Índice Cronológico
Mona Lisa - Ana Bolena - Ivan O
Terrível - Zemsky Sobor - Batalha de Rocroi - Fronda - Vatel - Levantes Streltsy - Massacre de Boston
MONA LISA (1503-1518)
Prof Eduardo Simões
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Em 1503, Leonardo já era um pintor afamado e estabelecido em Florença, o principal reduto da arte renascentista na Itália, quando, foi procurado por um rico comerciante de tecidos florentino, Francesco del Giocondo, para pintasse um retrato de sua amada esposa, Lisa Gherardini. É o que se sabia, até pouco tempo, graças ás informações do pintor e historiador da arte italiano Giorgio Vasari, da geração seguinte à de Leonardo. Vasari nasceu oito anos antes da morte de da Vinci.
Leonardo pôs mãos a obra, fazendo uso, inclusive, da presença de artistas saltimbancos, seja para manter mais leve e feliz o ambiente de trabalho seja para conseguir da modelo, talvez muito tímida ou reservada, o estado de espírito que ele queria retratar. Leonardo, entretanto, tinha uma característica pessoal complicada: gostava de pegar muitos trabalhos, enchendo a cabeça de planos a respeito do que fazer à frente, mas raramente concluía o que começava.
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/e/ec/ Mona_Lisa%2C_by_Leonardo_da_ Vinci%2C_from_C2RMF_retouched. jpg/275px-Mona_Lisa%2C_by_ Leonardo_da_Vinci%2C_from_ C2RMF_retouched.jpg
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Com esse quadro não foi diferente, e seja lá porque razão, o certo é que nem ele viu a cor do dinheiro combinado nem Giocondo ficou com o retrato da mulher, em compensação, e sem qualquer explicação objetiva, nunca mais Leonardo se afastaria desse quadro, levando-o para onde quer que fosse, até um pouco antes de sua morte, acontecida em 1519. No ano anterior, o seu discípulo Gian Giacopo Caprotti da Oreno, conhecido como Andrea Salai, que teria herdado a Mona Lisa de Leonardo, o vendeu para o rei de França, Francisco I, por uma boa quantia, pelo menos assim diz a história oficial do Louvre, o museu nacional da França, onde esse quadro está hoje.
O quadro passou à história com o nome de Mona Lisa – “mona” seria o diminutivo de “madona”, “senhora”, em italiano, e Lisa o seu prenome – ou Gioconda – o sobrenome feminilizado do marido, que ela devia usar – e apresenta vários mistérios intrigantes, sobre os quais se gastaram rios de tinta, tantas foram as pessoas que se dispuseram a decifrá-los. Entre esses mistérios destacamos:
a) o sorriso sutil, enigmático, da retratada, só claramente perceptível quando nos afastamos da tela ou focamos mais nos olhos que nos lábios dela.
b) o fundo atrás dela mostra o relevo da paisagem do lado direito mais elevado que a do lado esquerdo, sem que isso mostre qualquer alteração nos cursos de água, que ali aparecem, na forma de rios e lagos calmos, e não como torrentes, como seria o natural.
c) de um lado e de outro, também no fundo, aparecem as bases de duas colunas, como se o quadro tivesse sido pintado de uma esplanada ou um corredor, com vistas a uma paisagem.
d) a mulher retratada no quadro parece uma senhora próxima dos 40 anos, o que não bate com os 24 que Lisa Giocondo tinha, quando posou para Leonardo, mas seria mais ou menos essa a sua idade, quando Leonardo se desfez do quadro, o que sugere que ele continuou modificando-o ao longo do tempo em que viveu longe de Lisa: uns 15 anos. A mulher do quadro foi como que envelhecendo com ele...
O aspecto meio nebuloso, um tanto indefinido, da cena atrás da tela é proposital. Trata-se de uma técnica de pintura chamada “sfumato”, esfumaçado, como quando baixa uma névoa.
Outra característica incomum, para os dias de hoje, é que a imagem não foi pintada numa tela de tecido, mas numa tábua de madeira, de choupo, de 77 x 53 cm.
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/3/3f/Monna_ Vanna.jpg
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O quadro de da Vinci já era famoso no momento mesmo em que ele o estava pintando. A partir dele começaram a surgir inúmeras versões, de pintores diversos, retratando senhoras da nobreza, sentadas, com as mãos se cruzando, olhando enigmaticamente para o espectador do quadro. Mas também surgiram paródias, como aquelas que a apresentam com o busto nu, e um sorriso não tão sutil, como no quadro acima, chamado de Monna Vanna, presumidamente do discípulo predileto de Leonardo da Vinci, Andrea Salai, que teria pintado o seu rosto no lugar do da dama.
Ao longo dos séculos o quadro foi alvo de inúmeras controvérsias, inclusive de que não representaria, sequer, uma mulher de verdade, mas antes um homem travestido, que poderia ser o discípulo predileto de Leonardo, Salai, ou ele próprio, todas baseadas em pesquisas “científicas”, ou arrazoados de doutos psicanalistas, procurando “apimentar” a discussão, transferindo-a do campo da arte para o da sexualidade de da Vinci, até que, em 2005, um pesquisador alemão descobriu num manuscrito antigo, na Alemanha, uma anotação feita por um oficial florentino, Agostino Vespucci, da época de Leonardo, confirmando que Giorgio Vasari já dissera sobre o quadro: ele era de fato imagem de Lisa Giocondo, ou Gherardini, seu nome de solteira, e foi iniciado em outubro de 1503. Não há mais qualquer dúvida, séria, a esse respeito.
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Esse quadro de da Vinci é o mais famoso, e valioso, do mundo, considerado por muitos como o maior ícone da arte ocidental, de todos os tempos – seu valor é incalculável, pois por dinheiro algum os franceses se desfarão dele, mas quando sai em exposição, o seu seguro é avaliado em uns 760 milhões de dólares. Essa fama, entretanto granjeou-lhe inimigos, na pessoa dos artistas modernos, que se propunham a renovar a arte ocidental, em fins do século XIX e início do XX, principiando pela demolição daquelas obras consideradas icônicas, clássicas, pelo grande público e por especialistas da arte, principalmente a Mona Lisa.
Em 1919, o escultor e pintor franco-americano Marcel Duchamp abalou o mundo das artes ao fazer, num pôster, uns rabiscos sobre o rosto da Mona Lisa e colocar, embaixo, as inciais LHOOQ, que, lidas em francês, produzem um som semelhante ao de uma expressão, que, traduzida para o português, quer dizer: “ela tem fogo no rabo”. A partir daí, as paródias do quadro não param de crescer, mas a elas Mona Lisa resiste sobranceira, a ponto de um analista justificar o seu sorriso, como sendo de pena, pena em relação àqueles que lhe querem destruir, em vão, o seu papel de ícone da arte ocidental.
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/0/04/ Copy_of_La_Gioconda_-_ Leonardo_da_Vinci%27s_ apprentice.jpg/800px-Copy_of_ La_Gioconda_-_Leonardo_da_ Vinci%27s_apprentice.jpg
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Entretanto, nada é simples na vida de Leonardo e da Gioconda. Existia, desde 1666, no inventário do patrimônio dos reis de Espanha, uma prancha de madeira, na qual se achava desenhada uma mulher, cuja autoria, segundo o inventário, se devia a “Leonardo Abince”, com medidas um pouco maiores que a Mona Lisa do Louvre, mas exatamente o mesmo rosto, e mesma pose. Era outra Mona Lisa, só que com um fundo todo negro, sem falar que a qualidade da sua madeira, a nogueira, superior à do choupo do quadro do Louvre. Pesquisas posteriores, feitas no quadro, comprovaram: ele fora realizado no atelier de Leonardo, mais ou menos no mesmo período que o similar francês, usando-se de tintas e técnica semelhantes. É quase certo que, embora a obra deva ser de um discípulo de Leonardo, a mão do mestre passeou por esse quadro também... Como esse quadro se encontra no Museu do Prado, em Madrid, ele também é conhecido como Mona Lisa do Prado.
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/9/99/ Gioconda_%28copia_del_Museo_ del_Prado_restaurada%29.jpg/ 300px-Gioconda_%28copia_del_ Museo_del_Prado_restaurada%29. jpg
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Em 2010, após um surpreendente exame espectográfico, tipo raios-X, feito no quadro, procedeu-se a limpeza do fundo escuro da Mona Lisa, causado por diversas coberturas de verniz escuro, e o que se achou foi impressionante: uma paisagem de fundo muito mais nítida, mais clássica, que a do Louvre, colunas mais destacadas, um horizonte mais horizontal e compatível com o natural. O rosto da modelo também é diferente: parece um pouco mais jovem
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/b/bb/ The_Isleworth_Mona_Lisa.jpg/ 800px-The_Isleworth_Mona_Lisa. jpg
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Confusão pouca é bobagem! Sabia-se, desde o início do século XX, que havia uma cópia da Mona Lisa, acima, nas mãos de uma família aristocrática inglesa há mais de cem anos, até que, em 1913, essa cópia foi comprada por um rico colecionador, e guardada no seu estúdio, em Isleworth, Londres, indo em seguida para os EUA, onde foi vendida, em 1962, a um rico colecionador e marchand americano, ficando na família deste até 2008, quando foi comprada por um consórcio de investidores, tão discretos quanto sabidos na arte de fazer dinheiro. Desde 1978, esse quadro se encontra depositado no cofre forte de um banco suíço, rendendo muito dinheiro aos seus misteriosos proprietários, toda vez que sai em exposição.
Duas coisas chamam a atenção na Mona Lisa de Isleworth:
a) ela tem as feições bem mais jovens que as duas anteriores, a do Prado e a do Louvre, mais compatível com os 23 anos que Lisa tinha quando posou para Leonardo.
b) no fundo do quadro as colunas parecem mais destacadas, e a paisagem parece inacabada. Ora, em seu livro, Giorgio Vasari disse que Leonardo da Vinci deixou o quadro de Lisa Giocondo inacabado, de onde os membros do consórcio defenderem que esta foi a primeira versão do quadro feita por Leonardo.
Enquanto isso o debate sobre a autenticidade ou não do quadro, a autoria de da Vinci, segue quente e dividindo os especialistas. Os membros do consórcio não colaboram em nada para o esclarecimento, ois sabem que, quanto mais celeuma e dúvida houver, mais o quadro fica famoso e mais eles ganham dinheiro.
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http://monalisa.org/2
O consorcio da Mona Lisa de Isleworth, em seu site, monalisa.org, traz uma evidência impressionante: o desenho acima, atribuído a Rafael Sanzio, amigo de Leonardo, que esteve no seu atelier, lá por volta de 1504, viu o quadro de Leonardo, e dele teria feito o desenho cima. É ou não é a cara da Mona Lisa de Isleworth?
https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/6/6a/ Pygmalion_and_Galatea_% 28Normand%29.jpg/800px- Pygmalion_and_Galatea_% 28Normand%29.jpg
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Leonardo da Vinci era um homem muito inteligente, sensível e obcecado, com uma notável visão de futuro, que, de alguma forma, percebeu o valor extraordinário daquele quadro, ou a ele se apegou, como Pigmalião da mitologia, e daí o apego ao quadro, com as mudanças que ele foi fazendo no rosto, à medida que os anos corriam, como se ela estivesse envelhecendo junto com ele, afinal Lisa Gherardini já era uma mulher casada, e ele só podia se apegar a ela dentro dos padrões do Amor Cortês, típico dos grandes artistas da Idade Média, onde uma mulher inacessível era idolatrada e possuída, mas apenas idealmente, no intelecto, a parte mais “nobre” do ser humano.
Segundo consta na mitologia grega, Pigmalião era o rei de Creta e ansiava muito por encontrar a mulher perfeita, e, não a encontrando, transferiu o seu ideal de mulher na confecção de uma estátua, que adquiriu tal formosura, aos seus olhos, que ele se apaixonou por ela perdidamente, e perdido ficou por amar algo que não lhe era semelhante. Diz ainda a mitiologia, que Vênus, a deusa do amor, apiedada do sofrimento de Pigmalião, e considerando que ele era uma pessoa boa, correta, resolveu intervir e dar vida à estátua, que Pigmalião batizara como Galateia. Ao amanhecer Pigmalião tem a surpresa espetacular, ao ver a sua estátua convertida em uma bela mulher, a mulher de seus sonhos, com a qual se casou, e com quem teve uma filha: Pafos.
O mito de Pigmalião lembra ao homem a sua extraordinária capacidade de mudar a realidade, mas também de se alienar dela, caindo em um estado onde nem ele nem a realidade mudam. A propósito conheço uma história realmente exemplar:
Havia um homem que viva procurando a mulher ideal, a mulher perfeita. Os anos se passaram ele envelheceu e... nada. Certa vez, quando um amigo lamentava o fato de ele nunca ter encontrado a mulher perfeita, ele retrucou:
- Mas eu encontrei a mulher perfeita!
- Mas então, disse o amigo espantado, por que você não casou com ela?
- É que ela também estava procurando o homem perfeito, respondeu ele, desconsolado.
ANA BOLENA (1501? – 1536)
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0e/Anneboleyn2.jpg
Fonte Wikipedia
Filha de uma importante família
da nobreza, Ana bolena – Anne Boleyn para os ingleses – foi convidada para ser
dama de companhia da rainha Catarina de Aragão, uma princesa espanhola, que se
casara com o rei Henrique VIII, sendo descrita como uma mulher “sem grande
beleza, mas até aqueles que a detestavam não podiam deixar de admitir que ela
possuía um grande encanto. Sua cútis morena e seus cabelos muito negros lhe
davam uma aura exótica, em uma cultura onde o branco pálido como leite era
considerado padrão de beleza. Seus olhos também eram ‘notavelmente negros e
formosos’, descreveu um contemporâneo, enquanto outro afirmou que eram sempre
‘muito atraentes’, e que ela ‘sabia usá-los com eficácia´” (palavras da
historiadora inglesa Karen Lindsey, citada na Wikipedia espanhola, tradução
livre). Dizia-se, ainda, que ela tinha muito bom gosto para a moda, modos muito
avançados para o seu tempo (jogava, bebia e contava piadas à inglesa), além de
viver cercada por gente jovem e alegre.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3b/King_Henry_and_Anne_Boleyn_Deer_shooting_in_Windsor_Forest.jpg
Fonte Wikipedia
Os encantos e a juventude da bela
dama de companhia não passaram desapercebidos pelo principal interessado: o
marido da rainha, Henrique VIII. Agastava-se Henrique pelo fato de a rainha já
não ter mais a beleza da juventude, que a tornara famosa, e por esta não ter
lhe dado um filho homem, pretexto um tanto pueril, já que na Inglaterra não
havia a Lei Sálica, que proibia a subida de mulheres ao trono. Talvez o fato de
Ana ser de15 a 20 anos mais jovem que a titular, tenham pesado mais. A gravura
do século XIX, acima, mostra bem o clima de romance entre o rei e Ana, nas
famosas caçadas reais. Ela, aparentemente, caça um bicho, mas o rei, outra coisa...
http://farm4.static.flickr.com/3336/3277702987_4a675928c4.jpg
Fonte flickr.com
Desenlace inevitável, tendo
criado uma igreja só para si, Henrique VIII, consegue a aprovação de seu
divórcio e se une à ex-amante, mal conseguindo se conter, em maio 1533. A
Catarina resta, retira-se de sua condição de rainha, compungida e em luto fechado,
para amargar o exílio e a desimportância, dentro da Inglaterra, sem falar da
enorme desonra que lhe fora a acusação de Henrique VIII, aprovada pelos bispos
de sua Igreja, de que ela o traíra com seu irmão Arthur, e que justificava
oficialmente a ação de divórcio, segundo o Evangelho de Mateus 5,32.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6d/Anne_Boleyn_London_Tower.jpg
fonte Wikipedia
O feitiço se vira contra a
feiticeira. No dia que Catarina morre, Ana perde o único filho homem que teve
com Henrique, esvaziando o objetivo mais explícito deste, sem falar das
pressões espanholas – Henrique estava tentando acordos com a Espanha – e, o que
é pior, neste caso: o rei já estava se enrabichando por outra mulher, quase dez
anos mais jovem que Ana. Acusada pelo rei de adultério e até de incesto!, Ana é
mandada presa para a Torre de Londres, a fim de ser executada.
http://www.governmentalwaysfails.com/wp-content/uploads/2014/07/swordsman.jpg
Desenlace inevitável. Tocado
pelas lembranças de seu romance, Henrique não quis que a ex-mulher-de-sua-vida
tivesse a cabeça decepada por um machado, curvada sobre um cepo, em posição
humilhante, ficando de quatro. Por isso pediu para vir da França um espadachim
que cortou a cabeça de Ana com um golpe de espada, estando essa de joelhos,
como que em oração. A execução foi em 19 de maio de 1539, quase três anos
exatos do casamento a tornara rainha da Inglaterra.
Ana Bolena ficou tão marcada por esse julgamento e execução, que até mesmo sua filha, enquanto viveu, preferiu não tocar no seu nome, nem fez qualquer movimento de reabilitação a seu favor. Nome dessa filha: rainha Elizabeth I, da Inglaterra..
Ana Bolena ficou tão marcada por esse julgamento e execução, que até mesmo sua filha, enquanto viveu, preferiu não tocar no seu nome, nem fez qualquer movimento de reabilitação a seu favor. Nome dessa filha: rainha Elizabeth I, da Inglaterra..
Fontes: www.governmentalwaysfails.com -
farm4.static.flickr.com - wikipedia em espanhol e inglês
(Visite o blogue
construindopiaget.blogspot,com.br)
IVAN IV O TERRÍVEL (1547-1584)
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/80/Ivan_the_Terrible_%28cropped%29.JPG/300px-Ivan_the_Terrible_%28cropped%29.JPG
Fonte Wikipedia
Um gênio psicopata, assim era a
pessoa de Ivan IV, governante da Rússia numa época de afirmação do poder do
monarca, e expansão territorial, após o pesado domínio mongol da Horda de Ouro
(de 1240 a 1480). Ivan foi criado num ambiente pesadamente conspiratório, com
as grandes famílias da nobreza russa, os boiardos, disputando a mão armada o
controle sobre o soberano – acredita-se que a sua mãe, Helena Vasilievna
Glinskaya, tenha sido envenenada, no meio dessa disputa. Educado pelo
Metropolita (arcebispo) de Moscou, Macario, na concepção do direito divino dos
monarcas, o que era do interesse da Igreja Ortodoxa Russa, a religião oficial e
exclusiva no reino, Ivan chegou ao poder pronto para exterminar quem
contestasse seu poder. O quadro acima, de Viktor Vasnetsov, é,
coincidentemente, bem fiel à reconstituição forense feita recentemente no
crânio de Ivan.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqb6HKYRuhyu8xs_WrdW54jvocKMyEzIjNvWf8DWYh8EVK0tVscS45TCN8_aWJuKPGu1XhJdx-lGn9sQ8vwHKZZZ-nA_lNuBSv0ssLzJraGAuGaRHk3xC__-4P6myLhePVaRtr6nlAQSRY/s1600/defence_kazan.jpg
Fonte
http://the-history-notes.blogspot.com.br/
Externamente Ivan travou guerras
bem-sucedidas contra os tártaros, ao sul, tomando-lhes cidades importantes,
como Kazan (em 1552) e Artrakan (em 1556), sendo detido pelo colosso turco, não
sem antes garantir o domínio russo sobre boa parte da bacia do mar Cáspio, e
estabelecer ligações comerciais com os persas – na ilustração vemos a tomada de
Kazan. Em 1582, o aventureiro cossaco Yermak Tomofeievich começou, com apenas
840 homens, a conquista da Sibéria, ocupada por uma miscelânea de povos ainda
muito apegados a suas tradições tribais, o que favoreceu à sagaz política de
divisão implementada por Yermak: “dividir para conquistar”. Em pouco tempo
milhões de quilômetros quadrados e milhões de habitantes foram anexos ao
império de Ivan. No Ocidente ele não foi tão bem, derrotado pela Suécia na
Guerra da Livônia (1558-1583), teve que ceder algumas cidades.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/71/Ivan_the_Terrible_and_Harsey.jpg/1024px-Ivan_the_Terrible_and_Harsey.jpg
Fonte Wikipedia
Mas nem sempre suas relações com
o Ocidente foram tumultuadas, e cabe a ele a primazia de tentar estabelecer
relações comerciais e culturais consistentes com os países ocidentais. A
gravura mostra o tzar, já velho, sentado em uma cadeira tentando convencer ao
embaixador inglês na Rússia, Jerome Horsey, a vantagem de relações comerciais
entre os dois países – na época os ingleses estavam tentando chegar à Índia,
fonte das famosas especiarias, circunavegando o litoral norte da Rússia, numa
busca infrutífera da Passagem do Nordeste. Para quê ir tão longe se a Rússia
podia oferecer tanto?
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f7/Grigory_Sedov_-_Ivan_the_Terrible_admiring_Vasilisa_Melentieva.jpg
Fonte Wikipedia
Sua vida pessoal foi um horror!
Nesse quadro do século XIX, Ivan admira sua sexta esposa, Vasilisa Melentyeva
(ele teve oito!), que ele, aparentemente amava, qualificando-a como “bela e de
boa índole”, dormindo em paz, sem saber que já chegara ao conhecimento dele um
caso que ela tivera com um nobre da corte. O despertar será amargo. Vasilisa
será obrigada a assistir a execução do amante por empalamento, tendo em seguida
a cabeça raspada e mandada para um convento, até o final de seus dias. Ela
morrerá em 1579. Nem todas as suas ex-esposas tiveram a sua sorte, pois algumas
foram mortas pelas mãos do marido furioso, sem falar dos desafetos políticos
(alguns milhares), executados das mais bárbaras formas.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6c/REPIN_Ivan_Terrible%26Ivan.jpg/1024px-REPIN_Ivan_Terrible%26Ivan.jpg
Fonte Wikipedia
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/61/Wjatscheslaw_Grigorjewitsch_Schwarz_001.jpg/800px-Wjatscheslaw_Grigorjewitsch_Schwarz_001.jpg
Fonte Wikipedia
Seu maior erro aconteceu numa
sexta-feira, 16 de novembro de 1581, quando, furioso com a roupa que a nora
estava vestindo, espancou-a, apesar de grávida, causando-lhe posterior aborto.
Seu filho, o tzarevich (príncipe herdeiro) Ivan, tomou acintosamente a defesa
da esposa, e o pai lhe bateu com o pesado bastão real na cabeça, causando-lhe a
morte. Isso o deixou completamente arrasado e a partir daí se acentuaram as
flutuações de humor já visíveis no seu comportamento, típicas de um estado
próximo à loucura (em seus acessos arrancava os pelos da barba a puxavancos e
arranhava as paredes). Em termos práticos, esse acesso de fúria decretou o fim
de uma dinastia de governantes que vinha desde o ano 862. Hoje, acredita-se que
seus acessos descontrolados vinham de remédios à base de mercúrio, que o tzar
tomava para manter a sua sífilis (uma doença venérea muito comum na época) sob
controle, que em altas doses provoca mudanças súbitas de humor, embora a sua
inteligência privilegiada, colocada a serviço de uma mente obcecada, fosse
capaz de dar as mais bizarras mostras de ironia, sarcasmos e nós na lógica,
presentes nos textos de sua correspondência, como quando inquire a um príncipe
conspirador que fugira "Se você está tão certo da justiça,
por que fugir a preferir o martírio em minhas mãos?" É autor de hinos
religiosos, e um grande conhecedor da religião ortodoxa.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Fyodor%26boris.jpg/340px-Fyodor%26boris.jpg
Fonte Wikipedia
Triste epílogo. Após a morte do
príncipe Ivan, o único que sobrara para assumir o trono era Fiodor ou Teodoro
I, um indivíduo absolutamente simplório, mentalmente incapaz, que passava o seu
tempo em leituras de livros religiosos e orações, além do imenso prazer que
tinha em tocar os sinos das igrejas do Kremlin (complexo palacial onde moravam
os tzares em Moscou). Fiodor reinou de 1584 a 1598, mas de forma puramente
burocrática, entregando o poder de fato nas mãos de Boris Godunov, um
importante boiardo, que aparece na ilustração acima, recebendo uma corrente de
outro de Fiodor, símbolo de seus status superior. Em 1594, quando morreu a sua
única filha, Fiodor entrou em depressão e abandonou de vez o governo. Em 1591,
já morrera em circunstâncias misteriosas, o único filho ainda vivo de Ivan IV,
Dimitri Ivanovichi, caindo sérias acusações sobre Godunov. Este consegue virar
o jogo e assume o trono, não sem antes mandar raspar a cabeça de Maria Nagaya,
última esposa de Ivan, mãe de Dimitri, acusando-a de negligência criminosa pela
morte do filho, internando-a em um mosteiro.
Méritos
de Ivan IV
É importante que Ivan IV não seja apresentado como
mero psicopata, e dar vazão às mais doentias formas de crueldade, como se isso
fizesse parte da “alma” russa, havendo para isso, inclusive, a justificativa do
clima péssimo, criado dentro da corte, pelas intrigas dos boiardos – os representantes
da grande nobreza fundiária – ansiosos por se apossar do poder.
Alega-se também que houve uma mudança notável no
seu comportamento, após o ano de 1560, quando faleceu a sua primeira esposa, Anastácia
Romanovna Zakharina, que exercia uma influência positiva, moderadora, no seu
temperamento explosivo, seguida pela morte de seu grande amigo, o patriarca Macário,
e uma grave doença que lhe acometeu, ele colapsou de vez e assou a fazer jus à
fama com que passou à história, principalmente por causa da desconfiança de que
Anastácia tinha sido envenenada – suspeita confirmada por análise química feita
por médicos russos, nos restos da tzarina, no final do século XX.
Antes disso, porém, ele fez coisas notáveis e muito
positivas para a evolução da sociedade russa: criou um conselho composto de
mercadores e da pequena nobreza, reduzindo o poder nefasto dos boiardos;
impulsionou as artes e as letras, introduzindo a imprensa no país; convocou o
primeiro Zemski Sobor, em 1549, a primeira experiência de parlamento da Rússia;
mandou fazer uma grande revisão na legislação russa, abrindo o acesso dos
camponeses ao sistema legal e à administração local; iniciou frutuosas relações
comerciais com a Inglaterra – chegou a pedir a rainha Elizabeth I em casamento,
mas ela recusou... diplomaticamente – percebeu a importância da Rússia ter
portos permanentes; expandiu enormemente os territórios do reino; reformou e
modernizou o exército; etc.
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Detalhe da personalidade estapafúrdia e inesperada de Ivan: corroído de remorsos por seus últimos crimes, ele pede ao superior do mosteiro de Pskov-Pechorsky, abade Kornily, que o aceite como monge. O abade foi sábio o bastante para não aceitá-lo... com muito cuidado.
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Detalhe da personalidade estapafúrdia e inesperada de Ivan: corroído de remorsos por seus últimos crimes, ele pede ao superior do mosteiro de Pskov-Pechorsky, abade Kornily, que o aceite como monge. O abade foi sábio o bastante para não aceitá-lo... com muito cuidado.
ZEMSKY
SOBOR (1549-1686)
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fe/Zemskysobor.jpg/1024px-Zemskysobor.jpg
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O termo russo “Zemsky Sobor”, quer
dizer “Assembleia da Terra”, e se refere a uma iniciativa de Ivan IV, o
Terrível, em 1449, para dar mais abrangência ao seu poder e de, por meio do
Zemsky, dar um início formal ao estado nacional russo. Foi, portanto, uma
iniciativa “modernizadora”. No quadro acima vemos Ivan IV abrindo a primeira
Zemsky Sobor. De costas, todos de preto, estão os membros do clero ortodoxo,
enquanto de frente, usando barba e roupas bem chamativas, estão os boiardos, os
representantes da nobreza russa.
A Zemsky Sobor equivale às Cortes, em
Portugal e Espanha, e aos Estados Gerais, da França, e, como estes, era formada
por representantes das classes sociais russas, classificadas de forma
tripartite, como na Europa Ocidental. No caso da Rússia, o clero era
representado pelos altos sacerdotes da Igreja Ortodoxa Russa, a nobreza pelos
boiardos e o povo por representantes de grandes mercadores e habitantes das
principais cidades.
Assim como as Cortes e os Estados
Gerais, a Zemsky Sobor era convocada sempre que havia alguma emergência
nacional ou quando havia projetos de largo alcance, sujeitos a controvérsias,
para serem analisados, da mesma forma que, como aqueles, eram um órgão
consultivo, ou seja, o tzar só seguia as decisões da Zemsky Sobor se quisesse.
Por isso Ivan IV fará ouvidos de surdo quando uma delas pediu-lhe para
extinguir a sua polícia secreta: a Oprichnina, em 1566.
Ao longo dos séculos a Zemsky Sobor
interviu, principalmente, nos momentos de crise para dar alguma estabilidade ao
país, sempre às voltas com crises provocadas pela ambição dos vizinhos e da alta
nobreza, mas à medida que o poder dos tzares se consolida, e as crises são
vencidas, graças em grande parte á ação da Zemsky Sobor, ela é cada vez menos
convocada, até que, durante o reinado de Pedro o Grande ela cai em desuso, da
mesma forma com aconteceu na França e nos países ibéricos.
A última convocação de uma Zemsky Sobor
foi uma espécie de canto do cisne do regime tzarista, que sempre a instituição.
Aconteceu em agosto de 1922, durante a guerra civil, convocada pelo general
tzarista Mikhail Dieterichs, no extremo oriente da Rússia, com o intuito de
fortalecer a sua luta contra os comunistas – um dos pontos da pauta seria pedir
o retorno da monarquia, derrubada em 1917. Com a ausência dos principais
representantes da família imperial e do clero, a assembleia não foi pra frente,
e dois meses depois os comunistas tomaram a região.
BATALHA DE ROCROI (1643)
Prof Eduardo Simões
Prof Eduardo Simões
http://www.vacances-location.net/alquiler-vacaciones/small-map-town/ardennes/rocroi.png
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A cidade francesa de Rocroi, situada perto da fronteira
com a Bélgica (no mapa o quadrado vermelho com moldura branca e preta destacada), estava situada
numa rota estratégica que levava diretamente a Paris, e por isso havia se tornado
um ponto de defesa crucial para os franceses, sendo reforçada por diversas
fortalezas. Em 1643, no auge da Guerra dos Trinta Anos, França e Espanha
disputavam ferozmente a hegemonia sobre vastas áreas da Europa Central, que até
ali estiveram sob o controle de espanhóis e austríacos.
Embora França, Espanha e Áustria fossem países fortemente
católicos, e essa guerra tivesse claras conotações religiosas, os franceses
preferiram se aliar aos príncipes protestantes da Alemanha, colocando seus
interesses nacionais estratégicos acima da questão religiosa.
Em resposta à invasão da Espanha, um exército espanhol
com 24 mil infantes, 8 mil cavaleiros e 18 canhões (!) invadiu o norte da
França e impôs cerco a cidade fortificada de Rocroi, que na ocasião tinha uma
guarnição de pouco mais de 400 homens – os espanhóis eram comandados pelo
general português, a serviço da Espanha, Francisco de Melo.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/Louis_1621_86_bourbon_son_duk_hi.jpg
fonte Wikipedia
Os franceses mandaram, para libertar Rocroi, um exército com
17 mil infantes, 6 mil cavaleiros e 14 canhões, comandados pelo príncipe Luis
II de Bourbon-Condé, também conhecido como Duque de Enghien, com apenas 21 anos
de idade! No quadro acima, o “Grande Condé” (pronuncia, ‘condê’), como ele
também era conhecido, aparece com uma roupa superchamativa, como era moda
naquele tempo, ao lado de seu filho, este com armadura de apresentação – não se
usava mais esse equipamento nas guerras – anos depois da batalha de Rocroi.
http://www.cesarurrutia.es/images/cine/cine.jpg_0019
http://www.cesarurrutia.es/
A missão de Condé não é fácil, pois as tropas espanholas
eram, em sua maioria, formadas pelos temíveis terços, tropas espanholas de
elite, considerados os melhores soldados da Europa. Só perdiam uma batalha
quando estavam em condição de inferioridade muito grande, e esse não era o caso
em Rocroi, pelo contrário. Em 17 de maio, os dois exércitos estão frente a
frente, se estudando.
A batalha começou por iniciativa os franceses, em 19 de
maio, às 3:00 a manhã. Eles partem para o ataque com sua cavalaria, mas sofrem
um vigoroso contra-ataque da cavalaria e da infantaria adversária, sofrendo
peadas perdas, inclusive da totalidade de seu canhões.
A situação é desesperadora, mas Condé, observou que a
cavalaria espanhola avançara muito, expondo-se. Ele então lidera um contra-ataque,
causando muitas baixas aos espanhóis e ao próprio Condé, que saiu ferido na refrega.
As forças espanholas, constituídas de tropas de diversas procedências são muito
desiguais. Os italianos à primeira carga se dispersam, deixando a infantaria espanhola
em apuros, e a coisa fica pior ainda quando acaba a munição dos canhões espanhóis,
a maior vantagem deles na batalha. Com a confusão da infantaria inimiga, os franceses
conseguem retomar seus canhões e os dirigem contra os espanhóis. Enquanto isso, as tropas a retaguarda espanhola,
advertidas pelos fugitivos, demoram a entrar luta, e quando chegam já é tarde.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/Painting_-_The_Battle_of_Rocroi_by_Morelli_y_Sanchez_Gil_%281912%29.jpg
Fonte Wikipedia
Finalmente só restavam dois terços espanhóis incompletos
no campo de batalha, em condições absurdamente adversas, o comandante francês, ofereceu-lhes
condições muito honrosas de rendição. Um terço aceitou, mas outro permaneceu
ainda um tempo sob fogo intenso até que se rendeu também. As perdas totais foram: 4.500 franceses entre mortos e feridos, e 7.300 espanhóis, entre mortos, feridos e prisioneiros.
O quadro acima, pintado pelo espanhol Víctor Morelli y Sánchez
Gill, de 1912, mostra o momento da primeira oferta e rendição dos franceses,
orgulhosamente rejeitada pelos espanhóis.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/HeimBattleRocroy.jpg
Fonte Wikipedia
Cada um vê o que quer. Neste quadro, do pintor francês François-Joseph
Heims, de 1833, o Duque de Enghien segura seus homens, para impedir que estes, traumatizados
pela dureza do combate e pela morte de muitos camaradas, se atirem contra os prisioneiros
espanhóis, massacrando-os. Os espanhóis são mostrados como coitadinhos, de
joelhos, pedindo pelo amor de Deus por suas vidas.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/40/Batalla_de_rocroi_por_Augusto_Ferrer-Dalmau.jpg/1024px-Batalla_de_rocroi_por_Augusto_Ferrer-Dalmau.jpg
Fonte Wikipedia
A última e maravilhosa herança iconográfica da batalha de
Rocroi. O quadro espetacular do pintor espanhol Augusto Ferrer-Dalmau, pintado
em 2011, chamado “O último terço de Rocroi”, mostrando a batalha em todo o seu sangrento
desfecho, mas de uma forma que enche os espanhóis de orgulho, pois representa
os soldados do último terço, já sem nenhuma chance de vitória, encarando de
frente, com coragem e orgulho um inimigo muito superior, não dando condições
para uma rendição que não seja honrosa. Arriba España!!
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/ef/El_perro_de_rocroi.jpg/399px-El_perro_de_rocroi.jpg
Fonte Wikipedia
Um detalhe acrescentado ao quadro, por sugestão de um
amigo de Ferrer-Dalmau, chamou muito a atenção: “El perro de Rocroi”, um
cachorrinho, tipo vira-latas, que o artista acrescentou, como se fora o mascote
da tropa, estrategicamente pintado entre um adolescente, tocando um tambor,
como era tradicional naqueles tempos, e um velho veterano, de lança em punho. Esse
cachorro representaria o homem do povo espanhol, quiçá o povo mais pobre,
esquecido, abandonado e maltratado pelos poderosos, mas que nos grandes
momentos está lá, firme, sobre as quatro patas, olhando de frente o seu
destino, tão trágico quanto glorioso.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3Hhb9QGTPhSUlk85O4nvDjzWU2jM3ovbzEPSj0Js-Nz3GDf3_j-dqhUn768H2odws3b9H8WampOM9okfdxuweLykkSHZX5SlzcmX3rkG-D9v8wPNWcFoUGi8gFzvXZcQ_tsszjXz3pg8/s1600/Sin+t%25C3%25ADtulo-2+copia.jpg45.jpg
Fonte http://europa-nacional-blog.blogspot.com.br/
Outra fonte de inspiração para os espanhóis: o soldado
cego, amparado pelo companheiro, mas empunhando a sua espada, próximo às
bandeiras do terço. É a vitória da vontade e da honra. O clima criado pelo
quadro é tão glorioso que, embora apresente o lado derrotado, inverte emocionalmente
o resultado da batalha real. Um povo que não conhece nem ama a sua história não
tem futuro.
Luís XIV, com jeitão de ‘metido’, ao lado de seu filho, igualmente cheio de ‘pose’, observam com desdém, a solene inclinação de Condé, ao pé da escada. Dos dois lados, subindo a escadaria, soldados portam bandeiras com as insígnias dos príncipes e nobres que se revoltaram e foram capturadas. Ao lado de Condé, de azul, com chapéus empenachados, dois oficiais da guarda dos mosqueteiros reais – os jovens de azul devem ser jovens cadetes, aprendendo o que faz bem, e o que não faz bem, à ‘saúde’ de um homem. Acima do rei, no segundo lance de escadas, dos dois lados e em balcões no alto, centenas de homens e mulheres, nobres, bispos e serviçais, formam o séquito do rei, para ficar bem claro a Condé o quanto ele está isolado e fraco diante do rei.
FRONDA (1648-1653)
Prof Eduardo simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/65/Vincent_Mol%C3%A9_et_les_factieux.jpg
Fonte Wikipedia
Fronda (= revolta, em francês) é o nome que se dá a uma
revolta acontecida na França, como consequência do aumento de impostos para
pagar as despesas do país na Guerra dos Trinta Anos e como uma forma de
resistência ao absolutismo monárquico de Luís XIV, lentamente construído no
reinado de seus antecessores, Henrique IV e Luís XIII, e às intervenções de
bastidores de políticos muito hábeis como o Cardeal Richelieu e o Cardeal
Mazarino – este, apesar de ser feito cardeal, nunca seguiu a carreira
religiosa, sequer foi ordenado padre.
A Fronda começa pela tentativa da burguesia parisiense de
reduzir o poder real, na declaração dos 27 artigos, de 15 de junho de 1648, agravada
pelo aumento da carga tributária fomentada pelo Cardeal Mazarino, a principal
figura da corte de Luís XIV, que ainda mandou prender, em 26 de agosto de 1648,
a Pierre Broussel, e mais dois conselheiros, ferozes dos tributos, e muito
populares em Paris. O descontentamento explode e Paris se enche de barricadas
(os números oscilam entre 600 e 1.200).
A ilustração acima mostra o Primeiro Presidente do
Parlamento de Paris (órgão da burguesia), Mateus Molé, com longas vestes
vermelhas, sendo cercado pela multidão furiosa para conseguir sem mais delongas
a libertação dos aprisionados ou a retenção de Mazarino como refém. Molé
conseguiu a liberdade de Broussel e seus companheiros e as barricadas foram
desfeitas no dia seguinte.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0d/Louis%2C_Grand_Cond%C3%A9.PNG
Fonte Wikipedia
Mazarino, entretanto, quer submeter os burgueses de
Paris, fazendo-a cercar por milhares de mercenários alemães, enquanto também
tentava enquadrar a nobreza francesa, sempre, sempre disposta a contestar o
absolutismo real, o que acabou por provocar uma nova onda de descontentamento
entre os nobres, ansiosos não só de deter o crescimento do poder real, mas
principalmente em implodir o poder de Mazarino junto à Família Real – nessa
época ele era o preceptor e principal conselheiro do jovem rei Luis XIV.
Quem liderou esse movimento foi nada menos que Luis II de
Bourbon-Condé, o “Grande Condé”, um dos mais competentes generais da França,
que acabara de vencer os tercios espanhóis em Rocroi. Era o início da segunda
fase da Fronda, ou a Fronda dos Príncipes, quando elementos da mais elevada
nobreza se coligavam para acabar com as pretensões absolutistas de Luiz XIV e
seu ambicioso conselheiro. O país mergulhou numa sangrenta guerra civil.
http://images.fineartamerica.com/images-medium-large/france-fronde-battle-1652-granger.jpg
Fonte http://fineartamerica.com/
Mas do lado do rei também havia um general muito
competente: Henri de la Tour, o Visconde de Turenne, ou só Turenne. No seu
auge, a França sobrava em todas as áreas. Condé, que ordinariamente detestava
os burgueses, se alia aos amotinados de Paris e tenta romper o cerco a que
Turenne a submete, conseguindo-o a muita custa em uma batalha no subúrbio de
Santo Antônio, um bairro de Pairis, à sombra da prisão-fortaleza da Bastilha,
em 2 de julho de 1652.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDPcKpbi-Gz7ED4CaJlcfnFaifOyXF5j2YQ8_JhWSizclSIL_q0OYROVmVOrO7lXGnnOauEYpmPpQpTFJ4ZIWi7X69hwiz8mN74tBWapYbmcstPVK8X_9Jvvzw696YU5t4tJGgFomQIffP/s1600/Montpensier.gif
http://www.cliomusings.com/
Um dos episódios mais
marcantes dessa batalha foi quando, Anne Marie de Orleans, a “Grande
Mademoiselle” (Grande Senhorita), então em Paris, subiu no alto do castelo-prisão
da Bastilha e ordenou aos guardas fazerem fogo sobre as tropas do rei,
possibilitando a entrada de Condé na cidade, rompendo o cerco – Anne Marie é
inimiga jurada de Mazarino, uma vez que este se opusera com sucesso ao
casamento dela com seu primo-irmão, o rei Luís XIV, sem falar de seus
sentimentos pelo próprio Condé, que preferiu outra. O jeito foi passar para a
história com o apelido de Grande Senhorita, após um pseudocasamento com um
farsante, e pelo seu mau gênio.
Nesse momento aflora a contradição
de classe entre os amotinados: Condé faz massacrar 30 parlamentares burgueses
que eram favoráveis à pacificação e faz reinar o terror. A burguesia, cansada
da guerra, se afasta de Condé, e este, isolado, é obrigado a fugir, buscando
refúgio entre os espanhóis, seus inimigos de véspera, e que financiam secretamente
a Fronda dos Príncipes, loucos para ver o “circo da França” pegar fogo.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a9/R%C3%A9ception_du_Grand_Cond%C3%A9_%C3%A0_Versailles_%28Jean-L%C3%A9on_G%C3%A9r%C3%B4me%2C_1878%29.png/1024px-R%C3%A9ception_du_Grand_Cond%C3%A9_%C3%A0_Versailles_%28Jean-L%C3%A9on_G%C3%A9r%C3%B4me%2C_1878%29.png
Fonte Wikipedia
Mazarino, inteligentemente, se exila por um tempo,
ajudando a acalmar os ânimos, sem deixar de, mesmo longe, influenciar as decisões
do rei, enquanto as tropas reais vão ganhando uma batalha pós outra,
encurralando o principal sustentáculo dos revoltosos: a Espanha. Não resta a
Condé, e aos outros nobres, senão submeter-se ao rei, como é apresentado nesse
esplêndido quadro de Jean-Léon Gerome, pintado em 1877.
O cenário é perfeito:
no alto do primeiro lance de escada, Luís XIV, com jeitão de ‘metido’, ao lado de seu filho, igualmente cheio de ‘pose’, observam com desdém, a solene inclinação de Condé, ao pé da escada. Dos dois lados, subindo a escadaria, soldados portam bandeiras com as insígnias dos príncipes e nobres que se revoltaram e foram capturadas. Ao lado de Condé, de azul, com chapéus empenachados, dois oficiais da guarda dos mosqueteiros reais – os jovens de azul devem ser jovens cadetes, aprendendo o que faz bem, e o que não faz bem, à ‘saúde’ de um homem. Acima do rei, no segundo lance de escadas, dos dois lados e em balcões no alto, centenas de homens e mulheres, nobres, bispos e serviçais, formam o séquito do rei, para ficar bem claro a Condé o quanto ele está isolado e fraco diante do rei.
O BANQUETE DE VATEL (1671)
Prof Eduardo Simões
http://ahistoryblog.com/wp-content/uploads/2012/11/F-Vatel.jpg
http://ahistoryblog.com/
François Vatel é filho de um humilde camponês suíço que
se entusiasma pela cozinha e pelo mundo da alta nobreza, entrando a serviço de
um burguês rico e nobilitado, Nicolas Fuquet, Visconde de Mellun e Vaux. Vatel é incorporado à cozinha de Fuquet com 22 anos,
e começa a chamar a atenção pela sua perícia culinária e na sua capacidade de organização.
Lá ele conhece o seu auge, em 17 de agosto de 1661, quando serviu ao rei Luis
XIV, com 24 anos, e sua mãe, a rainha Ana da Áustria, um grande banquete que
fez fama.
Lá também viu a desgraça de seu senhor. Preso por corrupção
e desvio de verbas, e, com medo de represálias fugiu, precipitadamente, para a
Inglaterra, sem saber que o rei tinha projetos de aproveitar os serviçais de
Fuquet no seu palácio em Versalhes. Podemos dizer que ele correu de sua ‘grande
chance’.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Chateau_de_Chantilly_FRA_003.JPG
Fonte Wikipedia
Na Inglaterra ele entra em contato com um amigo de Fuquet
que, por sua vez o apresenta ao príncipe Luís II de Boubon-Condé, o Grande Condé,
para o qual entra em serviço, em 1663, tornando-se “contrôleur général de la Bouche”
(literalmente “controlador geral da boca”), uma espécie de mordomo-chefe, maître,
responsável não só pela qualidade da comida oferecida como de todo o clima ou
ambiente em que transcorreria a refeição. Foi outra péssima escolha! Condé, ainda
estava caído em desgraça, desde que participara da Fonda dos Príncipes, entre 1649
e 1653.
Foi nesse transe que, confiado na experiência de Vatel, Condé
pensou em recepcionar toda a corte do rei no seu imponente palácio em Chantilly
(foto acima), tentando, através da barriga, ganhar de volta as boas graças do
rei. A pressão era gigantesca: o futuro de Condé estavam nas mãos de Vatel.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjq8D1VSL-Zud-RBW4rGYSqSjKnbYKvbJcV9-Q9iF3UJB19DrdNFtvXDLJthVb6NwOJ2gHAS0KgZZVQEQfpvEXwbbh5FMLXWvpC5PEZUZHERhsRhrzM3M5vcKez8eNzwOqjSLAP_hqPOl_M/s1600/content_Vatel1.jpg
http://www.cristinamello.com.br/
Era um desafio excepcional. Haveria algo em torno de 2 a
3 mil convidados, do mais elevado grau de nobreza, a começar pelo rei, que
deveriam ser entretidos por nada menos de 3 dias e 3 noites, em vários eventos
diferentes, que incluíam a queima de fogos, apresentações teatrais, caçadas,
etc., e uma infinidade de situações repletas de constrangimentos, competição,
ciúmes, acidentes, diversidade de opiniões, sem falar da comida, que deveria
ser do mais elevado grau de sabor e capacidade de agradar a tantos apetites
diferentes, etc. Sem falar que havia muita gente interessada em que o banquete
não desse certo. Vatel teve quinze dias para preparar o cenário de uma festa
inesquecível
Na foto um momento do filme Vatel - um banquete para o rei, de 2000, com o ator francês Gerard Depardieu como Vatel.
http://www.cinemagia.ro/
No dia 23 de abril de 1671, os convidados entram no castelo,
depois de um dia inteiro exercitando-se em caçadas (abrindo o apetite), onde
será apresentado um espetáculo de fogos de artifício, que não consegue o efeito
desejado em virtude de um nevoeiro. Às mesas outro incidente: 75 convidados extras
fizeram falhar o serviço das carnes em duas mesas. Vatel começa a falar em
honra e a lembrar que já está há doze dias sem dormir direito. Condé vai até o
seu quarto tentar tranquilizá-lo. Novo fotograma do filme citado acima.
http://media.paperblog.fr/i/731/7316783/lieu-histoire-vatel-cuisine-rend-fou-chantill-L-Ekzkgj.jpeg
http://www.paperblog.fr/
No dia 24, pela manhã, a coisa parece que sai de
controle. Ele, desprezando os peixes de rio, que julgava muito comuns, ele
prefere investir em peixes e frutos do mar entrando em contato com alguns
fornecedores de vários pontos do litoral, alguns situados a 217 km de Chantilly.
A quantidade é imensa. Às 4:00 h ele já está de pé, mas só chegam duas cestas. Não
dá para nada. Até às 8:00 não chega mais nenhuma remessa do que fora combinado.
Vatel colapsa. Ele se dirige ao seu auxiliar principal, Herault
de Gourville, e diz: “Senhor, eu não conseguirei sobreviver a essa afronta, eu
tenho uma honra e uma reputação a perder”, e foi para o seu quarto. Lá, ele escora sua espada na porta e por três vezes se atira sobre ela, até o ferimento
fatal, aos 41 anos de vida. Seu corpo é descoberto justo quando alguém vem lhe
dizer que os peixe, tão esperados, haviam acabado de chegar (segundo a
Wikipedia em francês e em inglês).
Curioso esse fim de Vatel, justificado pelo apego a uma
virtude tipicamente aristocrática, a honra, justo no momento em que a aristocracia
de sangue, começava cada vez mais a abrir mão de tal virtude, para viver como
pedinte, a expensas do rei, comportando-se como parasitas de luxo em sua corte,
mais interessados em patrocinar escândalos financeiros e sexuais, do que em
cuidar de sua imagem. Para os gastrônomos modernos fica a questão: o final de Vatel pode ser considerado como o exemplo máximo de dedicação à profissão ou é antes sintoma de falta de criatividade, em uma situação crítica, qualidade indispensável a um gastrônomo digno do nome.
Dizem as crônicas que o Grande Condé chorou ao anunciar a
morte de seu mordomo-chefe, a quem estava muito ligado, e que aquela assembleia
de fúteis e vulgares teve, afinal, um gesto de ‘nobreza’, recusando-se a comer
do peixe, que fora a causa da morte daquele plebeu genial. Condé é aceito de
volta à corte de Luís XIV e Vatel trem direito a uma sepultura em um cemitério eclesiástico,
apesar de ser um suicida, indicando a interferência pessoal do rei no assunto.
O banquete fora um grande sucesso.
LEVANTES STRELTSY (1682)
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/df/Russian_Tsar_in_XVI_by_Ivanov.jpg/640px-Russian_Tsar_in_XVI_by_Ivanov.jpg
Fonte Wikipedia
Criada por Ivan IV, em tono de1450, para ser a guarda
pessoal dos tzares, a milícia strelsy sempre esteve muito próxima às práticas
tradicionais e abusivas de culto da pesa do monarca, e talvez por isso se
sentisse, como um todo, de certa forma participe direta e controladora desse
poder.
A ocasião para esse jogo perigoso aconteceu quando, em 27
de maio de 1682, morreu o jovem tzar da Rússia Alexis III Romanov, sem deixar
descendentes, ficando como herdeiros ao trono seu irmão Ivan V, um doente
mental, e um seu meio-irmão, chamado Pedro. Dois grupos familiares disputam
então o poder: os Miloslavski, comandados pela irmã de Alexis III, e meia-irmã
de Pedro, Sofia Alexeievna Romanova, e os Naryshkin, comandados por Nathalia
Naryshkina, mãe de Pedro e madrasta de Sofia.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/51/Orenburgsky.jpg/1024px-Orenburgsky.jpg
Fonte Wikipedia
Manobrando nos bastidores, Sofia faz espalhar um boato
entre os streltsy que a madrasta, e o seu grupo político haviam envenenado o
jovem Ivan V, para garantir o trono para Pedro, além de outras notícias tão
alarmantes quanto inverídicas.
Em 11 de maio, por conta desses boatos, a rebelião explode,
e os regimentos streltsy de Moscou, somando uns 20 mil soldados, se rebelam em
massa e investem contra o Kremlin exigindo que lhes seja mostrado o tzarevich
(príncipe herdeiro) Ivan, no que são satisfeitos, e aproveitam o ensejo para
massacrar alguns oficiais e nobres, acusados, com ou sem razão, de crimes
diversos, entre os quais o grande diplomata e mecenas Artamon Matveev, atirado
à turba enfurecida para ser linchado da maneira mais cruel.
Nesse quadro de Nicolau Dmitriev-Orenburg, feito em 1861,
aparecem Nathalia, junto ao parapeito, mostrando que o jovem Ivan V estava
vivo, ele está de branco, apontando para si, enquanto ao lado o jovem Pedro, de
amarelo, olha com desdém para tudo aquilo, enquanto um pouco à frente o
patriarca de Moscou, Joaquin, tenta com uma cruz deter a fúria dos soldados.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/Streltsy_mutiny_in_1682.jpg
Fonte wikipedia
Bem, o boato fora desmascarado, mas faltava a segunda
parte do plano. No dia 17 de maio os streltsy invadem de novo o Kremlin e
massacram vários membros do clã dos Naryshkin, inclusive dois irmãos de Natália
e tios de Pedro, Kiril e Ivan, à vista de ambos (ao todos uns 70 membros dessa
família foram mortos). A multidão empobrecida se une aos revoltosos e a cidade
é vítima de uma pilhagem generalizada. Em sequência o meio-irmão retardado de
Pedro, Ivan V, é declarado como primeiro na linha sucessória, enquanto a sua
irmã, Sofia, torna-se regente. Pedro e sua mãe, Nathalia, são mandados para o
exílio em uma vila miserável de camponeses, Preobrajensky, perto de Moscou. Mas
ambos estão vivos: grande erro de Sofia!
O quadro de Alexei Korzukhin, pintado em 1881, mostra o
momento em que os streltsy arrastam o corpo ensanguentado de um dos irmãos de
Nathalia, que, de joelhos, se lamenta e chora, consolada por seu filho, Pedro,
que nessa época tinha dez anos, enquanto de pé, atrás, Sofia olha a cena com
indisfarçável satisfação, afinal o seu objetivo de anular seus maiores
opositores fora atingido, enquanto finge ser também uma vítima da situação.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/04/Sophia_Alekseyevna_of_Russia.jpg/220px-Sophia_Alekseyevna_of_Russia.jpg
Fonte Wikipedia
Sofia se torna regente da Rússia em 8 de junho de 1682, e
sua regência, começada com uma traição, também amargou as suas, sendo obrigada
a reprimir violentamente vários elementos importantes para o levante de 1682,
como o movimento dos “Antigos Crentes”, que esperam que ela forçasse cúpula da Igreja Ortodoxa a impugnar a reforma
o patriarca Nikon, de 1654; o excesso de ambição do príncipe Khovansky, uma
peça chave no levante dos streltsy, de quem se tornara comandante, decapitado
em dezembro de 1682, junto a 37 estreltsy, baixando a “bola” da tropa, mas
deixando-a cheia de rancores.
A regência de Sofia trouxe alguns avanços internos: fez
concessões às posads (comunidades de comerciantes e artesãos que existiam nas cidades,
mas em comunidades separadas, fora das muralhas; reduziu as situações de
castigos para os servos – o que a desgastou junto aos boiados; tentou
modernizar o exército; criou a Academia Eslava-greco-latina, a primeira instituição
de Ensino Superior da Rússia; assinou de tratados de paz com a Polônia, a
China, e ordenou duas campanhas fracassadas contra a Turquia, na Crimeia.
Acredita-se que a política interna de Sofia tenha exercido
uma forte e benéfica influência sobre o seu sucessor, Pedro o Grande, ainda adolescente
em 1682, com vimos, mas o que ficará para a história e para os seus contemporâneos
é a sua participação no infeliz e sangrento levante, de tal sorte que se criou
ao seu redor uma multidão e ressentidos e oportunistas, só esperando a sua
queda, que afinal aconteceu em setembro de 1689.
LEVANTES
STRELTSY (1698)
Prof
Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/84/Two_tsars.jpg/1024px-Two_tsars.jpg
Fonte Wikipedia
Pedro I Alexeievich ou Pedro o Grande, tomou o poder de
sua meia-irmã, a regente Sofia Alexeievna, por meio de um golpe de força,
quando tinha apenas 17 anos, governando a princípio em parceria com seu outro
meio-irmão, Ivan V Alexeievich, uma pessoa física e mentalmente incapaz, com um
propósito bem definido: modernizar a Rússia, aproximando-a o máximo possível do
Ocidente, inclusive na moda – acima vemos os dois tzares com suas opostas
personalidades e visão de mundo: Pedro com uma roupa escura, não muito
chamativa, e com uma atitude leve e descontraída, enquanto Ivan, com um
semblante enrustido, desconfiado, parecendo um boneco enorme, dentro dos
tradicionais trajes russos. Representantes estrangeiros, com roupas escuras,
olham para Pedro e ignoram Ivan.
http://i2.wp.com/weaponsandwarfare.com/wp-content/uploads/2012/06/ewfrgerge.jpg?fit=1200%2C1200
http://weaponsandwarfare.com/
Um dos sinais de modernização mais visíveis foram as
forças armadas, em especial o exército, equipado, treinado e uniformizado de
acordo com os mais modernos conceitos da guerra da Europa Ocidental, com muita
arma de fogo, organização tática, movimentos de grandes unidades em conjunto,
apoio de artilharia, etc., bem longe do estilo dos tradicionais streltsy de
Ivan IV o Terrível, que até ali eram a tropa de elite dos tzares.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Ivan_Bilibin_130.jpg
Fonte Wikipedia
Para Pedro os streltsy eram uma das mais antigas e
funestas representações do atraso russo, agravado pelo fato de que ele e sua
mãe quase foram vítimas da fúria descontrolada desses soldados, portando de
grandes e primitivas alabardas em um mundo dominado pela tecnologia da arma de
fogo. Por isso ou por aquilo, Pedro, depois que subiu ao poder, começou a
tratar os streltsy “nos cascos”, expulsando as unidades de Moscou para
localidades distantes, como um exílio, sem nenhuma ajuda de transporte ou
manutenção.
Essas condições brutais de existência fizeram com 175
deles largassem suas unidades e fossem para Moscou apresentar seus reclamos e
entrar em contato com Sofia para que intercedesse por eles. Grave erro! Ao
serem mandados de volta começou o levante geral da tropa, e uns 2,6 mil
marcharam contra Moscou, no dia 6 de junho de 1698, aproveitando que Pedro
estava na Europa em viagem de negócios e conhecimento. Eles tinham com um
objetivo explícito: destronar o atual tzar e colocar Sofia no trono, ou outro
que acolhesse seus reclamos – não se sabe ao certo se ela estava por trás dessa
aventura ou não. Fere-se uma breve escaramuça, no dia 18 de junho, próximo ao
mosteiro de Voskresensky, 56 km a oeste de Moscou, e as tropas leais a Pedro
são vitoriosas.
http://www.russianpaintings.net/upload/author/olshanskiy/large_423b66a365bd35849cb0ba99c9d66b00.jpg
http://www.russianpaintings.net/
Pedro, que nessa ocasião estava em Viena, volta às
pressas disposto a dar-lhes uma lição definitiva, e o fez de uma forma
arrepiante, afinal ele era moderno sim, mas, em questão de poder, continuava
sendo muito ‘tradicional’.
Ele participou pessoalmente das sessões de tortura como
aquela que estica o sujeito até suas articulações se romperem; o suplício do
parafuso usado nos dedos das mãos e dos pés; uso abundante de ferro em brasa,
inclusive com o requinte de deitar o indivíduo em grelhas incandescentes, etc.
Alguns suspeitos foram chicoteados até a morte. Após tudo isso veio o
‘espetáculo’ público, com a participação do próprio tzar, que fez questão de
decapitar pessoalmente os cinco principais chefes da revolta, como se vê na
gravura acima, com um bando de corvo, ao fundo, anuncia o começo de novos
velhos tempos.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c7/Surikov_streltsi.jpg/1280px-Surikov_streltsi.jpg
Fonte Wikipedia
Esse quadro de Vasily Surikov, de 1880, mostra o momento
em que os sreltsy, condenados chegam à praça em frente ao Kremlin, para serem
executados publicamente, como um exemplo para a população russa. Eles trajam uma
bata branca, a cor os condenados, e estão acorrentados dentro de carroças precárias,
sendo retirados e conduzidos por soldados ao local do suplício, que pode se ver
ao fundo na forma e grandes travessões de madeira, junto aos muros do Kremlin,
onde serão enforcados, empalados, esquartejados, etc., cercados por seus
familiares: mães, esposas e filhos, em desespero, pedindo inutilmente ao tzar,
montado em seu cavalo, do lado direito do quadro, que tenha piedade. Na torre
do Kremlin ao fundo, vê-se um bando de corvos, a ave que na Europa faz às vezes
do nosso urubu ou abutre. Ao todo serão executados uns 1.182 streltsy, cujos
corpos ficarão expostos por meses aos olhos estupefatos da população. Se os russos
tinham alguma dúvida que o processo “modernizador” do tzar mudaria significativamente
as suas vidas, agora não têm mais nenhuma. A modernização da Rússia, como a do Ocidente, se fará em meio a um banho de sangue, para por fim à barbárie dos antigos!
Antes, porém, que se possa considerar os russos excessivamente
cruéis por causa de episódioso de sangue como este, é bom lembrar que eles, em suas
execuções públicas, preservavam eclesiásticos e mulheres, que os revolucionários
franceses não o fizeram, além de estes ainda escarafuncharem vergonhosamente as
sepulturas dos antigos monarcas, sem falar no auge a barbárie, acorrido na Segunda
Guerra, com os alemães nazistas, em pleno século XX, como se em termos morais a
humanidade estivesse evoluindo contrário.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a6/Sofiarepin.jpg/640px-Sofiarepin.jpg
Fonte Wikipedia
Após a tomada do poder, em 1689, Pedro, não esquecendo o
papel que sua meia-irmã Sofia Alexeievna, então regente da Rússia, desempenhara
na primeira rebelião dos streltsy, e em todo sofrimento que ela impingira aos
seus familiares, fê-la internar no mosteiro de Novodévichi, sem a necessidade
de tomar o véu, numa espécie de exílio interno. Porém, como a participação de Sofia,
consciente ou não, voltou a ser mencionada na revolta de 1698, daí por diante,
ela foi condenada ao mais absoluto isolamento, só podendo ser vista ou ver as
outras pessoas na Páscoa, dando mais ênfase à demonização histórica de sua
pessoa.
O embaixador da França disse sobre ela: “físico de uma envergadura monstruosa, com
uma cabeça grande como um alqueire, com pelos no rosto e úlceras nas pernas
[como é que ele viu?!]... o seu perfil é tão
largo, curto e grosseiro, tanto quanto o seu espírito é ágil e político, e, sem
jamais ter lido ou tomado lições sobre Maquiavel [talvez no sentido mais
pejorativo], ela conhece intuitivamente
todas as suas máximas”. Em especial aquela que diz que “os fins justificam
os meios”.
No quadro acima, pintado pelo genial Ilia Repin, o
retratista da alma russa, em 1879, ela aparece enorme, um tanto desfigurada
pelos olhos esbugalhados, sintoma da solidão, do sentimento de culpa e da perda
progressiva da razão. No fundo uma criança, uma aia para servi-la, e na janela
uma sombra fantasmagórica, que pelo seu contorno dá para perceber que é um
streltsy, seja chamando-a para uma nova conspiração seja para lembrá-la de sua
responsabilidade na morte tão cruel dos chefes da revolta de 1698. Aliás, Pedro
fez pendurar os cadáveres de vários streltsy bem em frente à janela de sua cela
no mosteiro.
Má sorte a de Sofia, afinal a sua revolta, em 1682, não
foi nem de longe tão sangrenta e cruel como as represálias de seu “moderno”
irmão, mas é ela que passará para a história com o estigma de “monstro”, a “tzarina
bogatyr” (rústicos cavaleiros da mitologia russa), etc. Será por conta do contexto em que ela apareceu na história ou
será apenas pelo fato de ela ser uma mulher?
MASSACRE
DE BOSTON (1770)
Prof
Eduardo Simões
O massacre de Boston
http://cx.aos.ask.com/question/aq/700px-394px/boston-massacre_5d2af3a321871528.jpg
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Boston era a principal cidade da colônia de Massachusettes e um centro de fortes
atritos com a Inglaterra, principalmente depois da forte recusa da Assembleia
local em obedecer aos Atos de Towsend, de 1768, além de enviar correspondência
à outras colônias, incitando-as a resistir aos ditos Atos, a partir da
premissa: “sem representação não pode haver tributos”, alertando para o fato de
os colonos não tinham representantes no Parlamento inglês. Preocupado com os
desdobramentos, o ministro inglês para as colônias, Lord Hillsborough, enviou
uma ordem ao comodoro Samuel Hood, para que deslocasse un navio de guerra, com
uma guarnição de apoio, para garantir a atuação da alfândega de Boston, que
estava sob pressão direta da população. O HMS Romney atracou em Boston, em 1 de
outubro de 1768, e nela desembarcou quatro regimentos de infantaria,
permanecendo, posteriormente, apenas dois: o 29º Regimento a Pé, de
Worcestershire (acima), e o 14º Regimento a Pé, de West Yorkshire.
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Começada a operação, imediatamente os ingleses prenderam um barco de John
Hancock, um importante comerciante local, suspeito de contrabando. A tensão
cresce na cidade. Em 22 de dezembro, uma multidão hostil se junta em frente à
casa do funcionario da alfândega, Ebenezer Richardson. Ele se apavora e atira
na multidão, matando um garoto de apenas 12 anos, Christopher Seider, que se
juntara, talvez inocentemente, aos revoltosos. Os bostonianos transformam o
funeral de Seider num acontecimento político: mais de 2.000 pessoas, de uma
população de 16 mil comparecem ao ato. O governo inglês, entretanto, aceita a
tese de legítima defesa e perdoa Ebenezer. Os sentimentos se aguçam.
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/2b/38/d8/2b38d80b603c96328378781e9fb45c3d.jpg
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Na noite de 5 de março de 1770, um joven aprendiz, Edward Garrick, vai até a
Duana de Boston, e reclama do tenente John Goldfinch o pagamento de uma peruca
comprada por este. O oficial ignora-o, dizendo que já havia pago a mercadoria.
O aprendiz, entretanto não aceita e começa a desancar o oficial, que nem se dá
ao trabalho de responder. Um soldado, entretanto, compra as dores do oficial,
discute com Garrick e dá-lhe uma coronhada na cabeça, fazendo-o chorar e gritar
de dor, com muito espalhafato. Outras pessoas, abaladas pela cena, se acercam e
começam a hostilizar os soldados, dirigindo-lhes insultos e bolas de neve.
Alguém toca um sino próximo, sinal convencional, nas cidades coloniais
americanas, para o ajuntamento da população por causa de alguma emergência.
Logo entre 300 e 400 pessoas raivosas estavam em fente à alfandega. Nesse
momento, o oficial de dia, Capitão Thomas Preston chega correndo, com mais uns
nove soldados, com baionetas caladas, e formam uma meia lua em frente à porta
da aduana. Acima um soldado do 29º que interviu no massacre de Boston. Eles não
usavam o grande quepe peludo, que aparece na gravura que abre esse verbete.
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Nisso um soldado dispara contra a multidão, e os outros seguem atrás. Há um
tiroteio findo o qual três manifestantes estavam mortos e oito feridos, dois
dos quais morreriam nos dias seguintes. Entre os mortos havia um de condição
singular: Crispus Attuck, um negro, que, segundo dizem, foi o primeiro a
morrer. A sedição ganhou as ruas, com ajuntamentos muito exaltados, levando o
governador de Massachusetts Thomas Hutchinson, em pessoa, a se dirigir à
multidão, prometendo um julgamento justo ao Capitão Preston e seus soldados –
além deles foram acusados alguns funcionários civis que, segundo uma
testemunha, abriram fogo, de dentro da alfândega, contra a multidão. O
sepultamento das vítimas juntou a maior multidão já vista em Boston até aquela
data. Veja-se, abaixo, o retrato presumido de Attuck.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c8/Crispus_Attucks.jpg/800px-Crispus_Attucks.jpg
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Em 27 de novembro de 1770, os soldados foram levados a julgamento, em Boston, com
um júri composto só por colonos americanos. Os soldados ingleses, estranhamente para os
nossos padrões, foram defendidos por dois dos melhores advogados americanos da
época, e patriotas (anti-ingleses) convictos: John Adam, que seria o futuro
segundo presidente dos Estados Unidos e Josiah Quincy II, que era simplesmente
o porta-voz do grupo “Filhos da Liberdade”, um dos mais ativos na propaganda oposicionista
colonial, e ambos conseguiram que o capitão Preston e a maioria dos soldados
fossem absorvidos, sendo que apenas dois foram condenados a sofrer uma marca no
polegar. A tese da defesa, vencedora, foi a de que os soldados haviam agido em
legítima defesa, provocados e agredidos que foram pela multidão, podendo,
eventualmente, terem se defendido com força desmedida.
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Graças à denuncia de um servo, quatro funcionários civis da alfandega foram
levado a júri, em 13 de dezembro, mas todos absolvidos por falta de prova.
Comprovada a má fé do servo, ele foi punido com algumas chicotadas e expulso da
Massachusetts.
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Tudo enfim não passara de uma vil provocação, que, deveria apenas causar um
grande tumulto, dando força à principal tese dos patriotas de que a presença
das tropas inglesas apenas complicava as coisas, mas que acabou saindo de
controle, ocasionando um massacre que ninguém esperava nem queria, tanto que,
apesar da gravidade do acontecimento, rapidamente o assunto foi esvaziado, e o
Massacre de Boston. Embora tenha servido muito à propaganda revolucionária da
época, por todas as suas ciscuinstâncias agravantes, para o lado dos americanos,
sequer sobreviveu como uma data nacional – a comemoração dessa data ocorreu
apenas entre 1771 e 1783, engolida pelo 4 de julho, bem mais consequente.
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O objetivo principal dos patriotas americanos, entretanto, foi atingido, e os
ingleses retiraram as tropas que ainda permaneciam em Boston, até a sua volta,
em 1776, em plena efervescência revolucionária.
Massacre e Racismo?
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È sabido, pelas crônicas do evento, que o primeiro homem a tombar morto pelos
tiros dos soldados ingleses foi o negro Crispus Attuck, de origem desconhecida
– não se sabe se era escravo fugido, um liberto, um marinheiro de um dos navios
que estavam atracados na cidade – cujos restos mortais se encontram , junto com
os de outras vítimas dos massacre: Samuel Gray, James Caldwell, Samuel Maverick
e Patrick Carr, no Cemitério de Granary Burying Ground, em meio aos despojos de
personagens lendários da história americana como Samuel Adams, John Hancock, e
outros. Entretanto o papel ou a etnia de Attuck nem sempre ficou clara nas
representações posteriores do evento.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Boston_Massacre_high-res.jpg
By Engrav'd Printed & Sold by
Paul Revere Boston. The print was copied by Revere from a design by Henry
Pelham for an engraving eventually published under the title "The Fruits
of Arbitrary Power, or the Bloody Massacre,". Revere's print appeared on
or about March 28, 1770. - http://hdl.loc.gov/loc.pnp/ppmsc.00174, Public
Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4415919
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Essa é uma das gravuras mais antigas do Massacre de Boston preservada. Ela é de
autoria dos bostoninano Paul Revere, de 28 de março de1770, que a copiou de um
original. Colorizada, ela oculta, se propositalmente não sei, o fato de uma das
vítimas, a primeira delas, ter sido um homem negro – os feridos e mortos
parecem brancos. Isso por muito tempo mexeu com os nervos da comunidade
afroamericana. Além disso, no seu arrazoado no tribunal Adams desqualificou os agressores
de seus clientes, caracterizando-os como uma “multidão de vagabundos,
descarados, negros, mulatos, irlandeses brutos, estrangeiros errantes”
(Wikipedia em espanhol – Crispus Attuck).
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/Boston_massacre2.gif
Di James Wells Champney, (1843-1903)
-
https://www.art.com/products/p22112560293-sa-i7626488/james-wells-champney-death-of-crispus-attucks-at-the-boston-massacre-5th-march-1770-1856.htm,
Pubblico dominio, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=660208
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Às vésperas da Guerra Civil, o movimento abolicionista americano estava muito ativo,
e por meio de John Bufford De 1856 recriou a gravura de Revere, destacando a
persença de Crispus Attuck. Fez-se justiça, em um episódio muito constrangedor
para os dois lados.
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