SER
OU NÃO SER MADAME BOVARY, EIS A QUESTÃO!
Prof
Eduardo Simões
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Nem tão belo, nem tão infiel, apenas em cima do muro.
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É imoral! Mas pelo menos é erudita, a justificativa dada pelo senador do PSDB, Aloysio
Nunes, uma das figuras mais inexpressivas da política nacional, à tentativa dos
membros ainda “puros” de seu partido em desembarcar da canoa furada do governo
Temer, movido ao lema de que “os fins justificam os meios”, afirmando Nunes que
o PSDB não é Madame Bovary, personagem do escritor francês Auguste Flaubert. Alguém
aí está muito entendido de traição e adultério, esperamos que só na literatura,
da mesma forma que esperamos que saiba abrir mão de seu cargo pelo bem do país,
se é que para aquele este valha tanto.
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De que adianta não ser Madame Bovary, mas continuar fiel à prostituição, de que
se rodeou muitos cargos públicos nesse país, nos últimos anos? Pelo menos a madame
em questão tentava manter um certo ar de dignidade, de respeitabilidade, ainda
que falso. E o PSDB, nem isso? Não se trata aqui de ser Madame Bovary, mas de
abandonar um falso amante, alguém que traiu a confiança – para ficarmos no
universo de Flaubert, um ‘Rodolphe Boulanger’ – e de dizer para o país que há
algo novo na política. Mas que fazer, se o amante tem a chave do cofre?
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Nada acontecerá de novo no Brasil, e nada mudará, qualitativa e definitivamente,
enquanto nossos políticos continuarem a dar esses espetáculos de oportunismo, de
maquiavelismo, da forma mais descarada, e não enfrentarmos decididamente a
chaga moral que empesteia a nossa sociedade, em especial a classe política, e o
PSDB bem que poderia dar uma contribuição nesse sentido.
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Mas, se ainda quisermos ainda manter a analogia com esse personagem de Flaubert,
para além de uma suposta contribuição dos “intelectuais” peessedebistas ao
aumento da erudição na velhacaria política, não podemos deixar de reparar que, no
contexto da trama, praticamente não foi deixada outra opção a Emma Bovary que o
adultério, enquanto que o PSDB tem essa opção, o que lhe faltou até agora foi
vergonha na cara para fazê-la.
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Otto Maria Carpeaux, nosso brilhante crítico literário, observou com maestria, que
o romance Madame Bovary, mais que a história de um adultério, era a história da
estupidez humana, em especial a estupidez daqueles que por estreiteza e
oportunismo a empurraram para o seu pecado, e que faziam questão de parecer que
não eram como Madame Bovary...
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