sábado, 20 de outubro de 2018


COMO OS BRASILEIROS FORAM E SÃO ENGANADOS

Prof Eduardo Simões

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__ É sabido que em nosso país a moda, após os anos que se seguiram ao domínio militar, era ninguém contestar as “verdades reveladas” da esquerda, da mesma forma que durante aquele período era proibido expressá-las. Entre os meios que divulgavam essas verdades estavam algumas coleções sobre temas-chaves, lançadas no calor da pregação missionária esquerdista, entre as quais se destacou a Primeiros Passos, da editora Brasiliense, cujo preço acessível e o texto curto, embora nem sempre claro, vendia como água nas livrarias, ajudando a disseminar a crença do acerto, da “cientificidade” (ou seria sacralidade?),  da teoria de Karl Marx – dessa coleção, um dos livrinhos  que fizeram mais sucesso foi O que é ideologia, de Marilena Chauí.
__ Outra coleção apreciada era a Polêmica, da editora Moderna, sem falar que nesse período começou uma enxurrada de livros didáticos de conotação pesadamente esquerdista, cujo pontapé inicial mais famoso foi a coleção História das sociedades, em dois volumes, de Aquino, Jacques, Oscar e Denize, da Ao Livro Técnico, de 1978. Que se tornaram manuais absolutos nos cursos de licenciatura nas universidades, e até em alguns colégios, escorraçando os manuais já consagrados de Borges Hermida, Armando Souto Maior, etc. considerados ultrapassados, quando não reacionários. Será que existe alguma relação entre essa mudança e o desinteresse crescente do estudante comum por história, quando antes era uma das ciências mais queridas por todos?
__ Por acaso, consegui numa biblioteca escolar pública novo acesso a esses livros que tanto marcaram a minha formação profissional, onde pude rever antigas profecias, que tentavam direcionar o pensamento das novas gerações, incautas e ignorantes, não sem a conivência de antigas gerações de brasileiros, que nunca mostraram grande apreço pela educação e a cultura, e esse é, a meu ver, um de nossos maiores e mais antigos pecados, o principal responsável pelo atual estado de coisas. Vejam o que encontrei!
__  No livro O que é o capitalismo, 7ª impressão da 34ª edição (1ª edição em 1980) de Afrânio Mendes Catani, professor universitário, o autor, referindo-se à evolução do capitalismo mundial, diz essa “pérola”, na p 60 :

A guisa de conclusão [após ter analisado as inúmeras intervenções estatais, comuns nas chamadas economias mistas ou Estados do Bem Estar Social, que despontaram na Europa Ocidental após a 2ª Guerra]... é importante chamar a atenção para o seguinte fato: numa fase da história em que se atinge tão alta concentração de poder econômico como no caso do capitalismo monopolista [afinal intervenção estatal só é boa quando os gestores são de fé marxista], a máquina do estado torna-se um instrumento dos grupos monopolistas dominantes. O monopólio, visto implicar uma concentração de poder dentro do sistema capitalista, resulta num controle político muito mais forte e estreito sobre a sociedade e a política de governo. Dessa maneira o Estado acaba por exprimir não exclusivamente os interesses do conjunto da classe capitalista, mas os interesses dos grupos monopolistas dominantes... favorecendo os interesses dos últimos, mesmo que à custa de outros setores capitalistas”.

__ Ou seja, a única alternativa para os países capitalistas, no início dos anos 80, era evoluir para uma ditadura ou oligarquia de megaempresários, com a sociedade dominada por grandes monopólios que sufocariam, cada um, o seu setor da economia. É isso que vemos hoje? As empresas capitalistas estão quebrando em grande número em virtude da ação monopolista de grandes conglomerados? Se isso existe em algum setor, por exemplo a informática, que é ainda muito recente, o mesmo não se pode dizer para os outros setores, que estão no mercado a mais tempo, onde o mais comum é ver a alternância das empresas de topo, e mesmo na informática começam a aparecer outros gigantes, que não existiam antes (Amazon, Google, Facebook, etc.), sem falar das inúmeras que se extinguiram, explorando todo potencial dessa área. Curioso é que essa “profecia” tão sombria ocultava descaradamente o cruel monopólio estatal, que vigia e ainda vige nas economias socialistas, e que trava o desenvolvimento das forças produtivas.
__ Esgotado o estoque de tolices na análise do capitalismo mundial, o autor se priva, ou nos poupa, de fazer projeções sobre a economia brasileira, limitando-se a apontar o que estava ruim nos anos 80, afinal os governos da ocasião eram todos de “direita”, e era fácil atirar pedras, quem ainda não tinha produzido o colossal desastre de 2013-16.
__ Outro livro é O capitalismo sua evolução, sua lógica e sua dinâmica, 7ª edição, de 1987, pelo economista e guru petista Paul Singer. Que assim “profetiza” sobre o futuro do capitalismo:

Uma possível regulação interestatal [referência a ação do FMI e outros órgãos econômicos mundiais, gestados pelo capitalismo do Pós-Guerra] não supera as contradições do capitalismo, mas as coloca em condições de serem manejadas com menos irracionalidade... A consolidação de blocos interestatais... poderá ser o principal resultado da crise do capitalismo contemporâneo. Nesse caso, a multinacionalização do capital privado terá encontrado instâncias reguladoras, capazes de limitar as suas tendências autodestrutivas... Pode-se imaginar também que ela [a crise do capitalismo] desembocará num novo conflito mundial ou então na instauração de um modo de produção superior. O socialismo” (p 65)

A crescente influência dos trabalhadores sobre os movimentos do capital produziria mudanças tecnológicas com o fim de eliminar dos processos de trabalho as tarefas mais alienantes e embrutecedoras. Criar-se-ia, desse modo, maior igualdade básica entre os participantes da produção... Com isso lançar-se-iam as bases de uma sociedade muito mais igualitária, na qual a prática da democracia em todos os níveis seria o corolário natural da ausência de estruturas hierarquizantes” (p 86)

__ A primeira coisa que salta aos olhos é a cegueira de Singer para a natureza da “regulação” capitalista feita por órgãos “interestatais” (FMI, Banco Mundial, etc.), que é diametralmente oposta àquela proposta pelo receituário socialista, pois as intervenções desses órgãos foram, desde a sua fundação, sempre na direção de uma desregulamentação das economias capitalistas, para facilitar a maior circulação de capitais e o progresso geral de criação de riquezas, como se verificou posteriormente.
__ Aquilo que os marxistas veem como irracionalidade é, na verdade, um extremo de complexidade que, quando liberado de controles externos, funciona melhor que se dirigido por um órgão central, uma vez que essa complexidade é fruto de “n” agentes interagindo a todo momento, modificando de alguma maneira, em porções microscópicas, a direção geral do sistema. Não há nenhum órgão de controle capaz de medir o conjunto dessas interações e achar uma resultante capaz de encontrar uma média “racional”, entre tantas forças reagentes ao mesmo tempo. O sistema capitalista não é “irracional”, ele é antes “imprevisível”, em função da diversidade, riqueza e complexidade das interações que se dão no seu seio; e se os blocos interestatais dão certo – na verdade, dos citados por Singer (como o “bloco soviético, bloco capitalista subdesenvolvido, bloco capitalista desenvolvido”), apenas um deu certo: a Europa (bloco capitalista desenvolvido) – isso acontece por motivo diverso do imaginado por Singer: não por maior controle dos agentes econômicos, mas antes pelo controle das ações e do tamanho dos estados. Quem não seguiu essa via quebrou ou está quebrando.
__ A profecia seguinte é do mais tresloucado desvario: a possibilidade de o sistema capitalista mergulhar o mundo em outra guerra! Isso é tanto mais bizarro porque à época em que o livro foi escrito já acontecera o levante na Hungria (1956) e a invasão da Tchecoslováquia (1968), os conflitos na fronteira sino-soviética (1969), a invasão e ocupação do Camboja pelo Vietnã (1979), a invasão do Vietnã pela China (1979), ou seja conflitos abertos, sangrentos, entre os mais importantes estados socialistas, enquanto os países capitalistas avançados permaneciam em paz, mas como o dogma diz que os belicosos, os odiosos, os criminosos, eram os capitalistas...
__ Aliás, se considerarmos, hoje, as mais preocupantes zonas de conflito do mundo atual vemos que elas têm uma coisa em comum: a presença de países que são ou já foram socialistas em passado recente: as intervenções da Rússia na Ucrânia e na Síria, os experimentos nucleares da Coreia do Norte, a expansão da China no Mar da China. Fora isso há a ação agressiva e temerária do Estado de Israel no Oriente Médio, que, apesar de ser capitalista, possui singularidades tão marcantes que é difícil qualifica-lo como um estado liberal e/ou moderno.
__ Quanto à possibilidade de o socialismo conduzir as sociedades à prosperidade e à igualdade, sirva-nos de prova os exemplos da história recente, que escancarou para o mundo a miséria e a desigualdade nas experiências socialistas já havidas no mundo. O que ficou acessível a todos foi a pobreza e a miséria, até chegar ao caso extremo da Venezuela, o povo é levado a comer cães e gatos, e comprar carne estraga nos mercados, enquanto o governante come, em restaurantes exclusivos, o equivalente a 34 salários mínimos locais ou 102 quilos de carne.
__ Ou seja: para onde Singer aponta não há capitalismo, nem lógica, nem dinâmica, nem prosperidade, nem igualdade... mas socialismo há!

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O que os socialistas não entendem, odeiam e querem controlar.

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