O
COMEÇO DE UM ACORDO?
Eduardo
Simões
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Um grupo mais "radical" do socialismo obreirista lança uma interessante campanha
que, espero, frutifique mais entre as correntes de esquerda, pelo seu grande
alcance ético-moral e pela perspectivas que abre à resolução da atual crise
política no Brasil, consignado no slogan “FORA TODOS ELES”, incorporando ao seu
repúdio os principais membros da esquerda petista (Dilma, Lula), assim como da
direita fisiológica (Aécio, Temer, Renan, Cunha), sem deixar de ressaltar que
Aécio, e o próprio PSDB, apresentam-se como “socialdemocratas”. Dá para
acreditar?
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Curioso, é que ao assumir essa postura essa esquerda se aproxima muito dos
liberais, grupo que esses radicais combatem, seja por desinformação,
preconceito ou intoxicação ideológica, mas que assim como eles pede, há muito,
a punição de todos os envolvidos, independentemente de sua coloração política e
condição social. Ao contrário de alguns que acham plausível e decoroso defender
uma dupla moral, como o PT, que pede a punição dos corruptos da direita, mas
preserva apaixonadamente os seus próprios corruptos. As últimas eleições já
avisaram: “se continuarem assim vão ficar isolados!”
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De fato, essa dupla moral nasce do contexto ideológico (ou devo dizer
religioso?) da luta de classes como “motor da história”, afinal no amor e na
guerra vale tudo, inclusive a mentira, a corrupção, o engano, etc., desde que
feito em nome da classe correta, aquela que deverá redimir a história da
humanidade, em que pese estar à beira da extinção, pelo crescimento exponencial
do setor de serviços, com a sua mão-de-obra sedenta apenas por promoções e
aumento de renda, pouco propensa a trocar seu conforto pelas trincheiras, que enchiam
de devaneios os revolucionários da Segunda Revolução Industrial.
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O aforismo de Marx, porém, é de uma ingenuidade monumental, pois nos faz crer
que os homens se unem em classes apenas para se sacanearem mutuamente, e que
entre as classes existe uma uniformidade de metas e de ideologia monolítica, o
que justificaria, inclusive, a dupla moral. Entretanto, nós sabemos que não é
assim. Uma classe pode até surgir de um pequeno grupo, que num primeiro momento
tem todos os motivos para agir monoliticamente, mas que com o passar do tempo,
quando se torna uma multidão, após ter vencido a classe que se lhe opunha, se
cinde inevitavelmente, uma vez que o poder supremo só pode ser exercido por um,
ou quando muito por um pequeno grupo dessa classe dominante, às vezes à revelia
ou contra alguns interesses de outros membros dessa mesma classe, de outra
forma como considerar as segmentações que se ocorrem dentro das classes
dominantes? Havia vários graus diferentes de nobreza na Idade Média, que
serviam, entre outras coisas para manter vastos seguimentos dessa mesma classe
longe do poder e até dispostos a se unirem à classe “inimiga” da sua, a
burguesia, como uma estratégia para ter mais protagonismo na política, como
aconteceu na Revolução Francesa, assim como só a altíssima burguesia teve
acesso franqueado às benesses bilionárias do “socialismo popular” do PT e da gestão
Temer, muito mais que os sindicatos de operários que aqueles diziam representar.
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O que passou batido na avaliação de Marx foi o fenômeno anterior à formação das
classes e que, inclusive, é o motor de sua formação: a luta pelo poder, tanto
material (financeiro) como simbólico (político), que produz alianças de grupos
sociais, nunca de uma classe inteira, uma vez que tal multiplicação de atores
no poder inviabilizaria aquilo que é a maior crítica do poder político até os
dias de hoje: a sua seletividade, de tal sorte que se uma classe conseguisse
exterminar todos os grupos sociais ou classes que se lhe opõem veríamos surgir automaticamente,
dentro dessa classe, segmentações que buscariam instrumentalizar o poder em seu
benefício, mantendo o resto da sociedade fora, dando início à formação de novas
classes, ao invés do paraíso prometido por Marx e seus sequazes. Não foi isso
que vimos na URSS?
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Essa verdade, que os liberais aprenderam, inclusive da análise de mitos
bíblicos milenares, e que Stalin tentou enfiar na cabeça de Trotsky, um dos
principais defensores da dupla moral, a golpes de picareta, em 1940, tombando
ele próprio vítima dessa verdade, ao ser envenenado por seus amigos e
conselheiros mais próximos, durante um festim privado, em 1953, ainda está por
ser percebido por alguns ideólogos da esquerda nacional.
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Espero que os fatos possam levar esses grupos radicais, e mesmo os petistas, a
ver a inutilidade da ideologia da dupla moral, da luta de classes, que só pode prosperar
na hipocrisia e gerar mais mentira e “jogo sujo”, dos quais a nação está farta,
e possamos enfim unir as pessoas de boa vontade, dos dois lados, para uma
solução estável e duradoura para a nossa crise atual, garantindo ou
fortalecendo as instituições, a partir do mantra civilizacional básico: todos
são iguais perante a lei, a ética e a moral, consoante as suas condições
físicas atuais, e todos, sem exceção, merecedores de uma justiça equitativa,
para os mais afortunados, e compassiva, para os mais pobres, que a pobreza seja
fruto de uma escolha pessoal e não de uma imposição social, a partir de um projeto
político que ponha o bem estar do ser humano, enquanto indivíduo e enquanto espécie,
como objetivo, centro e meta das preocupações do Estado.