segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A INTERNET CAUSA DESEMPREGO?

Prof Eduardo Simões

           
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            http://stuffunemployedpeoplelike.com/

            Na edição online da revista EXAME, de 31/10/2015, saiu um artigo um tanto irônico, assinado por Mauro Rodrigues, do Porque.com.br, que coloca de uma maneira cristalina, em,bora o autor pareça não perceber isso, toda a insuficiência das provas “objetivas” ou de “múltipla escolha”, nomes que, na verdade, configuram o crime de “propaganda enganosa”, porque antes de serem objetivas elas são “antissubjetivas”, mas não para todos, só contra os alunos que a fazem ou os professores que não rezam pela cartilha ideológica do burocrata de plantão, além de ser uma ‘piada’ chamar essas provas de “múltipla escolha”, uma vez que só há uma escolha certa a fazer... se você não quiser ser punido com uma nota baixa.
            O título da matéria é: Por que, segundo o ENEM, usar a internet causa demissões? Ela é tão boa que a reproduzo quase integralmente abaixo:

            “Mas uma das questões, que tem a ver com economia, deixou uma pulga atrás da orelha. Veja só:
            No final do século XX e em razão dos avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema uma presença planetária. Um mercado que utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa.

SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado).

            Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mundo do trabalho advindas das transformações citadas no texto estão presentes, respectivamente, em:
a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da legislação laboral.
b) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de associações sindicais.
c) Diminuição dos investimentos industriais e desvalorização dos postos qualificados.
d) Concentração das áreas manufatureiras e redução da jornada semanal.
e) Automatização dos processos fabris e aumento dos níveis de desemprego.
            No gabarito a resposta correta é a letra e. Mas não tem nada no trecho citado que implique isso. De acordo com a passagem, o processo é “perverso”, mas não ficou claro quais são exatamente as mazelas associadas ao avanço tecnológico e à globalização – aquecimento global, ataques terroristas, discriminação contra minorias, sei lá. Logo, é um salto enorme concluir que haverá o efeito sobre o mercado de trabalho sugerido: “aumento dos níveis de desemprego”.
            O que a teoria econômica diz sobre o efeito da tecnologia sobre o mercado de trabalho? Sob quais condições a tal perversidade pode ocorrer?
            Avanços tecnológicos tornam empresas mais produtivas. Em outras palavras, com as mesmas quantidades de insumos (trabalho, máquinas, terra, etc.), consegue-se produzir mais. E isso também eleva a lucratividade das companhias. Esse resultado, por sua vez, estimula a firma a produzir ainda mais. Para isso ser possível, é necessário contratar mais insumos, o que inclui, em particular, novos trabalhadores. Ou seja, esse efeito vai contra o argumento da questão do Enem, em que o desemprego aumenta conforme a tecnologia avança.
            Outro modo de entender as mudanças tecnológicas: elas permitem que se produza a mesma coisa que antes, mas com menos insumos. Para que tenhamos o tal efeito “perverso” no mercado de trabalho, precisamos de mais: que a mudança tenha um viés contra o trabalho. A firma deve conseguir produzir o mesmo que antes e, ao mesmo tempo, economizar proporcionalmente mais trabalho do que outros insumos – isso, provavelmente, tem a ver com a “automação dos processos” citada na alternativa e.
           Mas, ainda assim, para gerar contração no mercado de trabalho (e, potencialmente, desemprego), esse viés precisa ser muito, muito forte. Poderoso o suficiente para que as empresas possam elevar suas produções em resposta à lucratividade mais elevada, mesmo contratando menos trabalhadores.
           Portanto, precisamos de hipóteses bem específicas 
para que a resposta da questão realmente faça sentido. E nada disso é discutido no enunciado. Na verdade, a resposta é simplista. Não estimula o raciocínio crítico do aluno, tampouco o faz pensar sobre os diversos ângulos do problema. Trata-se do velho e ruim senso comum colocado em ação…"

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