Índice Cronológico
Proclamação da República - Massacres no Paraná -
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA (1889)
Proclamação da República - Massacres no Paraná -
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA (1889)
Prof Eduardo Simões
https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2012/11/wasth1.jpg
Fonte https://historiadoesporte.wordpress.com
Apesar de ter se saído com brilho, pelo que se sabe, da Guerra do Paraguai (1864-1870), o Exército, continuava, a ser tratado com desprezo pelos políticos, que intervinham escancaradamente na sua escala de promoções, quando não o transformavam em reformatório social e político, sendo obrigado a aceitar o engajamento de bandidos ou de desafetos e oposicionistas do mandachuva local. Estes eram destacados para as unidades mais remotas onde não causariam mais ‘problemas’ à política local.
A partir de então, qualquer intervenção política mais séria no meio militar, por mais legal ou justa que fosse, era logo recebida com fortes manifestações e melindres, como aconteceu na Questão Militar (1884-1887), de onde a necessidade de limpar a ‘honra’ do Exército, sentida por muitos oficiais, frente às agressões morais do Império.
http://revistaescola.abril.com.br/img/historia/225-republ1.jpg
http://revistaescola.abril.com.br/
O herói providencial, o homem a cavalo, o salvador da pátria, que vislumbra o futuro e assume riscos, assim é apresentada, pela iconografia oficial, o Marechal Deodoro da Fonseca, entrando no campo da Aclamação (atual Praça da República), onde ficava o Quartel-General do Exército – para onde fora o Visconde do Ouro Preto, e todo o seu ministério, alarmados com a movimentação das tropas na madrugada, para organizar a resistência contra qualquer motim – para proclamar em alta voz, ao entrar no pátio interno do prédio, a República do Brasil, no dia 15 de novembro de 1889.
Talvez não tenha sido bem assim. Dizem as testemunhas da época, como o jornalista e escritor republicano Quintino Bocaiúva, o Marechal Rondon, etc., que, Deodoro, um grande amigo do monarca, ainda não estava convencido da república, e agiu movido pelo desejo de lavar a hora do exército, apenas contra o Visconde do Ouro Preto, que ordenara a punição de alguns oficiais, por manifestações políticas, e ao entrar no pátio interno do QG, Deodoro teria gritado “viva o imperador”.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/39/Benjamin_Constant_Botelho_de_Magalh%C3%A3es.jpg
Fonte Wikipedia
Mas não só de confusas noções de honra e lealdade ambígua vivia o republicanismo no Exército. Na Escola Militar da Praia Vermelha os jovens cadetes eram empolgados pela pregação positivista e republicana do Tenente-Coronel Benjamin Constant, que defendia um projeto de república centralizada, com um Executivo forte, além de ter elaborado o conceito do “soldado-cidadão”, que acabaria por justificar futuros golpes das Forças Armadas contra a ordem democrática. Constant foi um dos que mais incentivou Deodoro a tomar a frente do processo – mais tarde os dois se desaviriam, quase partindo para um duelo, se não fosse a turma do “deixa disso”. Desiludido, afastou-se da política e morreu pouco depois, em 1891.
Antes de Deodoro entrar no prédio do QG houve um incidente grave, José da Costa Azevedo, Barão do Ladário, também militar e Ministro da Marinha, tentou atirar em Deodoro, sendo ferido pela reação de dois oficiais – mais tarde Ladário se esquecerá de tudo e se elegerá deputado e senador da República. Ao entrar, Deodoro mandou deter ao Visconde do Rio Branco e ao Ministro da Justiça, e a Ouro Preto, além de queixas, fez uma longa descrição de suas desventuras militares na Guerra do Paraguai, a que o outro respondeu, altivo: “A vida política, senhor General, também tem seus dissabores. E a prova disso tenho-a agora, em que sou obrigado a ouvi-lo” (citado em um número especial da revista VEJA, de setembro de 1989, edição online, http://veja.abril.com.br/historia/republica/trama-vitoria-era-republicana.shtml). Sua demissão era inevitável, mas Deodoro saiu dali e foi para casa sem assumir a República, apesar da gritaria dos cadetes republicanos de Constant.
http://img16.imageshack.us/img16/9881/ruabuenosairesinciodosc.jpg
Fonte http://www.skyscrapercity.com/
O Tenente-Coronel Benjamin Constant, percebendo a esquisitice da situação, alertou ao jornalista republicano Arubal Falcão para que começasse a agitar o povo. Ele, Pardal Mallet, Silva Jardim e José do Patrocínio, que se fez republicano naquele dia, ajuntaram umas 100 pessoas, e foram até a Câmara Municipal, que também ficava no campo da Aclamação, onde leram um documento feito às pressas por Falcão, que proclamava a derrubada do Império e a Proclamação da República, pelo “povo reunido em massa”, indo em seguida à casa de Deodoro, notificar-lhe da decisão, ao fim da tarde. Deodoro, enganado, começou a concordar com a República, só fechando de vez com a causa quando soube que Pedro II nomearia o político gaúcho Silveira Martins como substituto de Ouro Preto – Martins era desafeto pessoal de Deodoro, com quem este disputara, e perdera, o amor de uma bela gaúcha. Era ofensa demais! (revista VEJA, idem). Noite do dia 15 de novembro.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk_5FIimub9dSoXMnnHZhPQC4Ovqso4_ahpQgorHQXYg1IxcRnzicRvlsGhyphenhyphenXpdmuxMv8s32jZjLzuyko24eAliCAwDEk5fRohtU0blrRMYn0Hgl0T_Mjhe9tW5Z0XBILJBbQB5DZXgIsR/s320/MOJOR+SOLON.jpg
fonte http://cerimonialmsr.blogspot.com.br/
O destino de D Pedro foi decidido rapidamente, mas não sem a confusão que marcou esses eventos. O ideal seria que Deodoro notificasse a D Pedro a necessidade urgente, para evitar uma reação monarquista, de ele sair do Brasil, mas aquele recusou-se: “Ele chora, eu choro, e está tudo perdido” (VEJA, idem) Note-se a convicção ‘republicana’ do velho Marechal! No final coube a um simples Major (!) entregar ao Imperador a curta nota de banimento ao Imperador. Esse Major, Sólon Ribeiro, atrapalha-se na hora de se dirigir ao Imperador, começa, gaguejando, a chamá-lo de “Vossa Excelência”, mas acaba por usar o “Vossa Majestade”, e no final ainda pede autorização ao Imperador para se retirar, como se este estivesse no comando.
Ocorre então a saída forçada da Família Real, na madrugada do dia 17, embarcada às pressas no vapor Alagoas, para a Europa, não sem antes se oferecer uma polpuda quantia ao Imperador, que a recusa, pois o fundamental é entregar à nação um fato consumado, afinal se as pessoas tiverem tempo para pensar, pode ser que não haja República ou a resistência se faça mais rija! Um país que, por temer o povo que desconhece, é obrigado a construir seus grandes momentos na escuridão.
Pedro II revive, 58 anos depois, a traumática noite da Abdicação de Pedro I, em 7 de abril de 1831, quando perdeu quase toda a sua família em circunstâncias semelhantes.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b7/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_by_Benedito_Calixto_1893.jpg/1024px-Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_by_Benedito_Calixto_1893.jpg
Fonte Wikipedia
Uma mera quartelada! Os canhões anunciam a República! Isso está bem claro nesse quadro do pintor paulista Benedito Calixto, mas nós sabemos que foi menos ainda que isso – no centro do quadro, ao lado de Deodoro, está o funcionário público Antônio Rodrigues de Campos Sobrinho, o único civil a participar do golpe – a República começou, na verdade com uma intensa campanha de boatos, feita por oficiais do Exército nas ruas e nas casernas anunciando prisões arbitrárias de altas patentes que nunca ocorreram; sequer se cogitava. Seiscentos militares, comandados por um monarquista convicto, deram início aos acontecimentos que ganharam dinâmica própria nas mãos de uma dúzia, quando muito, de agitadores, enquanto o povo, pensando que aquela movimentação nas ruas era uma parada militar, seguia as tropas, marchando também e aplaudindo, Deus sabe lá porquê!
Dizem que, contaminados pelo clima de “festa” diante do QG do Exército, vários passantes, doidos por levar vantagem também, pediram a Lopes Trovão, um republicano conhecido, que lhes pagasse uma rodada de bebidas num bar próximo. Trovão concordou, mas na hora de pagar a conta de 400$000 (quatrocentos mil-réis), ele só tinha 100$000. O dono do boteco ficou com o prejuízo. É sempre assim na nossa República: as elites e seus protegidos fazem a ‘festa’ e quem paga a conta é o povo,
Quem melhor definiu a participação do povo nesse evento foi o republicano Quintino Bocaiúva, quando disse: “o povo assistiu a tudo bestificado!” Esse artigo, escrito no dia 15 de novembro, só pode ser publicado no dia 18. Vai que...
(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
MASSACRES NO PARANÁ (1894)
Prof Eduardo Simões
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/10/Ildefonso_Pereira_Correia.png/200px-Ildefonso_Pereira_Correia.png
Fonte Wikipedia
Entre os dias 17 e 18 de Janeiro de 1893, em meio à maior
desorganização e à deserção geral dos soldados legalistas destacados para
defender a capital do Paraná do avanço dos rebeldes federalistas ou maragatos,
o comandante de armas, o General Antônio Maria Pêgo Junior e o Governador
Vicente Machado da Silva Lima, fugiram apressadamente da cidade e de suas
funções, deixando o povo de Curitiba entregue à sua própria sorte – leia-se a a
esse respeito, http://retalhosdahistoria.spaceblog.com.br/1691039/REVOLUCAO-FEDERALISTA-NO-PARANA-REYNALDO-RIBAS-SILVEIRA-DEPOIMENTO-I.
O General foi direto para São Paulo e o governador, após instalar a sede de
governo em Castro, fugiu para lá também.
Enquanto o Governador e o General se punham a salvo, um
grupo de empresários locais, tendo à frente o senhor Ildefonso Pereira Correia,
o Barão do Cerro Azul, um riquíssimo empresário ligado à exportação de erva
mate, fundador da Associação Comercial do Paraná, temendo que a cidade fosse
vítima de saque generalizado, resolveu assumir à frente do governo e negociar
com os federalistas, que entraram na cidade em 20 de fevereiro de 1893, e
impuseram uma condição: esse grupo de empresários deveria levantar uma enorme
quantia para ajudar no esforço de guerra federalista, e assim a população seria
deixada em paz. Sem alternativa, abandonado pelas autoridades, o grupo começou
a trabalhar para evitar o pior.
http://src.odiario.com/imagem/dc/media/webmedia/files/Vicente_Machado.jpg
Fonte http://www.diariodoscampos.com.br/
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAG5vPM5udr8PMYaWk68FXbMbZimQljbyf6rhc4Qczm-29UR6axHr9R81wa4AE48pmc4mlP-fhcPS1yGU4e3I4S507B-LFkNZU_hrgcq0zWYFqO-4jdN59qAYmI1vrgL1FkgkFhXZSfYA/s1600/FRANCISCO+RAIMUNDO+EWERTON+QUADROS.jpg
Fonte www.espiritaamigo.com.br
Fonte www.espiritaamigo.com.br
Afastado o perigo federalista, graças a chegada de tropas
de São Paulo, aqueles mesmos que haviam abandonado o povo voltaram ao poder
bradando ameaças e acerto de contas, entre eles o governador fugitivo Vicente
Machado da Silva Lima (no topo) e o General Francisco Raimundo Ewerton Quadros (acima), que entram na cidade, já abandonada pelos rebeldes, em 13 de outubro,
quando então é decretado o estado de sítio, e tem início uma feroz perseguição contra
todos os simpatizantes dos maragatos e os colaboracionistas que os haviam
ajudado durante a ocupação.
Em pouco tempo as prisões ficaram lotadas e o teatro São
Teodoro teve que ser também usado como prisão. No dia 9 de novembro, o Barão do
Cerro Azul foi preso, junto com outros cinco companheiros da época de ocupação:
Prisciliano Correia, José Lourenço Schleder, José Joaquim Ferreira de Moura,
Rodrigo de Matos Guerra, Balbino de Mendonça.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcRwFZ7lq5PFnLzZfQTCck7GoUgBTbra1KXUulU2YvevOFCGWxk2YSimrsrSjBBU45Yc3F2_VygYLVsyREp4waxCHaq6kQ1b28w_0w2X50d7uwuQYLldpiSWFwlVroWTL82GJyt9KwtwM/s1600/img209.jpg
http://paulodafigaro.blogspot.com.br/
Não se sabe exatamente com ordem de quem – algo parecido
com o extermínio dos judeus na Segunda Guerra onde não existe uma só fonte que
claramente assuma a ordem do genocídio, os carrascos nazistas sempre diziam: “recebi
ordem superior”, sem identificar o superior ou mostrar a ordem – mas os
soldados legalistas simplesmente começaram a exterminar os presos políticos, a
revelia de qualquer julgamento.
Os prisioneiros eram levados de madrugada ao cemitério,
onde encontravam suas sepulturas já abertas, e ao pé delas eram imediatamente
fuzilados e encoberto com areia, ocultando-se os sinais do crime. Várias
pessoas morreram assim, mas a gravura de Ângelo Agostini, mostrada acima, cita
dois nomes conhecidos na época: Souza Marques e Francisco Braga.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW5IFNSSwaOiPE3yZ5ZRsBZhJlNVky5V6hzxSGCk7okbin5iYoEMfTklGYtYHhbQSXiIoWKD0J01eYihDESTCxoAzJQJsPEWGKezILBSRO7-Fy2xzhyphenhyphenVRg_buCzg2jL5lrC4Hw_qLNB0k/s1600/img206.jpg
fonte http://paulodafigaro.blogspot.com.br
O grupo do Barão teve um destino mais trágico ainda. À
noite do dia 20 de maio de 1894 caía uma chuva fina e insistente. Lá por volta
das 22:00 horas, ele e seus amigos foram avisados que deveriam se arrumar às
pressas para serem levados até o porto de Paranaguá, e de lá para o Rio de
Janeiro, onde seriam julgados. Um pouco antes das 23:00 horas o trem partiu, com
os prisioneiros, mas pouco depois da meia noite a composição parou, bem
defronte a um despenhadeiro, no quilômetro 65, quando os presos ficam sabendo
que seu destino estava selado.
A ilustração de Ângelo Agostini mostra toda a pungência
daquele momento repleto de infâmia, mentira e covardia: no centro, o Barão, de
joelhos enquanto ora por seus filhos (sua esposa estava grávida, e a criança
será natimorta), é fuzilado por três soldados. Matos Guedes tenta pular no
precipício, arriscando-se, mas é atingido por uma descarga, agarra-se a uma
planta e é atingido de novo, e morre, no lado esquerdo da gravura. Tomado de
terror, Balbino de Mendonça agarra-se ao corrimão do trem; o seu pulso é
quebrado à coronhadas e fuzilado em seguida, assim como os outros. Os corpos
são então jogados no despenhadeiro, na esperança de que despareceriam para
sempre, comidos pelos bichos. Começaria então o jogo do empurra-empurra: “mas
eles saíram”, “mas não chegaram”... E como sem corpo não há crime, eles seriam
dados como “desaparecidos”. Quem sabe fugidos com as respectivas amantes.
Os assassinos, porém,
cometem um erro, o trem parara
cedo demais, antes do precipício mais profundo, e não deu para ver que, ali, havia uma saliência de pouca profundidade, e foi justamente nela que
ficaram os corpos. No dia seguinte, quando o primeiro trem de passageiros
passou, as pessoas tiveram um susto...
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuhtkIqgvKrnF2cxnJvynnX6ahiu7jTFcWF-VFpFwlgwI1vugslW2q4zGb-ctUzWnn6gG_4Z0uz_Ykw23rrYT2ohkx8heoxi3PSh6urGc_9EnZUrEpxdECXZ6x4ZFzJ46weBljnFpS7w/s1600/barao.jpg
http://qhistoriaessa.blogspot.com.br/
Quem foi o responsável por essas mortes, quem deu a ordem
para que elas acontecessem assim tão brutais e injustificadas? Ninguém sabe.
Ninguém foi responsabilizado. Nenhuma investigação foi feita. Simplesmente
aconteceu! A cruz, colocada no degrau na ribanceira do quilômetro 65, da
ferrovia Curitiba-Paranauá, local onde o corpo do Barão foi achado, nos indaga:
até quando?
O principal e maior responsável é, sem dúvida, o general Francisco
Ewerton Quadros, o comandante militar em exercício, e que responde por tudo que
a sua tropa faz de errado no teatro de operações sob o seu comando. Mas ele, oficialmente,
não responde por isso, não diz nada. Torna-se presidente do Clube Militar e é
reformado como Marechal. Alguns tentam defendê-lo colocando a culpa sob os
ajudantes diretos do general, dois alferes desconhecidos, mas esses alferes,
que se saiba, jamais sofreram qualquer constrangimento, conselho de guerra ou
corte marcial por essa sua conduta tão abominável. Que razões esses pobres
diabos teriam para ordenar essa chacina? Quem os guiava? Que general é esse que
deixa simples alferes tomarem decisões tão graves “sob o seu nariz”? E os
fuzilamentos ao pé da cova no cemitério e Curitiba?
Outro suspeito é o governador do Paraná, Vicente Carvalho,
que teria diferenças políticas com o Barão, o único homem no Paraná com popularidade
e recursos suficientes para vencê-lo em uma eleição, mas para chegar no alferes
e nos soldados ele teria que passar necessariamente pelo general. O Governador,
entretanto, sempre negou sua participação, mas acusou ao presidente da República
como mandante da chacina. Mais tarde Vicente Machado se tornará presidente do
Paraná e Senador por esse estado, coberto de respeitabilidade. À primeira vista foi quem mas ganhou com o desaparecimento do Barão.
A ordem para o crime poderia ter vindo diretamente, por
vias extralegais, sigilosas, do próprio Presidente da República, Floriano Peixoto,
o que colocaria esse massacre no mesmo viés dos ocorridos em Desterro, capital
de Santa Catarina, sob o comando do extravagante e compulsivo coronel Moreira César,
mas Floriano não chegaria aos alferes e soldados sem passar pelo General. Fala-se
que um irmão do Barão, que ocupava um alto cargo federal no Rio, e que interpelou
o Presidente, recebeu deste a palavra de que nada tivera com a chacina, chegando
até a mostrar-lhe a cópia de um telegrama, onde nomeava o Barão do Cerro Azul
governador do Paraná!!! Esse telegrama desapareceu e ninguém nunca acusou o seu
recebimento. Floriano nega o seu envolvimento no crime, e o condena
publicamente, mas nada fará para esclarecer o que aconteceu, e sairá do governo
querido e gabado por todos como o “Marechal de Ferro”.
O General Antônio Maria Pêgo Junior, que, segundo Reynaldo
Ribas Silveira, fugira de Curitiba disfarçado e caipira, é submetido a um conselho
de guerra, mas no final será inocentado e reabilitado, recebendo as promoções
devidas, reformando-se como Marechal.
O único que condenado nesse episódio foi o próprio Barão
do Cerro Azul, que pelos próximos anos será tratado publicamente como traidor.
Sua bela casa será roubada de sua família e transformada em quartel do exército,
e as circunstâncias de sua morte se tornarão tabu, assunto rigorosamente
proibido pelos 40 anos seguintes, à esperança que fosse completamente
esquecida.
Mas como não há mal que sempre dure, impressionados com o
sucesso, para os padrões brasileiros, de um filme lançado em 2003, sob esse
assunto, “O preço da paz” – quem é que conhece a história de nosso país? –
nossos políticos acharam por bem votar uma lei que ordena a inscrição do nome
de Ildefonso Pereira Correia, Barão de Cerro Azul, no Livro dos Heróis da
Pátria. Lei sancionada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 15 de dezembro
de 2008.
Como é da nossa tradição, a justiça, nesse caso, também
tardou. Antes tarde do que nunca, do que sempre tarde, e às vezes nunca!
Nenhum comentário:
Postar um comentário