ABIGAIL
E NABAL
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Abigail é um dos grandes personagens femininos da Bíblia, porém, como é comum a
esses personagens, na realidade do Oriente Médio, nada sabemos sob as sua
origem nem sobre as circunstâncias de sua vida antes de seu encontro com um importante
personagem masculino: Davi. Abigail é o centro do capítulo 25 de 1 Samuel.
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Tudo começou quando Davi e o seus companheiros, perseguidos pelas forças do rei
Saul, foram se abrigar nas imediações do vilarejo de Maon, situado nas
montanhas da Judeia, a 13 km ao sul de Hebron. Ao leste da cidade ficava uma
estepe onde pastores costumavam levar seus rebanhos para pastar. Ora, nessa
ocasião os guerreiros de Davi entraram em contato com os pastores de um tal
Nabal, um rico pecuarista, com mais de 3 mil ovelhas, membro de um clã famoso:
o de Caleb, e resolveram fazer uma aliança mutuamente vantajosa, uma vez que
aquela região era frequentemente assolada por grupos nômades do deserto, que
aproveitavam para roubar os rebanhos. Com a proteção de Davi e seu grupo, os
pastores puderam fazer, em paz, o seu serviço, rendendo lucros para o seu
patrão: Nabal.
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Ora, ao chegar o tempo da tosquia Davi achou por bem cobrar algum retorno por
todo o serviço gratuito que até então oferecera a Nabal, e que fora a este muito
vantajoso, na forma de uma petição de víveres para ele e seu grupo – alguns
autores querem ver nessa ação de Davi uma forma de extorsão, de venda de
proteção, à semelhança das gangues de bandidos da periferia de nossas grandes
cidade, mas isso não passa de um anacronismo que ignora as condições políticas e
as características das relações sociais de então, que não eram idênticas às nossas.
Não há como negar que Davi lhe fizera um grande e lucrativo favor. Seja como
for, a reação de Nabal foi destemperada e ofensiva, revelando, aparentemente, o
sentimento típico do novo-rico, de alguém que rapidamente enriquecera,
enchendo-se de orgulho, ignorante ou desinteressado nas tradições locais e do
aspecto quase sagrado da honra e da solidariedade entre grupos nômades e rurais.
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Quando os homens que se entrevistaram com Nabal relataram a Davi o que tinham
escutado, este se encheu de cólera, armou a sua tropa e partiu em direção a
casa de Nabal para massacrar a todos. Nesse ínterim, os pastores de Nabal,
sabedores de sua grosseria, foram entrevistar-se com sua esposa, Abigail, que o
texto bíblico chama de inteligente e bela, alertando-a do que acontecera.
Mostrando muita personalidade, intuindo claramente o que estava para acontecer,
ela mandou que preparassem uma farta e variada provisão para levá-la até Davi,
ordenando, sagazmente, que os empregados fossem à frente para entregar as
dádivas a Davi, enquanto ela seguiria atrás, num jumentinho: se Davi não
cedesse ante os presentes decerto cederia ante uma demonstração de humildade,
ainda mais da parte de uma mulher importante, esposa de um rico proprietário –
uma doutora em psicologia, 10 séculos antes de Cristo! E assim partiu, sem o
conhecimento do marido.
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De fato, as coisas aconteceram como ela previra. Davi, inicialmente, recusou a
oferta de paz feita pelos empregados de Nabal, e ela então aproximou-se, desceu
do jumentinho, prostrou-se ao chão e fez um dos mais prudentes e sábios
discursos da Bíblia (1Sm 25,24-31). Tão hábil foi o seu discurso que Davi não
só voltou atrás em seu projeto original como se derrama em elogios a Abigail. Ele,
de fato, ficou muito impressionado.
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A iniciativa e a habilidade de Abigail em lidar com a situação mostra que ela
não devia ser de origem obscura, antes tudo aponta para uma educação num meio
familiar nobre e certamente muito próximo à vida dos povos nômades, talvez uma família
de certos recursos do clã calebita, de sorte que ela percebeu logo o que estava
oculto ao insolente Nabal: o perigo que era melindrar um grupo aguerrido de
nômades, tocando tão fundo na sua honra, como fez Nabal ao comparar Davi e os
seus com “escravos fugidos”, e ignorar a lei de troca de favores, que regia as
relações do meio rural da época. Mas ela também tinha um trunfo quando foi negociar
com Davi, o fato de Nabal, e talvez ela própria, ser membro do clã calebita, de
tanta fama na história de Israel, que tornaria qualquer ação violenta de Davi
um pretexto para a vingança de sangue, por parte de membros desse clã.
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Diz o texto, que quando ela voltou para casa encontrou Nabal e vários convivas
em meio a um grande banquete, “um festim de rei”, certamente comemorando a
enorme produção de lã daquele ano, graças às boas pastagens e à proteção dos
homens de Davi, dos quais ele deve ter mofado muito, diante dos amigos, pela
forma como os tratou e os despediu sem nada.
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A surpresa veio no dia seguinte, quando já sóbrio, ficou sabendo pela própria
esposa, o que acontecera enquanto ele se banqueteava e se gabava do que fizera.
A reação de Nabal foi estranha. Homem violento e visceral, ele nada fez contra
a mulher, o que reforça a tese que ela era de procedência privilegiada, e
talvez o conflito nascido do desejo profundo de machucá-la e os prejuízos
sociais decorrentes dessa violência, sem falar no estresse acumulado por quem
só pensa em dinheiro, fê-lo ter naquele momento como que um ataque apoplético: “seu
coração gelou-se no peito, e ele ficou como uma pedra”. Dez dias depois
faleceu.
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Davi se regozijou muito com a morte de Nabal, tão afetado que ficara por causa
da desfeita deste, mas também porque a sabedoria e a beleza de Abigail o
impressionaram deveras, e ele resolveu cortejá-la abertamente. O efeito do dramático
encontro em ambos foi recíproco, e ela aceitou o pedido dele, tornando-se mais
uma das esposas de Davi – eram seis nessa época – e certamente a sua favorita,
até a entrada de Betsabeia no harém. A sua sabedoria valera-lhe tornar-se
esposa de um rei e mãe de um príncipe: Queleab, segundo filho de Davi. Depois
disso Abigail desaparece dos relatos. A última citação dela se refere à sua
maternidade real, mencionada em 2Sm 3,3.
__ Abigail é também um modelo acabado do intercessor. Quando saiu de casa para encontrar-se com Davi ela aceitou correr um grande risco, pois embora estivesse relativamente bem informada sobre Davi, por meio dos pastores, havia sempre a possibilidade deles terem exagerado na descrição dele, ou ainda de algum conhecido vê-la negociando com Davi, prostrando-se diante dele, e levar a notícia ao marido antes de ela mesma. Ela poderia ter sido sequestrada e trocada por um resgate ou molestada por um enorme bando aguerrido e bem armado, contra os quais ela só podia antepor pacíficos pastores. Ela foi sábia, previu o desastre e encontrou o remédio, antecipou-se a ele, tomando a iniciativa de ir a Davi, foi persistente, apresentando primeiros seus empregados e depois a si mesma, foi humilde, ao prostrar-se diante Davi. Que dizer mais?
__ Abigail é também um modelo acabado do intercessor. Quando saiu de casa para encontrar-se com Davi ela aceitou correr um grande risco, pois embora estivesse relativamente bem informada sobre Davi, por meio dos pastores, havia sempre a possibilidade deles terem exagerado na descrição dele, ou ainda de algum conhecido vê-la negociando com Davi, prostrando-se diante dele, e levar a notícia ao marido antes de ela mesma. Ela poderia ter sido sequestrada e trocada por um resgate ou molestada por um enorme bando aguerrido e bem armado, contra os quais ela só podia antepor pacíficos pastores. Ela foi sábia, previu o desastre e encontrou o remédio, antecipou-se a ele, tomando a iniciativa de ir a Davi, foi persistente, apresentando primeiros seus empregados e depois a si mesma, foi humilde, ao prostrar-se diante Davi. Que dizer mais?
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