sábado, 10 de janeiro de 2015

UMA GRANDE TRAGÉDIA (PARA MIM)

Prof Eduardo Simões

            Não me sinto obrigado a ser factualmente perfeito ao relatar acontecimentos da História Geral, a história de outros povos, embora me esforce muito, mas me sinto profundamente obrigado a sê-lo, quando se trata da história de meu país. Mas como fazê-lo, se a um professor de escola comum só reste o que está disponível na Internet, e esta espelha como poucos o descaso da história desse país pelo seu próprio povo?
            Cada site ou blogue que eu acesso, para me certificar de alguma coisa, como data, nome, local, dinâmica do evento, etc., o apresenta de uma forma diferente!  Ao invés de sair esclarecido o pesquisador só aumenta suas dúvidas, sem falar das análises desses fatos, que poderiam ser esclarecedoras de certos pontos, mas que não passam de toscas falsificações ou repetições d fraudes espalhadas há mais de um século, como a autora de um texto sobre o General Antônio Ernesto Gomes Carneiro, que apresenta os maragatos federalistas como “defensores da monarquia (algo muito comum), parlamentaristas ‘anarquistas’” (creio que ela falava no sentido pejorativo!?), etc. Situação típica de quem expõe sobre algo que ignora absolutamente. Pelo menos ela expôs; a maioria nem isso.
            E as bibliotecas nas escolas? Estas estão recebendo teses acadêmicas a mancheia, daquelas que só os ultraespecialisas conseguem ler, em todas as áreas, inclusive história, e uma infinidade de livros de leitura, de qualidade boa ou duvidosa – até parece que estamos a formar uma nação de literatos que não sabe ler escrever ou falar corretamente, pelo menos o português – inclusos folhetos pornográficos, do tipo que se usa para acender fogo de churrasco, mas nada de um manual básico das matérias, principalmente história, que possa servir de ponto de apoio para alunos e professores dirimirem suas dúvidas sobre um assunto.
            A moderna historiografia brasileira, de tendência quase exclusivamente marxista, decretou que o fato não é relevante, e o que importa é a teoria filosófica que embasa a análise do historiador. Os fatos negam a teoria? Pior para eles! Os livros de historia mais recentes transformaram-se em longas e tediosas digressões onde o autor tenta a golpe de “marreta” forçar-nos a ver algo que só ele consegue ver. E não só! Quer-nos convencer de que essa é a única visão possível da história, se o leitor não quiser cair na pecha de “reacionário”, “conservador”, ou outra idiotice desse calibre.
            Mais do que tornar-se sabedor das ações de personagens de outrora, aprender uma abordagem científica sobre as motivações ou a natureza das mudanças sócias, o leitor de história no Brasil é antes informado da maravilhosa ‘genialidade’ do autor do livro que está lendo. Fazer história só com fatos, supondo que se está a fazê-la com honestidade, é ficar na superfície e permanecer infantilizado, sujeito à manipulações e mitologias de todo tipo, mas fazer história sem fato é afogar-se na própria vaidade, na sensação de “senhor da história” e nos interesses pessoais, como num delírio esquizofrênico. A maior e mais completa coleção de Historia do Brasil, “História da Civilização Brasileira”, em 12 volumes, organizada por Sérgio Buarque de Holanda, é absolutamente ilegível, um Varnhagen às avessas, embora Sergio Buarque tenha outros ótimos livros.
             Precisamos escrever uma história que seja factualmente correta, tanto quanto é possível com as fontes que temos, analiticamente discreta, como se confiássemos no discernimento de quem nos lê, completa e numa linguagem clara, ‘popular’ capaz de ser lida pelo não especialista, o homem comum, aquele que no fim das contas é quem realmente faz a história acontecer.

            Caro leitor (a) desculpe-me enfim, se alguma data, nome ou evento da História Brasil sair errada nos textos desse blogue, pois eu também pago o preço de viver numa sociedade que não valoriza o seu passado e o seu futuro, e o seu presente simplesmente esvai-se.

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