quinta-feira, 15 de junho de 2017

UM DIA DE SORTE?

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Soldado inglês mostra, sorridente, o resultado dos primeiros combates travados em setembro de 1915, em Loos, na França. Como se diz por aqui: “escapou fedendo” ou “ganhou um bilhete premiado”. Mas considerando o quanto lhe custava, e aos outros soldados, escapar para viver mais um dia, ou vários, nas trincheiras dessa guerra, a gente até duvida... 
ABANA E FARFAR

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By Image extracted from page 282 of Shadows of the East; or, slight sketches of scenery, persons and customs, from observations during a tour in 1853 and 1854, in Egypt, Palestine, Syria, Turkey, and Greece …, by TOBIN, Catherine - Lady. View image on Flickr   View all images from book   View catalogue entry for book.English | Français | +/−, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=33098811

Acima uma imagem das corredeiras do rio Barada, em 1853.

__ Dois rios da Síria nomeados em 2Rs 5,12.
__ Acredita-se hoje que o Abana seja mesmo que Barada, o principal rio da Síria que, nascendo nas montanhas do Antilíbano, desce suas encostas, até despejar suas águas no oásis de Al Ghouta, onde foi fundada a cidade de Damasco, após percorrer 84 km. Já o Farfar nasce no monte Hermon e também se dirige a Damasco, tendo o seu percurso a extensão de pouco mais de 64 km. Seu nome atual é Awaj.

__ Esses rios são mencionados no contexto da busca do general sírio Naamã por uma cura para a sua lepra. Após encontrar-se com o profeta Eliseu, recebeu deste a tarefa de se banhar sete vezes no rio Jordão, o que o deixou muito irritado. Pensava ele: “banho por banho, porque não nas águas dos rios de minha terra: o Abana e o Farfar, que são tão caudalosos quanto o Jordão?”. Como um general bom e fiel, decerto bastante profissional, Naamã era muito “nacionalista”. Estava a meditar nisso, quando uma “comissão” de servos achegou-se e o fez refletir sobre a irracionalidade de seu gesto, resistindo tão veementemente a uma prescrição tão simples, que em nada afetaria a sua lealdade ao seu país. Naamã ouvi-os, banhou-se no Jordão e foi curado. Esse fato, é mencionado no NT em Lc 4,27.

terça-feira, 6 de junho de 2017

AARÃO:

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__ Irmão de Moisés, intermediário entre este e sua irmã Miriam ou Maria, a primogênita, Aarão era filho de Amram e Jocabed, gente da tribo dos levitas. Sua aparição no contexto da História da Salvação se dá quando, já adulto, encontra-se com seu irmão, que retornava de um exílio distante, às terras egípcias, e ambos partem para uma missão “impossível”: livrar todo um povo do cativeiro que sofria sob o jugo do monarca mais poderoso do mundo conhecido, o faraó do Egito, quando esse povo, o israelita, era imprescindível para as grandes obras com as quais aquele queria marcar o seu reinado, sem falar que a saída em massa de tanta gente, representaria, para uma legião de inimigos, postados às fronteiras, um sinal de fraqueza incontestável.
__ Moisés tomava as iniciativas, afinal a ele fora confiada a missão, inclusive a de incluir seu irmão nos planos de Deus – no texto bíblico, Moisés tenta se esquivar da missão que lhe é confiada a pretexto de não ter boa oratória (Ex 4,10) e consegue que Deus lhe ceda o irmão como colaborador, embora seja ele, Moisés, quem toma à frente na hora de confrontar o faraó, o que não é de admirar, uma vez que ele fora criado na corte, ao contrário de Aarão, que crescera encurralado por sua condição de “servo”. Entretanto, é possível que Moisés também precisasse de alguém para lidar com o povo a ser salvo, e de quem fora afastado desde o seu nascimento, e Moisés talvez tenha se desculpado perante Deus, na passagem mencionada, por não saber falar bem a língua dos israelitas. Nesse caso podemos ainda conjeturar que a separação entre Moisés e seu povo não foi absoluta (de outro modo como ele saberia que Aarão era seu irmão?), reforçando a ideia de que houve uma ligação incipiente, mas profunda entre ele e sua família biológica, como deduz-se de Ex 2,7-10.
__ Ao longo desse enfrentamento Aarão faz com perfeição o seu papel de “secretário” diligente de Moisés, e com ele vive a alegria de ser autorizado, pelo faraó, a seguir com o povo para o deserto, a fim de prestar culto ao verdadeiro Deus. O seu prestígio praticamente equivale ao de Moisés. No relato de Ex 19,24, ele sobe o Monte Sinai sozinho com Moisés, enquanto noutro (Ex 24,1) ele sobe essa mesma montanha juntamente com seus filhos Nadab e Abiú, além de setenta anciãos (chefes de clãs?), o que pode nos informar de tradições diferentes ou diferentes momentos. Mas quando a sua liderança e sua fidelidade a Deus foram testadas de uma forma mais intensa, pela primeira vez, ele caiu miseravelmente.
__ Como Moisés demorasse muito em voltar de uma de suas subidas, Ex 32,1-20, algumas pessoas do povo, certamente a maioria, descrentes da possibilidade de ele ter sobrevivido tanto tempo em um lugar tão inóspito com o cume do Sinai, pedem a Aarão que lhe fabriquem um Deus, uma vez que com a “perda de Moisés” perdia-se também o seu Deus. Aarão, que já vira e ouvira tanta coisa maravilhosa, principalmente conselhos e ensinamentos minuciosos da boca de seu irmão, cede ante a pressão dos insensatos e constrói ele mesmo um ídolo: o bezerro de ouro, o que ocasionará uma explosão de cólera de seu irmão retornado. Em relação ao bezerro de ouro podemos considerar duas coisas: os castigos que recaíram sobre os israelitas infiéis, não atingiu a Aarão, o maior responsável pelo efeito final daquela loucura. Finalmente, esse episódio parece estranhamente similar as negações de Pedro, no pátio da guarda, constrangido por uma mulher do povo. A queda do príncipe dos sacerdotes israelitas como que prefigura a queda dos príncipes dos apóstolos no cristianismo.    
__ A medida em que o Êxodo se consolida e o retorno ao Egito se torna improvável, começam a surgir grupos de interesse e de poder divergentes dentro do acampamento israelita, dando início a sedições contra a direção de Moisés e Aarão (Nm 16). À frente do primeiro grupo levantou-se um clã levita, chefiado por um tal Coré, homem de grande prestígio, e mais tarde levantou-se um clã rubenita, liderado por dois irmãos: Datã e Abiram. O sucesso dos revoltosos teria posto a perder toda a empreitada tão duramente iniciada e levada até ali, por isso o castigo pela derrota dos sediciosos no seu pleito, não pode ter outro desfecho que não a morte dos líderes, de todos os seus familiares e seus apoiadores.
__ Mas mesmo entre os irmãos começam a surgir ciúmes e dissenções, e, quiçá, alguma ambição por um poder, que encontra um pretexto para explodir quando Moisés, aparentemente contra as recomendações do sacerdócio institucional, representado por Aarão, e da religiosidade espiritual popular, representado pela sua irmã, a profetisa Miriam, resolve tomar por esposa uma mulher cuchita. Indignados os dois se rebelam frontalmente contra Moisés, mas são derrotados na disputa onde se manifesta o terrível poder de Deus, numa repentina e severa lepra que se abate sobre Miriam, que é curada graças a intercessão de Moisés (Nm 12). Aarão, incorre em grave falta mais uma vez, e mais uma vez escapa incólume.
__ Para além dos aspectos mais novelescos e familiares desse episódio, podemos deduzir dele um ensinamento, que durante muito tempo foi esteio de equilíbrio e prosperidade entre os israelitas: a independência entre o poder temporal, representado por Moisés, e o poder espiritual, representado por Aarão e sua irmã. A história nos mostra o quanto essa questão confundia e empolgava as culturas vizinhas, dominadas por reis-sacerdotes, parcialmente divinizados, líderes políticos e religiosos que tendiam a absorver a sociedade civil sob a égide da religião, como é comum até os dias de hoje, sem falar do caso egípcio, mais próximo dos hebreus, onde a classe sacerdotal vivia às turras com os faraós, não raro liderando motins contra os mandatários do país, em geral por questões envolvendo disputa de terras e divergências fiscais. Esses são os problemas tradicionais, e nem sempre conscientes, da luta pelo poder, sempre que o poder começa a valer a pena.
__ Aarão, entretanto tem a oportunidade de se redimir quando da tremenda batalha de Rafidim, envolvendo a vanguarda israelita e um poderoso exército amalecita. Ele e Hur, colocados de cada lado de Moisés, sustentaram os seus braços deste erguidos, condição indispensável para a vitória, até que esta lhes sorriu ao final daquela jornada (Ex 8,5-13). Estava comprovado o sucesso do arranjo que previa ao mesmo tempo a independência e a harmonia entre o poder temporal e o espiritual, embora não sem novos tropeços e incidentes evitáveis. Dois filhos dos quatro filhos de Aarão: Nadab e Abiú, que também eram sacerdotes, morreram queimados, enquanto ofereciam incenso a Deus no altar.
__ Por fim, carregado de anos, Aarão morreu e foi sepultado sobre o monte Hor, por Moisés e Eleazar, filho e sucessor daquele, ao sul do atual Israel, próximo à fronteira do país de Edom, pois, assim como o seu irmã fora proibido de entrar na Terra Prometida (Nm 20).

__ No NT, Aarão é mencionado duas vezes, na Carta aos Hebreus, com o objetivo de ressaltar a superioridade do sacerdócio de Cristo.  
SER OU NÃO SER MADAME BOVARY, EIS A QUESTÃO!

Prof Eduardo Simões

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Nem tão belo, nem tão infiel, apenas em cima do muro.

__ É imoral! Mas pelo menos é erudita, a justificativa dada pelo senador do PSDB, Aloysio Nunes, uma das figuras mais inexpressivas da política nacional, à tentativa dos membros ainda “puros” de seu partido em desembarcar da canoa furada do governo Temer, movido ao lema de que “os fins justificam os meios”, afirmando Nunes que o PSDB não é Madame Bovary, personagem do escritor francês Auguste Flaubert. Alguém aí está muito entendido de traição e adultério, esperamos que só na literatura, da mesma forma que esperamos que saiba abrir mão de seu cargo pelo bem do país, se é que para aquele este valha tanto.
__ De que adianta não ser Madame Bovary, mas continuar fiel à prostituição, de que se rodeou muitos cargos públicos nesse país, nos últimos anos? Pelo menos a madame em questão tentava manter um certo ar de dignidade, de respeitabilidade, ainda que falso. E o PSDB, nem isso? Não se trata aqui de ser Madame Bovary, mas de abandonar um falso amante, alguém que traiu a confiança – para ficarmos no universo de Flaubert, um ‘Rodolphe Boulanger’ – e de dizer para o país que há algo novo na política. Mas que fazer, se o amante tem a chave do cofre?
__ Nada acontecerá de novo no Brasil, e nada mudará, qualitativa e definitivamente, enquanto nossos políticos continuarem a dar esses espetáculos de oportunismo, de maquiavelismo, da forma mais descarada, e não enfrentarmos decididamente a chaga moral que empesteia a nossa sociedade, em especial a classe política, e o PSDB bem que poderia dar uma contribuição nesse sentido.
__ Mas, se ainda quisermos ainda manter a analogia com esse personagem de Flaubert, para além de uma suposta contribuição dos “intelectuais” peessedebistas ao aumento da erudição na velhacaria política, não podemos deixar de reparar que, no contexto da trama, praticamente não foi deixada outra opção a Emma Bovary que o adultério, enquanto que o PSDB tem essa opção, o que lhe faltou até agora foi vergonha na cara para fazê-la.

__ Otto Maria Carpeaux, nosso brilhante crítico literário, observou com maestria, que o romance Madame Bovary, mais que a história de um adultério, era a história da estupidez humana, em especial a estupidez daqueles que por estreiteza e oportunismo a empurraram para o seu pecado, e que faziam questão de parecer que não eram como Madame Bovary...