sábado, 9 de junho de 2018


EDUCAÇÃO BRASILEIRA: OS DOIDOS TOMAM CONTA DO ASILO

Prof Eduardo Simões

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__ Recentemente recebi um e-mail vindo do Conselho Nacional de Educação, que é uma “graça”; reproduzo-o abaixo para que você, leitor, possa sentir melhor o drama:

Informamos que a Audiência Pública que seria realizada hoje, dia 08/06/2018, na região sudeste, em São Paulo, foi cancelada, pois grupos de manifestantes impediram que o tema pudesse ser discutido com a devida profundidade

__ A Audiência Pública em questão era simplesmente uma discussão sobre a Base Nacional Curricular Comum, um tema da maior relevância para a educação nacional, que não houve porque ninguém tinha autoridade para estabelecer um critério de civilidade na discussão, como num contrato pedagógico!, e fazer baderneiros, oportunistas se submeterem ou saírem do recinto. A discussão foi impedida NO GRITO! E depois alguns ficam magoados porque estrangeiros tratam a nós, os latino-americanos, de forma desrespeitosa. Bem, deixemos isso de lado e vamos direto às questões mais substantivas, e a primeira é que se uma discussão dessa gravidade é impedida no grito por grupelhos encomendados, então não é séria.
__ A segunda questão é sobre o status da psicologia, da pedagogia e das licenciaturas no meio educacional: são elas ciências, “sérias”, cuja “seriedade” impõe que qualquer um que deseje ser professor deva ter pelo menos um curso superior na sua área de predileção, ou é apenas um apanhado indiferente de opiniões sobre o que é melhor ou pior para as crianças de tal sorte que qualquer um pode exercer a profissão, uma profissão que exige nível superior, mas que paga salários desqualificados.

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__ Se nós consideramos que a educação e as licenciaturas são ciências “sérias”, então fica justificada a cobrança de conhecimentos, concursos e outros requisitos aos professores, assim como o direito de o professor exigir respeito de seus alunos e da comunidade por tudo o que ele já passou e investiu para chegar onde chegou, e pelo que ele sabe, como acontecia em “1969”, no quadro acima, sem falar que ele deve ser, junto com outros especialistas, voz influente e decisiva nas decisões sobre política e práticas educacionais, caso contrário devemos admitir que qualquer um pode ser professor, decidir sobre metas e métodos de educação, e nesse caso é legítima e válida toda desordem acontecida em São Paulo, e se o professor tiver juízo e compostura evitará as próximas reuniões desse circo de horrores. O quadro de 2009 fica então justificado ou antes inevitável... 
__ A terceira questão é se o principal alvo da educação, a criança, importa, se ela deve ser classificada como “gente”. Se a resposta for sim então e necessário conhecer bem as pesquisas a respeito, feitas por grandes institutos e cientistas avulsos, desde os clássicos, como Jean Piaget, até os mais modernos, para saber como lidar com esses seres humanos em formação, com características tão próprias quanto ignoradas, no Brasil, para nossa desgraça; e nesse sentido seria fundamental reforçar o conhecimento de psicologia da aprendizagem entre os professores, a leitura obrigatória e a discussão de artigos de revistas técnicas, muito além da Nova Escola, talvez até em língua estrangeira, trazendo as novas descobertas para dentro das salas de aula. Isso seria bom motivo para exigir o respeito da sociedade e melhores salários, não acha, colega professor?
__ A quarta questão, a mais grave, foi um reducionismo de esquerda que se infiltrou entre os professores, a partir dos anos 80, que passou a tratar tudo o que acontecia na educação como se fora apenas uma questão política, reduzida à dicotomia maniqueísta “reacionário” versus “revolucionário”, “burguesia” versus “operariado”, afunilando na direção de um só viés político; a esquerda marxista. Para que aprender sobre psicologia da aprendizagem ou da infância, uma vez que os principais nomes dessas áreas eram “burgueses”, homens cujo conhecimento estava infalivelmente contaminado pelo ambiente social em que viviam (Europa Ocidental ou América do Norte), que não tiveram o privilégio de ter nascer na EX-União Soviética ou inúmeras das EX repúblicas socialistas, todas desaparecidas? Que prejuízo! E por isso, sempre que se citava algo nessa direção um “sábio” esquerdista, corrigia dizendo: “isso é pedagogismo”, um reducionismo, e disso eles entendem muito, pois são mestres em nessa armadilha desde 1848 – puxa vida!, acusar um professor de “pedagogismo” seria o mesmo que acusar um médico de ser muito “curativo” ou um engenheiro de ser muito “construtivo”, etc. Cobravam a libertação da alienação política dos professores alienando-os de sua ciência, do conhecimento que lhes dava razão para existirem. Espremidos entres os horrores de uma ditadura que finava indigna e a loucura do esquerdismo que estava por vir, não restava de fato muita saída aos professores...
__ Degradada e desmoralizada à direita e à esquerda – os primeiros a odeiam pelo novo que podemos trazer, enquanto a segunda só lhe interessa como massa de manobras para seu projeto de poder – a classe dos professores definhou e se deteriorou, e hoje não “apitamos” praticamente nada nem temos nada acrescentar aos discursos inflamados em favor de todo tipo de bizarria, limitando-nos a aplicar projetos inviáveis remetidos pelas secretarias de educação, enquanto somos calados, seja por fanáticos de direita, que nos querem impor uma Escola Sem Partido, seja pelos de esquerda, aos gritos, essa gente que não consegue ver a realidade senão com seus antolhos ideológicos, e querem nos impor um...

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A maior vítima disso tudo, creio, não são os professores, mas antes os alunos, que tiveram a desdita de sere adolescentes ou jovens numa época tão decadente de nosso país...

__ Resumo da opereta educacional brasileira: depois de exilar, matar, isolar e esquecer os maiores mestres da educação que já pisaram em solo nacional, após o golpe de 64, o nosso projeto educacional perdeu completamente o rumo, e estamos sem saber o que fazer de nossa educação, justo quando ela é mais necessária. É uma aberração querer fazer uma reforma educacional por meio de consultas públicas, sem ter estabelecido clara e fortemente, no seio do povo, o um modelo educacional e uma psicologia da aprendizagem consistente. A educação virou uma panela de feijão onde todos metem a colher, onde cada um joga o tempero que mais lhe agrada, pensando apenas no seu próprio paladar, enquanto a educação pra valer é uma coisa séria e complexa, que precisa ser definida pelos especialistas e ensinada ao povo, de maneira científica e organizada, e não na base de assembleias gerais, por aclamação ou elevação do braço, conforme a aclamação ou a vaia das torcidas presentes.
__ A natureza segue as suas leis, independente de nossas vontades ou desejos, e elas são inexoráveis, independente de quem são as vítimas, inclusive nossas crianças. Por que não aprendemos com os finlandeses, os maiores especialistas do mundo em educação, que iniciaram o seu projeto buscando as instituições mais representativas do mundo educacional de seu país, observando os especialistas e os projetos educacionais mais gabaritados no mundo inteiro, buscando autores e experiências consagradas, associando a credibilidade técnica às metas revolucionárias de seu projeto: dar uma educação igual, de qualidade, a todos os finlandeses, independente de classe social, com escolas públicas, integração escola-comunidade, educação voltada para a realidade das crianças, valorizando a socialização e a criatividade, etc.    
__ “Mas a cultura é muito diferente!” Dizem alguns, lançando mão do termo que é a panaceia de todo aquele que não quer pensar muito: “cultura”, mas nem os finlandeses nasceram em outro planeta ou de seres extraterrestres nem seria proibido, antes é aconselhável, fazer as adaptações compatíveis com a nossa realidade, agora, para aqueles que acham que os finlandeses são “burgueses”, o sensato é nem comentar...
__ Fora isso temos que admitir que enquanto alguns povos flertam com a “sabedoria” outros flertam com a “loucura”, os primeiros conduzirão o mundo, enquanto os segundos não conduzem nem a América do Sul!  

O antes e o agora da educação brasileira


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Os gigantes da nossa educação. Acima Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Cecilia Meireles, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes (acima) e Lauro de Oliveira Lima (embaixo). Ressalte-se que ainda falta um gigante da educação desse período: Lourenço Filho.
A meu ver, entre estes Lauro de Oliveira Lima foi o maior, um visionário e um profeta poderoso, um homem com uma visão de futuro e de abrangência impressionante. Utilizando-se de Piaget, ele conseguiu construir e aplicar um método de educação onde muitos itens que hoje são considerados revolucionários no sistema finlandês, já estavam consolidados e aprofundados na escola de sua família desde os anos 1970, um verdadeiro laboratório de educação, ignorado e vilipendiado com costumam ser tudo que foge ao nosso senso comum jurássico. Eu vi essa escola em funcionamento, eu vi...
Era essa gente quem conduzia os debates educacionais no Brasil...

http://vtb.r7.com/399563/2014/10/28/544f758e2bc2433ccb004b7f/ER7_RE_BG_LOUCURA_FILHO_570kbps_2014-10-28e300ad02-d602-4987-857f-778841bfc3f5-thumb.jpg
Hoje é essa...

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