terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O I CHING DA TEMPESTADE BRASILEIRA PERFEITA

Prof Eduardo Simões


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi-1JZmVczMGQO0dEQ0wRKVoEqZa-F48bOYDlOvvlDx0UmKVuk0Mj7wp25_WmGJ9qpsD_ExxzUKTdEA_Xs65m9yWTNu3KZd98hN9bhYKbseDRryaQLjk2IkwiqOm7YADQWffHl9uzgtJ0/s640/moonshot1.jpeg
Fonte:  http://nunoquelhas.blogspot.com.br/

            A valer tudo o que dizem os especialistas minimamente imparciais, desvinculados oficialmente de partidos, a grande imprensa e o que veem nossos olhos; creio que estamos que estamos na expectativa da tempestade perfeita: esfarelamento social – aumento da criminalidade, sob as mais variadas formas, descrédito das instituições públicas, em especial aquelas ligadas à segurança (polícia) e à reprodução da sociedade (escola [recentemente, como professor, cheguei a ser agredido fisicamente por um garoto da 5ª série!]), enquanto vândalos sem bandeira estouram portas de bancos, e vândalos com bandeiras, da direita, para variar, tentam calar o congresso à força e insuflar a volta dos militares ao poder – sem falar do esfarelamento político – governos, nos três níveis, incrivelmente incapazes, oposições incrivelmente sedentas e políticos incrivelmente corruptos – e do esfarelamento econômico – indústria estagnada, balanço de pagamentos deficitário, inflação resistente, consumo em baixa, como baixos estão os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, energia mais cara, preço da gasolina defasado, ameaçando a sobrevivência da maior e mais importante empresa do país, carro chefe da principal bolsa de valores...
            E para quem acha os desmandos internos são demasiados, o ambiente global está longe de ser amigável. A queda vertiginosa do preço mundial do petróleo ameaça os investimentos naquilo que já foi apresentado como a “redenção do Brasil” e nosso passaporte para o Primeiro Mundo: o pré-sal, que de tanto o governo postergar o início da perfuração, para garantir que permanecesse sob controle dos interesses ‘dele’, normalmente confundido com os interesses da nação, perdeu-se o tempo ideal para o investimento, e se o preço baixar mais a exploração essa ‘mina de ouro’ se tornará antieconômica. Sob a mesma ameaça encontram-se outras comodities, matérias-primas, devido a perda de vapor da locomotiva chinesa – o interminável escândalo do petróleo ganha mais um contorno trágico; a justiça americana, aquela mesma que costuma conceder indenizações de milhões de dólares em simples ações de divórcio, acolheu uma representação de acionistas da Petrobrás, nos EUA, que se sentiram lesados por esse interminável mar de lama, mais preta que o ouro a que aquela está acostumada a retirar de dentro da terra.
            Some isso tudo aos efeitos da maior seca já registrada na região mais densamente povoada do país, talvez até o início de uma mudança climática permanente, então está na hora de começar a prender a orar e de buscar ajuda em manuais de sobrevivência que não sejam apenas uma extensão do ego de seus autores, em geral pessoas bem-sucedidas, quando não bem-nascidas, a dizer que tudo está sujeito à vontade do leitor, e que basta ele querer, inventar, etc., para virar a situação, a revelia do que acontece fora dele. É costume citar o mantra que a palavra chinesa para crise é a mesma para oportunidade.
            Quem se interessa pela cultura chinesa, mais do que apenas seus pedaços, sabe que eles não assim tão superficiais ou ‘capitalistas’, exceto os membros do seu partido comunista. A densidade de sua sabedoria escapa à mente dos gurus da livre iniciativa, livre da razão, mas não das ambições deles, e se revela em formas surpreendentes, como no várias vezes milenar livro das mutações, o I Ching, que, devidamente jateado das pretensões divinatórias, traz lições de sabedoria surpreendentemente atuais, para as diversas situações da vida.
            No caso brasileiro, quem melhor se encaixa e o hexagrama 28, o fatídico Ta Kuo, traduzido como, Preponderância do Grande, representado por uma linha descontínua acima, seguido de quatro linhas contínuas, e uma sexta linha descontínua. O autor, ou autores, veem nelas uma enorme e pesada viga mestra (as quatro linhas contínuas), mas fraca nas extremidades (as linhas descontínuas). Em função disso a viga como que cede, ou sela, sob o seu próprio peso ameaçando cair e causar grande estrago. O ‘grande’ sugerido pelo nome diz respeito ao governante e suas elites pesando sobre a população, muito a propósito em nosso caso, denunciado um período de fastio, de decadência, de um modelo, sistema ou projeto, de sociedade ou mesmo pessoal.
            Na primeira linha, a imagem que vem é de uma enchente que encobre as árvores, os homens sábios e produtivos, mas que no nosso caso, já que a China fica no hemisfério oposto, o que dá para ver é a seca, que estiola a inciativas sábias e bem intencionadas, que, nessas ocasiões não são levadas a sério pelos que seguem a ‘onda’, os inconscientes e oportunistas, que só agravam a situação. Mas quem é sábio, porém, não teme ficar sozinho na sua sabedoria e na lucidez com que descortina o horizonte, enquanto busca outras oportunidades. Agindo sempre com o máximo de cuidado possível, como convém nessas épocas especiais, embora essa não pareça ser a conduta diretriz de nossos governantes, capazes de tudo para ficarem com a maioria.
            Na segunda linha, aparece a ideia de um homem já maduro, tomando uma esposa significativamente mais jovem. Não é algo comum, mas os tempos também não o são, e antes que a frivolidade possa nos dirigir para futilidades do tipo ‘golpe do baú’, o comentador, provavelmente o grande Confúcio, nas aclara, apontando esse episódio para a união íntima, necessária, nesse contexto, da sabedoria com a juventude. A sabedoria tempera o ardor típico da juventude, enquanto esta dá uma sobrecarga de esperança àquela, pois a sabedoria também pode cansar. Isso também significa que os fautores do projeto de sociedade que está decadente devem sair com sinceridade de seus altos pedestais e procurar no povo, na base, para adquirir nova vitalidade, fazer novas adaptações e mudanças. Será que os nossos políticos ainda são capazes de ouvir o povo, de falar-lhes de maneira convincente?
            Na terceira linha, um homem poderoso avança com arrogância e força, ignorando e oprimindo quem lhe faz oposição, quando o momento é de movimentos calmos e de ampliar alianças, causando desgraças. Eu imagino logo o PT em Brasília e o PSDB em São Paulo. As palavras do comentarista chinês são claras demais para não serem reproduzidas: “em épocas de perigo, uma atitude obstinada procurando avançar apenas acelera a catástrofe”.
            Na quarta linha, o homem, o governante e/ou seu grupo realmente consegue fazer aliança com o povo, mas há um alerta: se essa aliança não for como o casamento acima, sincero, mas antes um movimento de oportunismo, com segundas intenções, como usar o povo como “bucha de canhão” na sua luta por permanecer ou conquistar o poder, a derrocada e a humilhação não estarão longe.
            Na quinta linha ocorre uma situação análoga e oposta à segunda: uma mulher idosa busca um marido, simbolizando uma elite, que ao invés de recuperar o seu viço junto a uma mulher jovem, o povo, busca encontrá-lo na associação com outros grupos da elite. Os rituais e costumes sociais são observados escrupulosamente, mas de tal aliança não sai fruto digno de mudar a angustiante situação. O mesmo do mesmo, nada muda, vide a aliança PT-PMDB, que controla folgadamente os centros de poder do país, mas não consegue torna-los fontes de decisões sábias e prudentes, mas antes agravam a crise com um susto atrás do outro no circo do Congresso, e a aliança PSDB-Dem, que faz oposição, mas que também não consegue gestar saídas seguras e confiáveis para a crise. Onde está a sinceridade?
            Na sexta linha, em virtude de tantos erros a situação só agravou-se, e as pessoas corretas precisarão continuar vivendo e assumir decisões, inclusive na defesa de seus princípios morais. Pode daí surgir a necessidade de atravessar uma torrente impetuosa ou enfrentar o deserto escaldante, sem praticamente nenhuma chance de sucesso, como aconteceu a Jesus ao estrar pela última vez em Jerusalém, ou como já aconteceu a tantas pessoas nesse país, que se dispuseram a enfrentar a oligarquia militar, o crime organizado, as quadrilhas de corruptos, etc. As águas o envolvem e ele perece sem culpa, fazendo o que acha certo.
            De fato, quanto mais anômalo e crítico é o momento histórico, mais possiblidades de que ocorram desajustes e injustiças, e a violência cresce, principalmente contra as pessoas inocentes e corretas, inclusive enquanto procuram dar uma direção correta à sociedade – dessa violência, nós somos testemunhas diárias, nem as crianças escapam. A sabedoria se torna subversão, e é preciso ter coragem para tomar a decisão suprema, a forma maior de amor: dar a vida pelos amigos. Se isso acontecer com mais frequência é possível que ainda haja uma saída para o Brasil, e a tempestade dure pouco, caso contrário os próximos anos serão muito “emocionantes”.


(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)

Nenhum comentário:

Postar um comentário