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Bloqueio de Berlim - Doutrina Truman


BLOQUEIO DE BERLIM (1948-1949)

Prof Eduardo Simões


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fonte Wikipedia

Após o fim da Segunda Guerra houve muitas mudanças de fronteira na Europa Central, onde a principal prejudicada foi a Alemanha, é claro! De cor creme, à direita do mapa, vemos a Prússia, berço do moderno estado alemão, dividido entre russos (bandeira toda vermelha) e poloneses (bandeira vermelha e branca). Os poloneses ficaram também com um grande território do leste da Alemanha, também creme. A Alemanha foi dividida em quatro zonas: uma soviética, de cor salmão; uma inglesa, de cor verde; uma francesa, de cor azul, de uma americana, de cor laranja. O pequeno território creme, com uma bandeira estranha, junto à fronteira da França, é o protetorado do Sarre (em alemão Saarland), uma antiga região disputada por franceses e alemães, que os franceses pretenderam, em 1947, transformar em um estado independente, para melhor garantir suas fronteiras, contra um futuro ataque alemão; a população do Sarre, entretanto, rejeitou a separação da Alemanha e voltou a fazer parte desse país, em 1957. Nesse mapa há um ponto colorido dentro da área soviética, a 160 km da fronteira, é a cidade de Berlim, antiga capital da Alemanha.

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Fonte Wikipedia

No mapa vemos a cidade de Berlim, que, por sua vez, foi dividida em quatro setores: francês, inglês, americano e soviético, conforme o que fora estabelecido pelos aliados nos acordos de Yalta e Potsdam.
A principal razão que unira sistemas político-econômico-sociais tão diferentes acabara, o nazismo fora derrotado, e antigas hostilidades, nascidas no tempo da Revolução Russa (1917), voltaram a aflorar pelas seguintes razões: 1º) o líder soviético, Stalin, não se conforma com a presença de tropas ocidentais tão dentro da área soviética; 2º) nas eleições de 1946 os habitantes de Berlim votaram maciçamente contra os candidatos do partido comunista local; 3º) o lado mais desenvolvido da Alemanha era o ocidental, que pouco sofrera com a guerra, enquanto o lado oriental, mais pobre, sofrera uma destruição enorme; 4º) os russos oprimiam os alemães do seu lado, para que pagassem a destruição causada por eles nos países do leste, enquanto os aliados ocidentais investiam na sua zona de influência, fazendo-a prosperar; 5º) um grande número de alemães, mão-de-obra muito qualificada, começou a se mudar para o lado ocidental.

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Fonte Wikipedia 

O lado ocidental de Berlim abrigava uns dois milhões de habitantes que dependiam exclusivamente do envio de mantimentos de fora para sobreviver – esses mantimentos chegavam dos países aliados e da Alemanha Ocidental por meio principalmente de trens, e secundariamente por via aérea. Em 24 de junho de 1948, os soviéticos fecharam as fronteiras terrestres da Alemanha Comunista, inviabilizando os comboios de trens. 
Afastada a possiblidade de abrir caminho na marra até Berlim os aliados organizaram aquilo que se chamou “ponte aérea”, em inglês “Berlin Airlift”, com aviões das forças aéreas americana, inglesa, australiana, neozelandesa e canadense, além de pilotos franceses.
O objetivo era transportar 4 mil toneladas de alimentos, carvão (para aquecimento), equipamentos diversos de sobrevivência, etc., por dia! Para isso os aviões pousariam nos aeroportos de Tempelhofe, Gatow, Havel e Tegel, além do rio Havel e do lago Grande Wannsee, para grandes hidroaviões, em Berlim. Três corredores apereos estavam disponíveis: dois para ir, e um para voltar, de Berlim.

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Particularmente angustiante foi a chegada do inverno de 1948-49, quando as condições climáticas pioram significativamente impossibilitando voos de aeronaves, mas, para a sorte dos habitantes de Berlim e dos líderes ocidentais, o inverno desse ano foi relativamente brando, para os padrões alemães, e os voos continuaram quase sem interrupção considerável. Na foto vemos um avião de transporte de tropas americano Douglas C-54 Skymaster, sendo abastecido para levar mantimentos no inverno, em 1948, enquanto outros aguardam.

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A movimentação nos aeroportos de abastecimento e de aterrisagem era imensa, e todos os passos precisavam ser rigorosamente planejados e executados, para evitar acidentes, principalmente aqueles que poderiam ser interpretados como uma reação violenta do lado oposto. Ao todo foram realizados cerca de 200 mil voos, atingindo-se a meta das 4 mil toneladas diárias. Houveram alguns acidentes, matando 65 pilotos e moradores de Berlim.


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Essa foto é clássica, e um símbolo do Bloqueio. Moradores de Berlim, encima de um monte de escombros da última guerra, veem mais um C-54 aterrissando em Berlim.
Os russos acreditavam fervorosamente nas fantasias pessimistas de Marx e Engels em relação ao futuro do capitalismo, mas as evidências da prosperidade e pujança econômica do capitalismo estavam se tornando muito evidentes, e moradores dos dois lados de Berlim, o capitalista e o comunista, começaram a se bandear em massa para o lado dos ocidentais. Quando estes começaram a lançar balas, doces e brinquedos aos milhares, em pequenos paraquedas, para as crianças, que os alemães chamavam de “bombardeio de passas”, Stalin percebeu que estava na hora de parar de encher a bola do inimigo, e suspendeu unilateralmente o bloqueio, no dia 12 de maio de 1949.

(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)



DOUTRINA TRUMAN (1948)

Prof Eduardo Simões

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         A Doutrina Truman nasce do contexto de enfrentamento entre as duas maiores potências do mundo, surgidas após a Segunda Guerra, pela hegemonia mundial, no que mais tarde será conhecido como Guerra Fria, da qual a Doutrina Truman será ao mesmo tempo origem e justificativa, pelo menos do lado Ocidental.
         Tudo começou quando, em fevereiro de 1947, a Inglaterra, cujas tropas estavam envolvidas numa sangrenta guerra civil anti-comunista na Grécia – na foto vemos paraquedistas ingleses se posicionando para combater guerrilheiros comunistas, em Atenas, em dezembro de 1944 – avisou aos Estados Unidos que não aguentava mais sustentar o esforço de guerra anti-comunista na Grécia, além de escorar a Truquia, que se sentia ameaçada pela pressão ostensiva de forças soviéticas, na chamada Crise dos Estreitos Turcos, agravada em agosto de 1946. Além da ajuda militar, os governos pró-ocidentais de Grécia e Turquia pediam farta ajuda em dinheiro, e a Inglaterra não tinha mais recursos para isso.

http://www.authentichistory.com/1946-1960/1-cworigins/19470312_Truman_Address_To_Congress_On_Greece_and_Turkey.jpg
http://www.authentichistory.com/

         Em 12 de março de 1947, o presidente americano Harry Truman, aconselhado pelos membros mais belicosos do seu governo, os chamados «falcões», pelo grande capital e por nacionalistas fervorosos, resolveu não perder a oportunidade que se abria, de os Estados Unidos substituirem a Inglaterra no comando do capitalismo mundial, por meio de um discurso, lido no Congresso, que, ao mesmo tempo em que pedia ajuda militar e financeira para a Grécia e a Turquia, num montante de uns 400 milhões de dólares, dava as bases ideológicas para os americanos combaterem a expansão do comunismo soviético - na foto acima, Truman é o que discursa diante de quatro 'pequenos' microfones.
         O discurso de Truman começa explicando as circunstâncias que justificam o pedido de ajuda financeira a esses países, a sua pobreza atual – no caso da Grécia, quando os alemães se retiraram destruíram tudo o que podiam – para em seguida justificar a necessidade política e moral de os Estados Unidos capitanearem um movimento mundial de combate ao comunismo. Eis alguns trechos :
         «Os povos de diversos países do mundo têm caído, contra a sua vontade, nas mãos de regimes totalitários», referindo-se aos países da Europa Oriental, em especial Polônia, Romênia e Bulgária, e ao fato de que o comunismo, na visão dele, só ocnsegue se estabelecer pela força.
         «No presente momento da história mundial, as  nações devem escolher entre [duas] alternativas de vida possíveis... Uma baseada na vontade da maioria, e que se distingue por instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantia das liberdades individuais, liberdade de expressão e religião, e ausência de repressão política... O segundo modo de vida é baseado na vontade de uma minoria, imposta sobre uma maioria, sob o efeito do terror e da opressão, onde há uma imprensa controlada, eleições viciadas e supressão das liberdades individuais». Olhando sob esse prisma, do ponto de vista estritamente político e ocidental, quase todos os países árabes, em especial a Arábia Saudita, e as ditaduras latino-americanas, apoiadas posteriormente pelos americanos, se enquadram perfeitamente naquilo que Truman ataca no « comunismo ».
         « Eu acredito que deve ser política externa dos Estados Unidos apoiar os povos livres, que estão ressistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ». Partindo da premissa que o movimento comunista é sempre fruto de uma minoria armada e violenta, mesmo quando os fatos mostravam o contrário, Truman justifica os golpes de estado dado por grupelhos de militares, em vários países do Terceiro Mundo, patrocinados pelos Estados Unidos, nos anos seguintes. Afinal, se alguém alegasse que esse militares eram minoria os americanos poderiam responder que era a minoria deles contra a minoria dos comunistas, até a máscara cair completamente na Guerra do Vietnã.
         « Basta somente dar uma olhada no mapa, para perceber que a sobrevivência da integridade da nação grega é da mais grave importância em um contexto mais amplo. Se a Grécia vier a cair nas mãos de uma minoria armada, o efeito sobre seus vizinho, a Turquia, deverá ser imediato e severo. Confusão e desordem podem se espalhar por todo o Oreinte Médio ». Essa é a base da chamada Teoria do Dominó: é preciso impedir que um país caia nas mãos do comunismo, pois caindo um, este arrasta outros consigo. Isso, no caso do Brasil, deixava os americanos em cólicas e dispostos, inclusive, à ação armada, aqui, como quase aconteceu em 1964. Em 1967 os americanos deram total apoio ao bando armado que deu um golpe de estado na Grécia e instituiu a « Ditadura dos Coronéis », de direita.
            « As sementes dos regimes totalitários são nutridas pela miséria e a penúria. Elas se epsalham e crescem no solo mal da pobreza e dos conflitos. Elas atingem o seu máximo desenvolvimento quando a esperança de um povo por uma vida melhor acaba », ou seja, a miséria deixa de ser vista como um sintoma de inferioridade racial ou de preguiça, como no liberalismo clássico, mas como pré-condição para o comunismo. É preciso combatê-la, assim como aos conflitos, nem que isso redunde na rápida e total destruição dos que discordam. É a paz dos cemitérios !
O texto completo do discurso, em inglês, pode ser encontrado em   
http://avalon.law.yale.edu/20th_century/trudoc.asp    

http://www.history.army.mil/images/artphoto/pripos/amsoldier/3/1950.jpg
http://www.history.army.mil/


         Mais um exemplo da Doutrina Truman em ação: soldados americanos durante a Guerra da Coreia, 1950-1953.

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