AGORA
BRIGUEM ENTRE SI!
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Nenhum homem é uma ilha, exceto os ingleses ou, pelo menos, a maioria deles; e
o irônico é que o autor dessa frase, fortemente desmentida pelos adeptos do
Brexit, em nome da mais genuína herança inglesa, seja o poeta elisabetano John
Donne.
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Os ingleses deixaram a Europa em nome de sua autonomia, de sua tradição, de seu
conforto, e, para espanto da esquerda ingênua, a grande massa dos votos veio justamente
da zona rural e dos extratos mais pobres da população, reconhecidos por
qualquer um que não seja marxista, como foco histórico de conservadorismo, desde
que os camponeses no antigo império romano resistiram tão fortemente às mudanças
trazidas pelo cristianismo, que o nome em latim de sua função, paganus, tornou-se sinônimo do mundo
ultrapassado pela nova religião.
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Deixando isso de lado, e olhando para a evolução histórica da nação inglesa,
havemos de convir que ela sempre se colocou contra qualquer iniciativa de união
europeia, desde que aparece nos registros históricos conhecidos, como quando
forneceu todo tipo de ajuda e abrigo aos combatentes tribais belgas do
continente, que resistiam fortemente ao pan-europeísmo do Império Romano, embora
depois de derrotados pelos romanos rapidamente tenham se aculturado e se beneficiado
muito dessa convivência, chegando inclusive a dar uma contribuição considerável
ao projeto europeu empreendido pelos francos de Carlos Magno e ao da Cristandade
Ocidental, liderado pela Igreja Católica na Idade Média.
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Com o advento da burguesia e as mudanças gerais na sociedade europeia, que “degeneraram”
nos modernos estados nacionais, ficou patente, principalmente depois da Guerra
dos Cem Anos, que os ingleses não teriam chance contra estados europeus continentais
grandes e fortes, estando condenados, inclusive pela geografia de seu país, uma
ilha, a serem eternos coadjuvantes nas grandes disputas europeias, inclusive,
na expansão europeia a partir das Grandes Navegações. A estratégia aplicada
pelos próximos cinco séculos será a de manter a Europa dividida, não permitindo
que nenhum país europeu alcance claramente a hegemonia.
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O equilíbrio geopolítico do continente, alcançado à custas de guerras, que
enfraqueciam os outros estados, interessava aos ingleses, que já haviam feito a
sua fusão com Escócia, Gales e Irlanda – isso não podia acontecer de forma
alguma no continente – a começar pela Espanha, que unida ao império dos
Habsburgo, ameaçava engolfar toda a Europa. Os ingleses não sossegaram enquanto
não conseguiram derrotar a Espanha e a sua Invencível Armada, prestando um
apoio incondicional aos insurretos holandeses, dividindo a Holanda da Bélgica,
forçando o envio da dita Armada para o desastre.
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Bem pouco proveito tiraram os holandeses dessa aliança, pois Cromwell respondeu
com o Ato da Navegação à proposta holandesa de unir os países, e, com as
respectivas e as forças militares, dobrar os países católicos na Europa. Depois
de quatro guerras, os holandeses estavam prostrados, e os ingleses dominavam os
mares que antes eram daqueles. Por falar em religião, note-se que o cristianismo
inglês é bem específico, e fabricado sob medida para atender a interesses
estratégicos, uma vez que une elementos tanto do catolicismo como protestantismo,
permitindo-lhes se aproximar de qualquer um dos lados, quando convier uma
aliança.
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Quando a França ameaçou tornar-se uma potência hegemônica e pan-europeia com Luis
XIV e Napoleão Bonaparte, os ingleses arrostaram todas as dificuldades para derrotá-los,
unindo-se, inclusive, aos espanhóis, que antes combateram – generais ingleses,
como Wellington, além de tropas inglesas, secundaram a portugueses e
espanhóis no intento de expulsar o caudilho francês da Península Ibérica. Por
falar em portugueses não se esquecer da presença de arqueiros ingleses,
ajudando aos portugueses a se separarem da Espanha, em Aljubarrota.
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As lutas seculares com a França seriam logo esquecidas, à medida que novas
potências despontavam no horizonte. A primeira foi a Rússia, que teve que
enfrentar na Guerra da Crimeia uma coligação formada por ingleses, franceses,
turcos e piemonteses. Mais tarde a Rússia foi derrotada por uma coligação
informal entre a Inglaterra e o Japão, na chamada Guerra Russo-japonesa. Uma
grande coligação, com os ingleses na ponta, dobrou definitivamente a China na
guerra dos Boxers, quando os interesses comerciais ingleses contornaram o
mundo.
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Aliada estreita à França e à Rússia, inclusive quando já era a encarnação do
mal com o comunismo, a Inglaterra destruiu os sonhos hegemônicos e confusos do
colosso alemão, para depois se unir aos Estados Unidos clamando o enfrentamento
da União Soviética e sua “Cortina de Ferro”. Isso tudo enquanto passava para o
mundo ideias de liberdade, justiça, paz, bom governo, etc.
http://msalx.veja.abril.com.br/2016/06/24/1638/alx_mapa_brexit_original.jpeg?1466797109
http://veja.abril.com.br/
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Essa manipulação teria durado indefinidamente se os europeus, engrossados por
duas guerras mundiais, não tivesse aberto os olhos e iniciado uma ousada
construção política que traria prosperidade e paz permanente à Europa,
inclusive com a participação inglesa, que de forma alguma poderia ser a hegemônica,
uma vez que o Reino Unido não reúne condições nem vocação para impor sua
hegemonia (o inglês comum tende a se fechar num estrito chauvinismo, um tanto racista).
Não esquecer que a Inglaterra é o berço da mais radical forma de racismo: a
Eugenia de Sir Francis Galton. É à velha Europa, eternamente dependente do
apoio inglês, como fiel da balança em guerras tão intermináveis quanto danosas,
que foi o voto desses 52% pró Brexit, que acreditam ser bastante a relação de
dependência com suas ex-colônias, em especial os EUA, racialmente mais confortável,
mas só o futuro dirá se a divisão que eles esperam semear no continente não se
dará dentro de sua própria casa (acima). Esperemos que a Europa, unida, resista
a mais essa tentativa de voltar às antigas disputas bélicas, e que o
nacionalismo belicoso, racista e xenófobo dos partidos da extrema direita,
eternos troféus do maquiavelismo ilhéu, não vingue sobre essa iniciativa tão benéfica
ao mundo.
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É claro que esse artigo é uma abordagem muito generalista, que, por força das limitações
da linguagem usa termos como “ingleses”, sem querer com isso dizer que aqueles
que estão abrigados sob essa designação representam um todo uniforme, agindo de
forma sempre consciente, “maquiavélica”, aos desafios de seu tempo, embora
também não dê para negar que existe, e é um padrão que não deixa muito a
orgulhar a quem nele se enquadra conscientemente. Esperemos que seja só uma opinião.
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Bem, amigos, acho que agora só nos falta torcer para que Donald Trump não
consiga se eleger presidente dos EUA, pois nesse caso, quem ainda não sabe, é
melhor aprender a rezar.
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