HISTÓRIA
DA IGREJA BASEADA EM JEDIN – VII
Obrigado
aos amigos da Rússia, Brasil, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Ucrânia,
França, Canadá, que acompanham esse blog. Que ele vos seja útil . Deus os
abençoe.
Prof
Eduardo Simões
A Primeira Controvérsia... de muitas
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É sabido que, talvez ás vésperas da partida para Jerusalém, para o desenlace de
sua missão, Jesus tomou seus três discípulos mais próximos: Pedro, João e
Tiago, e com eles subiu um monte na baixa Galileia, e lá aconteceu algo, que
passou para a história como a transfiguração (1); algo espetaculoso, ao mesmo tempo na forma de luz intensa e
treva tenebrosa, como algo que é muito desejado, mas cuja apropriação é
angustiosa, e que, por um momento, fez os discípulos desejarem não mais sair de
lá, além de deixar uma lembrança profunda (2Pe 1,16-18). A memória que esse e
de outros episódios ligados à pessoa de Jesus exercia sobre uma comunidade, ao
mesmo tempo tão pequenina e frágil, hostilizada pelo entorno, exercia uma força
de atração e de retenção, tremenda. Quem gostaria de sair de lá, de junto do
Templo onde o Senhor orou, da terra onde ele pregou, para enfrentar aquele
mundo estranho, incoerente, cheio de seitas e gente esquisita? Mas ainda assim
a Igreja crescia, aos poucos, em paz, uma comunidade unânime, até que um
episódio veio sacudir a paz idílica dos primeiros tempos da Igreja.
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Lá por volta no ano 50, chegaram à pioneira e efervescente Antioquia, nessa
época o centro de operações de dois campeões missionários, Paulo e Barnabé,
alguns membros da igreja de Jerusalém ligados às tradições farisaicas mais
restritivas (At 15,5), e começaram a ensinar aos gentios – pagãos convertidos –
que era necessário, ao se tornarem cristãos, observar a lei de Moisés,
principalmente no que tange a circuncisão. Jesus afinal não fora circuncidado e
não dissera que seu objetivo era levar a Lei ao seu pleno cumprimento (Mt 5,17 e
Lc 16,17)? O problema é que para greco-romanos o pênis, tal como se apresentava
ao nascimento, era um órgão perfeito e a circuncisão seria uma como que uma
violência tanto à natureza quanto à sabedoria de Deus, uma vez que fora Ele
quem criara o órgão masculino com o prepúcio. Os gregos sempre repudiavam
fortemente essa intervenção cirúrgica e os romanos os seguiram.
__
Quando Paulo e Barnabé voltaram de uma missão encontraram a sua comunidade em
polvorosa, e, como era de se esperar, principalmente por conta do temperamento
do primeiro, houve forte discussão entre eles e os recém-chegados. Um perigoso
impasse agora dividia aquela próspera a fiel comunidade, e era necessário
superá-lo, antes que seus efeitos se tornassem permanentes. Paulo, Barnabé e outros
se dirigem então à Igreja-Mãe de Jerusalém, para dirimir a questão junto aos
apóstolos e anciãos (At 5,6)(2).
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Ao chegarem a Jerusalém, Paulo e Barnabé também que esse assunto também dividia
a comunidade local, sobre a obrigação de cumprir ou não a lei de Moisés e,
segundo Lucas, foi Pedro quem, tomando a palavra, usando de uma autoridade
indiscutível, esclareceu a questão e colocou a norma que deveria reger a Igreja
quanto a esse assunto, e que pode ser resumida da seguinte maneira:
1º - Os gentios não deveriam ser submetidos à lei de Moisés, insuportável até
para os judeus (5,10)
2º - É pela graça de Jesus que somos salvos (5,11)
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Paulo e Barnabé aproveitam então para relatar as últimas conquistas de sua
pregação entre os gentios, reforçando a ideia de que já se avançara muito nesse
terreno e não era possível se deixar perder uma colheita, ou uma “pesca”, tão
abundante, para preservar aquilo contra o qual Jesus se rebelara. Nesse momento
acontece algo curioso. Tiago, o irmão do Senhor (3), aparentemente ligado ao grupo rigorista, judaizante, toma a
palavra e, como que complementando o que Pedro dissera, define com mais
precisão o que se deveria exigir dos cristãos vindos da gentilidade, a saber: não
participar de cerimônias idólatras; das uniões conjugais ilegítimas (ver Lv
18); das carnes sufocadas (quando o animal não é sangrado) e do consumo de
sangue (15,13-21). Isso é logo acatado e, junto com uma delegação mandada a
Antioquia com Paulo e Barnabé, segue um decreto “conciliar”, que reproduz
fielmente as palavras do discurso de Tiago (22-29), sem fazer qualquer menção a
Pedro ou a João, que também se achavam presentes (Gl 2,9)).
__
Como vemos, não é possível passar sobre essa assembleia de importância
fundamental para o futuro da Igreja, sem reprisar os pontos mais importantes,
desse encontro que:
1º
- abriu e definiu um espaço para a colegialidade na resolução de questões
complexas ou dúvidas doutrinárias, que seria utilizado pela Igreja ao longo de
sua história, até hoje, exceto pela ausência de uma marca mais tangível Pedro no
documento final, temperando o absolutismo monárquico natural de uma instituição
iluminada diretamente por Deus, através do seu Espírito Santo, quem ousaria
contestar a Deus e quem seria vasto o bastante para discernir, sem erro, a sua
vontade?
2º
- abriu definitivamente, de uma forma que dava para todos passar, as portas da
Igreja para o mundo, superando a tentação de permanecer uma seita judaica, à
sombra do Templo, e desaparecer com ele. Foi o espírito e a coragem de tomar e
encaminhar essa decisão que garantiu, na prática universalidade da Igreja de
Cristo, na fidelidade ao seu Espírito. Dito fdr outra maneira, dentro da Igreja
Hillel venceu Shammai, sem a necessidade de uma grande tragédia nacional, como
aconteceu aos judeus.
__
Depois da passagem acima referida, Pedro desaparece definitivamente de Atos,
embora pelas cartas de Paulo se possa encontra-lo em Antioquia, onde, segundo
alguns, teria se tornado bispo. Seria indício de que uma tendência mais
rigorista, mais judaizante, tendo Tiago á frente, assumiu o controle da Igreja
de Jerusalém? Certamente, pelo contexto local, só um grupo assim poderia
sobreviver algum tempo mais num ambiente tão hostil, embora essa concessão não tenha
sido o bastante sequer para salvar Tiago uma morte violenta.
__
Quanto às viagens missionárias de Paulo, seus sucessos e fracassos, elas estão
narradas em detalhes nos Atos dos Apóstolos e em inúmeros livros já escritos a
respeito, sempre baseados em Atos, o único documento que conhecemos sobre esse
assunto, e como não foi descoberta, até agora, outra fonte, remeto os leitores
à sua leitura. Sobre Paulo, porém, eu ressaltaria o seguinte:
1º
- O seu cuidado em procurar a colônia judaica local, antes de iniciar sua
pregação em uma nova comunidade.
2º
- A hostilidade habitual e violentíssima com que foi tratado pelos judeus.
3º
- O caráter eclético e flexível da sua mensagem, sem deixar de conservar e frisar
as tradições mais legítimas.
4º
- O caráter apaixonado do seu temperamento e a expressão incondicional de sua
fé não raro o levaram a graves conflitos, inclusive com importantes personalidades
da Igreja, como Barnabé (At 15,39) e o próprio Pedro (Gl 2,11-14).
5º
- A sua ação circunscrita à bacia oriental do Mar Mediterrâneo, principalmente
na chamada Ásia Menor (Turquia) e na Grécia, pelo menos nos Atos dos Apóstolos.
__
Paulo volta a se encontrar com Tiago e a complexa comunidade de Jerusalém, num
momento seguinte, lá por volta de 58 (At 21), Quando fora levar uma
contribuição dos cristãos gentios à comunidade carente da Palestina. Nesse momento
ocorre uma situação estranha, que talvez tenha sido o maior erro de Tiago ou, por
decreto da Providência Divina, a militância de Paulo entre os judeus devia,
definitivamente, chegar ao fim ou faltam detalhes à narrativa... o que é mais
provável.
__
Aconteceu que, estando em Jerusalém, para entregar à Igreja-Mãe o resultado da
sua coleta, após apresentar o relatório de suas bem-sucedidas viagens, Paulo é
informado por Tiago que judeus e prosélitos, vindos de diversas partes da Ásia
para a celebração de Pentecostes, não cessavam de espalhar os boatos maldosos sobre
ele às multidões, de sorte que havia de se temer uma ação violenta por parte do
populacho sugestionado. Ainda sob orientação de Tiago, Paulo se une a outros
judeus-cristãos praticantes, que deveriam pagar uma promessa, e segue para o
Templo, a fim de mostrar a todos que ele é sim, um judeu piedoso (21,17-26).
Entretanto, alguns judeus da Ásia o reconheceram e começaram um motim,
obrigando à intervenção da guarda do templo e da coorte romana, para evitar o
linchamento de Paulo, gerando como consequência a sua prisão (21,27-36). Lucas
não relata nada dos sentimentos da comunidade de Jerusalém acerca do fato nem
de qualquer tentativa de sua parte em favor de Paulo, e assim ele é levado a
juízo junto às principais autoridades judaicas e romanas da região, mas,
aproveitando-se da sua condição de cidadão romano, apela para o julgamento do
imperador, “César”, que o tiraria do meio daquele ambiente tão hostil. O seu
recurso é aceito e Paulo abandona definitivamente a Palestina.
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Levado preso para Roma, Paulo permanece numa casa alugada e, provavelmente,
acorrentado a um soldado dia e noite, durante os dois anos – de 61 a 63. Mesmo
nessa condição ele tenta converter, em vão, membros da comunidade judaica
romana, mas ante a resistência deles Paulo dá por concluída a sua missão entre
seus compatriotas e encerra sua presença em Atos dos Apóstolos, fazendo uma
reprimenda, seguida de uma profecia, que se realizou milimetricamente: “... o
coração desse povo se endureceu: eles tamparam os ouvidos e vendaram os olhos,
para não verem com os olhos, nem ouvirem com os ouvidos, nem entenderem com o
coração, para que não se convertam, e eu não os cure! Ficai, pois cientes: aos
gentios é enviada esta salvação de Deus. E eles a ouvirão” (At 28,27-28).
O
Sangrento Fim da Era Apostólica
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Em alguns de seus inúmeros diálogos, preservados nos Evangelhos, Jesus
prenuncia a morte violenta de seus discípulos mais próximos, assim como
acontecerá com ele (Mt 10,24; 20,23; Mc 10,39; Lc 6,40; Jo 10,16), e nesse
ponto ele foi particularmente minucioso com Pedro (Jo 21,18-19). Entretanto, a
única fonte disponível sobre a história dos apóstolos, logo após a ascensão de
Cristo, são os Atos dos Apóstolos, que embora sejam muito detalhados. Se
concentram apenas em Pedro e Paulo, além de abarcarem só um curto período de
tempo.
__
De Pedro, por exemplo, sabemos que continuou desempenhando um papel primordial
no comando da Igreja, até o capítulo 15 dos Atos, quando, após breve alocução,
desaparece definitivamente do relato, de sorte que se queremos saber alguma
coisa dele temos que recorrer aos relatos de outros antigos autores cristãos
que, invariavelmente, associam a sua morte com a de Paulo, e ambos com a
comunidade de Roma, sem falar da saudação final em sua primeira epístola, quando
ele diz: “A [igreja] que está em Babilônia eleita como vós, vos saúda” (5,13) (4).
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O silencio sobre esse os dias em que Pedro ficou em Roma, podem muito bem ser
explicados pela insignificância da comunidade cristã, frente a inúmeras outras
comunidades religiosas, mais antigas e aceitas pelos romanos, assim como a
imensa quantidade de documentos que se perderam durante as perseguições que se
seguiram. É de se crer que mesmo em momentos de relativa tranquilidade, o
apóstolo e os cristãos, escaldados pela experiência traumática de Jerusalém,
preferissem agir com discrição, sem falar que sempre foi muito forte entre os
católicos a noção de que a conversão das nações é tanto uma responsabilidade
dos já convertidos como uma graça de Deus. É preciso ter calma e, às vezes,
esperar Deus agir também, para não nos transformarmos em compulsivos camelôs da
graça, a criar um “cristianismo” superficial e preconceituoso. Até onde a
tradição nos informa, foi Pedro quem criou o bispado de Roma, tornando-se o
primeiro bispo da cidade, embora não tenha sido ele quem pela primeira vez
pregou o cristianismo em Roma. Quem foi? Não sabemos. É a invisível e
misteriosa graça de Deus, fazendo o cristianismo brotar onde menos se espera
(Mc 4,30-32).
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A segunda tradição sobre Pedro, nesse período, informa-nos de que ele foi morto
em Roma, na colina do Vaticano, entre 64 e 67, crucificado de cabeça para baixo,
quando da perseguição de Nero (5),
acrescida de uma lenda singela, relatada num livro apócrifo, chamado Atos de Pedro, segundo o qual o
apóstolo, novamente aterrorizado ante a possibilidade de uma morte violenta,
assombrado pelo fantasma da crucificação do Senhor, teria, a pretexto de
preservar o depósito da fé e do conhecimento de Jesus, constante em sua pessoa,
numa atitude que revela ao mesmo tempo um personalismo arrogante e uma descrença
na providência, fugido de Roma, com a ajuda de um jovem secretário. Narra ainda
o relato que quando ele chegou no cruzamento da via Appia com a via Ardeatina e
parou para descansar, teve uma visão de Jesus, vindo em sentido contrário,
carregando uma cruz. Nesse momento ele perguntou: “Quo vadis, domine?” (Aonde
vais, Senhor?), ao que Jesus lhe respondeu: “Eo Romam iterum crucifigi” (Vou a Roma, ser de novo crucificado). Abalado, Pedro desiste de seu intento,
retorna e sofre o seu destino.
__
Curiosa, a personalidade de Pedro, tão arrebatada e ao mesmo tempo tão
hesitante! Quantos conflitos internos, sentimentos de culpa diários, não devia
sofrer esse homem? E foi justamente a ele que o Espírito Santo escolheu para
fundar e dirigir uma igreja do tamanho e complexidade da cristã, no coração do
mais poderoso império do Ocidente. Sua morte, porém, foi heroica e,
provavelmente, seguida pela de outro apóstolo que lhe está sempre associado e
que, ao mesmo tempo, lhe é tão semelhante quanto diferente: Paulo.
__
Assim como Pedro, Paulo tem um temperamento arrebatado, mas, ao contrário do
outro, uma vez posto em movimento não se detém até ter alcançado seu objetivo,
sejam quais forem os obstáculos. A sua enorme cultura religiosa e humanista
transforma-o num gigante intelectual diante do primeiro, a quem nunca contestou
a autoridade, exceto em questões morais. Após a prisão relatada nos Atos
perdemos o rastro dele. Aparentemente, Paulo foi solto e continuou sua missão
apostólica. Por onde? Não sabemos. Ele fala, duas vezes em Romanos (15,24.28),
sobre ir à Espanha, e conhecendo o temperamento e a energia inesgotável dele
não é de duvidar que tenha ido mesmo, antes da perseguição de Nero, como
exilado, em virtude do processo em que se envolveu (conferir http://www.zenit.org/pt/articles/especialistas-consideram-que-sao-paulo-esteve-na-espanha).
Mais tarde, segundo uma das tradições mais aceitas, ele teria voltado
prisioneiro a Roma, e, devido a sua condição de cidadão romano e cristão, foi decapitado.
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André, irmão de Pedro, de temperamento atento e prestativo (Jo 6,8; 12,22), o
primeiro dar testemunho de Jesus Cristo (Jo 1,41), segundo Eusébio de Cesareia,
repetindo antigas tradições, pregou o Evangelho nas margens do Mar Negro para
partos e citas, na Bitínia, na Macedônia e na Acaia. Teria sido crucificado em
Patras, na Península do Peloponeso, na Grécia, amarrada a uma cruz em forma de
X, a cruz de Santo André, que aparece na bandeira de vários países.
__
Tiago, irmão de João, que junto com o irmão e Pedro estava entre os mais
íntimos de Jesus, digno de assistir à sua transfiguração e à sua terrível
agonia em Getsêmani, segundo uma tradição não muito antiga, andou a pregar o
Evangelho na Espanha, após o que voltou á Palestina e foi morto a espada por
Herodes Agripa, lá por volta do ano 40 (6).
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Tomé, o apóstolo ambíguo, muito presente no relato de João. A confusão já
começa pelo seu nome “Tomé”, que em aramaico quer dizer gêmeo, sendo possível
que o seu nome verdadeiro não tenha sido preservado. No episódio de Lázaro, ele
incita os companheiros ao seguimento heroico de Jesus: “vamos também nós para
morrermos com ele!” (Jo 11,16), a não ser que estivesse sendo irônico. Espírito
realista, pragmático, acaba provocando uma revelação maravilhosa, quando pede
uma indicação do caminho (14,5) – note-se o tom irônico da sua colocação. Por
fim, fica historicamente famoso por sua demonstração de incredulidade
(20,24-29), embora esteja entre os premiados com a visão de Jesus no final de
João (21,2). Tomé tem o seu nome ligado à pregação do Evangelho no centro da
Ásia, em Edessa, na Turquia atual, além de, segundo uma tradição, ter pregado o
Evangelho na Índia, onde fdoi martirizado, lá por volta de 57, na cidade de
Mylapore, lancetado por quatro soldados. Os modernos portugueses ficaram
impressionados ao chegarem à Índia e encontrarem núcleos de antigas comunidades
cristãs; mas a origem destas pode ser outra.
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Filipe, o simplório, capaz de dizer a Jesus, “mostra-nos o pai e isso nos
basta!” Que merece uma resposta estupefata de Jesus (Jo14,8-9). Segundo uma
tradição ele teria pregado o evangelho no oeste da Turquia, antiga Ásia Menor,
na cidade de Hierápolis, onde foi crucificado ou decapitado pelas autoridades
romanas. Em fins de Julho de 2011, uma equipe de arqueólogos, chefiados pelo
pesquisador italiano Francesco D’Andria, descobriu, perto da cidade turca de
Denizli, uma tumba identificada como sendo do apóstolo Filipe.
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Mateus, de profissão publicano e o evangelista dos judeus. Ante o fracasso da
missão entre os judeus teria ido à Etiópia, onde morreu apunhalado.
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Bartolomeu ou Natanael, o verdadeiro. Foi o único apóstolo a receber Jesus com
descrença e a ser recebido por Jesus com um elogio (Jo 1,46-47). Segundo uma
tradição teria pregado na Armênia, onde converteu o próprio rei, Polymius.
Entretanto, Astíages, irmão do rei, insuflado por sacerdotes pagãos, mandou
prender a Bartolomeu e, em seguida, esfolá-lo vivo, a não ser que se submetesse
aos deuses. Em seguida ele foi decapitado e pregado a uma cruz.
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Simão o Zelote. Sua imagem é sempre apresentada com uma enorme serra, como
referência a uma tradição que diz que ele foi serrado ao meio pelos persas.
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Judas Tadeu, companheiro de Simão, foi martirizado com este, a golpes de
machado, por uma multidão persa, insuflada pelos sacerdotes zoroastristas.
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Matias, sorteado para tomar o lugar de Judas Iscariotes, que se suicidara,
diz-se que também pregou na Etiópia, mas há dúvidas sobre como se deu a sua
morte (decapitado, apedrejado, crucificado).
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Barnabé, o companheiro de Paulo, que, após se desentender com este, desaparece
dos Atos, mas, segundo a tradição, continuou pregando na Ásia Menor, até ser
linchado por uma multidão de judeus furiosos, ao pregar o cristianismo numa
sinagoga em Salamina, no Chipre, sua terra natal.
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João, filho de Zebedeu. O discípulo “que Jesus amava”, místico, evangelista e o
único apóstolo que ficou ao lado do Senhor na sua morte, adotando e sendo
adotado pela mãe do Jesus. A misteriosa abertura de seu Evangelho é uma
revelação espetacular, assim como espetacular, principalmente naquela época, é
a síntese genial de 1Jo 4,16: “Deus é amor; e quem permanece no amor permanece
em Deus, e Deus nele”. Até parece que João era diferente e foi tratado
diferente. Diz a tradição que ele, aos 94 anos, foi exilado para a ilha de
Patmos, onde escreveu o Apocalipse, um texto misterioso, de alguém que também recebera
do Ressuscitado uma promessa igualmente misteriosa (Jo 21,22-23). O mistério de
João, porém, não termina aí. Diz-se que o imperador Constantino, querendo
erguer uma imponente basílica sobre a sua sepultura, em Éfeso, mandou abrir a
sua tumba e, surpresa, nada foi encontrado, de sorte que ele é o único dos
apóstolos sobre o qual não há um culto de relíquia, nem relatos de relíquias
pessoais existindo aqui ou acolá. Da mesma forma que Maria...
Notas
(1)
Transfigurar é quando algo ou alguém muda de conteúdo e/ou de forma, de modo a
revelar a sua verdadeira natureza. No contexto dos Evangelhos (Mt 17,1-9; Mc
9,2-10 e Lc 9,28-36) significa a revelação aos sentidos dos três apóstolos
escolhidos da verdadeira natureza de Jesus, oculta sob a sua forma humana.
(2)
Quem seriam esses anciãos, aparentemente tão importantes e apartados dos
apóstolos? O Conselho de Anciãos ou presbiteroi,
em grego, era uma assembleia de antigos e respeitados rabinos, que oferecia
conselho, assessoria, além de tomar parte em algumas decisões, às autoridades
religiosas judaicas e que os primeiros cristãos aparentemente copiaram, como era
de se esperar naquele momento – provavelmente era composto pelos discípulos
mais próximos, mais bem preparados e fieis a Jesus, durante a sua breve missão.
Seriam eles o equivalente aos atuais bispos? A primeira menção acontece em At
11,30.
(3)
Eis um mistério até agora insolúvel. Quem seria esse Tiago, “irmão do Senhor”,
o provável escritor da Epístola de Tiago? Se era Tiago, filho de Alfeu,
apóstolo nomeado em Mt 10,3, porque só ele carrega esse cognome tão especial?
Se era irmão de sangue de Jesus, junto com outros (Mt 12,46; Mc 3, 31; Lc 8,9;
Jo 2,12; At 1,14; 1Cor 9,5; Gl 1,19; etc.), porque Jesus entregaria sua mãe aos
cuidados de João, de uma forma tão taxativa, de modo a não deixar dúvidas (Jo
19,26-27)? Seria, por ventura, um parente próximo, que o exclui do círculo dos
apóstolos, mas que talvez por causa disso, alcançou um grande prestígio na
comunidade de Jerusalém? Mas como explicar então, que uma personalidade tão
importante tenha tido tanta dificuldade ter a sua epístola aceita entre os
livros canônicos? Segundo a Bíblia de Jerusalém, ela “só se impõe ao conjunto
das igrejas do Oriente e do Ocidente pelo fim do séc. IV” (2004; p 2102), e,
“além disso, foi escrita diretamente em grego, com elegância, riqueza de vocabulário,
e senso de retórica (diatribe [uma forma de argumentação crítica, sarcástica,
muito usada pelos antigos comentaristas gregos]), que surpreendem bastante em
um galileu”, embora ao mesmo tempo também mostre muita familiaridade com temas
judaicos.
(4)
Nessa passagem é claro que Pedro usa o termo “Babilônia” de modo figurado, uma
vez que a Babilônia verdadeira, sob o domínio do reino parto, estava sendo
abandonada progressivamente por sua população, já em vias de se transformar
numa cidade fantasma, no primeiro século da era cristã. O sentido de
“Babilônia” nessa carta é-nos dado pelo capítulo 17 do Apocalipse. Outras
fontes também confirmam a suposição de que Pedro realmente esteve em Roma:
1º
- O terceiro bispo de Roma, portanto, Papa, Clemente I, escrevendo para os
fieis de Corinto, em 96, num momento particularmente difícil, quando os
cristãos sofriam constrangimentos nas mãos dos imperadores romanos, diz:
“Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais
próximos de nós” (Wikipedia em português – São Pedro), citando em seguida a
Pedro e a Paulo. Ora, Paulo esteve em Corinto, mas não há notícias de Pedro
nesta cidade...
2°
- Em 107, na sua epístola aos Romanos, Inácio de Antioquia, que estava sendo
levado a Roma para o martírio, escreveu aos cristãos romanos da seguinte
maneira: “eu não vos dou ordens como Pedro e Paulo” (idem, idem).
3º
- Eusébio de Cesareia (260/265-339/340) escreve: “Clemente de Alexandria [+/-
150-215], no sexto livro do Hypotyposeis, cita a história, e o bispo
Hierápolis, chamado Papias [+/-69-150], se une a ele para testificar que Pedro
menciona a Marcos na primeira epístola, que, dizem eles, foi escrita em Roma, e
ele mesmo o indica, quando chama a cidade, figurativamente, Babilônia... (1Pd
5,13)” (tradução da Wikipedia em espanhol – Simón
Pedro).
4º
- O bispo Dionísio de Corinto escreveu, lá por volta do ano 170, uma carta aos
romanos, da qual Eusébio de Cesareia reproduz alguns trechos, entre os quais se
destaca: “tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos
formaram na doutrina do Evangelho. A seguir, indo para a Itália, eles vos
transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio
simultaneamente” (Wikipedia em português – idem).
5º
- Gaio, um presbítero romano, escreveu lá por volta de 199: “Nós aqui em
Roma... Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta igreja local. Ide à
via Ostiense, e lá encontrareis o troféu de Paulo; ide ao Vaticano e lá tereis
o troféu de Pedro” (idem, idem).
6º
- Irineu (130-202), bispo de Lion, na França, escreverá: “Os bem-aventurados
apóstolos [Pedro e Paulo], portanto, fundando e instituindo a igreja,
entregaram a Lino o cargo de administrá-la; a este sucedeu Anacleto; depois
dele, em terceiro lugar, a partir dos Apóstolos, Clemente recebeu o episcopado”
(idem, idem).
7º
- Doroteu de Tiro (+/- 255-362, viveu 107 anos) escreveu: “Lino foi bispo de
Roma após o seu primeiro guia, Pedro”.
8º
- Eusébio de Cesareia (260/265-339/340) escreve: “Pedro, de nacionalidade
galileia, o primeiro pontífice dos cristãos, tendo inicialmente fundado a
igreja de Antioquia, se dirige a Roma, onde, pregando o Evangelho, continua
vinte e cinco anos bispo da mesma cidade” (idem, idem)
Etc.
Como
se pode ver pelos exemplos acima, trata-se de uma tradição muito antiga, muito
repetida e muito espalhada, sem falar que nenhuma outra igreja ou cidade, desde
a época mais remota, reivindica para si a honra de ser o local de descanso do
apóstolo, o que, na Idade Antiga ou Média, lhe daria um grande status, nem o
fato de tê-lo tido, algum dia, como bispo. Sequer Jerusalém!
Quanto
ao fato de tratar Roma como “Babilônia”, que alguns protestantes históricos
quiseram associar à prostituta do Apocalipse, convém ressaltar que:
a)
Pedro chama a igreja que está em “Babilônia” de “eleita como vós”; supondo que
a Igreja de Jesus Cristo não é uma igreja de prostituição...
b)
O autor de Apocalipse é bem claro ao dizer em 17,18 que “a mulher que viste,
enfim, é a Grande Cidade que reina sobre os reis da terra”. É a cidade, e não a
igreja que está nela. Ora, aquela cidade que existia sobre o território da
atual Roma e que dominava sobre o mundo inteiro acabou-se para sempre, desde
476... alerto que, neste item, estou apenas seguindo, com lógica, a linha de
raciocínio literalista e distorcida de alguns protestantes!
c)
A antiga cidade de Roma estava situada sobre sete montes, a saber: Célio,
Esquilino, Palatino, Viminal, Aventino, Capitolino e Quirinal. Ora, o monte do
Vaticano, onde está a sede da Igreja Católica, situa-se no lado oposto a esses
montes. O Vaticano não tem nada a ver com a fundação original de Roma.
d)
Outros, rebatendo a falsa informação de que Roma é a única cidade do mundo que
está sobre sete clinas, lembram que esta também é uma característica de
Jerusalém, agravada pelas fortes denúncias de profetas, dirigidas tanto contra
Jerusalém como contra Israel, e assim temos Isaías (1,21; 57,3-10; ), Jeremias (2,20;
3,1-10); Oseias (quase todo); principalmente o capítulo 16 de Ezequiel; etc.
Podemos lembrar também que a lamentação de Jesus foi sobre Jerusalém (Mt 23,37)
e não sobre Roma. Historicamente falando nós podemos dizer que quem sofreu, e
ainda sofre, o destino dos condenados foi/é Jerusalém, da qual a guerra não se
aparta. No mais, se Roma é, ou foi, uma prostituta, então aquela profecia de
Jesus, “as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mt 21,31), tem o seu
acabamento perfeito.
(5)
Existem antigos relatos de que Pedro foi realmente morto em Roma, por
crucificação, a saber:
1º
- Orígenes (+/-185-253),um dos maiores escritores cristãos, escreve em um de
seus comentários que “Pedro, ao ser martirizado em Roma, pediu e obteve que
fosse crucificado de cabeça para baixo”. Esse testemunho é repetido por Eusébio
de Cesareia em seu História Eclesiástica.
2º
- Pedro de Alexandria (morto em 311), bispo desta cidade, numa de suas homilias
escreveu que “Pedro, o primeiro dos apóstolos, tendo sido preso e arrojado à
prisão, foi tratado com grande desrespeito e, finalmente, crucificado em Roma”
(tradução da Wikipedia em espanhol – Simón
Pedro).
2º
- “Lactancio, em sua obra Sobre a morte
dos perseguidores (318 d.C.), nos relata o seguinte: E enquanto Nero
reinava (58-64), o Apóstolo Pedro veio a Roma... obrou alguns milagres e
converteu muitos à verdadeira religião... Quando Nero ouviu falar dessas
coisas... ele foi o primeiro a perseguir aos servos de Deus. Ele crucificou a
Pedro e mandou matar a Paulo” (tradução da Wikipedia em espanhol – Simón Pedro).
4º
- São Jerônimo (340-420) repercute em seu livro De Viris Illustribus uma antiga tradição que afirma que “Simão
Pedro, filho de Jonas, da aldeia de Betsaida, irmão do apóstolo André. Ele
mesmo, que fora líder dos apóstolos, após ser bispo de Antioquia, mudou-se para
Roma, no segundo ano do reinado de Cláudio... Pedro recebeu o martírio das mãos
de Nero, sendo cravado numa cruz com a cabeça para o chão e seus pés para cima,
afirmando que ele não era digno de ser crucificado da mesma forma que o Senhor”
(tradução da Wikipedia em italiano – Pietro
apostolo).
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/79/Cruc_pet.jpg
Wikipedia
Do
que foi dito acima, nasceu a tradição da cruz invertida, a Cruz de Pedro,
símbolo da mais extrema humildade, a virtude por excelência de quem quer seguir
a Cristo, e assim foi representada ao longo dos séculos, nos edifícios
religiosos e na arte secular, até que uma mistura maciça de ignorância e de má
fé, carreadas por sentimentos anticristãos do final do século XIX e início do
XX, a associaram ao satanismo ou ao mercantilismo barato das bandas de “rock
pesado” – como prova mostramos, acima, o quadro de Filippino Lippi, pintado
entre 1482 e 1485
(6)
Diz uma tradição que, após sua morte, o seu corpo foi recuperado pelos
discípulos e levado para fora da Palestina, até que no ano de 813, a pretexto
de estar enxergando umas luzes num monte ermo e desabitado, um eremita espanhol
de nome Pelayo, alerta ao bispo Teodomiro, de Iria Flavia, Espanha, que,
investigando o local, afirmou ter encontrado o corpo de um homem decapitado,
imediatamente identificado como o apóstolo Tiago, além de outros dois que corresponderiam
aos de seus discípulos tradicionais: Atanásio e Teodoro. Nesse local nasce o
famoso santuário de Santiago de Campostela, ponto final do famoso Caminho de
Santiago, uma dos mais importantes rotas de peregrinação do mundo. E a ciência,
o que diz? As evidências são desconcertantes, mas tudo fica como que em
suspenso, uma vez que a igreja da Galícia ainda não concordou em expor os ossos
aos modernos testes de datação. Alguns afirmam que são os restos do bispo
herege Prisciliano de Ávila, decapitado no século V, mas Prisciliano foi
sepultado junto com sete companheiros, um deles mulher. Em Campostela só foram
encontrados três homens. Em 1955, foi encontrada, próximo ao local, a tumba do
bispo Teodomiro, o descobridor da tumba. Por que razão o bispo iria se deixar
sepultar em um lugar tão ermo? (ver Santiago el Mayor, na Wikipedia em
espanhol; http://www.preguntasantoral.es/2013/07/tumba-de-santiago-apostol/; http://www.lasprovincias.es/20130610/mas-actualidad/sociedad/santiago-apostol-tumba-verdadera-201306102021.html;
http://www.udel.edu/leipzig/060299/elb310599.htm
Bibliografia
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2004
Bloch, Raymond e Cousin, Jean; Roma e o seu destino; trad Ma. Antonieta M Godinho;
Cosmos; Lisboa-Rio de Janeiro; 1964
Cornell, Tim e Matthews, John; Roma legado
de um império; col. Grandes Impérios e Civilizações; trad Maria Emilia
Vidigal; Del Prado; 2 vol; Madrid, 1996;
Diacov, V. e Covalev, S.; História da
Antiguidade – Roma; trad João Cunha Andrade; Fulgor; São Paulo; 1965
Giordani, Mario Curtis; Antiguidade Clássica II – História de Roma; 9ª edição; Vozes;
Petrópolis; 1987.
Jedin, Hubert (org); Manual de Historia de la Iglesia – e la Iglesia primitiva a los
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Bueno; Herder; Barcelona 1966; (online)
McKenzie, John L.; Dicionário bíblico; trad. Álvaro Cunha e outros; 8ª edição; Paulus;
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Mora, Jose Ferrater; Diccionario de Filosofia; Sudamericana; Buenos Aires (online)
Reale, Giovanni – Antiseri, Dario;
História da Filosofia – Patrística e
Escolástica; trad. Ivo Torniolo; 4ª edição; Paulus; vol 2; São Paulo; 2009
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