MERGULHADOS
NUMA ESTRANHA LUZ OBSCURA
Prof
Eduardo Simões
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É notável a capacidade que alguns agrupamentos demonstram, ao longo de nossa
história, em transformar luminosas contribuições em outras partes do mundo em
densa treva, no nosso país.
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No Brasil Imperial, por exemplo, grupos de ricos fazendeiros,
autoproclamando-se “liberais”, conviviam sem problemas de consciência com a
escravidão, o intervencionismo econômico do imperador, a censura à imprensa,
etc. Na República, não nos saímos melhor, o convênio de Taubaté é a antítese do
liberalismo, assim como a grotesca política dos governadores, que transformou a
nação brasileira em refém de uma classe.
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Em 1930, um grupo se alevanta, de armas na mão, em nome da moralidade e dos
bons costumes na política, e dá a nação um governo com vocação provisória,
transformado, em 1937, em terrível ditadura, com um severo pai para o povo e
uma mãe bondosa e leniente para burguesia industrial; esta, tão nacional quanto
“quase liberal”, defensora do protecionismo na economia, adepta do
autoritarismo na política, desde que defendesse os seus interesses de classe.
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Esse grupo de “quase liberais” ou “liberais desconfortáveis”, grandes
beneficiários do progresso na década de 50, se tornará, na década seguinte, o
braço de apoio indispensável ao Golpe Militar de 1964, teleguiado pelos EUA,
que assoma ao poder a pretexto de salvar a democracia, a família e a economia
nacional em frangalhos. O resultado foram trinta anos de ditadura, a
popularização da pornografia (as “pornochanchadas” pagas com o nosso dinheiro, por
intermédio da Embrafilme, afinal jovens que só pensam em sexo não saem às ruas para
clamar por democracia). Nesse momento nossos liberais se apresentam (Roberto
Campos). Mas como pode alguém se dizer liberal a apoiar uma ditadura ou um
governo tão autoritário e excludente, como o que havia no Brasil dos militares?
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Vibramos, ao final do Governo Militar, com o surgimento de uma nova esquerda,
prometendo, como todos os outros movimentos anteriores, dias melhores, ao mesmo
tempo em que se levantava, com coragem e agressividade, a denunciar as mazelas de
uma direita corrupta e arrogante, exigindo uma justiça célere e penas duras.
Qual não é nossa surpresa e decepção, vermos essa mesma esquerda tentar
proteger com grande vigor aqueles que são denunciados ou condenados como
corruptos, por meio de fartas provas testemunhais e documentais!
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Desta vez, como nas outras, ao cair a máscara dos responsáveis, percebemos que não
existe um só homem capaz de assumir a menor responsabilidade sobre o que
aconteceu, embora indícios, evidências, documentos e testemunhos comprovem que
todos, sem exceção, têm culpa no cartório, embora mais na empreiteira, e tem
início uma guerra sórdida guerra de versões e mentiras fabricadas, com o claro
intuito de enganar a população e tornar o justiceiro um bandido e vice-versa.
__ A
nova situação, deflagrada pelos criminosos presos em flagrante na Lava Jato, tornou
os paladinos apaixonados por justiça contra a “direita” em ferozes defensores
de seus corruptos favoritos, de esquerda, como se a peça acusatória que impediu
a presidenta “inocenta”, por exemplo, não tivesse partido, entre outros, da
pena de um dos fundadores mais respeitáveis de seu próprio partido (Helio
Bicudo). A situação, ou melhor, a oposição (pisc!), pode ser colocada da
seguinte maneira: quando o Judiciário atinge os de “direita”, como Eduardo
Cunha, age com imparcialidade e não merece nenhuma crítica, mas quando investiga
e pune os malfeitores de seu grupo, o grande cacique touro sentado, do
“partido”, eles ameaçam até “incendiar” o país. No Brasil do PT, o inimigo
histórico da classe operária não é mais a burguesia endinheirada, mesmo porque
está cada vez mais difícil diferenciar esta das lideranças do partido, mas os
funcionários do Poder Judiciário, no exercício de sua função institucional de
investigar com profundidade e rapidez uma verdadeira tragédia econômica e
moral, que se abateu sobe a principal empresa do país, e contaminou toda a
economia. Sob o seu governo a nossa democracia se tornou uma cleptocracia.
__ Essa
história de “ódio contra o PT”, repetido como se um mantra fora, talvez pela
falta de argumentos, também revela o caráter messiânico, milenarista, religioso,
dessa agremiação, que justamente prega o ódio de classes como “motor da
história”, e prima por discriminar socialmente o que é da burguesia e o que é
“popular”, sem saber muito bem o que diz ou o que faz, esse mesmo partido onde uma de suas mais
eminentes intelectuais proclamou, é muito bonitinha, mas “ordinária”, e não
passa de um plágio barato da famosa Carta Testamento de Getúlio: “Ao ódio
respondo com o perdão”, ou como diz este: “Lulinha-paz-e-amor” (cuja figura era
o Getúlio democrático, da mesma forma que o Getúlio ditador era a figura do “Lula-jararaca”),
mas com uma “pequena” diferença: Getúlio pegou um país em meio a grande
dificuldade econômica e o entregou financeiramente saneado (justo o contrário);
Getúlio não teve ampliado o seu patrimônio, sequer pela “bondade” de amigos
(justo o contrário); Não ficou comprovado nenhuma ligação entre Getúlio e o
crime da Rua Toneleros (justo o contrário); os adversários queriam julgar
Getúlio ao arrepio da lei e da ordem constitucional (justo o contrário). Não é
ódio, meu velho, é cansaço de tanta impunidade e falta de vergonha na cara, e
tanta mentira dita para esconder isso.
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Portanto, quando um petista fala em ódio contra o seu partido ou está fazendo
uso de um recurso tipicamente freudiano, o mecanismo de defesa da projeção ou
transferência, quando alguém projeta, lança sobre os outros, os sentimentos
negativos que alimenta e não consegue lidar, ou é uma questão de política
goebeliana – do Ministro da Comunicação do Reich, Joseph Goebels, que afirmava
a necessidade de se repetir indefinidamente uma mentira até ela se tornar uma
verdade. Os caquinhos da Alemanha nazista, em 1945, mostram, fracasso dessa
estratégia, e o acerto do aforismo de Lincoln: “não se pode enganar todo mundo
o tempo todo”. Num caso ou no outro temos um exemplo cabal de um totalitarismo
disfarçado em risonhas promessas de prosperidade e democracia, feitas por um
partido que, até agora, nos legou justo o contrário, como os seus congêneres no
mundo, pois só há dois tipos de pessoas que florescem no ambiente totalitário:
os imaturos, incondicionalmente submissos, e os fanáticos, absolutamente “fieis”,
que acreditam poder mudar a realidade no grito e na palavra de ordem. Como se
melhora uma realidade com gente assim?
__ O
carro brasileiro continuará, eu espero, firme na direção de seu destino
histórico, realizando todo o seu potencial, fugindo de paradas em acostamentos
tenebrosos, tanto à direita como à esquerda, desde que a nação assuma o volante
de forma segura e compromissada, mantendo bem conservados e acessos os dois faróis
que iluminam o seu percurso: a democracia,
com seu suporte na liberdade de expressão, opinião e de organização, e o culto à lei, aplicada equitativamente,
sem deixar de considerar os atenuantes, a todos, sem exceção, fugindo das
paradas propostas por multidões de fantasmas trevosos, de um lado e de outro da
estrada. À direita, os fantasmas gritam; “parem aqui, pois só nós temos o ‘Milagre
Brasileiro’!” À esquerda eles gritam: “não, parem aqui, que em 2018, ou talvez
antes, nós poderemos oferecer mais do mesmo!”
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Que os fantasmas se agitem, é de seu feitio, além de ser garantido pelo espírito da
democracia e o texto da lei, mas, como já disse um deles: “a história é um
carro alegre, cheia de povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que
a negue”. É justo esse carro que os está atropelando...
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