domingo, 30 de julho de 2017

ABIGAIL E NABAL


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__ Abigail é um dos grandes personagens femininos da Bíblia, porém, como é comum a esses personagens, na realidade do Oriente Médio, nada sabemos sob as sua origem nem sobre as circunstâncias de sua vida antes de seu encontro com um importante personagem masculino: Davi. Abigail é o centro do capítulo 25 de 1 Samuel.
__ Tudo começou quando Davi e o seus companheiros, perseguidos pelas forças do rei Saul, foram se abrigar nas imediações do vilarejo de Maon, situado nas montanhas da Judeia, a 13 km ao sul de Hebron. Ao leste da cidade ficava uma estepe onde pastores costumavam levar seus rebanhos para pastar. Ora, nessa ocasião os guerreiros de Davi entraram em contato com os pastores de um tal Nabal, um rico pecuarista, com mais de 3 mil ovelhas, membro de um clã famoso: o de Caleb, e resolveram fazer uma aliança mutuamente vantajosa, uma vez que aquela região era frequentemente assolada por grupos nômades do deserto, que aproveitavam para roubar os rebanhos. Com a proteção de Davi e seu grupo, os pastores puderam fazer, em paz, o seu serviço, rendendo lucros para o seu patrão: Nabal.
__ Ora, ao chegar o tempo da tosquia Davi achou por bem cobrar algum retorno por todo o serviço gratuito que até então oferecera a Nabal, e que fora a este muito vantajoso, na forma de uma petição de víveres para ele e seu grupo – alguns autores querem ver nessa ação de Davi uma forma de extorsão, de venda de proteção, à semelhança das gangues de bandidos da periferia de nossas grandes cidade, mas isso não passa de um anacronismo que ignora as condições políticas e as características das relações sociais de então, que não eram idênticas às nossas. Não há como negar que Davi lhe fizera um grande e lucrativo favor. Seja como for, a reação de Nabal foi destemperada e ofensiva, revelando, aparentemente, o sentimento típico do novo-rico, de alguém que rapidamente enriquecera, enchendo-se de orgulho, ignorante ou desinteressado nas tradições locais e do aspecto quase sagrado da honra e da solidariedade entre grupos nômades e rurais.
__ Quando os homens que se entrevistaram com Nabal relataram a Davi o que tinham escutado, este se encheu de cólera, armou a sua tropa e partiu em direção a casa de Nabal para massacrar a todos. Nesse ínterim, os pastores de Nabal, sabedores de sua grosseria, foram entrevistar-se com sua esposa, Abigail, que o texto bíblico chama de inteligente e bela, alertando-a do que acontecera. Mostrando muita personalidade, intuindo claramente o que estava para acontecer, ela mandou que preparassem uma farta e variada provisão para levá-la até Davi, ordenando, sagazmente, que os empregados fossem à frente para entregar as dádivas a Davi, enquanto ela seguiria atrás, num jumentinho: se Davi não cedesse ante os presentes decerto cederia ante uma demonstração de humildade, ainda mais da parte de uma mulher importante, esposa de um rico proprietário – uma doutora em psicologia, 10 séculos antes de Cristo! E assim partiu, sem o conhecimento do marido.
__ De fato, as coisas aconteceram como ela previra. Davi, inicialmente, recusou a oferta de paz feita pelos empregados de Nabal, e ela então aproximou-se, desceu do jumentinho, prostrou-se ao chão e fez um dos mais prudentes e sábios discursos da Bíblia (1Sm 25,24-31). Tão hábil foi o seu discurso que Davi não só voltou atrás em seu projeto original como se derrama em elogios a Abigail. Ele, de fato, ficou muito impressionado.
__ A iniciativa e a habilidade de Abigail em lidar com a situação mostra que ela não devia ser de origem obscura, antes tudo aponta para uma educação num meio familiar nobre e certamente muito próximo à vida dos povos nômades, talvez uma família de certos recursos do clã calebita, de sorte que ela percebeu logo o que estava oculto ao insolente Nabal: o perigo que era melindrar um grupo aguerrido de nômades, tocando tão fundo na sua honra, como fez Nabal ao comparar Davi e os seus com “escravos fugidos”, e ignorar a lei de troca de favores, que regia as relações do meio rural da época. Mas ela também tinha um trunfo quando foi negociar com Davi, o fato de Nabal, e talvez ela própria, ser membro do clã calebita, de tanta fama na história de Israel, que tornaria qualquer ação violenta de Davi um pretexto para a vingança de sangue, por parte de membros desse clã.
__ Diz o texto, que quando ela voltou para casa encontrou Nabal e vários convivas em meio a um grande banquete, “um festim de rei”, certamente comemorando a enorme produção de lã daquele ano, graças às boas pastagens e à proteção dos homens de Davi, dos quais ele deve ter mofado muito, diante dos amigos, pela forma como os tratou e os despediu sem nada.
__ A surpresa veio no dia seguinte, quando já sóbrio, ficou sabendo pela própria esposa, o que acontecera enquanto ele se banqueteava e se gabava do que fizera. A reação de Nabal foi estranha. Homem violento e visceral, ele nada fez contra a mulher, o que reforça a tese que ela era de procedência privilegiada, e talvez o conflito nascido do desejo profundo de machucá-la e os prejuízos sociais decorrentes dessa violência, sem falar no estresse acumulado por quem só pensa em dinheiro, fê-lo ter naquele momento como que um ataque apoplético: “seu coração gelou-se no peito, e ele ficou como uma pedra”. Dez dias depois faleceu.

__ Davi se regozijou muito com a morte de Nabal, tão afetado que ficara por causa da desfeita deste, mas também porque a sabedoria e a beleza de Abigail o impressionaram deveras, e ele resolveu cortejá-la abertamente. O efeito do dramático encontro em ambos foi recíproco, e ela aceitou o pedido dele, tornando-se mais uma das esposas de Davi – eram seis nessa época – e certamente a sua favorita, até a entrada de Betsabeia no harém. A sua sabedoria valera-lhe tornar-se esposa de um rei e mãe de um príncipe: Queleab, segundo filho de Davi. Depois disso Abigail desaparece dos relatos. A última citação dela se refere à sua maternidade real, mencionada em 2Sm 3,3.
__ Abigail é também um modelo acabado do intercessor. Quando saiu de casa para encontrar-se com Davi ela aceitou correr um grande risco, pois embora estivesse relativamente bem informada sobre Davi, por meio dos pastores, havia sempre a possibilidade deles terem exagerado na descrição dele, ou ainda de algum conhecido vê-la negociando com Davi, prostrando-se diante dele, e levar a notícia ao marido antes de ela mesma. Ela poderia ter sido sequestrada e trocada por um resgate ou molestada por um enorme bando aguerrido e bem armado, contra os quais ela só podia antepor pacíficos pastores. Ela foi sábia, previu o desastre e encontrou o remédio, antecipou-se a ele, tomando a iniciativa de ir a Davi, foi persistente, apresentando primeiros seus empregados e depois a si mesma, foi humilde, ao prostrar-se diante Davi. Que dizer mais?

(visite almanali.blogspot.com.br)         
ABIATAR (ampliado)

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__ Nome de um sacerdote da família de Eli que vivia numa comunidade de sacerdotes, provavelmente um santuário, na cidade de Nob, nas terras de Benjamim. Abiatar foi o único dos sacerdotes que conseguiu sobreviver à fúria de Saul, depois que ele soube que essa comunidade de sacerdotes havia dado abrigo, alimento e até armas (a espada de Golias), a Davi e seu grupo, embora o tenha feito sem qualquer má intenção ou assumido ostensivamente a causa de Davi, conforme pode se ler em 1Sm 21-22. Seja como for, após o massacre dos 85 sacerdotes e de toda população civil de Nob, (“homens, mulheres, crianças e recém-nascidos, bois, jumentos e ovelhas – 1Sm 22,19), pelas mãos de Doeg, o idumeu, chefe dos pastores de Saul; Abiatar procurou abrigo junto às forças de Davi, que lhe recebeu de bom grado “Fica comigo e não temas. Pois o que procurar a minha morte também procurará a tua [a sorte de ambos está irremediavelmente ligada]. Comigo, estarás seguro” (1Sm 22,23).
__ É interessante notar nesse episódio a irracionalidade e a inutilidade do mal. Quanto mais Saul agia e tomava medidas com o intuito de destruir a Davi, mais o reforçava, como aconteceu nesse episódio, e mais; quando Abiatar foi se encontrar com Davi levou consigo o efod, um instrumento de consulta ritual, cuja aparência e manuseio nos é desconhecido, que revelaria, aos olhos dos antigos judeus, a vontade de Deus a respeito de assuntos diversos, inclusive os mundanos; algo fundamental para a situação que Davi e Saul protagonizavam naquele momento, o que deu ampla vantagem ao primeiro.
__ Abiatar passa então a fazer parte do grupo mais íntimo de Davi, sendo responsável, junto com o sacerdote Sadoc, pela organização dos traslados da Arca da Aliança, tendo inclusive participado numa operação de espionagem, junto ao rebelde Absalão, mantendo a Davi informado de tudo que se passava com aquele, tendo inclusive participado da trama que induziu Absalão ao seu erro fatal.

__ Mas, sobre Abiatar pairava uma maldição irrevogável, lançada contra um seu antepassado, o sacerdote Eli (1Sm 2,27ss). Essa maldição tornou-se realidade quando da morte de Davi, e então Abiatar teve a infeliz ideia de apoiar as pretensões dinásticas de Adonias, contra Salomão. Derrotado e morto Adonias, Abiatar foi despido de suas funções sacerdotais e obrigado a se exilar na cidade levítica de Anatot, onde encerrou os seus dias, ficando assim a estirpe de Eli excluída em definitivo das funções sacerdotais.
__ Esse desfecho parece nos informar que Abiatar era como que um homem que agia sem muita convicção, deixando-se levar pelos acontecimentos, de forma um tanto inconsciente. Entrou para o partido de Davoi, e foi uma ajuda valiosa, devido as circunstâncias, mas nunca aceitou plenamente essa condição, ou talvez até no seu íntimo julgasse Davi como o responsável pela morte de seu pai e de todos os seus companheiros em Nob, pois, com certeza, poucas pessoas conheciam, como ele, a vontade de Davi em relação ao seu sucessor, e Salomão não apareceu na linha sucessória repentinamente; por isso no último momento, no momento crucial, ele faz a opção errada, e perde tudo pelo que havia vivido até então, e morre em desgraça. É preciso perseverar na fé, mas também é necessário entender e aceitar conscientemente aquilo em que se crê. 

domingo, 16 de julho de 2017

ABEL

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By William-Adolphe Bouguereau - Art Renewal Center – description, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2239456

__ É curioso que num ambiente onde os nomes próprios carregam uma força tão poderosa, como no antigo mundo bíblico, esse personagem tão marcante, o segundo filho de Adão e Eva, tenha o nome de Abel que em hebraico, hevel, segundo John McKenzie, em seu Dicionário bíblico (ed Paulus), signifique “vaidade”, “nulidade” – outros ainda o traduzem por “sopro”, “névoa”, “efêmero”. Terá Abel ficado muito vaidoso pelo fato de o seu sacrifício ser claramente preferido por Deus ao de seu irmão Caim? Quer isso dizer que a glória de Abel vem justamente da forma brutal como terminou os seus dias, quando retornou ao “nada”, permanecendo até hoje como símbolo do mártir e, por que não dizê-lo, da precariedade, da transitoriedade, das relações, mesmo as mais íntimas, entre os seres humanos? O teu irmão, ainda que habitando contigo numa ilha deserta, pode ser o teu algoz, logo é tolice cuidar demasiado para ter vida longa ou eterna nesse mundo, como faz o homem contemporâneo, e não contar que a morte nos espreita a cada momento. Estejamos, pois, sempre bem preparados e só em Deus ponhamos toda a nossa confiança.
__ Coube a Abel, porque razão não se sabe, a função do pastoreio, da provisão de proteínas para o sustento da família, enquanto a Caim, o primogênito, coube provisão dos frutos da terra, pois era agricultor. Ora, no tempo adequado ambos ofertaram a Deus as primícias de seu trabalho, vegetais por parte de Caim e animais por parte de Abel, e Deus mostrou um claro agrado pelas oferendas de Abel, mais do que as de Caim, deixando a este muito enciumado.
__ O texto de Gênesis, que relata os sacrifícios dos irmãos (4,3-4), nada diz sobre os sentimentos deles nesse momento, nem sobre alguma irregularidade constante do sacrifício de Caim. Os comentadores da Bíblia de Jerusalém veem nisso uma demonstração da soberana liberdade de Deus, muitas vezes citada na Bíblia, que exalta a quem Ele quer, independente de qualquer atributo humano ou destaque social – uma pista, talvez, possa ser encontrada em Gn 4,1, quando o texto explica o nome de Caim, acompanhado da alegria por que foi tomada a sua mãe pelo seu nascimento, enquanto que de Abel não diz nada. Conhecendo a importância que a sociedade patriarcal hebraica dava ao filho primogênito, seria lícito especular que Abel era como que preterido pelos pais, sendo por isso escolhido por Deus para equilibrar a relação, como sói acontecer com os esquecidos do mundo, de quem Abel é figura?  Ou talvez tudo não passe de uma história exemplar, que reforça o modo de vida dos povos nômades, como os israelitas antigos, realçando a sua superioridade sobre os povos sedentários, enquanto chama a atenção e tenta explicar algo que era “universal” ou no mínimo bastante majoritário na região: o sacrifício às divindades, fossem elas quais fossem, inclusive entre os povos agrícolas, sempre foram feitos com animais e nunca em espécies vegetais.
__ Bem, o resto da história é por demais conhecido para nos determos em detalhes; Caim chama o seu irmão e, afastado de seus pais, o mata. Como, o texto bíblico não diz; apenas acrescenta: “Caim se lançou sobre o seu irmão Abel e o matou” (Bíblia de Jerusalém). Ou seja, o matou com suas próprias mãos; a socos ou talvez por esganadura. Mais adiante, quando Deus interpela a Caim sobre o seu irmão e ele finge ignorar, Deus lhe repreende nos seguintes termos: “Ouço o sangue do teu irmão, do solo, a clamar por mim”; McKenzie faz então uma leitura muito interessante de Hb 12,24: enquanto o sangue de Abel clama por vingança, o de Cristo, outro justo, e muito mais justo que aquele, morto por razões muito mais ignominiosas, clama, com muito mais eloquência, por perdão e redenção aos que o odeiam ou o odiarão.
__ Hebreus 11,4 assim explica a preferência de Deus pelo sacrifício de Abel: “Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim. Graças a ela foi declarado justo... Graças a ela, mesmo depois de morto ainda fala” (idem).

__ Amém!   

quarta-feira, 5 de julho de 2017

AOS AMIGOS DA RÚSSIA

Prof Eduardo Simões

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O “antimulher-maravilha”, enquanto ela vem para glorificar ainda mais a guerra e o espirito belicista dos homens, esse soldado russo faz uma pausa na guerra para dedilhar algumas notas num piano abandonado, durante a Guerra na Chechênia, em 1994, lembrando o absurdo de tudo aquilo. Esperamos que ele tenha conseguido manter o controle e o espírito elevado nas ações em que foi obrigado a participar, e que esteja bem.

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Setenta e um anos depois o velho veterano encontra o tanque que pilotou durante a Segunda Guerra Mundial, e se ajoelha em agradecimento. Decerto que a excelência dessa máquina, um genuíno T-34 o ajudou muito a ficar vivo, para que eu ele pudesse aprender sobre tudo o que se seguiu.

domingo, 2 de julho de 2017

ABIAS

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__ Foi o nome de um dos filhos de Jeroboão I, o primeiro rei de Israel, mas que morreu ainda criança.
__ Outro Abias, mais presente nas páginas da Bíblia, foi o quarto rei da linhagem de Davi, que reinou em Judá de 913 a 911 a.C. Os dados sobre esse rei são contraditórios, o que espelha bem o momento de seu reinado, quando o reino dravídico se dividiu em dois: Israel, ao norte, e Judá, ao sul, seguido de uma série de combates abertos e escaramuças para definir o limite da soberania, a fronteira entre os dois reino. As informações da época deviam desabrochar muito partidarizadas.
__ Segundo uma tradição constante em 1Rs 15,1ss, o seu nome seria Abiam, e ele seria filho de Maaca, filha de Absalão (o filho rebelde de Davi), com Roboão, e nesse caso ele teria sido infiel ao legado religioso de seu bisavô, permanecendo no trono apenas por um favor muito especial de Deus àquele. Em 2Cr 13, a narrativa toma um sentido diferente. Nesta, Abias é chamado por esse nome, mas é filho de Micaías (uma variante de Maaca?), filha de um tal Uriel, e ele é um homem fiel. Em Crônicas, Abias move guerra contra Jeroboão I – essa guerra é citada brevemente em 1Rs – e dirige aos seus soldados, antes da batalha, um comovedor e ortodoxo discurso em favor do deus do povo hebreu, Iahweh, como na melhor tradição profética, sem falar que, por causa do clamor que seus soldados levantaram à Iahweh, este os salva de uma derrota certa.

__ Em Crônicas, portanto, ele é um rei benfazejo, que recebe um favor extraordinário de Deus, diferente do que dele se diz em Reis. Este foi redigido muito antes, e, portanto, traz uma teologia menos elaborada, que tem dificuldades de explicar um reinado tão breve para um rei aparentemente justo – entre os mais antigos, um dos prêmios mais aguardados para uma vida justa era exatamente a longevidade. 
ABDIAS OU OBADIAH

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__ É o quarto “profeta menor”, após Oséias, Joel e Amós.  Não possuímos nenhuma informação sobre a sua vida, embora pelo tema e conteúdo de suas profecias, invectivas violentas contra os edomitas, os especialistas ae dividam entre dois períodos: primeiro, algo entre a segunda metade do século IX a.C., marcada pela rebelião bem-sucedida dos edomitas contra o domínio de Judá, no reinado de Jorão (849-842 a.C.) – essa tese é defendida por um grupo minoritário, em geral ligado à tradição protestante, que, acompanhando a tradição judaica, confunde-o com Abdias, servo do rei Acab e homem temente a Deus (1Rs 18,3-16) – ou algo em torno do século V ou VI, referindo-se ao que aconteceu às terras de Judá após a destruição do templo por Nabucodonosor, em 586 a.C., quando os edomitas, em vista da derrocada de seus históricos desafetos, prorromperam em alegres festejos e expedições de saques aos vilarejos e pequenas cidades já combalidas de Judá.
__ Algumas tradições o apresentam como um edomita convertido ao judaísmo, como que para dar mais qualificação às suas profecias e tirar um pouco do peso do extremado nacionalismo que flui de suas páginas, que fizeram alguns comentaristas duvidarem se o Livro de Abdias seja mesmo um texto inspirado e digno de constar no cânon: “Como fizeste, assim te será feito... A casa de Esaú será como uma palha! Eles a incendiarão e a devorarão, e não haverá sobreviventes da casa de Esaú, porque Iahweh o disse!” (Ab 15.18 – Bíblia de Jerusalém)

__ Mas o fato é que esse texto reflete rigorosamente o espírito da época, justamente o que melhor comprova a historicidade da Bíblia, embora possa constranger bastante a nossa ética cristã contemporânea. Uma ética que se encontra associada à nossa subjetividade e à impossibilidade de recriarmos, em toda sua abrangência, um momento histórico-cultural tão longínquo. Entretanto, no conjunto, percebe-se que ele não se afasta nem um pouco de outros discursos proféticos, considerados naturalmente inspirados, com um linguajar tão duro quanto o de Abdias, ou até mais.