tal sorte que em 1818, contaram-se nada menos de 1.379 deles, só nas regiões ao redor de Calcutá e Bengala. Os ingleses recuam.
__ Finalmente, em 4 de dezembro de 1829, apoiado por nomes de peso da intelectualidade hindu, em especial Ran Mohan Roy, um grande reformador social e religioso, o Governador Geral, William Bentick, promulga a Lei de Regulação e Prevenção do Sati, proibindo essa prática nas zonas dominadas pelos ingleses, imediatamente acolhida por diversos príncipes autônomos, até o seu banimento de toda a Índia, em 1861, por ato da rainha Vitória. No Nepal, mais ao norte, uma lei similar só entrará em vigor no ano de 1920. É necessário fazer justiça, dizendo que, antes dos ingleses, governantes muçulmanos de algumas regiões da Índia já vinham tentando combater essa prática, desde o final do século XVI! Como o imperador mogol (e não “mongol”) Humaium, de Delhi. Ao fazer isso os ingleses estavam certos, e preservaram um direito humano, ou eles estavam interferindo violentamente na cultura de um povo, naquele momento subjugado? Qual é o limite entre o justo direito humano universal e o direito a construir e preservar sua própria cultura?

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De Daniel VILLAFRUELA, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=29661475

Baixos-relevos de mãos de esposas de marajás que praticaram o sati, a pedra de satí, em Bikaner. Algumas delas estão enegrecidas com restos de flores, doces e óleos perfumados, deixados por admiradores e devotos, até os dias de hoje.

__ Bem, se o sati conseguiu ser realmente banido dos grandes centros urbanos e zonas mais fiscalizadas pelos interesses econômicos e estratégicos, nas áreas mais abandonadas pelos poderes públicos a sua prática continuou sistemática e insidiosa, com o apoio de autoridades religiosas mais conservadoras. Computa-se entre 1943 e 1987 cerca de 30 casos de sati, cometidos ou tentados. Em 1987 aconteceu um que comoveu a Índia, quando a jovem de 18 anos, Roop Kanwar, após um casamento de apenas oito meses, foi, aparentemente, psicologicamente pressionada a praticar o sati na pira funerária de seu marido, evento visto por milhares de pessoas. As investigações concluíram a participação de várias autoridades e políticos regionais no evento, inclusive aparentados dela, embora não tenha chegado a nenhuma conclusão sobre a culpabilidade de alguém, em virtude da pouca clareza da lei vigente; isso levou à promulgação de uma nova lei, mais específica e minuciosa, a Lei de Prevenção ao Sati, de 1987, que “visa prevenir a prática de satí, ou seja, a cremação ou sepultamento, forçado ou voluntário, de viúvas, assim como proíbe a glorificação dessas ações por meio da observância de alguma cerimônia, da participação em procissões, a criação de fundos para financiamento [em geral é uma cerimônia, em grande estilo, para os ricos], a construção de templos, e outras ações que buscam comemorar ou honrar a memória da viúva que cometeu o sati” (Wikipedia em inglês – Sati (Prevention) Act, 1987).
__ O último satí que se tem notícia na Índia foi o de uma velha viúva, de 75 anos, que saltou na fogueira que cremava o corpo de seu marido, aproveitando-se de estar sozinha no momento, em 2008.  
__ Afinal o sati é o enaltecimento de uma crueldade, um desrespeito tipicamente patriarcal às mulheres, uma deformação religiosa ou uma mera expressão cultural, moralmente neutra?



ATAQUE A LINDISFARNE (793)

Prof Eduardo Simões


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A Nortúmbria era um dos reinos da chamada heptarquia anglo-saxônica, sete reinos ligados a tribos diferentes desses povos germânicos, inimigos entre si, que ficava mais ao norte da Inglaterra, junto à fronteira da atual Escócia, atravessada pela muralha de Adriano, uma construção defensiva romana, que fora abandonada durante a retirada deles da ilha lá por volta de 450.
Por volta do ano 600 a região havia pedido quase todos os traços da dominação romana, inclusive a religião cristã. Foi nesse ambiente, que um monge ligado à tradição cristã celta-irlandesa, Santo Aidan, empreendeu um exaustivo processo de recristianização, a pedido de um rei local, Oswald, que culminou com a fundação de uma pequena e muito isolada comunidade monástica, próxima a uma praia, que era conhecida como o priorado de Lindisfarne, revelando-nos que era uma comunidade relativamente pequena. A foto acima mostra as ruínas da Igreja do priorado, com as sepulturas de antigos monges e moradores locais em primeiro plano, é visível também toda a extensão dos muros externos do mosteiro, e o penhasco da Ilha Sagrada, ao fundo, encimada por um castelo “moderno”. Quando a maré sobe o penhasco fica isolado do continente. Foi nesse penhasco que Aidan e outro monge eremita, São Cutberto, viveram em cavernas e abrigos aí escavados. A foto também mostra a fatal proximidade do mosteiro em relação ao mar.


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         Apesar do isolamento, e talvez até por causa disso, imagine do ponto de vista da mentalidade medieval, o mosteiro, com muito na Inglaterra dessa época, prosperou com muitas doações generosas, tornando-se um importante centro de estudos, enquanto abrigava tesouros valiosos. E a vida seguia calma e pacífica.
         Entretanto, mais ao norte, na longínqua Noruega, os povos antigos, comumente chamados vikings, que habitavam esse local, e que até esse momento tinham sido contidas pelas tribos alemãs do norte, em especial os saxões, aproveitando-se que o imperador franco Carlos Magno, havia destroçado o poderio saxão, com o objetivo de torná-los cristãos, “na marra”, começaram a avançar para o sul, rumo à Europa Ocidental, ampliando suas rotas de comércio no Mar do Norte, enquanto complementavam essa atividade “legal” com saques a comunidades e ilhas distantes e desprotegidas. Por meio de seus contatos e de suas viagens eles ficaram sabendo da grande riqueza que havia em Lindisfarne e, melhor ainda, que essa riqueza estava completamente desguarnecida.


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         No dia 8 de junho de 793, segundo as crônicas anglo-saxônicas, ocorreu o inevitável ataque a Lindisfarne, provavelmente por um grupo vindo da Noruega. Assim falam as Crônicas Anglo-saxônicas:
         “Nesse ano atribulado [793], presságios e augúrios tão terrificantes se manifestaram sobre a terra dos nortúmbrios, que deixaram as pessoas em choque. Houve muitos turbilhões de ar, clarões, e imagens de dragões ferozes foram vista no céu [na proa dos navios vikings havia serpentes esculpidas]. A esses sinais se seguiu uma grande fome, e pouco depois, nesse mesmo ano, no dia 6 de janeiro, um devastador e miserável povo pagão destruiu a igreja de Deus em Lindisfarne, onde massacrou e saqueou” (tradução livre)

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Esse mesmo episódio foi relatado por outro personagem da época, o monge Alcuíno, um grande intelectual que servia na corte de Carlos Magno, escreveu a um bispo: “Em 8 de junho, eles atingiram a igreja de Lindisfarne, onde massacraram e pilharam tudo miseravelmente. Eles pisotearam os objetos sagrados com seus pés imundos; eles escavaram sob o altar [atrás de riquezas], e saquearam todos os tesouros da igreja. A alguns irmãos [provavelmente os mais velhos e doentes] eles mataram, a outros puseram em cadeias e os levaram [escravos], enquanto outros foram desnudados, humilhados e expostos, outros foram arremessados ao mar” (tradução livre) – observe-se que as duas datas acima diferem, os estudiosos, porém, acham que a data de Alcuíno é a mais certa.
Os vikings participavam ativamente do comércio de escravos na Europa Oriental, em especial nas terras da Rússia, negociando com príncipes russos, bizantinos, árabes, etc. Nas descrições acima há tanto esse aspecto “comercial” como o desejo de ‘zoar’ com o inimigo.

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         O ataque a Lindisfarne acabou marcando, oficialmente, o início da Era Viking na Europa, embora haja relatos de ataques em outros lugares, anos antes, sem falar do enorme impacto que os relatos do ataque, embora tão curtos, e a visão de suas ruínas, causaram no imaginário do povo inglês, principalmente entre os românticos do século XIX, como o quadro acima de Thomas Milles Richardson, de 1834.

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         Na foto acima vemos o Príncipe Charles, à esquerda, futuro rei da Inglaterra, isso se Elisabeth II morrer um dia ou se aposentar, visitando as ruínas de Lindisfarne, afinal poucos povos sabem, tanto quanto os ingleses da importância de preservar a sua história. O povo que não conhece nem preserva a sua história corre o risco de, um dia, não ter mais história para contar. As ruínas hoje visíveis no lugar são do século XII, mostrando que o mosteiro foi repovoado depois do ataque. Quase não há mais vestígios das construções do século VIII.

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Atacando os saxões alemães, que eram pagãos, para convertê-los ao cristianismo à força, Carlos Magno acabou por derrubar a única muralha que detinha a invasão dos povos do norte, também pagãos, os vikings escandinavos, muito mais violentos e cruéis, e causa disso, durante três séculos as populações cristãs da Europa Ocidental foram aterrorizadas por esses navegantes audaciosos e guerreiros famosos por seu tamanho, força, crueldade, e seu completo desprezo à morte. 


BOGATIRES – SÉC X

Prof Eduardo Simões

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Wikipedia

__ Bogatir é o nome que se dá a antigos heróis das sagas medievais russas e ucranianas (os povos eslavos orientais), cantados em poemas épicos chamados bilinas. Eles equivalem, mais ou menos, aos cavaleiros errantes da Europa Ocidental, consagrados por suas aventuras rocambolescas, seu espírito de justiça, seu elevado conceito de honra, sua relação fluida com a religião e seus romances poucos ortodoxos, proibidos, bem a gosto da cultura popular. Esses poemas registram os hábitos de uma sociedade ainda em transição do tribalismo pagão para o ruralismo cristão. Na épica dos bogatires, como nos Cavaleiros da Távola Redonda, do rei inglês Arthur, fatos e personagens reais e lendários se misturam, dando-nos um belo quadro da sociedade da época, embora na épica eslava a preocupação social parece ser bem maior.
__ No quadro acima, do pintor russo Viktor Vasnetsov, pintado entre 1897 e 98, vemos os três maiores bogatires das bilinas eslavas. Da esquerda para direita, Dobrinia Nikitich, Ilia Muromets e Aliosha Popovitch.

Dobrinia Nikitich

__ Dobrinia Nikitich é um herói baseado num senhor da guerra que de fato existiu, chamado Dobrinia, tio materno de Vladimir o Grande (958-1015), que foi príncipe de Novgorod e Kiev. Quando o Dobrinia “lendário”, após algumas aventuras, chegou à corte do Príncipe Vladimir, para servi-lo, ficou sabendo do terrível sequestro da jovem donzela Zabava Putiatshina, sobrinha do rei, pelo terrível dragão de três cabeças Gorinich, com quem, no passado, fizera um acordo de não agressão, agora quebrado pelo gesto tresloucado da besta.
__ Houve uma luta tremenda entre o herói e o dragão, que só foi possível vencer por causa de uma orientação celestial, e o animal acabou sem as suas cabeças, como que para aprender a respeitar “donzelas militantes”, ainda assim deixando o herói preso por um bom momento num mar de sangue. Ora, como o dragão, na mitologia dos eslavos do oriente, embora nem sempre, representa povos estrangeiros hostis, e foram muitos na história de russos e ucranianos, é possível que essa lenda apenas torne mais objetivo o horror habitual que esses povos tinham, ou ainda têm, por uniões inter-raciais.   

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__ Mas, ao contrário do que seria de se esperar numa história assim, a bela Zabava não se casa com seu salvador, por ser este de origem humilde, uma vez que Dobrinia é filho de camponeses, e é preciso respeitar a ordem social, que é indispensável numa mentalidade ainda tribal, e Dobrynia a dá por esposa a seu amigo bogatir Aliosha Popovitch. Mais adiante, porém, ele conhece alguém mais próximo do seu ideal de vida: Anastácia, uma bela polyanitsa, ou seja, uma mulher guerreira profissional como ele. Uma troca excelente, exceto na hora de discutir a relação...

Aliosha Popovitch

__ O caso de Aliosha Popóvitch é diferente. Ele é valoroso sim, mas também é muito malandro, uma espécie de Pedro Malasarte russo. Essa malandragem foi aprendida já no berço, pois é filho de um padre malandrão que usa de truques e artifícios para vencer seus desafetos – a versão russa, por exemplo, do célebre frei Tuck, de Robin Hood. Como o pai, Aliosha mente, engana e simula para obter suas vitórias com menor esforço possível. Sua maior vitória, contra o dragão Tugarin Zmeievich, foi obtida, provocando o bicho para uma luta em campo aberto, num dia chuvoso... as asas do dragão eram de papel! Segundo alguns historiadores essa evento reproduz, metaforicamente, a vitória do príncipe Vladimir II Monomako contra os cumanos ou polovetsianos, em 1111. Nas histórias populares, o dragão, não raro, se metamorfoseia em seres humanos.
 
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__ Ninguém é de ferro! Outro campo de batalhas onde Aliosha era particularmente bem-sucedido foi no coração das jovens incautas, graças à sua lábia irresistível. O vemos acima a cortejar os favores da bela Yelena Krasa, num ambiente tipicamente camponês da Rússia medieval. Segundo outra história ele foi capaz de tentar enganar a esposa de seu amigo, Dobrynia Nikitich, dizendo que este estava morto, para poder ficar com ela! Quase imediatamente vemos uma correspondência com os amores proibidos de Sir Lancelot du Lac com Guinevere, esposa de seu rei e amigo Arthur, dos Cavaleiros da Távola Redonda, mostrando que há “fios” comuns orientando essas historietas populares em todos os lugares do mundo.

Ilia Muromets

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__ O maior de todos os bogatires, entretanto, foi Ilyá Muromets, o filho doentio de um humilde granjeiro, nascido perto da cidade de Vladimir, que aos 33 anos, a idade de Cristo, foi curado milagrosamente por uma dupla de monges santos. Tornando-se a partir daí um homem de altura e força gigantesca, do tamanho tanto de sua coragem como de sua generosidade – o herói completo – tanto que em uma de suas aventuras, aporrinhado porque o príncipe Vladimir de Kiev não o convidara para uma recepção no palácio, por causa de sua origem muito humilde, saiu pela cidade, disparando suas flechas contras as torres das igrejas – expressão da ira popular contra uma igreja palaciana, voltada para servir os mais ricos – e a cada flechada uma torre desabava. No final ele resolveu a pendência dando ele próprio uma grande festa, concorrente com a do rei, para todo o povo pobre de Kiev, lembrando a parábola do Evangelho onde um rei manda seus servos recolher os mais pobres para participar da festa de casamento de seu filho. Essa é, talvez, a principal característica de Ilya: a generosidade com os mais pobres, temperada por um profundo senso de justiça.


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__ Uma das façanhas mais extraordinárias de Muromets foi quando ele derrotou o Ladrão Rouxinol (Solovej). Segundo a lenda esse “bicho”, meio homem meio pássaro, vivia em um ninho, nas árvores da floresta de Bryansk, e era capaz de matar uma pessoa e destruir construções com o som do seu guincho poderoso. Muromets o feriu com uma flechada no olho e o levou para o príncipe Vladimir o Grande, que quis escutar o seu guincho, por não acreditar nas histórias que se contavam. Só que o guincho funcionou e fez grande estrago ao redor, e por pouco não matou também o príncipe. Muromets o levou então para fora do castelo, e como quase sempre acontecia nessas histórias, cortou a sua cabeça.
__ Muitos outros bogatires há, nas lendas populares eslavas, que apresentam ora personagens puramente fictícios ora personagens históricos, com é o caso de Ilia Muromets, que, na realidade, foi um monge da Igreja Ortodoxa, famoso pela piedade e generosidade com os mais pobres, cujos restos mortais o denunciam como um homem grande e forte. Ele é, por sinal, considerado santo pela sua Igreja.
__ Por fim vem a questão do quanto os bogatires revelam da alma, da especificidade, do povo russo medieval, com sobrevivências até hoje. Uma alma belicosa, guerreira, rude, muito obstinada – Napoleão e Hitler aprenderam isso da pior maneira possível – mas também sonhadora e por vezes muito delicada na expressão de seus sentimentos e aspirações, ansiosa por justiça, em especial a justiça social, mas também excessivamente na defensiva, o que impede tanto mudanças na sua cultura por influências externas, mas também, pelo mesmo motivo, impede uma maior propagação de sua cultura pelo mundo – no final essa propagação acaba sendo feita parcialmente pelos seus inimigos – mantendo essa grande nação permanentemente na encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente.

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__ Para onde ir? O cavaleiro bogatir chega a uma encruzilhada, numa planície infindável, como a Rússia, diante de uma pedra onde se lê: “se você for para a esquerda, perderá o cavalo, se você for para a direita, perderá a cabeça”. No Ocidente as nações resistem à ocupação de terras na Ucrânia, a Oriente levanta-se o colosso chinês, assenhorando-se de tudo? Como superar a estratégia da “terra arrasada”, dispendendo imensos recursos para levantar tudo de novo? No mundo atual as grandes batalhas não se travam em campos abertos, contra inimigos imaginários ou bestas ingênuas, mas em locais fechados, em escritórios de grandes banqueiros e capitalistas, onde quase sempre a besta é muito esperta. Nesse ambiente é preciso ter, ao mesmo tempo, a audácia de Dobrinia Nikitich, a força e Ilia Muromets, mas, principalmente, a astúcia de Aliosha Popovitch

LOUCURA DE CARLOS VI (1392-1393)

Prof Eduardo Simões

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Carlos VI tornou-se rei de França, em 1388, em substituição ao seu pais Carlos V, em um momento particularmente difícil, quando os franceses eram escorraçados dentro da França pelos ingleses, na guerra dos Cem Anos. Os franceses estavam muito divididos devido à gana como as principais famílias feudais disputavam diretamente a coroa ou a influência junto ao rei.
O ambiente de conspiração, traições, envenenamentos, violências diversas, era sufocante, não se podia sequer confiar nos parentes mais próximos. Contra Carlos VI pesava, inclusive a genealogia, pois vários de seus parentes tiveram graves problemas de doenças mentais. Aparentemente bem intencionado, o rei tinha uma constituirão mental frágil, e estava bem no centro de uma tormentosa rede de intrigas.

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Fonte http://www.france-pittoresque.com/

Em 1392, um amigo do rei sofre uma tentativa de assassinato, e este monta um exército para punir o criminoso, que se refugiara no castelo de um senhor poderoso. É agosto de 1392, o rei está ansioso para realizar o seu intento, mas marcha é lenta e faz muito calor, a tropa atravessa a floresta de Mans, quando, saído do mato, um mendigo ou demente, em farrapos, se agarra aos arreios do cavalo do rei e começa a gritar: “não siga adiante, meu rei, que o senhor será traído”. Os soldados o afastaram, mas ele continuou atrás, por mais uma meia hora, gritando o seu aviso.

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http://www.histoire-en-questions.fr/

Um pouco mais adiante o rei cochilava em seu cavalo, quando um pajem deixou cair uma lança, despertando-o abruptamente, já em pleno surto psicótico: “à carga, à carga contra os traidores, eles querem me entregar ao inimigo!” E começa a golpear, com a sua espada, os que lhe estão próximos. Com sacrifício, os seus oficiais conseguem contê-lo, não antes dele matar um número indeterminado de pessoas do seu séquito, e o trazem de volta, amarrado em uma carroça – após ser imobilizado o rei entra numa espécie de coma psicótico, não reconhece a ninguém nem fala mais, e assim permanece por dois dias, após o que retorna às suas funções.

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Fonte http://don-doggett.blogspot.com.br/

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Fonte Wikipedia

No dia 28 de janeiro de 1393, os cortesãos resolveram fazer uma festa para distrair o rei, e tirá-lo de mais um ciclo de melancolia, por causa da doença. A brincadeira era a seguinte: o rei e mais cinco nobres se disfarçariam de “selvagens”, totalmente fantasiados, e dançariam para as damas e cortesãos, a fim de que estes adivinhassem qual deles era o rei. Começou o baile, e como as fantasias eram muito inflamáveis foram proibidos archotes no salão.
O irmão do rei, Luis, porém, uma pessoa de temperamento difícil, e Deus sabe lá com que pretensões ao trono, desobedecendo a regra, entrou com um archote e aproximou-o dos dançarinos, para descobrir qual deles era o irmão, começando um incêndio, que redundou na morte de quatro dos dançarinos. O rei foi salvo, porque uma dama da corte Joana de Boulogne, duquesa de Berry, reconheceu o rei e o encobriu com a longa cauda do seu vestido, abafando as chamas. Outro dançarino também escapou. Esse episódio passou para a história da França como “o baile dos ardentes”.
O resultado foi que os momentos de lucidez do rei se tornaram ainda mais escassos, até sua morte solitária e melancólica, não antes de assinar o Tratado de Troyes, em 1420, com os ingleses, altamente prejudicial aos interesses da nobreza francesa. Seus irmão, aparentemente, começou a cortejar a sua esposa, mas acabou sendo assassinado, em 1407, por João Sem Medo, do partido dos Borguinhões, que também seria assassinado por um elemento do grupo oposto, a família dos Armagnacs, dando início a uma guerra civil, na parte da França onde a monarquia francesa ainda governava. 

OS PRÍNCIPES DA TORRE - 1483

Prof Eduardo Simões





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Os Príncipes da Torre foram: Eduardo V da Inglaterra, com treze anos, e Ricardo, Duque de York, com dez anos, filhos de Eduardo IV da Inglaterra, mandados para o palácio-prisão da Torre de Londres, logo após a morte de seu pai, graças a manobra de um seu tio, Ricardo de York, que os denunciou como ilegítimos, nos tumultuosos anos da Guerra das Rosas (1455-1485). Acima uma imagem suposta dos dois irmãos pintada por Sir John Everett Millay/ Wikipedia



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Não se sabe o que aconteceu com os príncipes, que desapareceram misteriosamente da Torre no verão de 1483, o mesmo ano em que foram presos. A tradição mais aceita é que foram assassinados por ordem do tio, que se fará coroar Ricardo III da Inglaterra. O genial quadro de Paul Laroche tenta mostrar exato em que os carrascos chegavam ao quarto dos irmãos. Eduardo, que lia para o irmão mais moço, assustado, se volta, como se tivesse escutado algo do lado de fora, enquanto Ricardo olha para frente, com o olhar entre sonhador e irônico, seja em função da história que escutava, seja para questionar o espectador sobre o horror que vai acontecer. No pé da cama, à esquerda, o cachorrinho ouviu algo. Em 1674, numa reforma, foram encontrados dois esqueletos de adolescentes, mas que não se sabe se são dos príncipes, porque a Família Real se nega, até hoje, a doar amostras de DNA. Quadro no Museu do Louvre/Erich Lessing/2009

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