sábado, 30 de junho de 2018


O QUE AUMENTA A PRODUTIVIDADE E O SUCESSO, E QUE AS ESCOLAS E OS PATRÕES BRASILEIROS INSISTEM EM IGNORAR!

__ Qual é a principal habilidade que alguém deve ter para se dar bem na vida e ajudar a sua comunidade e o seu país a ficarem mais prósperos? Como as escolas devem trabalhar para que seus alunos adquiram essa habilidade?
__ Leiam o artigo abaixo, de Bruce Daisley, copiado parcialmente do BBC em português, e tire suas conclusões. E pensar que já na década de 1970 o professor Lauro de Oliveira Lima escreveu quilos e mais quilos de páginas encarecendo a importância de educar a socialização das crianças, aconselhando a dinâmica de grupo como método de ensino infalível para o progresso da aprendizagem e das relações humanas em todos os ambientes (escolas, empresas e na família), e que tudo isso foi descartado como “contaminado” e inútil  pela ideologia vazia da esquerda e a ganância amoral da direita, cada vez mais imoral!

http://edtimes.in/wp-content/uploads/2017/03/Indian-children-shutterstock_258768347.jpg
Todo ser humano – que não tenha ainda sido cotidianamente brutalizado por algum adulto, parente ou professor – só quer uma coisa desde a mais tenra infância: fazer amigos, por isso abre aquele sorriso diante de uma máquina fotográfica, na esperança que a imagem seja vista pelo maior número possível de pessoas, como a dizer: “quero ser seu amigo” ou “eu sou amigável”. Quando as nossas “autoridades educacionais” vão perceber isso?

COMO O RISO AJUDA A MELHORAR O DESEMPENHO NO TRABALHO

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Muita gente acha que rir no escritório pode dar a impressão de que está "faltando serviço". Discussões que até pouco tempo eram presenciais, realizadas na mesa de um colega, acontecem cada vez mais por e-mail ou programas de troca de mensagens instantâneas.

Nesse contexto, o bate-papo pode, muitas vezes, parecer desnecessário. Mas e se, em vez de sinalizar ociosidade, rir com os colegas for algo que favoreça a colaboração da equipe e estimule a inovação?

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Ciência divertida
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Nas últimas duas décadas, muitos estudos sobre o tema foram conduzidos pelo neurocientista Robert Provine, professor de psicologia na Universidade de Maryland, em Baltimore, nos Estados Unidos.

Estudos mostram que rir no trabalho pode ajudar a estimular a criatividade
"A risada é um sinal social humano por excelência. Rir é se relacionar", diz um trecho do livro Laughter: A Scientific Investigation ("Risada: uma investigação científica", em tradução livre), de sua autoria.

Provine descobriu que somos 30 vezes mais propensos a rir quando estamos com outras pessoas do que quando estamos sozinhos.

"Tendemos a ignorar o fato de que a evolução do riso se deve ao seu efeito sobre os outros, e não a algo para melhorar nosso humor ou saúde", argumenta.

A pesquisa mostrou que, no ambiente de trabalho, o riso é desencadeado principalmente por conversas triviais a partir de comentários como: "vamos dar um jeito nisso", "acho que já terminei" ou "pronto, aqui está".

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O riso é um sinal subconsciente de que estamos em um estado de relaxamento e segurança, afirma a professora Sophie Scott, da University College London (UCL), no Reino Unido.

... “Se as pessoas estão rindo, é um sinal de que não estão em estado de ansiedade. É um indicador de que o grupo está indo bem." Em outras palavras, se os membros de uma equipe estão rindo juntos, isso significa que eles baixaram a guarda.

Isso é importante, pois há pesquisas indicando que, quando nossos cérebros estão relaxados, conseguimos associar livremente as ideias com mais facilidade, o que pode potencializar a criatividade.

Lampejos de inspiração
Os cientistas John Kounios, da Universidade Drexel, na Pensilvânia, e Mark Beeman, da Universidade Northwestern, em Illinois, fizeram um experimento para ver se o riso ajudava um grupo a resolver complicados testes de lógica.

Inicialmente, os pesquisadores exibiram cenas de comédia do ator Robin Williams. E, na sequência, apresentaram as questões. O objetivo era analisar se o riso facilitaria o surgimento de insights no giro temporal superior anterior dos participantes - parte do cérebro localizada acima da orelha direita, associada à conexão de ideias distantes.

O estudo mostrou que uma breve gargalhada aumentava em 20% a taxa de resolução dos testes. Mas, por quê? Segundo Kounios e Beeman, provavelmente a aparente falta de concentração relacionada ao riso permite à mente manipular e conectar conceitos de uma forma que a concentração estrita não conseguiria.

... Teresa Amabile, professora em Harvard, nos EUA, passou 40 anos tentando entender quando somos mais criativos. Suas reflexões - algumas das mais citadas no campo da psicologia do trabalho - revelam que um ambiente de trabalho positivo é mais criativo do que estressante. O estresse é inimigo da inovação [não é justamente isso que vivem fazendo executivos e chefes de equipe em empresas de todos os tipos, inclusive obrigando seus subordinados a levar trabalhos para casa, ampliando ainda mais a tensão?].

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Predisposição ao riso
O riso tem, portanto, múltiplas funções. Nos faz sentir mais conectados como equipe e, como consequência, reduz nosso bloqueio criativo, levando a uma geração maior de ideias.
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Para Alex 'Sandy' Pentland, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos EUA, os escritórios modernos devem a maior parte de sua produtividade às formas mais antigas de interação.

"O email tem muito pouco a ver com produtividade ou criatividade", afirmou Pentland, em uma palestra na sede do Google, em 2014. Já não se pode dizer o mesmo das discussões presenciais, por exemplo. "As conversas correspondem a 30%, e às vezes 40%, da produtividade nos grupos de trabalho", estima o especialista.

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*Bruce Daisley é vice-presidente europeu do Twitter. Ele comanda o "Eat Sleep Work Repeat", um podcast semanal sobre como melhorar a cultura de trabalho.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Capital.


sexta-feira, 29 de junho de 2018

NÃO BASTA OS LADRÕES? A ARTE E A HISTÓRIA EM PERIGO!

__ Veja abaixo essa matéria copiada do site da BBC em português, mostrando que os perigos que rondam os mais importantes patrimônios artísticos-culturais da humanidade, não derivam somente do desejo antissocial e incontrolável de riquezas, mas até da “boa vontade”...

https://ichef.bbci.co.uk/news/320/cpsprodpb/13F1A/production/_102209618_sanjorge.jpg

__ A escultura da Igreja de San Miguel de Estella, em Navarra, retratando São Jorge com armadura e lutando contra um dragão (acima), foi repintada por um pároco que não pretendia restaurar a obra em si, mas apenas "arrumar um espaço que estava sujo"...
__ O episódio em San Miguel de Estella, que veio a público na semana passada por vídeos postados nas redes sociais, provocou reações na imprensa e na política espanholas.
__ O prefeito de Estella, Koldo Leoz, disse que, "infelizmente, para a antiquísisma escultura e para o patrimônio da cidade, um pároco decidiu por conta própria delegar a renovação (não seria justo chamar de restauração) a uma escola de artesanato local".
__ O resultado, porém, é que provavelmente se perdeu quase toda a pigmentação original da obra de 500 anos de idade, diz à BBC News Brasil Fernando Carrera, presidente da Associação Profissional de Conservadores-Restauradores da Espanha (Acre).

https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/0A82/production/_102209620_eccehomo.jpg
Socorro!

Por conta da relevância histórica da escultura, Carrera avalia que o dano à obra de São Jorge talvez seja ainda mais grave que o causado ao Ecce Homo - afresco do século 19 (acima), que retrata Jesus e foi repintado por uma idosa espanhola que tinha boas intenções, mas nenhum conhecimento técnico em restauração.

"O patrimônio é tão amplo que não há controle sobre esse tipo de ações. É preciso sobretudo que a Igreja Católica melhore o controle sobre seu patrimônio, porque essas intervenções (amadoras) ocorrem principalmente com obras eclesiásticas."

Álbum

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A Pietá, de Michelangelo, após o ataque a marteladas feito por um doente mental, que exigia ser reconhecido como “Jesus Cristo”, em 1972, no Vaticano.


Di Juan M Romero - Opera propria, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=46153417
A obra restaurada, em todo o seu esplendor, por uma equipe chefiada pelo restaurador brasileiro Deoclédio Hedig de Campos.  


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Estado a que ficou reduzida a imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1978, após o ataque de um evangélico fanático, de apenas 19 anos, induzido que fora por um pastor ignorante. Na caixinha menor vemos os fragmentos a que foi reduzida a cabeça.

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A restauradora Maria Helena Chartuni, que restaurou a imagem destroçada, aqui aparece fazendo limpeza e manutenção, em 2014.  

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Na igrejinha de Sainte Anne des Pinns, em Ontário. Após uns ladrões roubarem a cabeça do Menino Jesus, uma artista local resolveu fazer a doação de um bloco de argila modelada com a cabeça do personagem Maggie Simpson, para completar a imagem enquanto o pároco levantava fundos para repor a cabeça, afinal aquela não fora a primeira vez que a dita cabeça fora roubada. Consolem-se, brasileiros, espíritos-de-porco existem em toda parte.

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O resultado foi tão pavoroso, que assustou até os ladrões, que pouco depois devolveram a cabeça original, para alegria do padre, e do ecônomo da paróquia, que assim economizou de seis a dez mil dólares canadenses numa restauração profissional...  

domingo, 24 de junho de 2018

DIÁLOGOS COM SCHUMPETER – 3
(Baseado na História da análise econômica de Joseph A. Schumpeter)

Eduardo Simões

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O problema da ideologia

__ A discussão sobre esse tema, ideologia, nos remete necessariamente a um outro mais geral: é possível algum “conhecimento científico”, com um mínimo de “objetividade”, que nos permita conceder-lhe tal qualificação? Faz sentido, por exemplo, proclamar a economia uma ciência, com um mínimo de consistência e validade em suas afirmações, se, ao “frigir dos ovos”, ela apenas expressa os interesses difusos e o desejo de mando de uma classe social? Schumpeter acredita que sim, embora reconheça também a presença de imposições ideologias na produção do conhecimento, seja em que esfera for, mas principalmente na economia e nas ciências afins, como as “humanas”. Esse tema é muito cativante e fundamental para aquilo que se propõe esse nosso projeto, explorar, aprendendo, a essência do pensamento de Schumpeter, nessa que é a ciência de minha predileção, a história, na abordagem que mais me interessa: a economia.

http://www.livrosepessoas.com/wp-content/uploads/2016/01/Marx_engels_edit.jpg

Nem tão claro nem tão “científico”

__ Schumpeter começa esse capítulo fazendo breve menção sobre a origem do conceito de ideologia e o seu desapreço logo a seguir por um general magoado e opinioso (1). Quem deu início ao significado moderno desse conceito foi justamente o exuberante filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), invertendo a direção do movimento hegeliano, pois enquanto para Hegel a mente criava o mundo, para o seu revolucionário descendente era o mundo que fabricava a mente.
__ Segundo Bottomore (2013) o conceito de “ideologia” ganhou proeminência a partir dos embates de Marx contra a religião e a sobrevalorização da consciência individual, então em curso na Alemanha, sob influencia de filósofos idealistas do século XIX, e teve pelo menos quatro versões ao longo da evolução do pensamento do filósofo, a saber:
Primeira, seguindo o corolário de seu mentor na ocasião, Ludwig Feuerbach (1804-1872), a ideologia seria uma inversão pura e simples da realidade, como quando se atribui à religião e a Deus atributos e poderes que os homens gostariam de ter, e que muitas vezes os têm, mas cuja consciência desse(s) atributo(s) lhes é negada pelas precárias condições materiais impostas pela sociedade. A solução dos problemas deste mundo seria transferida para o mundo do além “a inversão religiosa compensa, no espírito, uma realidade deficiente, reconstitui na imaginação uma solução coerente que está além do mundo real, para compensar as contradições desse mundo real” (Bottomore; 2013).
Segunda, após rompimento com Feuerbach, de 1845 até 1857, quando Marx tende mais a esvaziar o poder transformador das palavras e do espírito, conforme a tradição hegeliana, e reforçar a necessidade de focar mais na transformação da realidade: “Marx afirma, pelo contrário, que os verdadeiros problemas da humanidade não são as ideias errôneas mas as contradições sociais reais... [das quais essas ideias errôneas, as ideologias, seriam o fruto e] de seu limitado modo material de atividade, que os tornam incapazes de resolver suas contradições sociais e tendem a projetá-las nas formas ideológicas da consciência... que ocultam ou disfarçam a existência e o caráter dessas contradições. Ao ocultá-las [as contradições sociais], a distorção ideológica contribui para a sua reprodução” (idem). Marx nesse sentido é categórico: “as distorções ideológicas não podem ser combatidas pela crítica, antes só desaparecerão quando as contradições que lhes deram origem forem resolvidas na prática” (idem).
Terceira, ela aparece como um mascaramento de uma realidade injusta, ela seria uma inversão da realidade, exatamente porque esta está invertida, reforçando de que esse mascaramento da realidade é mais presente dentro de uma ordem capitalista: “essa esfera de “formas fenomenais [ou seja, aquilo que aparece aos sentidos] é constituída pelo funcionamento do mercado e da concorrência nas sociedades capitalistas, e é uma manifestação invertida da esfera de produção [que por origem e natureza deveria ser “cooperativa”]... a ideologia oculta o caráter contraditório do padrão essencial oculto [a exploração do homem pelo homem], concentrando o foco na maneira pela qual as relações econômicas aparecem superficialmente [livre iniciativa, prosperidade, liberdade de escolha, etc. e ocultação da pobreza, das injustiças, etc.] (idem). A ideologia seria, portanto, por estas palavras, uma consequência direta das distorções geradas pela natureza desumana do sistema de produção capitalista, deixando no ar a possibilidade de haver, e ser conhecida pelo homem, uma outra realidade, a verdadeira, que superaria, no plano material e mental, as inversões do capitalismo.
Quarta, como podemos ver acima, o conceito de ideologia sempre apareceu em Marx e Engels com uma conotação negativa, como uma distorção da realidade criada para sustentar os interesses de uma classe minoritária, para embasar e até ampliar mecanismos de dominação sobre vastas maiorias, levantando uma questão chave: até que ponto esse processo era consciente? Até que ponto os membros das classes dominantes ao longo dos séculos (senhores de escravos, senhores feudais, burgueses, etc.) tinham consciência de que o que faziam com seus empregados era errado, e que melhor e mais justo seria dividir as riquezas e o poder com estes, colocando o próprio conceito de história em cheque?
__ Depois da morte de Marx teve início uma revisão do conceito entre os marxistas, agora apresentado como um desdobramento intelectual, inevitável e histórico, na superestrutura, das mudanças ocorridas na infraestrutura (relações com a natureza, com a sociedade e as atividades produtivas), e nesse sentido seria correto dizer que o movimento operário, após a tomada do poder, fabricaria ele próprio a sua ideologia, que assim perde o caráter negativo dos escritos de Marx e Engels, adquirindo um significado politicamente mais neutro, de onde se levantou a questão: o marxismo, seria ele próprio uma ideologia? (2) Sem falar de uma questão igualmente crucial: percebe-se, nos escritos de Marx, uma forte tendência de isolar a sua cosmovisão ou a sua explicação sobre a dinâmica histórico-social (sua ideologia?), das outras, como a ‘burguesa’, sempre apresentada de uma forma negativa, como “falsa consciência” ou “mascaramento da realidade”, sem falar de outras tendências dentro do próprio movimento operário ou anticapitalista, apresentado como ‘utópico’, usando, para difenciar o seu socialismo dos outros, o termo “científico”, como se este conceito lhe acrescentasse uma qualidade superior tanto em relação à “ideologia burguesa”, como ao “socialismo utópico”. Mas onde ficaria o conhecimento científico e o próprio conceito de ciência nisso tudo, pois se a ciência faz parte da superestrutura então está sujeito aos condicionamentos históricos de classe? Se é o caso, então este termo, “científico” não serve de garantia para nada nem qualifica o que quer que seja, inclusive o socialismo de Marx! Mas se o conhecimento científico independe da superestrutura e do devir histórico, podendo apresentar um conhecimento imparcial, isento de interesses de classe, como acontece com a ideologia, ficam sem sentido expressões como ‘ciência burguesa’ e ‘ciência revolucionária’, tão a gosto de “neoconversos” ou velhos “emperrados”. Mas afinal onde se coloca, dentro do pensamento marxista, o chamado “conhecimento científico”?
__ A escola marxista nunca conseguiu responder a isso de forma satisfatória, por isso vamos seguir adiante (3).

Notas
1  - segundo Mora (1964),  a origem do termo deve-se ao filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), e significaria a “análise das faculdades e dos diversos tipos de “ideias” produzidos por elas [as faculdades mentais]...” (p 906). Seu objeto seria, portanto, “os conhecimentos”, já indicando que o seu berço estava na confusão, mas que mesmo assim atraiu muitos intelectuais em busca de novidade, desculpe-me o pleonasmo, como P,-L Roederer, Joseph Lakanal, J,-F de Saint Lambert, Cabanis, Benjamin Constant, de Gérando, etc., que formavam uma quase “escola” e ficaram conhecidos como “ideólogos”, fortemente enquadrados pela ironia ressentida de Napoleão Bonaparte, inconformado com a rapidez com que os ideólogos ‘viraram a casaca’ a seu respeito – quem não gostava de Napoleão, na ótica de Napoleão, só podia estar iludido, vivendo em um mundo de fantasias. Segundo ainda Mora, vários filósofos continuaram usando o sentido aproximado do termo, inclusive Hegel, com um matiz puramente intelectual, vinculado às ações da mente ou do espírito, cujas nuances e percalços seriam aclarados apenas na esfera da racionalidade.
2 – Em Bottomore (2013) atribui-se essa evolução à edição muito tardia do livro de Marx e Engels Ideologia alemã, feita só em 1920, deixando espaço aberto para uma maior influência do significado mais flexível presente no Anti-Dühring, de Engels, de 1859; seja como for, o “mal” já estava feito, e os pensadores marxistas, fazendo bom uso da liberdade “burguesa”, aproveitaram para aprimorar o significado do conceito e aplicá-lo onde antes era inimaginável, no próprio marxismo, como o fez o social-democrata Edward Bernstein (1850-1932), que lembrou-se que, “embora as ideias proletárias tenham uma direção realista, uma vez que se referem aos fatores materiais da evolução das sociedades, elas ainda assim são reflexos do pensamento” (idem), logo são ideologia como outra qualquer. O revolucionário russo Vladimir Lenin (1870-1924) aparentemente encerrou essa questão, em nível do socialismo oficial, pois para ele “a ideologia é a consciência política ligada aos interesses de cada classe... inclusive da classe proletária” (idem), sem com isso querer dizer que a ideologia burguesa equiparava-se à proletária e não seja falsa – na melhor das hipóteses, como diria o marxista húngaro Gyorgy Lukács (1885-1971), a ideologia burguesa seria “estruturalmente limitada”, por não adotar uma abordagem materialista da realidade e as “descobertas” do materialismo histórico, além de seu caráter reificador (transforma tudo em coisa, em coisa, em mercadoria, inclusive as pessoas). Foi o pensador marxista Antonio Gramsci (1891-1937), morto prematuramente pelo regime fascista, que fez um dos aporte mais interessantes (Bottomore, p 296) – aparentemente desconhecidos por Schumpeter, que não lhe cita em HAE – distinguindo as “ideologias arbitrárias”, equiparadas mais ou menos ao senso comum, e as “ideologias orgânicas”, vinculadas aos interesses de classe; para ele a ideologia é uma “concepção de mundo, manifesta na arte, no direito na atividade econômica e em todas as manifestações da vida social e coletiva”, e, para ele o marxismo também era uma ideologia. Eis o que nos informa um precioso artigo de Leandro Konder (1936-2014), citando passagens dos célebres Cadernos do cárcere, postado no site acessa.com: “A própria "filosofia da práxis" (o marxismo) não pode se pretender imune às vicissitudes da ideologia. Na medida em que está comprometido com um projeto e uma ação de crescente mobilização das classes populares - cuja consciência se move no plano do "senso comum" - compreende-se que o marxismo tenha acabado por se mostrar um tanto impregnado pelos critérios (frequentemente preconceituosos ou supersticiosos) determinados pela percepção das massas”. O pensador italiano constatava: "a filosofia da práxis se tornou, ela também, ´preconceito` e ´superstição`" (GRAMSCI, 1977, p. 1.861)”. Gramsci, convém ressalvar, não se assustava com essa constatação. Ele estava convencido de que nenhuma força inovadora consegue atuar com eficácia imediata e preservar sua coesão com completa coerência. De fato, a força inovadora "é sempre racionalidade e irracionalidade, arbítrio e necessidade. É ´vida`, quer dizer, tem todas as fraquezas e forças da vida, tem todas as suas contradições e suas antíteses" (GRAMSCI, 1977, p. 1.326).
Entre os marxistas, quem melhor colocou essa questão, a meu ver, mas com a insuficiência de sempre, foi a militante chilena Marta Harnecker (1937- ), em seu livro Los conceptos elementales del materialismo histórico, que assim define ideologia: “A ideologia congrega as pessoas e as justifica em seus papeis, em suas funções e suas relações sociais. A ideologia impregna todas as atividades do homem... Está presente em suas atitudes frente às obrigações de produção [o trabalho]... Está presente nas atitudes e nas escolhas políticas, no cinismo, na honestidade, na resignação e na rebelião. Governa os comportamentos familiares dos indivíduos e suas relações com outros homens... Está presente em suas conclusões acerca do sentido da vida” (p 76, traduzido do castelhano). Num determinado momento ela reconhece que a ideologia é um fenômeno geral (ou seria melhor dizer ‘universal’?) que dificulta (ou inviabiliza?) o conhecimento científico, por inviabilizar à percepção “pura” do objeto. “Quando se pensa estar frente a uma percepção pura e isenta da realidade ou de uma prática pura, o que ocorre, na verdade, é que se está de frente a uma percepção ou a uma prática “impura”, marcada pelas estruturas visíveis da ideologia. Como o vulgo não se apercebe de sua ação [da ideologia], ele tende a tomar a percepção das coisas e do mundo por percepções das “coisas mesmas”, sem dar-se conta que esta percepção não se dá senão sob a ação deformadora da ideologia” (p 77) e logo em seguida, na p 81, ela tem aquela que é a grande sacada desse capítulo: “[A percepção da realidade, pela classe dominante ou burguesa, é] deformada e falseada. Esta deformação da realidade não provém, portanto, essencialmente de um interesse de enganar da classe dominante, mas antes do caráter objetivo [isento de percepção?!] do sistema econômico como tal (ou seja a diferença entre o lucro e a mais-valia [?])... a deformação da realidade, pelo conhecimento ideológico, não se explica por uma “má consciência” ou “vontade de enganar” das classes dominantes, senão pela necessária opacidade das realidades sociais, que são estruturas complexas às quais só se pode compreender por meio da análise científica delas” A questão de uma análise e mesmo de um método, como por vezes ressalta Harnecker em outras partes do livro, criados a revelia da percepção, sempre enganadora, é bizarra, mas deixemos para comendar isso na próxima nota para não saturar esta; então sarturemos aquela...
3 – A confureba geral! Partindo do núcleo Marx-Engels, podemos deduzir que o axioma básico ou o imperativo categórico fundamental, é que só Marx conseguiu perceber “cientificamente” a dinâmica da evolução das sociedades humanas, enquanto os “outros” se deixaram levar pelas ideologias ou pela “fantasia”. É claro que isso coloca questões do tipo: como Marx conseguiu ficar imune à ideologia de sua época ou ela não é tão onipresente como afirmam Marx e os teóricos marxistas? Mesmo que ele tnha conseguido furar o bloqueio da ideologia, como pode assegurar que alcançou a objetividade máxima possível a respeito de um fenômeno tão geral e complexo, como o é a evolução das sociedades humanas? Se o que Marx desenvolveu foi apenas um método de pesquisas em ciências sociais, este sim verdadeiramente “científico”, como quer, por exemplo, Marta Harnecker, como explicar o apego religioso dos marxistas a respeito das premissas do materialismo histórico, muitas delas não tão evidentes quanto pretendiam seus fundadores? Vamos avançando aos poucos, para podermos responder com mais precisão à possibilidade ou não de haver um conhecimento minimamente científico, e qual é o status da ciência frente a ideologia, na seara marxista.
Tomando como ponto de partida um pensador mais “primitivo”, mais fiel às premissas originais, como o filósofo marxista francês Georges Politzer (1903-1942) da corrente dita “stalinista”, em seu livro Princípios elementares de filosofia (escrito entre 1935-36), que assume fortemente o conceito de ideologia como uma “falsa consciência”, a ponto de tornar até mesmo um operário, que a absorva, num inimigo de classe – “porque raciocinou mal e escolheu mal a sua ideologia, esse operário pode tornar-se, para nós, um inimigo de classe, ainda que, no entanto, seja da nossa classe” (p 98) (a questão então é: Como saber objetiva ou cientificamente a escolha certa a fazer?) – embora também reconheça o marxismo como uma ideologia: “ O marxismo é uma ideologia que forma um todo e oferece um método de resolução de todos os problemas” (p 96). Essa última declaração não é muito “científica”. O caráter totalizante da ideologia fica presente neste trecho: “[O que é] forma ideológica? Designa-se assim um conjunto de ideias particulares que formam uma ideologia num domínio especializado. A religião, a moral são formas da ideologia, do mesmo modo que a ciência, a filosofia, a literatura, a arte, a poesia”. Curioso é que para chegar a esse ponto Politzer tenha passado batido por uma mina de ouro: o caráter mobilizador da ideologia, que ele chama de “fator ideológico”, e que seria o seguinte: “é uma causa ou uma força que age, que é capaz de influenciar, e é por isso que se fala da ação do ‘fator ideológico’”. Guardem bem isso para as nossas conclusões posteriores... É claro que a argumentação de Politzer é forçada e teria, mais cedo ou mais tarde, que cair em contradição, assim, no final de seu capítulo sobre ideologia ele diz: “graças à Universidade Operária de Paris, vários milhares de homens aprenderam o que é o materialismo dialético... e a nossa luta contra a burguesia mostrando de que lado está a ciência”. Qual ciência, a do operariado ou a da burguesia, afinal ambas não são ideologia e, portanto, parciais em suas conclusões?
Bottomore (2013), no interessante verbete “ciência”, reconhece a tensão permanente entre a dialética, que constituiria a base histórica do pensamento marxista, com o materialismo, que seria o fundamento de cientificidade do mesmo, pois ao realçar a primeira relativizaria o conceito de ciência, tão caro ao marxismo, e ao realçar o segundo, esvaziaria a reflexão histórica, tão importante na mobilização das massas e na apresentação do próprio marxismo, e embora Marx enfatize a unidade entre esses dois elementos de análise, não raro observou-se, não sem a participação do próprio Marx, “um triunfalismo tecnológico de tipo prometeico, disfarçado em uma concepção evolucionista ou mecanicista-voluntarista da história, e um realismo contemplativo ou vulgar, no qual o pensamento era visto como um reflexo ou cópia da realidade” (p 101), dando como subproduto duas vertentes “antitéticas”,: “as correntes dialéticas... e as correntes materialistas” (idem) que evoluem de forma diferenciada, com a primeira se afastando razoavelmente das expectativas originais do marxismo, pois nesta “a ênfase passa... da ciência como fonte de mistificação para a ciência como agente de dominação, para a ciência hermeneuticamente inadequada ao mundo humano [a hermenêutica diz respeito à explicação do sentido]... a ciência, ao decompor a totalidade em  fatos fragmentados (atomizados), é essencialmente uma expressão da REIFICAÇÃO endêmica da sociedade capitalista; e o MATERIALISMO HISTÓRICO contrapõe-se à ciência ao caracterizar-se por um método totalizador que lhe é próprio” (p 102). Isso coloca, aparentemente o materialismo histórico fora do âmbito da ciência e até oposto a ela, o que redundaria na negação do grande diferencial que Marx propunha à sua teoria: o fato de ela ser “científica”. Entre os que defenderiam essa posição são citados: Lukács, Gramsci, Horkheimer, Adorno, Habermas, Marcuse, Lefevbre, Sartre, etc., enquanto a outra corrente, a materialista, representada principalmente pelo filósofo francês Louis Althusser (1918-1970), procura ressaltar “a autonomia específica do marxismo como ciência e de sua autonomia relativa como uma prática, dentro do campo das ciências e da totalidade social”. Uma ciência a parte! Como casariam nesse contexto as práticas ideológicas com as científicos-naturais? A ideologia dirigiria ou condicionaria até as últimas consequências as descobertas no âmbito da natureza, impondo a aceitação de descobertas e teorias elaboradas alhures, no âmbito das sociedades burguesas, apenas quando se enquadrassem no figurino “marxista”? Diz ainda Bottomore: “Na tradição da Escola de Frankfurt , a ciência é associada a uma razão ou interesse instrumental, que são entendidos, pelo menos na esfera social, como uma agência mais ou menos diretamente repressiva; à razão instrumental contrapõe-se a razão ou o interesse emancipatório, estimulante da vida, ou desrepressor”. A ciência, suporte conveniente do marxismo nascente, não passa agora de um instrumento de repressão, a serviço de grupos ou classes dominantes.

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Gramsci (acima) também refletiu sobre o tema, mas não foi mais feliz. Partindo da diferenciação entre “ideologias arbitrárias”, ligadas ao senso comum, e as “ideologias orgânicas”, ele defende, em um artigo de Leandro Konder transcrito em www.acessa.com, que “as ideologias "historicamente orgânicas", constituem o campo no qual se realizam os avanços da ciência, as conquistas da "objetividade", quer dizer, as vitórias da representação "daquela realidade que é reconhecida por todos os homens, que é independente de qualquer ponto de vista meramente particular ou de grupo” (idem); podemos deduzir daí a defesa do caráter puramente descritivo, “representativo”, da ciência, da mesma forma como a via Sir Isaac Newton. Ele tenta explicar melhor a sua compreensão sobre o assunto da seguinte maneira: “a ciência é um conhecimento que se expande, que se aprofunda e se revê, se corrige, continuamente [nesse sentido é muito diferente dos outros conceitos de ideologia]. Ela também é histórica, não pode pretender situar-se acima da história, não pode pretender escapar às marcas que o fluxo da história, a cada momento, imprime nas suas construções. Por isso, não é razoável tentar promover uma contraposição rígida entre ciência e ideologia. "Na realidade", escreveu Gramsci, "a ciência também é uma supra-estrutura, uma ideologia” (idem). Então ela não pode ser critério de nada, não pode afirmar nada conclusivamente e deve ser combatida da mesma forma que uma falsa ideologia?
Eis abaixo uma coletânea das afirmações de Gramsci sobre esse tema, retiradas de seu livro Concepção dialética da história (1978).
Após comentar a insuficiência epistemológica do senso comum ele alerta: “mas tudo isso que a ciência afirma é “objetivamente” verdadeiro? De modo definitivo? Se as verdades científicas fossem definitivas a ciência teria deixado de existir como tal, como investigação... reduzindo-se a atividade científica à repetição do que já foi descoberto... a ciência é uma categoria histórica, um movimento em contínua evolução. Apenas a ciência não coloca nenhuma forma de “incognoscível” metafísico [Deus, por exemplo], mas reduz tudo o que o homem não conhece a um empírico não-conhecimento, que não exclui a cognoscibilidade, e condiciona o desenvolvimento dos instrumentos físicos ao desenvolvimento da inteligência histórica dos cientistas... o que interessa à ciência não é tanto não é tanto a objetividade do real [ela de fato existe?] quanto o homem que elabora seus métodos de pesquisa, que retifica continuamente os seus instrumentos que reforçam seus órgãos sensoriais e os instrumento lógicos... e discriminação e de verificação, isto é, a cultura, a concepção de mundo, a relação do homem com a realidade com a mediação da tecnologia... sem a atividade do homem, criadora de todos os valores, inclusive os científicos, que seria a objetividade?
Num determinado momento ele questiona a ideia de considerar a ciência como autônoma da ideologia; “fazer da ciência a concepção do mundo por excelência, a que liberta os olhos de qualquer ilusão ideológica, que põe o homem em face à realidade tal como ela é... [ignora que] a ciência é uma superestrutura, uma ideologia [portanto o materialismo histórico não só prescinde dela para explicar a evolução das sociedades, como é posto num mais elevado patamar; mas então qual o mérito, fora o propagandístico, é claro, em dizer que o marxismo é uma “ciência”, acima das outras, que seriam “utópicas” ou “ideológicas”?]. É possível dizer, contudo, que no estudo das superestruturas a ciência ocupa um lugar privilegiado, pelo fato de que a sua reação sobre a estrutura tem um caráter particular... [que] a ciência seja uma superestrutura... é demonstrado também pelo fato de que ela tenha tido períodos inteiros de eclipse, obscurecida por uma ideologia dominante, a religião [ao longo da Idade Média]... Além disso, não obstante todos os esforços dos cientistas, a ciência jamais se apresenta como uma noção objetiva; ela aparece ssempre revestida por uma ideologia e, concretamente, a ciência é a união do fato objetivo com uma hipótese, ou um sistema de hipóteses, que superam o fato objetivo. É verdade que é relativamente fácil, neste caso, distinguir a noção objetiva do sistema de hipóteses, através de um processo de abstrações... [e] esta é a razão pela qual um grupo social pode se apropriar da ciência de um outro grupo, sem aceitar a sua ideologia (a ideologia da evolução vulgar, por exemplo) [não sei se nesse momento Gramsci está se referindo a Charles Darwin ou qualquer outra coisa, outro autor ou mesmo uma compreensão simplificada daquele, se a primeira suposição for verdadeira ele perfilará junto com o ditador Josef Stalin no mais colossal engano já cometido pelos socialistas nesse setor: a aprovação e implementação da pseudociência de um contemporâneo seu:  Trofim Lysenko (1898-1978), o caso mais brutal e mais trágico de charlatanismo na história da ciência, que, com base na negação peremptória do evolucionismo darwiniano, devastou a agricultura soviética, acarretando milhões de mortos]”. Gramsci ataca a crença ingênua nos poderes da ciência, muito comum no final do século XIX e início do XX, comparando a essa atitude com as fantasias de quem tem “fumado nova espécie de ópio” (1978), invertendo simetricamente a perspectiva marxista tradicional de se apresentar como “científico”, enquanto chamava a religião de “ópio do povo”.
Marta Harnecker não faz a teoria evoluir melhor que Gramsci. Após dividir a ideología em duas categorías, as “práticas” e as “teóricas”, diz ela na pg 79: “ estas “ideologías teóricas” podem conter elementos de tipo científico [logo o conhecimento científico é, de alguma maneira, diferente do ideológico], mas pelo fato de que estes elementos estão integrados em uma estrutura de tipo ideológico, só logram dar conhecimentos parciais que se veem deformados ou limitados por sua situação dentro desta estrutura”. Certamente que ela fala das descobertas científicas feitas dentro de uma ordem burguesa; no marxismo seria diferente, desde que o marxismo não seja uma ideologia como outra qualquer? “Para que a ideología obreira espontânea chegue a transformar-se a ponto de ser liberada da ideologia burguesa, é necessário que receba, do exterior, o socorro da ciência e que se transforme, sob a influência deste novo elemento, radicalmente distinto da ideologia, em uma ideologia en que predominam os elementos científicos”. Observando: a necessidade da ajuda da ciência à ideologia operária, defendida por Harnecker, é terminantemente negada por Gramsci, e vemos nesse trecho que o conhecimento científico é não só diferente, mas qualitativamente superior à ideologia comum, inclusive aquela oriunda da classe operária. A coisa fica cada vez mais confusa; o próprio Louis Althusser, citado por Harnecker, também critica Gramsci, dizendo: “Fazer da ciência uma superestrutura é pensá-la como uma dessas ideologias “orgânicas” que estão tão unidas com a estrutura que devem desaparecer com ela” (p 72). Citando Marx, Harnecker diz que “o conhecimento das leis da natureza... o conhecimento das realidades sociais, não podem ser o produto de simples percepção ou vivência das mesmas, mas, ao contrário, produto de uma atividade científica que capta “através da aparência, a natureza intrínseca e o significado íntimo, dessas realidades””; prossegue Harnecker: “Só a teoria marxista foi capaz de romper a opacidade de toda a sociedade e penetrar em sua estrutura mais íntima, à primeira vista invisível, descobrindo o papel fundamental que têm nela as relações de produção. Desde então o proletariado conta com armas teóricas para corrigir a imagen necessariamente falseada que espontaneamente se tem da sociedade marxista, a ideologia tradicional de classe social: a ideologia do proletariado, pode transformar-se, pela primera vez, em uma “ideologia científica”” (p 82). Mas o que se pode apresentar de prova ou de critério universalmente aceito, tipo uma lei científica, que confirme isso? Como o marxismo chegou a adquirir essa “virtude” pela via natural? Caso contrário teremos que admitir uma revelação especial de um demiurgo aos seus fundadores, Marx e Engels, ou aceitar, sem querer entender, que estes, “milagrosamente”, conseguiram se safar dos condicionamentos ideológicos de sua época ao criar a sua teoria social, se é que realmente o conseguiram.

Bibliografia

Abbagnano, Nicola; Dicionário de filosofia; trad. Alfredo Bosi – rev. Ivone C. Benedetti; 4ª edição; Martins Fontes; São Paulo; São Paulo; 2000
Bottomore, Tom; Dicionário do pensamento marxista; trad Waltensir Dutra; Zahar; Rio de Janeiro; 2012 – edição digital de 2013
Diakov, Vladimir; História da Antiguidade – Roma; vol 3; trad João Cunha Andrade; Fulgor; São Paulo; 1965.
Gramsci, Antonio: Concepção dialética da história; trad Carlos Nelson Coutinho; 3ª edição; Civilização Brasileira; Rio de Janeiro; 1978.
Mora, José Ferrater; Diccionario de Filosofia; 5ª edición; Sudamerica; Buenos Aires; 1964.
Politzer, Georges; Principios fundamentais de filosofía; online
Schumpeter, Joseph A; História da análise econômica; trad Alfredo Moutinho Reis – José Luís Miranda – Renato Rocha; Fundo de Cultura; Rio de Janeiro – São Paulo – Lisboa; 1964; 3 vols.
Schumpeter, Joseph A; History of economic analysis – introduction of Mark Perlman; Routledge; 2006; UK (online)


THIS’S (NOT) AMERICA ?

Prof Eduardo Simões

__ Esqueça Benjamin Franklin, Washington, Jefferson, o Federalista, a Declaração de Independência, John Quincy Adams defendendo os africanos do Amistad, a Cabana do Pai Tomás, Lincoln e o discurso de Gettysburg, a luta de Theodore Roosevelt contra o domínio violento e anárquico das grandes empresas de sua época, Wilson e os 14 pontos de Versalhes, a luta contra o nazi-fascismo, fundação da ONU, luta pelos Direitos Civis, os irmãos Kennedy, o tsunami de Prêmios Nobel, etc., pois são tempos de Donald Trump.

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“Eu realmente não me importo, e você?”, escrito ostentatoriamente no agasalho da Primeira-Dama, Melania Trump, em visita aos campos de concentração de crianças latino-americanas.

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“Nem um pouquinho!” Escrito nas costas de Trump

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“A Primeira Dama foi falsa? Melania visita as crianças da fronteira com este agasalho – COLETE A PROVA DE BALAS (e de sentimentos também)”. A Primeira-Dama parte para uma visita a crianças abusadas, traumatizadas, como quem vai para a guerra, parecendo que está mais preocupada com questões políticas internas, acalmar brucutus que votam em seu marido, que com as crianças!

sábado, 9 de junho de 2018


EDUCAÇÃO BRASILEIRA: OS DOIDOS TOMAM CONTA DO ASILO

Prof Eduardo Simões

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__ Recentemente recebi um e-mail vindo do Conselho Nacional de Educação, que é uma “graça”; reproduzo-o abaixo para que você, leitor, possa sentir melhor o drama:

Informamos que a Audiência Pública que seria realizada hoje, dia 08/06/2018, na região sudeste, em São Paulo, foi cancelada, pois grupos de manifestantes impediram que o tema pudesse ser discutido com a devida profundidade

__ A Audiência Pública em questão era simplesmente uma discussão sobre a Base Nacional Curricular Comum, um tema da maior relevância para a educação nacional, que não houve porque ninguém tinha autoridade para estabelecer um critério de civilidade na discussão, como num contrato pedagógico!, e fazer baderneiros, oportunistas se submeterem ou saírem do recinto. A discussão foi impedida NO GRITO! E depois alguns ficam magoados porque estrangeiros tratam a nós, os latino-americanos, de forma desrespeitosa. Bem, deixemos isso de lado e vamos direto às questões mais substantivas, e a primeira é que se uma discussão dessa gravidade é impedida no grito por grupelhos encomendados, então não é séria.
__ A segunda questão é sobre o status da psicologia, da pedagogia e das licenciaturas no meio educacional: são elas ciências, “sérias”, cuja “seriedade” impõe que qualquer um que deseje ser professor deva ter pelo menos um curso superior na sua área de predileção, ou é apenas um apanhado indiferente de opiniões sobre o que é melhor ou pior para as crianças de tal sorte que qualquer um pode exercer a profissão, uma profissão que exige nível superior, mas que paga salários desqualificados.

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__ Se nós consideramos que a educação e as licenciaturas são ciências “sérias”, então fica justificada a cobrança de conhecimentos, concursos e outros requisitos aos professores, assim como o direito de o professor exigir respeito de seus alunos e da comunidade por tudo o que ele já passou e investiu para chegar onde chegou, e pelo que ele sabe, como acontecia em “1969”, no quadro acima, sem falar que ele deve ser, junto com outros especialistas, voz influente e decisiva nas decisões sobre política e práticas educacionais, caso contrário devemos admitir que qualquer um pode ser professor, decidir sobre metas e métodos de educação, e nesse caso é legítima e válida toda desordem acontecida em São Paulo, e se o professor tiver juízo e compostura evitará as próximas reuniões desse circo de horrores. O quadro de 2009 fica então justificado ou antes inevitável... 
__ A terceira questão é se o principal alvo da educação, a criança, importa, se ela deve ser classificada como “gente”. Se a resposta for sim então e necessário conhecer bem as pesquisas a respeito, feitas por grandes institutos e cientistas avulsos, desde os clássicos, como Jean Piaget, até os mais modernos, para saber como lidar com esses seres humanos em formação, com características tão próprias quanto ignoradas, no Brasil, para nossa desgraça; e nesse sentido seria fundamental reforçar o conhecimento de psicologia da aprendizagem entre os professores, a leitura obrigatória e a discussão de artigos de revistas técnicas, muito além da Nova Escola, talvez até em língua estrangeira, trazendo as novas descobertas para dentro das salas de aula. Isso seria bom motivo para exigir o respeito da sociedade e melhores salários, não acha, colega professor?
__ A quarta questão, a mais grave, foi um reducionismo de esquerda que se infiltrou entre os professores, a partir dos anos 80, que passou a tratar tudo o que acontecia na educação como se fora apenas uma questão política, reduzida à dicotomia maniqueísta “reacionário” versus “revolucionário”, “burguesia” versus “operariado”, afunilando na direção de um só viés político; a esquerda marxista. Para que aprender sobre psicologia da aprendizagem ou da infância, uma vez que os principais nomes dessas áreas eram “burgueses”, homens cujo conhecimento estava infalivelmente contaminado pelo ambiente social em que viviam (Europa Ocidental ou América do Norte), que não tiveram o privilégio de ter nascer na EX-União Soviética ou inúmeras das EX repúblicas socialistas, todas desaparecidas? Que prejuízo! E por isso, sempre que se citava algo nessa direção um “sábio” esquerdista, corrigia dizendo: “isso é pedagogismo”, um reducionismo, e disso eles entendem muito, pois são mestres em nessa armadilha desde 1848 – puxa vida!, acusar um professor de “pedagogismo” seria o mesmo que acusar um médico de ser muito “curativo” ou um engenheiro de ser muito “construtivo”, etc. Cobravam a libertação da alienação política dos professores alienando-os de sua ciência, do conhecimento que lhes dava razão para existirem. Espremidos entres os horrores de uma ditadura que finava indigna e a loucura do esquerdismo que estava por vir, não restava de fato muita saída aos professores...
__ Degradada e desmoralizada à direita e à esquerda – os primeiros a odeiam pelo novo que podemos trazer, enquanto a segunda só lhe interessa como massa de manobras para seu projeto de poder – a classe dos professores definhou e se deteriorou, e hoje não “apitamos” praticamente nada nem temos nada acrescentar aos discursos inflamados em favor de todo tipo de bizarria, limitando-nos a aplicar projetos inviáveis remetidos pelas secretarias de educação, enquanto somos calados, seja por fanáticos de direita, que nos querem impor uma Escola Sem Partido, seja pelos de esquerda, aos gritos, essa gente que não consegue ver a realidade senão com seus antolhos ideológicos, e querem nos impor um...

https://blogs.ancientfaith.com/glory2godforallthings/wp-content/uploads/sites/15/2017/07/sharkselfie.jpg
A maior vítima disso tudo, creio, não são os professores, mas antes os alunos, que tiveram a desdita de sere adolescentes ou jovens numa época tão decadente de nosso país...

__ Resumo da opereta educacional brasileira: depois de exilar, matar, isolar e esquecer os maiores mestres da educação que já pisaram em solo nacional, após o golpe de 64, o nosso projeto educacional perdeu completamente o rumo, e estamos sem saber o que fazer de nossa educação, justo quando ela é mais necessária. É uma aberração querer fazer uma reforma educacional por meio de consultas públicas, sem ter estabelecido clara e fortemente, no seio do povo, o um modelo educacional e uma psicologia da aprendizagem consistente. A educação virou uma panela de feijão onde todos metem a colher, onde cada um joga o tempero que mais lhe agrada, pensando apenas no seu próprio paladar, enquanto a educação pra valer é uma coisa séria e complexa, que precisa ser definida pelos especialistas e ensinada ao povo, de maneira científica e organizada, e não na base de assembleias gerais, por aclamação ou elevação do braço, conforme a aclamação ou a vaia das torcidas presentes.
__ A natureza segue as suas leis, independente de nossas vontades ou desejos, e elas são inexoráveis, independente de quem são as vítimas, inclusive nossas crianças. Por que não aprendemos com os finlandeses, os maiores especialistas do mundo em educação, que iniciaram o seu projeto buscando as instituições mais representativas do mundo educacional de seu país, observando os especialistas e os projetos educacionais mais gabaritados no mundo inteiro, buscando autores e experiências consagradas, associando a credibilidade técnica às metas revolucionárias de seu projeto: dar uma educação igual, de qualidade, a todos os finlandeses, independente de classe social, com escolas públicas, integração escola-comunidade, educação voltada para a realidade das crianças, valorizando a socialização e a criatividade, etc.    
__ “Mas a cultura é muito diferente!” Dizem alguns, lançando mão do termo que é a panaceia de todo aquele que não quer pensar muito: “cultura”, mas nem os finlandeses nasceram em outro planeta ou de seres extraterrestres nem seria proibido, antes é aconselhável, fazer as adaptações compatíveis com a nossa realidade, agora, para aqueles que acham que os finlandeses são “burgueses”, o sensato é nem comentar...
__ Fora isso temos que admitir que enquanto alguns povos flertam com a “sabedoria” outros flertam com a “loucura”, os primeiros conduzirão o mundo, enquanto os segundos não conduzem nem a América do Sul!  

O antes e o agora da educação brasileira


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Os gigantes da nossa educação. Acima Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Cecilia Meireles, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes (acima) e Lauro de Oliveira Lima (embaixo). Ressalte-se que ainda falta um gigante da educação desse período: Lourenço Filho.
A meu ver, entre estes Lauro de Oliveira Lima foi o maior, um visionário e um profeta poderoso, um homem com uma visão de futuro e de abrangência impressionante. Utilizando-se de Piaget, ele conseguiu construir e aplicar um método de educação onde muitos itens que hoje são considerados revolucionários no sistema finlandês, já estavam consolidados e aprofundados na escola de sua família desde os anos 1970, um verdadeiro laboratório de educação, ignorado e vilipendiado com costumam ser tudo que foge ao nosso senso comum jurássico. Eu vi essa escola em funcionamento, eu vi...
Era essa gente quem conduzia os debates educacionais no Brasil...

http://vtb.r7.com/399563/2014/10/28/544f758e2bc2433ccb004b7f/ER7_RE_BG_LOUCURA_FILHO_570kbps_2014-10-28e300ad02-d602-4987-857f-778841bfc3f5-thumb.jpg
Hoje é essa...