EDUCAÇÃO
BRASILEIRA: OS DOIDOS TOMAM CONTA DO ASILO
Prof
Eduardo Simões
http://www.criarmeme.com.br/i/Crazy-Camel-Lol.jpg
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Recentemente recebi um e-mail vindo do Conselho
Nacional de Educação, que é uma “graça”; reproduzo-o abaixo para que você,
leitor, possa sentir melhor o drama:
“Informamos que a Audiência Pública que
seria realizada hoje, dia 08/06/2018, na região sudeste, em São Paulo, foi
cancelada, pois grupos de manifestantes impediram que o tema pudesse ser
discutido com a devida profundidade”
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A Audiência Pública em questão era simplesmente uma discussão sobre a Base Nacional Curricular Comum, um tema
da maior relevância para a educação nacional, que não houve porque ninguém
tinha autoridade para estabelecer um critério de civilidade na discussão, como
num contrato pedagógico!, e fazer baderneiros, oportunistas se submeterem ou
saírem do recinto. A discussão foi impedida NO GRITO! E depois alguns ficam
magoados porque estrangeiros tratam a nós, os latino-americanos, de forma
desrespeitosa. Bem, deixemos isso de lado e vamos direto às questões mais
substantivas, e a primeira é que se uma discussão dessa gravidade é impedida no
grito por grupelhos encomendados, então não é séria.
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A segunda questão é sobre o status da psicologia, da pedagogia e das
licenciaturas no meio educacional: são elas ciências, “sérias”, cuja
“seriedade” impõe que qualquer um que deseje ser professor deva ter pelo menos
um curso superior na sua área de predileção, ou é apenas um apanhado
indiferente de opiniões sobre o que é melhor ou pior para as crianças de tal
sorte que qualquer um pode exercer a profissão, uma profissão que exige nível
superior, mas que paga salários desqualificados.
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Se nós consideramos que a educação e as licenciaturas são ciências “sérias”,
então fica justificada a cobrança de conhecimentos, concursos e outros
requisitos aos professores, assim como o direito de o professor exigir respeito
de seus alunos e da comunidade por tudo o que ele já passou e investiu para
chegar onde chegou, e pelo que ele sabe, como acontecia em “1969”, no quadro
acima, sem falar que ele deve ser, junto com outros especialistas, voz influente
e decisiva nas decisões sobre política e práticas educacionais, caso contrário
devemos admitir que qualquer um pode ser professor, decidir sobre metas e
métodos de educação, e nesse caso é legítima e válida toda desordem acontecida
em São Paulo, e se o professor tiver juízo e compostura evitará as próximas
reuniões desse circo de horrores. O quadro de 2009 fica então justificado ou
antes inevitável...
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A terceira questão é se o principal alvo da educação, a criança, importa, se ela
deve ser classificada como “gente”. Se a resposta for sim então e necessário conhecer
bem as pesquisas a respeito, feitas por grandes institutos e cientistas avulsos,
desde os clássicos, como Jean Piaget, até os mais modernos, para saber como
lidar com esses seres humanos em formação, com características tão próprias
quanto ignoradas, no Brasil, para nossa desgraça; e nesse sentido seria
fundamental reforçar o conhecimento de psicologia da aprendizagem entre os
professores, a leitura obrigatória e a discussão de artigos de revistas
técnicas, muito além da Nova Escola, talvez até em língua estrangeira, trazendo
as novas descobertas para dentro das salas de aula. Isso seria bom motivo para
exigir o respeito da sociedade e melhores salários, não acha, colega professor?
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A quarta questão, a mais grave, foi um reducionismo de esquerda que se
infiltrou entre os professores, a partir dos anos 80, que passou a tratar tudo
o que acontecia na educação como se fora apenas uma questão política, reduzida
à dicotomia maniqueísta “reacionário” versus “revolucionário”, “burguesia”
versus “operariado”, afunilando na direção de um só viés político; a esquerda
marxista. Para que aprender sobre psicologia da aprendizagem ou da infância,
uma vez que os principais nomes dessas áreas eram “burgueses”, homens cujo
conhecimento estava infalivelmente contaminado pelo ambiente social em que
viviam (Europa Ocidental ou América do Norte), que não tiveram o privilégio de
ter nascer na EX-União Soviética ou inúmeras das EX repúblicas socialistas,
todas desaparecidas? Que prejuízo! E por isso, sempre que se citava algo nessa
direção um “sábio” esquerdista, corrigia dizendo: “isso é pedagogismo”, um
reducionismo, e disso eles entendem muito, pois são mestres em nessa armadilha desde
1848 – puxa vida!, acusar um professor de “pedagogismo” seria o mesmo que acusar
um médico de ser muito “curativo” ou um engenheiro de ser muito “construtivo”,
etc. Cobravam a libertação da alienação política dos professores alienando-os
de sua ciência, do conhecimento que lhes dava razão para existirem. Espremidos
entres os horrores de uma ditadura que finava indigna e a loucura do
esquerdismo que estava por vir, não restava de fato muita saída aos
professores...
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Degradada e desmoralizada à direita e à esquerda – os primeiros a odeiam pelo
novo que podemos trazer, enquanto a segunda só lhe interessa como massa de
manobras para seu projeto de poder – a classe dos professores definhou e se
deteriorou, e hoje não “apitamos” praticamente nada nem temos nada acrescentar
aos discursos inflamados em favor de todo tipo de bizarria, limitando-nos a
aplicar projetos inviáveis remetidos pelas secretarias de educação, enquanto
somos calados, seja por fanáticos de direita, que nos querem impor uma Escola
Sem Partido, seja pelos de esquerda, aos gritos, essa gente que não consegue
ver a realidade senão com seus antolhos ideológicos, e querem nos impor um...
https://blogs.ancientfaith.com/glory2godforallthings/wp-content/uploads/sites/15/2017/07/sharkselfie.jpg
A
maior vítima disso tudo, creio, não são os professores, mas antes os alunos,
que tiveram a desdita de sere adolescentes ou jovens numa época tão decadente
de nosso país...
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Resumo da opereta educacional brasileira: depois de exilar, matar, isolar e
esquecer os maiores mestres da educação que já pisaram em solo nacional, após o
golpe de 64, o nosso projeto educacional perdeu completamente o rumo, e estamos
sem saber o que fazer de nossa educação, justo quando ela é mais necessária. É
uma aberração querer fazer uma reforma educacional por meio de consultas
públicas, sem ter estabelecido clara e fortemente, no seio do povo, o um modelo
educacional e uma psicologia da aprendizagem consistente. A educação virou uma
panela de feijão onde todos metem a colher, onde cada um joga o tempero que
mais lhe agrada, pensando apenas no seu próprio paladar, enquanto a educação
pra valer é uma coisa séria e complexa, que precisa ser definida pelos
especialistas e ensinada ao povo, de maneira científica e organizada, e não na
base de assembleias gerais, por aclamação ou elevação do braço, conforme a
aclamação ou a vaia das torcidas presentes.
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A natureza segue as suas leis, independente de nossas vontades ou desejos, e
elas são inexoráveis, independente de quem são as vítimas, inclusive nossas
crianças. Por que não aprendemos com os finlandeses, os maiores especialistas
do mundo em educação, que iniciaram o seu projeto buscando as instituições mais
representativas do mundo educacional de seu país, observando os especialistas e
os projetos educacionais mais gabaritados no mundo inteiro, buscando autores e
experiências consagradas, associando a credibilidade técnica às metas
revolucionárias de seu projeto: dar uma educação igual, de qualidade, a todos
os finlandeses, independente de classe social, com escolas públicas, integração
escola-comunidade, educação voltada para a realidade das crianças, valorizando
a socialização e a criatividade, etc.
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“Mas a cultura é muito diferente!” Dizem alguns, lançando mão do termo que é a
panaceia de todo aquele que não quer pensar muito: “cultura”, mas nem os
finlandeses nasceram em outro planeta ou de seres extraterrestres nem seria
proibido, antes é aconselhável, fazer as adaptações compatíveis com a nossa
realidade, agora, para aqueles que acham que os finlandeses são “burgueses”, o sensato
é nem comentar...
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Fora isso temos que admitir que enquanto alguns povos flertam com a “sabedoria”
outros flertam com a “loucura”, os primeiros conduzirão o mundo, enquanto os
segundos não conduzem nem a América do Sul!
O
antes e o agora da educação brasileira
http://fundacaotelefonica.org.br/wp-content/uploads/2016/06/educa%C3%A7%C3%A3o_no_s%C3%A9culo_XXI_educadores736x341.png
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Os
gigantes da nossa educação. Acima Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Cecilia
Meireles, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes (acima) e
Lauro de Oliveira Lima (embaixo). Ressalte-se que ainda falta um gigante da
educação desse período: Lourenço Filho.
A
meu ver, entre estes Lauro de Oliveira Lima foi o maior, um visionário e um
profeta poderoso, um homem com uma visão de futuro e de abrangência
impressionante. Utilizando-se de Piaget, ele conseguiu construir e aplicar um
método de educação onde muitos itens que hoje são considerados revolucionários
no sistema finlandês, já estavam consolidados e aprofundados na escola de sua
família desde os anos 1970, um verdadeiro laboratório de educação, ignorado e vilipendiado
com costumam ser tudo que foge ao nosso senso comum jurássico. Eu vi essa
escola em funcionamento, eu vi...
Era
essa gente quem conduzia os debates educacionais no Brasil...
http://vtb.r7.com/399563/2014/10/28/544f758e2bc2433ccb004b7f/ER7_RE_BG_LOUCURA_FILHO_570kbps_2014-10-28e300ad02-d602-4987-857f-778841bfc3f5-thumb.jpg
Hoje
é essa...
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