quinta-feira, 6 de abril de 2017


LIÇÕES FINLANDESAS 2.0 DE PASI SAHLBERG – 3

Tradução e comentários prof. Eduardo Simões

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A geração pós mudança educacional

__ “... após a reforma na escola compreensiva nos anos 1970, a evolução do sistema escolar finlandês pode ser dividida em três fases:
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__ Fase 1: Repensando teorias e métodos (década de 80)
__ Algumas pesquisas e projetos levados a cabo após as mudanças no sistema de escolas compreensivas no final dos anos 70 e início dos 80 levantaram uma série de críticas e dúvidas sobre as práticas e métodos tradicionais, em especial aqueles cuja aprendizagem era centrada na pessoa do professor, como havia na tradicional escola finlandesa. A nova escola fora lançada junto com uma filosofia educacional que ressaltava o papel da educação pública como meio de preparar cidadãos para pensar crítica e independentemente. Um dos principais temas que se discutiu nas escolas foi sobre a criação de um conceito de aprendizagem dinâmica [nós, os piagetianos da linha do professor Lauro, dizemos que simplesmente não é possível falar em conhecimento sem se referir a uma atividade; o pensamento é necessariamente um processo ativo, dinâmico, fora do qual não há pensamento, sequer uma memória digna do nome (a memória supõe uma atividade do intelecto sobre aquilo que é memorizado)]... Uma significativa guinada nessa direção foi dada pela introdução das novas tecnologias da informação dentro da escola, exatamente nesse período. Alguns temiam, com toda razão, que a disseminação do uso de computadores em sala de aula trouxesse problemas tais como a fragmentação do conhecimento, e determinismo tecnológico [um reducionismo tecnológico que faz imaturos e ingênuos, além dos espertos de sempre, acreditar que a tecnologia da informática é uma panaceia, a solução pronta e rápida de todos os problemas tecnológicos e sociais, principalmente os educacionais, como parece estar ocorrendo em nosso país]
__ O desenvolvimento tecnológico correspondeu com a revolução no ensino das ciências [que ficou mais experimental, e continua assim até hoje no mundo afora; nós demos marcha a ré nessa área]. O predomínio da psicologia cognitiva, com a emergência das teorias construtivistas da aprendizagem e o avanço da neurociência no horizonte atraíram os pesquisadores finlandeses para analisar as concepções de ensino e aprendizagem nas escolas finlandesas”.
[Como é que se põe centenas, milhares e milhões de crianças dentro de escolas em um sistema escolar público, para evoluírem de seu estágio infanto-juvenil atual, sem ter bem claro como é que essa criança amadurece, como ocorre o seu processo de maturação, e o que normalmente faz esse processor avançar ou recuar, considerando as peculiaridades de cada sujeito? Uma supervisora de ensino nos falou, certa vez, que “O emocional não nos interessa”. A ciência de educar supõe, da parte do professor, um profundo conhecimento de psicologia do desenvolvimento, inclusive a natureza e as características das manifestações emocionais, em que pese a incompreensão de ‘especialistas’]

__ “Da perspectiva internacional, essa primeira fase da escola finlandesa foi excepcional! Ao mesmo tempo que os professores da Finlândia exploravam todas as possibilidades teóricas sobre o ensino e a aprendizagem, e redesenhavam o currículo de suas escolas para ser congruente com aqueles, seus pares na Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos estavam lutando contra o aumento dos controles sobre as escolas, a imposição externa de uma aprendizagem padronizada [conforme o modelo behaviorista], e a competição desestabilizava os professores a ponto de muitos quererem abandonar a sua carreira [esse problema está ocorrendo agora nas escolas públicas de São Paulo, mas na época que o autor se refere também estava havendo uma debandada de professores das escolas no Brasil, em decorrência do desprestígio da carreira e do arrocho salarial dos governos militares]. Na Inglaterra e Estados Unidos, nessa época, esse tipo de pesquisa era levado a cabo apenas por professores especialistas nas universidades e pelas lideranças políticas nos gabinetes [os professores desses países, como os nossos agora, se dedicavam apenas em preencher prontuários, relatórios, tornando-se meros cumpridores de ordens que vinham de fora se seus ambientes de trabalho, de preferência sem questionar]... a Finlândia permaneceu imune aos ventos da educação dirigida para o mercado, que afetou a quase todos os países membros da OCDE, durante os anos 90”.
[Nós pegamos esses ventos, e já evoluímos da gripe para a pneumonia]

__ [em seguida Pasi Sahlberg relata o quanto a Finlândia deveu, nesse momento aos preciosos resultados das pesquisas educacionais ocorridas em países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Países Nórdicos, etc. O que é muito irônico, pois nesses países, onde essas pesquisas se originaram, elas de nada serviram, e eles continuaram presos à canoa furada da “educação dirigida para o mercado”, à qual nós também nos agarramos. Sobre isso Sahlberg tem uma explicação:] “O segredo do sucesso dessas teorias educacionais da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, é que elas foram lidas a partir do modelo programático da escolas finlandesas e frutificaram em abundância. Sintomaticamente, é muito pequena a produção de autores finlandeses nessa área pedagógica” [os finlandeses, parece, são muito práticos e pouco teóricos]. 
__ [Sahlberg cita a opinião de um autor reconhecido, lá, Erno Lehtinen, sobre como foi a natureza desse primeira fase da reforma finlandesa:] “As discussões sobre as novas concepções de conhecimento e aprendizagem afetou a forma como os professores finlandeses começaram a encarar o processo ensino-aprendizagem. As primeiras discussões se caracterizaram pela substituição dos processos tradicionais de socialização, ensino factual, valores impostos e obediência hierárquica, pelo aprimoramento da reflexão, do pensamento crítico, da resolução de problemas e de aprender a aprender...” [como profetizava no Brasil, 15 anos antes, Lauro Oliveira Lima].          
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__ “Fase 2: melhoramento por meio de ramificações e autorregulação (anos 1990)
__ A Reforma Nacional do Currículo, de 1994, é frequentemente apresentada como a mais importante reforma da educação finlandesa, junto com a Reforma da Escola Compreensiva, nos anos 1970. O principal veículo das mudanças foi o papel ativo das municipalidades [os políticos de lá, prefeitos e vereadores, parecem sinceramente interessados em educação!] e das escolas na elaboração do currículo e implementação das mudanças. As escolas foram encorajadas a se ajudarem mutuamente, em parceria com os pais, empresas, organizações não-governamentais. Em nível da administração central, todo esse movimento de colaboração e autogoverno entre as escolas culminou no Projeto Aquarium, uma espécie de “escola nacional” para prover a professores e diretores de todas as escolas do país de ferramentas e recursos para se integrarem uns aos outros. O cerne do projeto era transformar cada escola numa comunidade de aprendizagem...”
[Com o Projeto Aquarium criava-se, portanto, um gigantesco banco de dados ou uma central de trocas de informações de sorte que as experiências positivas de umas fossem multiplicadas, e as negativas de outras, depois de devidamente analisadas, descartadas, ou seja, o fim do desperdício de know-how – quantas vezes Lauro Oliveira Lima não lamentou, em seus livros, que todo professor novato que ao entrar numa sala de aula, pela sua primeira vez, no Brasil, o faz como se fosse o primeiro professor que o país já teve, porque todas as experiências, bem ou malsucedidas, de centenas de milhares de professores que vieram antes deles, ao longo dos séculos, foi simplesmente perdida, jogada fora!]

“__ Particularmente importante é o relatório apresentado pela maioria das escolas, de que haviam conseguido melhorias significativas, graças ao empenho dos professores, mesmo em um período de recessão e crise econômica... o Projeto Aquarium conseguiu estimular professores e diretores a buscar inovações em suas escolas e a aprofundar seus estudos nas universidades [integração escola-universidade]. Ele também demonstrou que é na escola, e não na burocracia do sistema, o local do controle e da capacitação para as reformas”.
[De fato, é nas escolas, nas unidades escolares, que acontecem os fenômenos educacionais, e é lá que precisam ser observados e gestadas as intervenções, bem diferente do que ocorre no Brasil, onde as políticas educacionais e as grandes discussões sobre os problemas educacionais ocorrem apenas nos corredores das repartições públicas (secretarias de educação) e das universidades, distantes da realidade escolar].

“__ “Esse projeto, Aquarium, estava de acordo com as novas ideias de descentralização e aumento da autonomia das escolas vigentes nos anos 90. Como uma estratégia para a melhoria das escola esse projeto pressionava o compartilhamento de responsabilidades dentro das escolas [professores ‘polivalentes’ ou melhor dizendo: todos cuidam de todos e de tudo], iniciativas personalizadas, e esforços coletivos para a melhoria do ambiente escolar [que diluíam o individualismo suposto no item anterior], e nesse sentido o Projeto Aquarium incorporou características consistentes de políticas educacionais neoliberais, e, eventualmente, essas características foram vistas como sinais de um aumento da competição entre as escolas... É verdade que as escolas podem escolher se tornar um ambiente competitivo, mas o ambiente de rede das trocas concernentes às melhorias escolares, dirigiam a competição para um esforço de melhoria das escolas como um todo. O forte matiz social do Projeto Aquarium induzia à troca de ideias, a solução de problemas compartilhada, e evitava que as escolas começassem a se ver, umas às outras como adversárias...”

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Liceu Joensuu

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(idem)
Liceu Joensuu.

Fase 3: Melhoria da eficiência estrutural e administrativa do sistema (2000 ao presente)

[gostaria aqui de chamar a atenção para algo: primeiro eles procuraram uma base teórica, uma pedagogia e uma psicologia para a sua reforma; por fim eles realizaram a mudança de layout, a melhoria dos prédios. Aqui nós fazemos justo contrário: começamos pelos prédios, e em geral paramos aí – lembram dos CIEPs do Brizola, dos CIACs do Collor, dos CAICs do Itamar? Outra coisa que fazemos bem diferente dos finlandeses é que a reforma deles começou pelo norte do país. Na Lapônia, a região mais fria, menos povoada e a mais pobre. Nossas reformas começam justo pelo oposto: pelas regiões mais ricas e saturadas, e em geral terminam por aí, por puro esgotamento, sem acúmulo de know-how, acentuando mais um tanto as disparidades regionais. É hora de repensar o modelo].
__ “O primeiro resultado do PISA, publicado em dezembro 2004, pegou a todos de surpresa. Em todas as três áreas – linguagem, ciências e matemática – a Finlândia se colocava entre as nações de mais alta performance.... e os finlandeses aprenderam todo o conhecimento e as habilidades que eles demonstraram nesses testes sem aulas de reforço particulares, sem aulas extras, ou um grande amontoado de trabalhos para casa, como é comum entre os estudantes do Extremo Oriente...
__ A reação inicial ao anúncio dos resultados desse primeiro PISA entre os educadores finlandeses foi de perplexidade e confusão. Alguns chegaram a especular se esses resultados, tão elevados, não estariam errados. Desde os anos 1970 a educação finlandesa tinha focado pesadamente sobre música, arte, artesanato, estudos sociais, habilidades para resolver problemas do cotidiano, e não em linguagem, ciências e matemática...”
[Façamos um parágrafo para clarificar sobre um assunto que Piaget e Lauro de Oliveira Lima já haviam se debruçado antes e sobre isto apresentado fartos esclarecimentos:
a) uma coisa é a inteligência, um fenômeno mental, geral, que abarca e dirige as ações humanas comuns aos melhores resultados com o menor dispêndio de energia possível – o importante não é trabalhar muito, mas trabalhar bem – e outras, bem diferentes, são: a memorização de conteúdos, muito solicitadas nos testes do PISA, e habilidades específicas nos esportes, nas arte, numa oficina, que podem ser aprendidas por repetição ou especialização congênita, gerando trabalhos de grande perícia sem a necessidade de um grande nível intelectual (veja-se os portadores de síndrome de savant). 
b) O desenvolvimento da inteligência parte das ações mais simples para as mais complexas, onde estas são a base estrutural para aquelas, de tal sorte que se alguém é capaz de resolver um problema ou fazer uma ação mais complexa, da mesma forma, e mais facilmente, será capaz de resolver problemas ou fazer os atos mais simples, que são um ou vários graus genéticos (de gênese) mais simples – dito de outra forma: quem é capaz entender o mecanismo de multiplicação será também capaz de entender o mecanismo da soma; quem é capaz de andar sobre duas pernas também será capaz de andar de quatro.
O que os educadores finlandeses não entendiam, e nesse ponto se assemelhavam aos behavioristas americanos, é que o desenvolvimento da inteligência de tão geral e complexo não cabe todo no cotidiano das escolas e tampouco pode ser dirigido nesta ou naquela direção (fazedores de provinhas e exames, orientais x humanistas fabricados em escolas, finlandeses). A educação é um processo não diretivo, tentar fazê-lo diretivo é por a perder o principal da educação (= aprender para a vida). O que aconteceu foi que os testes do PISA, em seu primitivismo, apenas faziam jovens finlandês que já eram campeões em corrida de conhecimento, se comportassem como bestas de carga, a andar de quatro no conhecimento, preenchendo provas de múltipla escolha. Eles conseguem fácil, mas um dia eles vão enjoar disso e as notas devem cair]
__ “O que o PISA, em geral, revela é que as políticas públicas baseadas no princípio de igualdade de oportunidades educacionais e na equidade da educação, que trazem os professores para o coração do sistema educacional, impactam positivamente a qualidade de um sistema de educação [outa abordagem da questão, absolutamente verdadeira]... [mas] Aparentemente a variação na performance dos estudantes, devido a fatores socioeconômicos, parece estar aumentando [de acordo com os últimos dados do Pisa sobre o país, o que demanda intervenções corretivas ou o abandono definitivo do PISA como medida de qualidade ou de análise do sistema. Para mim os dados do PISA são uma grande fantasia, sem falar que aí pode estar ocorrendo uma questão mais sociológica que educacional, pois en geral os pobres, e lá não deve ser diferente, têm muito menos paciência para lidar com o que não têm finalidade ou utilidade prática, bobagens, com as provas do PISA, do que os jovens mais ricos, domesticamente mais disciplinados].
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O Sistema educacional finlandês em 2015

__ “Uma das mensagens-chave desse livro... é que o sistema educacional finlandês não tem sido contaminado por modelos de educação voltada para o mercado, como acontece em outros países, que acirra a competição entre as escolas para que haja uma corrida de inscrições [o número de inscrições é sinal de o quanto a escola é respeitada!], o seguimento servil de propostas educacionais estandardizadas de ensino e aprendizagem [elaboradas fora das escolas; pelas secretarias de educação, por exemplo], e a aplicação de testes de alta-performance [pelo amor de Deus, isso por aqui é uma epidemia grave, e estamos a precisar do remédio finlandês com urgência!]... Os educadores e autoridades finlandeses, especialmente os professores, não estão convencidos que dados macroeducacionais, acumulados por meio da realização de frequentes testes externos [SARESP, AAP, PISA, etc.], e um minucioso controle sobre os professores possa ser benéfico aos alunos e à sua aprendizagem.
__ A política educacional deve estar integrada, necessariamente, a outras políticas sociais, em especial com a política cultural global do país [ou seja, uma mudança dessa envergadura tem que mexer com o conjunto da nação, criar uma nova mentalidade nacional a respeito da educação e dos seus objetivos principais, não pode jamais surgir, de repente, da iniciativa de uma autoridade política ou mesmo uma autoridade técnica, especializada, por mais completa e bem-intencionada que seja a proposta]. A chave do sucesso da passagem da Finlândia para uma economia do conhecimento, com boa governança e um respeitável sistema de ensino tem sido a habilidade para alcançar amplo consenso nos principais pontos referentes à educação... a Finlândia parece realizar, com razoável maestria, a implementação e manutenção de políticas e práticas de governo com mudanças sustentáveis... a educação na Finlândia é vista como um bem público e por conseguinte como um importante elemento de construção da nação
[Se a chave para o sucesso é a construção de consenso em diversas áreas capitais, então estamos com um problema. Como construir consensos num país tão grande e diversificado como o nosso, varrido por tantos interesses contraditórios e por vezes inconfessáveis? Só vejo uma possibilidade, já levantada por Sahlberg algumas páginas atrás: dar mais autonomia aos sistemas estaduais de educação, para que, como se cada um fosse um país quase independente, como na Federação Americana, pudessem viabilizar, cada um no seu ritmo, um sistema educacional minimamente compatível com a grandes linhas de um projeto nacional, muito mais flexível que o atualmente existente, dando muita independência, enquanto gera uma obrigação moral nos estados mais atrasados ou com piores resultados em sua reforma a procurarem se espelhar nos estados mais bem sucedidos].

__ “A política educacional desenvolvida para aumentar os índices da aprendizagem na Finlândia colocou um forte acento sobre o que é específico ao ensino e à aprendizagem, encorajando as escolas a criarem por si mesmas um ambiente adequado ao ensino e à aprendizagem, que ajudasse aos alunos a alcançar os objetivos instrucionais. Isso é o oposto da política de muitos países [principalmente do Brasil e de São Paulo], onde diretrizes e parâmetros criados em órgãos externos são impostos às escolas, como acontece com o Common Core State Standards dos Estados Unidos, o National Standards da Nova Zelândia, ou o New Education Standards na Alemanha... [e os Parâmetros Curriculares Nacionais, um amontoado sem sentido, no Brasil]. Partiu-se muito prematuramente, na reforma educacional finlandesa, da crença de que os professores e os métodos de ensino são os elementos que fazem a diferença na aprendizagem dos alunos nas escolas, e não a parametrização, a avaliações ou programas instrucionais alternativos [que vivem a cair de paraquedas em nossas escolas, prometendo milagres].
[Vale a pena encararmos um pouco daquilo que Pasi Sahlberg fala tanto, como algo a ser evitado, e no qual nós, desafortunadamente, mergulhamos de cabeça e tanto que é a educação voltada para o mercado. Vejam essa declaração no site do Common Core State Standard, dos EUA, num link chamado: “o que os país precisam saber”:] “os estudantes de hoje estão se preparando para um mundo onde as faculdades e as empresas exigem cada vez mais. Para garantir [to ensure] que todos os alunos estejam prontos para o sucesso após o ensino médio, o Núcleo Comum dos Parâmetros Estaduais estabelece diretrizes claras e consistentes sobre o que cada aluno deve saber e ser capaz de fazer em artes, matemática em língua inglesa do Jardim de Infância ao final do Ensino Médio [“grade 12” ou “k-12”]. A chamada do site é: “PREPARANDO OS ESTUDANTES DA AMÉRICA PARA O SUCESSO”.  http://www.corestandards.org/what-parents-should-know/
[Já o site do Ministério da Educação da Nova Zelândia, o National Standards é apresentado da seguinte maneira] “O Standard estabelece claras orientações sobre o que o estudante precisa saber na aprendizagem da escrita e da matemática nos primeiros oito anos de escola” e “O Currículo Nacional é composto do Currículo Nacional da Nova Zelândia... o qual fixa as diretrizes para a aprendizagem dos estudantes e estabelece guias para as escolas modificarem ou revisarem o seu currículo [ou seja, é uma receita que vem de fora, de um ambiente estranho à escola, feita por pessoas que não trabalham na escola, lhe dizendo o que é melhor para ela! Qual é a chance de isso dar certo?]. Veja mais em http://nzcurriculum.tki.org.nz/The-New-Zealand-Curriculum
[Reproduzo, em seguida, uma parte muito interessante de um artigo, a parte pedagógica, com que eu concordo, publicado em num site da Quarta Internacional, em inglês, chamado: “Alemanha, os novos parâmetros educacionais – aperfeiçoando o sistema de seleção social”. O artigo começa narrando o encontro dos ministros da educação dos estados alemães (kultusministerkonferenz = KMK) para definirem os novos parâmetros ou diretrizes educacionais nesses estados].... “esses parâmetros especificam as habilidades que os alunos devem atingir em um certo período. Por exemplo, de acordo com os padrões educacionais do KMK, após 10 anos na escola, o aluno deve conhecer “um conjunto de obras literárias apropriadas à sua idade – incluindo [além dos clássicos] literatura para jovens leitores – de autores que sejam significativos [conceito difícil de definir]”. Ele também deve ser “capaz de diferenciar um texto épico, de um lírico ou dramático, assim como as diferentes formas de narrativas: a épica, as novelas, as narrativas longas, romances, dramas e poesias”. Além disso os alunos devem se familiarizar com formas de “mídias específicas, textos impressos e noticiários online, infoentretenimento, hipertextos, publicidade e filme”... [é impressionante como tanto lá, quanto aqui, essa gente é minuciosa e detalhista em seu controle sobre as escolas]. Seria uma conquista enorme se as escolas e os professores estivessem em condições de transmitir esse conhecimento a cada um dos alunos. Também não seria errado monitorar o sistema educativo, incluindo professores e escolas, por meio de padrões internacionais [algo questionável], se isso significasse buscar corrigir fraquezas. É compreensível que aqueles que lidam com o ativo mais importante da sociedade – as crianças – sejam submetidos ao escrutínio de seu trabalho [concordo plenamente].
Isso levanta, porém, muitas questões acerca dos professores e das escolas. Podem eles garantir uma boa educação para todos os alunos? Será que eles suportam de boa vontade os alunos mais fracos ou eles evitam suas responsabilidades passando os alunos problemáticos para turmas inferiores? [o autor pode estar se referindo à reprovação ou às turmas especiais, para as quais muitos professores passam os alunos que lhe causam problemas. Em São Paulo as aulas devem ser atribuídas pelo diretor que, para evitar desgaste com sua equipe, se esta estiver insatisfeita a escola terá muita dificuldade em alcançar seus objetivos, não raro se permite que os professores mais antigos, com mais pontos, escolham as turmas por primeiro, e estes, quase sempre, escolhem as turmas mais adiantadas e fáceis, deixando as mais difíceis justo para os professores mais novos e inexperientes, com grandes prejuízos para as crianças e estes professores. Também pode acontecer de, uma diretora querendo dar uma lição em algum professor mais inconformado, em geral os mais inteligentes, lhe atribua uma sala particularmente difícil. Precisamos ainda crescer muito nesse aspecto] Que método será usado? [isso é fundamental!] Como as escolas e os professores se veem... os padrões de educação de um sistema escolar depende do ethos [o espírito que move esse sistema!] de todo o sistema educativo, bem como de seus valores, conceitos e objetivos fundamentais].
Na Escandinávia [Finlândia]... Os parâmetros da educação, e o fato de eles serem regularmente checados e revisados, têm por objetivo ajudar aos alunos mais fracos, assim como vistoriar e revisar os métodos de ensino [um ponto fulcral, já alertado por Lauro Oliveira Lima]. Embora na Escandinávia não haja igualdade de oportunidades real – pobreza e riqueza também existem por lá – o sistema educacional serve para mitigar um pouco essas contradições. A escolarização de 11 a 16 anos [fase equivalente ao antigo ginasial, quando se sobressaem, “naturalmente”, as diferenças socioeconômicas] é muito unificada... os alunos não repetem de ano e não há expulsões por causa do mau desempenho do aluno
Na Alemanha, por outro lado, o sistema educacional é mais diretamente um instrumento de seleção social [= discriminação social] – é a autoridade [educacional] que reforça as diferenças de classe desde o início e as reforça a cada etapa. A introdução de parâmetros, mantendo a orientação fundamental da educação, apenas acirrará esse processo de discriminação precoce e contínuo. Nesse sistema os parâmetros da educação e os testes regulares que os acompanham tornar-se-ão em obstáculos que os alunos devem remover para ir subir na graduação ou passar em um exame final para um curso superior...
Os parâmetros são projetados para fornecer às escolas uma orientação, mas também servirão como controle. Os 16 länder (estados federais) pretendem verificar se as escolas desempenharam as suas tarefas de acordo com as normas estabelecidas. A avaliação desses testes, incluindo conselhos e sugestões de melhoria será dada às escolas. Mas por que apenas às escolas? Esta é uma demanda feita por especialistas em educação, que temem o pior: a publicação de todos os resultados, como na Grã-Bretanha [e no Brasil, o que propiciaria munição tanto para uma “caça às bruxas”, como a estigmatização ou a rotulagem das escolas em “boas” ou “más”, independente das condições socioeconômicas da clientela e de suas condições de funcionamento (uma escola situada num bairro de classe média dá as mesmas condições de ensino e aprendizagem de uma escola situada próximo de uma “boca quente”, como também acontece no Brasil].

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Uma escola do jardim de infância em forma de gato, em Karlsruhe, na Alemanha.

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A mesma escola vista por dentro. Uma bela arquitetura a serviço de uma visão de educação ultrapassada. O prof. Lauro diria: “pedagogia predial”.


[Não dá para negar que aquilo que é descrito no contexto da Alemanha é exatamente o que a gente experimenta no contexto de Brasil, principalmente São Paulo, e que deve se agravar com a reforma retirada recentemente do bolso do paletó pelo Governo Federal, da mesma forma que não dá para negar que o diagnóstico do artigo é certeiro. Essa escola, que visa a performance, a centralização das decisões, a imposição de modelos, a obrigatoriedade e a multiplicidade de controles na forma de testes e exames, o esvaziamento da autonomia da escola e do professor, serve, necessariamente ao acirramento da estratificação social, ao aprofundamento do abismo social entre pobres e ricos, como acontece na Alemanha e alhures, inclusive entre nós.
Ao chamar a atenção para a preocupação das escolas escandinavas em detectar precocemente as crianças com dificuldades, e colocar todo o seu empenho em ajudá-las a sanar essas dificuldades, o artigo também chega a uma conclusão certeira, já destacada por Pasi Sahlberg em suas Lições finlandesas. Essa abordagem, acredita Sahlberg, fez com que a diferença entre os índices de notas das escolas das diversas regiões da Finlândia seja hoje uma das menores do mundo. Todas as escolas finlandesas têm um padrão de ensino equivalente.
Por fim, como podemos deduzir das premissas dos parâmetros americanos, neozelandeses e alemães, podemos dizer que para esses sistemas educacionais a aquisição de conhecimento é um fenômeno apenas quantitativo, linear, imposto de fora para dentro (behaviorismo), perfeitamente previsível, no qual o professor é, quando muito, uma adereço figurativo, o que não faz o menor sentido, visto o esforço desses países em aumentar o grau de especialização de seus professores – para que se eles vão apenas seguir um prontuário já elaborado pelos burocratas? Outra pergunta que a parametrização não responde é: se a educação é assim tão óbvia e previsível, porque ainda então existe educação?     

No final deste capítulo o autor faz uma apanhado geral dos aspectos mais positivos da educação finlandesa, não deixando de citar os cuidados que o estado e os pais têm ou devem ter com as crianças, desde o nascimento, para que elas cresçam física e emocionalmente saudáveis, para isso ambos os pais são estimulados a ficar o máximo de tempo possível com as crianças recém-nascidas, de tal sorte que o auxílio-maternidade pode chegar a oito meses, tanto para o pai como para a mãe, além de uma cobertura de pré-escola que atende a 98% das crianças nessa faixa de idade. É fundamental acreditar, e essa é uma tecla que nós, os piagetianos, batemos há décadas, que uma criança bem gestada, cuidada, alimentada e protegida terá muito mais chance de se tornar um adolescente ou jovem estudioso, e um adulto produtivo, socialmente integrado, na sociedade onde ele estiver inserido. A Finlândia é a confirmação cabal disso].     

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