INCÊNDIOS, QUADRILHA E CARISMA.
Prof Eduardo Simões
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Tempo em que “impeachment” não era golpe e se apresentar como representante dos mais pobres não gerava contradição. Só
ficou a mania de “circo”, com o povo no seu papel tradicional.
__ Após ouvir uma gravação de Lula que,
numa ameaça explícita, diz ser “único homem capaz de incendiar o Brasil”, após
haver dito, dias antes, que foi “o melhor governante do mundo no início do
século XXI”, desconfio se estamos diante de uma personalidade esquizoide-paranoide,
com acentuada tendência à megalomania ou se tudo não passa de uma consequência
natural, embora não menos perigosa, de nossa histórica tendência a buscar líderes
carismáticos que nos salvem de nós mesmos, evitando comprometimento com alguma causa
real, fora de nossos medos, e nesse sentido eu entendo a manifestação de
diversas pessoas, que participavam de atos pró-governo, relatadas no site da
BBC-Brasil, dizendo que sabem que há corrupção no governo, mas que, em função
das alternativas, “não há alternativa”. Então é melhor deixar tudo como está e
assistir, indiferente, do “trono de um apartamento, com a boca escancarada
cheia de dentes” (Raul Seixas), a maré de corrupção e a quadrilha que se forma
para destruir ou constranger a única instituição republicana que ainda merece
respeito no país: o Poder Judiciário?
__ Também entendo as manifestações antigoverno
e de apoio ao juiz Moro, como um sinal de que muitas mais pessoas estão se
mobilizando no sentido de buscar a nação, despidas de qualquer coloração política
ou interesses nascidos de iniciativas paternalistas, que criam elos de dependência,
do tipo bolsa família, sistema de cotas, etc., que acomodam os cidadãos e
permitem ao político corrupto e autocrata jogar na cara do povo mais pobre: “você
me deve essa”. De fato, convocadas por meios modernos, as redes sociais, e
absolutamente infensas a partidarismo político, essas pessoas antes escorraçam
publicamente os eternos oportunistas de nossa política, as manifestações
antigoverno são o sinal do novo, do futuro, em nossa sociedade. Será que o
Brasil aguenta?
__ O lado oposto continua apegado a velhas
formas de poder carismático, absolutamente indiferentes aos exemplos históricos
de que o fim dos governos carismáticos é sempre o desastre, assim foi com
Hitler, Mussolini, Castro, Hugo Chaves, Peron, Getúlio, que nos arrastou a 64,
etc. porque o líder carismático precisa necessariamente se cercar de nulidades
ou de corruptos, senão dos dois, de forma a que ninguém de seu grupo faça
sombra à sua megalomania doentia, intrínseca – a nossa atual presidenta não me
deixa mentir nem o fato de, após dois mandatos, e já com 72 anos, Lula volta
para “salvar” o Brasil, embora possa se alegar que ele busca mais a sua “salvação”,
não do juiz, mas da lei. As ruas, entretanto, mostram que ainda tem muita gente
que acredita, como as crianças também acreditam em Papai Noel. Quem, ao redor
de Lula, tem condições de minimamente dar um direcionamento ao país, caso esse
ancião desacreditado e isolado de lideranças políticas respeitáveis, morra na
travessia, como aconteceu com a “dileta” Venezuela?
__ Que ninguém tenha dúvida. Não vai ser
fácil nem indolor, mas a sociedade brasileira precisa crescer, evoluir,
tornar-se madura, e não mais precisar de líderes carismáticos, para salvá-la de
suas responsabilidades, ou de seu temor de que as instituições não vão
funcionar, de que grupos que tentarem, no grito, paralisar as instituições,
terão um mínimo de sucesso, da mesma forma que precisam parar de votar
compulsivamente em frios tecnocratas, sem carisma, espécie de figura
decorativas da alta burguesia, num sistema que ninguém sabe onde começa e onde acaba
ou que só tenham olhos para a eficiência do capital, como se este tivesse
vontade e projetos próprios, independente dos grupos sociais que, na surdina, o
manipulam. Além da maturidade emocional, aqui é necessária a educação política.
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