O I CHING DA TEMPESTADE BRASILEIRA PERFEITA
Prof Eduardo Simões
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Fonte: http://nunoquelhas.blogspot.com.br/
A valer
tudo o que dizem os especialistas minimamente imparciais, desvinculados
oficialmente de partidos, a grande imprensa e o que veem nossos olhos; creio
que estamos que estamos na expectativa da tempestade perfeita: esfarelamento
social – aumento da criminalidade, sob as mais variadas formas, descrédito das
instituições públicas, em especial aquelas ligadas à segurança (polícia) e à
reprodução da sociedade (escola [recentemente, como professor, cheguei a ser
agredido fisicamente por um garoto da 5ª série!]), enquanto vândalos sem
bandeira estouram portas de bancos, e vândalos com bandeiras, da direita, para
variar, tentam calar o congresso à força e insuflar a volta dos militares ao
poder – sem falar do esfarelamento político – governos, nos três níveis,
incrivelmente incapazes, oposições incrivelmente sedentas e políticos
incrivelmente corruptos – e do esfarelamento econômico – indústria estagnada,
balanço de pagamentos deficitário, inflação resistente, consumo em baixa, como baixos
estão os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, energia mais cara, preço
da gasolina defasado, ameaçando a sobrevivência da maior e mais importante
empresa do país, carro chefe da principal bolsa de valores...
E para
quem acha os desmandos internos são demasiados, o ambiente global está longe de
ser amigável. A queda vertiginosa do preço mundial do petróleo ameaça os
investimentos naquilo que já foi apresentado como a “redenção do Brasil” e
nosso passaporte para o Primeiro Mundo: o pré-sal, que de tanto o governo
postergar o início da perfuração, para garantir que permanecesse sob controle
dos interesses ‘dele’, normalmente confundido com os interesses da nação,
perdeu-se o tempo ideal para o investimento, e se o preço baixar mais a exploração
essa ‘mina de ouro’ se tornará antieconômica. Sob a mesma ameaça encontram-se
outras comodities, matérias-primas, devido a perda de vapor da locomotiva
chinesa – o interminável escândalo do petróleo ganha mais um contorno trágico;
a justiça americana, aquela mesma que costuma conceder indenizações de milhões
de dólares em simples ações de divórcio, acolheu uma representação de
acionistas da Petrobrás, nos EUA, que se sentiram lesados por esse interminável
mar de lama, mais preta que o ouro a que aquela está acostumada a retirar de
dentro da terra.
Some
isso tudo aos efeitos da maior seca já registrada na região mais densamente
povoada do país, talvez até o início de uma mudança climática permanente, então
está na hora de começar a prender a orar e de buscar ajuda em manuais de
sobrevivência que não sejam apenas uma extensão do ego de seus autores, em
geral pessoas bem-sucedidas, quando não bem-nascidas, a dizer que tudo está
sujeito à vontade do leitor, e que basta ele querer, inventar, etc., para virar
a situação, a revelia do que acontece fora dele. É costume citar o mantra que a
palavra chinesa para crise é a mesma para oportunidade.
Quem se
interessa pela cultura chinesa, mais do que apenas seus pedaços, sabe que eles
não assim tão superficiais ou ‘capitalistas’, exceto os membros do seu partido
comunista. A densidade de sua sabedoria escapa à mente dos gurus da livre
iniciativa, livre da razão, mas não das ambições deles, e se revela em formas
surpreendentes, como no várias vezes milenar livro das mutações, o I Ching,
que, devidamente jateado das pretensões divinatórias, traz lições de sabedoria
surpreendentemente atuais, para as diversas situações da vida.
No caso
brasileiro, quem melhor se encaixa e o hexagrama 28, o fatídico Ta Kuo,
traduzido como, Preponderância do Grande, representado por uma linha
descontínua acima, seguido de quatro linhas contínuas, e uma sexta linha
descontínua. O autor, ou autores, veem nelas uma enorme e pesada viga mestra
(as quatro linhas contínuas), mas fraca nas extremidades (as linhas
descontínuas). Em função disso a viga como que cede, ou sela, sob o seu próprio
peso ameaçando cair e causar grande estrago. O ‘grande’ sugerido pelo nome diz
respeito ao governante e suas elites pesando sobre a população, muito a propósito
em nosso caso, denunciado um período de fastio, de decadência, de um modelo,
sistema ou projeto, de sociedade ou mesmo pessoal.
Na
primeira linha, a imagem que vem é de uma enchente que encobre as árvores, os
homens sábios e produtivos, mas que no nosso caso, já que a China fica no
hemisfério oposto, o que dá para ver é a seca, que estiola a inciativas sábias
e bem intencionadas, que, nessas ocasiões não são levadas a sério pelos que
seguem a ‘onda’, os inconscientes e oportunistas, que só agravam a situação. Mas
quem é sábio, porém, não teme ficar sozinho na sua sabedoria e na lucidez com
que descortina o horizonte, enquanto busca outras oportunidades. Agindo sempre
com o máximo de cuidado possível, como convém nessas épocas especiais, embora
essa não pareça ser a conduta diretriz de nossos governantes, capazes de tudo
para ficarem com a maioria.
Na
segunda linha, aparece a ideia de um homem já maduro, tomando uma esposa significativamente
mais jovem. Não é algo comum, mas os tempos também não o são, e antes que a
frivolidade possa nos dirigir para futilidades do tipo ‘golpe do baú’, o
comentador, provavelmente o grande Confúcio, nas aclara, apontando esse
episódio para a união íntima, necessária, nesse contexto, da sabedoria com a
juventude. A sabedoria tempera o ardor típico da juventude, enquanto esta dá
uma sobrecarga de esperança àquela, pois a sabedoria também pode cansar. Isso
também significa que os fautores do projeto de sociedade que está decadente
devem sair com sinceridade de seus altos pedestais e procurar no povo, na base,
para adquirir nova vitalidade, fazer novas adaptações e mudanças. Será que os
nossos políticos ainda são capazes de ouvir o povo, de falar-lhes de maneira
convincente?
Na terceira
linha, um homem poderoso avança com arrogância e força, ignorando e oprimindo
quem lhe faz oposição, quando o momento é de movimentos calmos e de ampliar
alianças, causando desgraças. Eu imagino logo o PT em Brasília e o PSDB em São
Paulo. As palavras do comentarista chinês são claras demais para não serem
reproduzidas: “em épocas de perigo, uma atitude obstinada procurando avançar
apenas acelera a catástrofe”.
Na
quarta linha, o homem, o governante e/ou seu grupo realmente consegue fazer
aliança com o povo, mas há um alerta: se essa aliança não for como o casamento
acima, sincero, mas antes um movimento de oportunismo, com segundas intenções, como
usar o povo como “bucha de canhão” na sua luta por permanecer ou conquistar o
poder, a derrocada e a humilhação não estarão longe.
Na
quinta linha ocorre uma situação análoga e oposta à segunda: uma mulher idosa
busca um marido, simbolizando uma elite, que ao invés de recuperar o seu viço
junto a uma mulher jovem, o povo, busca encontrá-lo na associação com outros
grupos da elite. Os rituais e costumes sociais são observados escrupulosamente,
mas de tal aliança não sai fruto digno de mudar a angustiante situação. O mesmo
do mesmo, nada muda, vide a aliança PT-PMDB, que controla folgadamente os
centros de poder do país, mas não consegue torna-los fontes de decisões sábias
e prudentes, mas antes agravam a crise com um susto atrás do outro no circo do
Congresso, e a aliança PSDB-Dem, que faz oposição, mas que também não consegue
gestar saídas seguras e confiáveis para a crise. Onde está a sinceridade?
Na sexta
linha, em virtude de tantos erros a situação só agravou-se, e as pessoas
corretas precisarão continuar vivendo e assumir decisões, inclusive na defesa
de seus princípios morais. Pode daí surgir a necessidade de atravessar uma
torrente impetuosa ou enfrentar o deserto escaldante, sem praticamente nenhuma
chance de sucesso, como aconteceu a Jesus ao estrar pela última vez em
Jerusalém, ou como já aconteceu a tantas pessoas nesse país, que se dispuseram
a enfrentar a oligarquia militar, o crime organizado, as quadrilhas de
corruptos, etc. As águas o envolvem e ele perece sem culpa, fazendo o que acha
certo.
De fato,
quanto mais anômalo e crítico é o momento histórico, mais possiblidades de que
ocorram desajustes e injustiças, e a violência cresce, principalmente contra as
pessoas inocentes e corretas, inclusive enquanto procuram dar uma direção
correta à sociedade – dessa violência, nós somos testemunhas diárias, nem as
crianças escapam. A sabedoria se torna subversão, e é preciso ter coragem para
tomar a decisão suprema, a forma maior de amor: dar a vida pelos amigos. Se
isso acontecer com mais frequência é possível que ainda haja uma saída para o
Brasil, e a tempestade dure pouco, caso contrário os próximos anos serão muito
“emocionantes”.
(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
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