SCHUMPETER
E O MARXISMO: VISÃO GERAL (extratos do livro Capitalismo, socialismo e democracia)
Prof
Eduardo Simões
http://smic-econ.weebly.com/uploads/8/6/3/8/8638770/873717_orig.jpg
__
Na abertura da I Parte de seu livro, Schumpeter faz menção ao uso dos ensinamentos
de Marx, que ele aparentemente respeita como analista econômico, no sentido em este
que busca dar sentido lógico e empírico àquilo que afirma, na formação do comunismo
soviético:
“É profundamente característico do processo
de sua canonização [reparem neste termo] que, entre o verdadeiro significado da
mensagem de Marx e a prática e ideologia bolchevistas, haja pelo menos tão
grande distância quanto havia entre a religião dos humildes galileus e a
prática e ideologia dos príncipes da igreja e dos senhores da guerra na Idade
Média”
__
No capítulo 1, curiosamente titulado de “Marx o profeta”, ele já começa
arrematando:
“Em certo e importante sentido, o marxismo é
uma religião. Em primeiro lugar, proporciona, ao crente, um sistema de fins
últimos que envolvem o significado da vida e constituem critério absolutos para
o julgamento de acontecimentos e ações. Em segundo lugar, apresenta um guia
para tais fins, que implica em um plano para salvação, e a indicação dos males de
que a humanidade, ou parte dela, será salva”
__
E seria justamente, esse caráter religioso, que explicaria o sucesso ou a
sobrevivência do marxismo, mesmo depois de tantos insucessos acumulados, até os
dias de hoje.
“A qualidade religiosa do marxismo também
explica a atitude característica dos marxistas ortodoxos para com seus
adversários. Para eles, como para todos os crentes de uma fé, o adversário não
está somente em erro, mas também em pecado. A dissenção é condenada, não só intelectualmente,
mas também moralmente... pois a mensagem já foi revelada” [É interessante
notar nos inúmeros vídeos disponíveis na internet, mostrando debates de
esquerdistas, em especial os petistas, como outros de convicção oposta, que
eles quase não se referem a fatos, mas ficam divagando, reproduzindo palavras
de ordens ou velhos refrões (um representante da OAB chega a citar como
critério, num debate, a autoridade de o Capital,
como se nada tivesse mudado nos últimos 150 anos! Essa postura também não
explicaria a terrível virulência com que eles se digladiam entre si?].
__
Explicando o sucesso inicial do credo marxista, com base na enormes mudanças
provocadas pela surgimento da sociedade industrial na metade do século XIX,
Schumpeter afirma:
“Então, para milhões de corações humanos, a
mensagem marxista do paraíso terrestre do socialismo equivaleu a novo raio de
luz e a novo significado na vida. Pode-se, se quiser, dizer que a religião
marxista e a falsificação ou a caricatura da fé... Deve-se seu bom êxito, por
um lado, de haver formulado, com inexcedível vigor o sentimento de ser oprimido
e maltratado, que é a atitude autoterapêutica da maioria frustrada, e, de
outro, por haver proclamado que a libertação socialista desses males era uma
certeza baseada em prova racional... Analisar o processo social somente
interessaria a algumas centenas de especialistas. Mas pregar [meu destaque] sob
o manto da análise, e analisar tendo em vista as verdadeiras necessidades, foi
o que conquistou adeptos apaixonados, e ao marxista a suprema vantagem: que
aquilo que crê não pode ser derrotado, e venderá fatalmente” [ou seja, o grande
mérito de Marx não é a descrição objetiva, científica, da economia e das
relações sociais de sua época, mas antes na capacidade de empatia emocional que
seus escritos provocam nas mentes mais sensíveis e/ou pouco críticas, embora,
como uma concessão à época, ele não cesse de ressaltar o testemunho da ciência
em seu favor, como Jesus aludia ao testemunho do “Pai”, para si].
__
Mas nem a percepção dos sentimentos das massas, presente na obra de Marx, pode
ser considerada como objetiva ou “científica”:
“Não foi, é evidente, uma formulação
verdadeira de sentimentos reais, conscientes ou inconscientes, dos
mal-sucedidos. Preferimos qualifica-la de tentativa de substituição de sentimentos
verdadeiros por uma falsa ou verdadeira revelação da lógica social. Assim
fazendo, e atribuindo às massas o seu próprio conceito de consciência de
classe, Marx, sem dúvida, falsificou a verdadeira psicologia do trabalhador
(centralizada no desejo de se tornar pequeno-burguês, e ser auxiliado pela
força política para chegar a tal situação [não é assim, por exemplo, que
agem os nossos pequenos e grandes empresários, sempre a pedir uma ajudinha do
estado para preservar nichos de mercados da concorrência estrangeira, atitude
esta que sempre encontrou guarida na nossa esquerda e até em nossa direita reacionária?])
__
Mas Marx tinha méritos, e um deles é justamente o de não se parecer muito com
os “marxistas”...
“Sempre se conservou inteiramente liberto de
qualquer tendência, tão visível em alguns de seus adeptos, para bajular os
trabalhadores. Tinha provavelmente percepção muito clara do que eram as massas
e colocava-se muito acima delas... e bem além do que pensavam e desejavam.
Nunca, igualmente, defendeu qualquer ideal, como uma criação sua... Há
dignidade em tudo isso, o que compensa muita pequenez e vulgaridade, com as
quais, em seu trabalho e em sua vida, tal dignidade formou uma estranha aliança”
[Schumpeter ressalta também, que, ao contrário de muitos marxistas, já fanatizados
pela vivência acrítica na doutrina, Marx foi capaz de perceber grandes méritos
na burguesia e em seu produto mais acabado, o capitalismo, tecendo em relação a
ambos, no Manifesto Comunista, os mais rasgados e justos elogios].
__
Nesse artigo usei trechos de uma versão online do livro de Schumpeter,
traduzido por Ruy Jungmann, editado por Fundo de Cultura e OrdemLivre.org, Rio
de Janeiro, 1961. As páginas não testavam numeradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário