terça-feira, 6 de junho de 2017

AARÃO:

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__ Irmão de Moisés, intermediário entre este e sua irmã Miriam ou Maria, a primogênita, Aarão era filho de Amram e Jocabed, gente da tribo dos levitas. Sua aparição no contexto da História da Salvação se dá quando, já adulto, encontra-se com seu irmão, que retornava de um exílio distante, às terras egípcias, e ambos partem para uma missão “impossível”: livrar todo um povo do cativeiro que sofria sob o jugo do monarca mais poderoso do mundo conhecido, o faraó do Egito, quando esse povo, o israelita, era imprescindível para as grandes obras com as quais aquele queria marcar o seu reinado, sem falar que a saída em massa de tanta gente, representaria, para uma legião de inimigos, postados às fronteiras, um sinal de fraqueza incontestável.
__ Moisés tomava as iniciativas, afinal a ele fora confiada a missão, inclusive a de incluir seu irmão nos planos de Deus – no texto bíblico, Moisés tenta se esquivar da missão que lhe é confiada a pretexto de não ter boa oratória (Ex 4,10) e consegue que Deus lhe ceda o irmão como colaborador, embora seja ele, Moisés, quem toma à frente na hora de confrontar o faraó, o que não é de admirar, uma vez que ele fora criado na corte, ao contrário de Aarão, que crescera encurralado por sua condição de “servo”. Entretanto, é possível que Moisés também precisasse de alguém para lidar com o povo a ser salvo, e de quem fora afastado desde o seu nascimento, e Moisés talvez tenha se desculpado perante Deus, na passagem mencionada, por não saber falar bem a língua dos israelitas. Nesse caso podemos ainda conjeturar que a separação entre Moisés e seu povo não foi absoluta (de outro modo como ele saberia que Aarão era seu irmão?), reforçando a ideia de que houve uma ligação incipiente, mas profunda entre ele e sua família biológica, como deduz-se de Ex 2,7-10.
__ Ao longo desse enfrentamento Aarão faz com perfeição o seu papel de “secretário” diligente de Moisés, e com ele vive a alegria de ser autorizado, pelo faraó, a seguir com o povo para o deserto, a fim de prestar culto ao verdadeiro Deus. O seu prestígio praticamente equivale ao de Moisés. No relato de Ex 19,24, ele sobe o Monte Sinai sozinho com Moisés, enquanto noutro (Ex 24,1) ele sobe essa mesma montanha juntamente com seus filhos Nadab e Abiú, além de setenta anciãos (chefes de clãs?), o que pode nos informar de tradições diferentes ou diferentes momentos. Mas quando a sua liderança e sua fidelidade a Deus foram testadas de uma forma mais intensa, pela primeira vez, ele caiu miseravelmente.
__ Como Moisés demorasse muito em voltar de uma de suas subidas, Ex 32,1-20, algumas pessoas do povo, certamente a maioria, descrentes da possibilidade de ele ter sobrevivido tanto tempo em um lugar tão inóspito com o cume do Sinai, pedem a Aarão que lhe fabriquem um Deus, uma vez que com a “perda de Moisés” perdia-se também o seu Deus. Aarão, que já vira e ouvira tanta coisa maravilhosa, principalmente conselhos e ensinamentos minuciosos da boca de seu irmão, cede ante a pressão dos insensatos e constrói ele mesmo um ídolo: o bezerro de ouro, o que ocasionará uma explosão de cólera de seu irmão retornado. Em relação ao bezerro de ouro podemos considerar duas coisas: os castigos que recaíram sobre os israelitas infiéis, não atingiu a Aarão, o maior responsável pelo efeito final daquela loucura. Finalmente, esse episódio parece estranhamente similar as negações de Pedro, no pátio da guarda, constrangido por uma mulher do povo. A queda do príncipe dos sacerdotes israelitas como que prefigura a queda dos príncipes dos apóstolos no cristianismo.    
__ A medida em que o Êxodo se consolida e o retorno ao Egito se torna improvável, começam a surgir grupos de interesse e de poder divergentes dentro do acampamento israelita, dando início a sedições contra a direção de Moisés e Aarão (Nm 16). À frente do primeiro grupo levantou-se um clã levita, chefiado por um tal Coré, homem de grande prestígio, e mais tarde levantou-se um clã rubenita, liderado por dois irmãos: Datã e Abiram. O sucesso dos revoltosos teria posto a perder toda a empreitada tão duramente iniciada e levada até ali, por isso o castigo pela derrota dos sediciosos no seu pleito, não pode ter outro desfecho que não a morte dos líderes, de todos os seus familiares e seus apoiadores.
__ Mas mesmo entre os irmãos começam a surgir ciúmes e dissenções, e, quiçá, alguma ambição por um poder, que encontra um pretexto para explodir quando Moisés, aparentemente contra as recomendações do sacerdócio institucional, representado por Aarão, e da religiosidade espiritual popular, representado pela sua irmã, a profetisa Miriam, resolve tomar por esposa uma mulher cuchita. Indignados os dois se rebelam frontalmente contra Moisés, mas são derrotados na disputa onde se manifesta o terrível poder de Deus, numa repentina e severa lepra que se abate sobre Miriam, que é curada graças a intercessão de Moisés (Nm 12). Aarão, incorre em grave falta mais uma vez, e mais uma vez escapa incólume.
__ Para além dos aspectos mais novelescos e familiares desse episódio, podemos deduzir dele um ensinamento, que durante muito tempo foi esteio de equilíbrio e prosperidade entre os israelitas: a independência entre o poder temporal, representado por Moisés, e o poder espiritual, representado por Aarão e sua irmã. A história nos mostra o quanto essa questão confundia e empolgava as culturas vizinhas, dominadas por reis-sacerdotes, parcialmente divinizados, líderes políticos e religiosos que tendiam a absorver a sociedade civil sob a égide da religião, como é comum até os dias de hoje, sem falar do caso egípcio, mais próximo dos hebreus, onde a classe sacerdotal vivia às turras com os faraós, não raro liderando motins contra os mandatários do país, em geral por questões envolvendo disputa de terras e divergências fiscais. Esses são os problemas tradicionais, e nem sempre conscientes, da luta pelo poder, sempre que o poder começa a valer a pena.
__ Aarão, entretanto tem a oportunidade de se redimir quando da tremenda batalha de Rafidim, envolvendo a vanguarda israelita e um poderoso exército amalecita. Ele e Hur, colocados de cada lado de Moisés, sustentaram os seus braços deste erguidos, condição indispensável para a vitória, até que esta lhes sorriu ao final daquela jornada (Ex 8,5-13). Estava comprovado o sucesso do arranjo que previa ao mesmo tempo a independência e a harmonia entre o poder temporal e o espiritual, embora não sem novos tropeços e incidentes evitáveis. Dois filhos dos quatro filhos de Aarão: Nadab e Abiú, que também eram sacerdotes, morreram queimados, enquanto ofereciam incenso a Deus no altar.
__ Por fim, carregado de anos, Aarão morreu e foi sepultado sobre o monte Hor, por Moisés e Eleazar, filho e sucessor daquele, ao sul do atual Israel, próximo à fronteira do país de Edom, pois, assim como o seu irmã fora proibido de entrar na Terra Prometida (Nm 20).

__ No NT, Aarão é mencionado duas vezes, na Carta aos Hebreus, com o objetivo de ressaltar a superioridade do sacerdócio de Cristo.  

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