domingo, 26 de agosto de 2018


O ETERNO CALVÁRIO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Prof Eduardo Simões

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El pais

__ Professores, não desfaleçam, mas três entre os mais cotados candidatos à presidência se manifestaram a respeito de suas metas de educação, que, com pouca variação, representam também a opinião dos outros candidatos.
__ A começar pela declaração de Geraldo Alckmin, o menos cotado, mas com a proposta mais medíocre, que disse recentemente, num telejornal, que a sua meta educacional, anunciada com uma entonação solene de voz, era elevar em 50 pontos a nota do Brasil em exames do PISA. Só quem não é Alckmin não consegue ver o quanto essa meta é funcional! O quanto as empresas e a própria economia do pais, sem falar da sociedade como um todo, estão a clamar por esse tipo de habilidade! Será que é por isso que milhões de jovens não estarão abandonando as escolas em São Paulo e no Brasil, ao chegarem ao Ensino Médio, afinal são poucas as perspectivas de elas tirarem notas altas no PISA, e, consequentemente, deixarem de ser os seres humanos abandonados e esquecidos que sempre foram? 
__ Bolsonaro, o do disco arranhado, só consegue recitar um verso: “vou implantar a escola-sem-partido, para não haver mais doutrinação nas escolas”. Ou seja, o melhor caminho para acabar com a crise da educação brasileira é agravá-la, cobrindo de ameaças aquele que é a coluna vertebral do sistema: o corpo de professores. De nada adianta, ou nada lhe dizem, as pesquisas insistentes que apontam para o esvaziamento e a degradação acelerada da profissão, embora não possamos negar que existe uma certa lógica nessa política: já que os salários são um lixo, por que então tratar o profissional de forma diferente? Que o professor, portanto, perca uma parte de sua cidadania, o direito de emitir opinião no local de seu trabalho, como consequência de sua escolha infeliz: ser professor nesse país. Bolsonaro e sua trupe não esclarecem, se é que há, para eles, a diferença entre doutrinação, opinião, teoria, hipótese, etc.
__ O senhor Luis XIV Inácio Lula da Silva, “a ideia, sou eu”, anuncia que seu projeto é diferente, e ao invés do “escola-sem-partido” implantará o “escola-do-meu-partido”, pelo menos é isso que se depreende do texto de seu programa de governo: “fortalecimento da gestão democrática, retomando o diálogo com a sociedade na gestão das políticas, bem como na gestão das instituições escolares de todos os níveis”.
__ Em primeiro lugar observe-se a repetição do termo “gestão”, emocional e pedagogicamente neutro, exatamente como faz a administração ultracapitalista de Alckmin e do PSDB em São Paulo. O problema educacional brasileiro é apenas um problema de administração, um problema político, strito sensu, nada tendo que reparar no ponto de vista pedagógico, emocional e de socialização: quem não vê o oásis de paz, produção acadêmica e relações humanas que existe nas escolas brasileiras?
__ Em segundo, que ninguém se iluda: essa “gestão democrática” consiste na interferência direta e abusiva de grupos de pressão, legítimos ou não, fanaticamente fechados com a linha de pensamento do Partido Desse Senhor, sigla mais adequada que PT, a induzir alunos e pressionar professores a só ensinarem o que eles acharem ser relevante, e da forma como eles querem. A educação perderá definitivamente o seu caráter técnico, de especialização, para se tornar uma arena onde os “bons de bico”, os desprovidos de sentimento de responsabilidade e de culpa florescerão e se espalharão como as braquiárias no Vale do Paraíba...
__ Quando estive em Cuba, no início dos anos 90, conheci um professor de química que servia como garçom, no hotel onde me hospedei, e lhe perguntei como era a educação no país, superbadalada pela nossa esquerda. O desalento tomou conta do seu rosto e ele então me falou o seguinte “de que adianta a gente estudar, investir tempo e recursos para fazer um curso superior, prestar concurso, para se tornar um professor, se no final quem vai decidir tudo na escola é uma assembleia de estudantes; os estudantes [controlados pelos órgãos da juventude do Partido Comunista] fazem o que querem, resolvi então fazer curso para garçom e hoje ganho muito melhor servindo às mesas”. Queria eu saber mais detalhes sobre a educação do país, mas ele, já tentando controlar evidentes sinais de excitação e de revolta, cortou a conversa dizendo: “é melhor não falar mais sobre esse assunto, é proibido!”, enquanto passava os olhos ao redor.
__ Eis o que nos aguarda...    

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