NENHUM SER HUMANO É UMA ILHA, MAS É UM
MUNDO, E PODE SER ASSUSTADOR.
Prof Eduardo Simões
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__ Fico imaginando alguém, homem ou mulher,
entrando numa delegacia, dizendo que, após forrar sua carteira de dinheiro,
saiu com o seu carro importado zero para a balada, tomando antes o cuidado de
passar na zona mais barra pesada da cidade, o que era de seu conhecimento, e
agora está ali, prestando queixa de roubo, apenas com a roupa do corpo.
__ Ele certamente dirá que é um adulto, no
pleno gozo de seus direitos civis, entre os quais se incluem poder sair
sozinho, levando suas posses, e de transitar em qualquer área da cidade, em
qualquer hora do dia ou da noite. O delegado, certamente, cumprirá o seu dever
e sairá em busca dos criminosos, mas mesmo assim não livrará a vítima de um
grande prejuízo, tanto financeiro como moral, pois aquela ainda terá que ouvir
muito de seus amigos e amigas “só um louco ou um otário circularia naquelas
bandas”.
__ No dia seguinte ao horroroso e
abominável massacre da boate Pulse, em Orlando, uma blogueira de VEJA, escreveu um artigo intitulado ABRAÇO DOS SOBREVIVENTES: ATAQUE AO
ESTILO DE VIDA DAS DEMOCRACIAS E O DIREITO DOS ADULTOS FAZEREM O QUE QUISEREM.
Ela podia ter completado a frase com “E SOFRER COM ISSO”, afinal o matador
também era adulto, estava fazendo o que queria e morava num sistema
democrático, que, fora da esfera sexual, aparentemente não o desagradava.
__ Omar Matteen era um desajustado, alguém
que não conseguia entender o mundo à sua volta, sentindo-se minoritário e
encurralado. Se pelo fato de ser islâmico ou de ascendência afegã pura e
simples, ninguém poderá jamais afirmá-lo, afinal a grande maioria dos islâmicos
e afegãos, morando em outros países, não sai por aí atirando contra tudo ou
contra quem os desagrada.
__ Se o que mais o influenciou foi o fato
de ele ter sido mal educado ou uma possível convivência com os terroristas do
EI, será também difícil dizer, mas algumas coisas nós sabemos perfeitamente
sobre a decantada sociedade americana e a sua democracia:
a) Há uma clara e onipresente cultura da
violência e da agressão física, claramente perceptível, por nós brasileiros,
nos cinemas e seriados, mas também nos grandes magazines, que costumam rechear
suas páginas com abundantes fotos de cadáveres e combatentes em áreas de
conflito.
b) Há um claro, poderoso e público
incentivo à fabricação, comercialização, posse e uso de armas de fogo, contra o
qual queda, impotente, um dos presidentes mais populares da história do país,
incentivo esse que encontra uma de suas maiores justificativas justo no fato de
o país ser uma democracia. É irônico, não é? E mais: se não fosse autorizada,
democraticamente, a comercialização, inclusive, de armas pesadas, como fuzis automáticos,
certamente que o número de vítimas seria bem menor.
c) A democracia, e mesmo a escola de tempo
integral, não conseguiram vencer, por serem inadequadas para isso, a imensa
barreira racial e cultural que os americanos, em que pese as generosas
apresentações de seu sistema político, levantaram contra a absorção de gente
estranha às comunidades fundadoras, criando um tabuleiro de comunidades estanques,
e, nas fronteiras destas pessoas isoladas, lobos solitários, prontos para
explodir, quando a sua sensação de solidão e encurralamento ultrapassar ao
limite tolerável, que varia de pessoa a pessoa, na forma de grandes massacres;
nas escolas, nas empresas, nas ruas, nas estações de entretenimento, ou ainda nos
crimes hediondos dos serial killers, dos quais os EUA são campeões mundiais
absolutos. A estes o americano médio só tem uma coisa a dizer: “PERDEDORES”,
dito com a máxima entonação de desprezo possível, até acontecer a próxima
tragédia, quando muitos verterão abundantes lágrimas, e todos se sentirão
perdedores.
__ Em vista do que aconteceu na Pulse e do
que acontece no Brasil, mais de uma centena de crimes de matiz homofóbica por
ano, creio que é chegada a hora de discutir uma questão que fará certos
“democratas” e “adultos” terem urticária, que é a necessidade de cuidar também
dos preconceituosos, dos “perdedores”, das minorias, que não apenas aquelas que
querer revolucionar costumes ou a política, mas também aquelas que são
visceralmente conservadoras, pois todos, e não só os aliados próximos, merecem
cuidado; cuidado esse que se expressa por meio de uma educação inclusiva, mas
sem imposições ou ameaças, mesmo que seja a favor da tolerância, e não fazer da
minha liberdade uma fonte de agressão contra aqueles que não conseguem ainda
aceitar determinadas mudanças, porque para aqueles que escrevem artigos muito
afirmativos, e até incendiários, tudo não passa de uma questão de ideias e
princípios, mas para as vítimas e as suas famílias a perda, a dor e o trauma
são reais, e não se resolveram com a leitura de teses inflamadas, por mais
politicamente corretas que sejam.
__ Aqui cabe como uma luva uma expressão do
apóstolo São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios: “tudo me é permitido, mas
nem tudo convém”.
__ Não é só o conceito de democracia da blogueira que é falho, mas também o seu conceito de adulto, pois o verdadeiro
adulto, uma pessoa psicológica e socialmente madura, não faz o que quer, mas o
que deve, pensando principalmente no bem da comunidade, das outras pessoas, sem
abrir mão de seus princípios. Quem faz o que quer, pensando apenas no seu bem
estar e no seu prazer, a revelia do mundo, são as crianças e os adultos imaturos
e mimados, talvez até doentes, como o atirador da boate Pulse.
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