terça-feira, 13 de setembro de 2016

CAVALHEIROS DO CREPÚSCULO

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, Ucrânia, Alemanha, China, Índia, Tailândia, Marrocos. Deus os abençoe.

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__ Muito se tem falado sobre o estelionato eleitoral, e enfiada de mentiras absurdas, propositais e criminosas de Dilma Rousseff, na eleições de 2014. Aquilo foi demais! Entretanto, embora possa ser considerada a aluna mais brilhante na arte de mentir, não foi ela quem inventou o estelionato eleitoral, antes o partido de seu desafeto e de sua maior vítima, Aécio Neves; o PSDB de Mario Covas.
__ Quem acompanhou os tormentosos, mas igualmente esperançosos, anos que se seguiram à queda da Oligarquia Militar, lembra-se dos embates que se deram em torno da Constituição de 88, e dos grupos políticos ideológicos que ali se formaram, e, também da famosa eleição presidencial de 1989. Sigamos aos poucos.
__ Quase ninguém sabe, meus alunos ignoram completamente, que “PSDB” significa Partido da Social Democracia Brasileira, sigla que nos remete aos sociais-democratas da europa, uma tendência “light” de esquerda ou uma esquerda suave, evolucionária. Ora, durante os trabalhos da constituinte de 1987, formou-se um grupo de peemedebistas ao redor de personalidades como Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, etc. que se colocava como a ala esquerda do PMDB, os chamados “autênticos”, sempre votando propostas mais à esquerda, praticamente carregando a esquerda nas costas, uma vez que o núcleo petista na época não passava de poucos gatos pingados, sem falar que Lula, nessa época um garoto temperamental, mas já malandro escolado, não só apresentou, como forma de protesto, uma única proposta à Constituição, como só assinou-a porque era obrigado por lei, afinal não era a constituição que ele queria. Menino de personalidade!
__ Esse grupo à esquerda do PMDB, já citado, fez frente firme contra todas as propostas de caráter mais liberal à Constituição, como a liberdade sindical e avanços na política no campo e reforma agrária, dentro de parâmetros modernos, e graças a isso venceu a proposta da unidade sindical e um ordenamento agrária que, em alguns aspectos, é mais atrasada que o Estatuto da Terra dos militares. A regra era não negociar com a “burguesia” ou os liberais, e manter a pureza dos ideais de esquerda para o grande público, em especial para a patrulha ideológica da esquerda, representada pelo índice de “lealdade” à classe trabalhadora elaborado pelo DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), que deu nota dez a quase todos os membros desse grupo, que fundaria o PSDB no ano seguinte. Essa postura dos sociaisdemocratas do PMDB teve um grande efeito midiático e jogou os liberais para o campo da direita, numa tentativa deles de, pelo menos, atrasar o caos, mas queimando a sua imagem para o eleitorado, em especial o não muito instruído.
__ Essa constituição é uma loucura! Nem é presidencialista nem bem parlamentarista, antes os dois, e de uma forma radical, dependendo da matéria em foco. Frankenstein perde feio. Foi feita, aparentemente, para conter o governo Sarney, que o PMDB autêntico não conseguia engolir, sem qualquer preocupação com o futuro da nação. Uma capa de VEJA, mostrando os deputados de costas, trouxe a seguinte manchete sobre a constituinte: “DE COSTAS PARA O FUTURO”. Um jornalista falou que Sarney teria dito que aquela era a “Constituição da ingovernabilidade” – um país que consegue fazer de José Sarney um profeta tão certeiro tem alguma coisa de muito errada. Ulysses Guimarães fez um discurso super intimidador, na sessão de juramento da Constituição, em outubro de 1988, claramente endereçado a José Sarney, Presidente do Brasil em substituição a Tancredo Neves, e que por sinal se encontrava abrigado no partido Ulysses, e nós, os telespectadores, pudemos ver o quanto Sarney tremia, enquanto proferia as palavras do juramento! Antes disso, em junho de 88, os autênticos abandonaram o PMDB para fundar, com toda pompa e solenidade, o seu PSDB, um partido que se autodefinia de “esquerda”.
__ O papel de esquerda continuou a ser desempenhado pelo PSDB nas eleições presidenciais de 1989, quando o representante dos sociais democratas, Mario Covas, se atirou selvagemente, como um bom representante desta corrente, contra todos os representantes da “direita” ou contra qualquer candidato que trouxesse no seu discurso a essência da proposta liberal, ainda que desvinculado das oligarquias tradicionais, tendo um tão bom desempenho nesse papel que Lula, levado ao segundo turno contra Collor, fez questão de pedir o apoio de Mario Covas à sua campanha, enquanto rejeitava explicitamente o PMDB dos velhos caciques e da “direita”. Mas o futuro apresentaria duas facetas interessantes: o apoio super constrangido do PSDB ao segundo turno de Lula, enquanto, este, entre tapas e beijos, e encontros às escuras, começava uma relação quente com o PMDB, que em público rejeitara.
__ A verdade, afinal veio à tona, pois todo aquele fogo antiliberal do PSDB tinha uma finalidade exclusivamente eleitoreira, e passado o vendaval das eleições, e à medida em que os próceres do partido vão se infiltrando nos altos escalões da política nacional, a verdade aparece, seja no Plano Real, do ministro Fernando Henrique Cardoso, e, posteriormente, na tomada do poder federal pelo mesmo FHC, e do estadual paulista por Mario Covas, ambos desenvolveram uma política econômica e social de cunho esculachadamente liberal, o que redundará num conveniente afastamento progressivo do bloco das esquerdas e o sepultamento de ideais básicos de seu programa de formação, a saber:
“2 - Descentralização político-administrativa.
3 - Estado a serviço do povo e não de grupos privilegiados.
4 - Crescimento sustentável com distribuição de renda e educação de qualidade (sic!) para todos.
5 - Reforma política que fortaleça os partidos e aproxime o parlamentar de seus eleitores” (retirado da Wikipedia em português – Partido da Social Democracia Brasileira).
__ Aqui para nós, isso se parece, ao menos minimamente, com o que nós conhecemos da administração tucana em estados importantes da federação ou com o governo de FHC? Como não deixar de citar o desmonte sistemático e criminoso, iniciado já por Mário Covas, do mais sólido e consistente sistema de ensino público do Brasil, em flagrante desmentido com o item 4 da proposta acima, em curso até hoje, sempre com o mesmo pretexto: contenção de despesa, enxugamento da máquina? O que o PSDB paulista não quer privatizar? Existe algo mais distante do eleitor que um grande político do PSDB?. Nenhum grupo defende tão encarniçadamente o capital, não digo nem os capitalistas, como o PSDB paulista, para o nosso horror! O PSDB transformou a máquina pública estadual paulista num gigantesco triturador de funcionários e fez da submissão incondicional no único critério de ascensão no serviço público.

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__ Da mesma forma que a Dilma, que prometeu uma coisa e fez outra, e não deu a menor satisfação ao povo de sua mudança, Fernando Henrique Cardoso também não se dava ao trabalho de explicar as suas opções, mesmo quando eram boas, como se estivesse acima de qualquer crítica ou observação. Ele aproveitava esses momentos para debochar dos críticos, mas usando termos, coitado, que só ele e meia dúzia de intelectuais entendiam como as “cassandras” (da guerra de Troia!), mais tarde mudou para o popular “assim não dá”, e o célebre “nhem, nhem, nhem”, mas explicação, que era bom: nenhuma. Imaginem se ele, tão culto e nobre, iria se explicar com alguém. Ouvi-lo no noticiário da TV era o melhor remédio para afinar o sangue; ele fervia em nossas veias! Não é de admirar que o povo, na eleição seguinte, de tão longe que se sentia de seu líder, apesar do item 5 do programa acima, tenha preferido alguém que lhe falava de perto e na sua linguagem: Luis Inácio Lula da Silva.
__ Seja como for, mal já estava feito, a esquerda peessedebista, encurralando os liberais, e propiciou a subida de um aventureiro corrupto, Collor de Melo, comprometido apenas consigo mesmo, enquanto que a unidade sindical, fortemente afirmada pelo PSDB, permitiu que o PT, transformado agora no seu grande desafeto, aparelhasse os órgãos representativos de classe, e, em aliança com um ou outro partido de esquerda, praticamente monopolizasse a representação classista no Brasil, usando dos sindicatos como ponta de lança ou arietes a serem lançados contra quem lhe faz oposição, ao mesmo tempo em que os seus diretores, de olhos em sua promissora carreira política, construída a partir do controle da máquina sindical, se afastam cada vez mais das questões substantivas do trabalhador, do seu dia a dia, do chão de fábrica, deixam os operários entregues à sua sorte, desde que o patrão feche com o Partido e a sua ideologia, mesmo mantendo seus gordos lucros. Qualquer dificuldade, para um ou para outro, o dinheiro público cobria.
__ O que temos agora, nos sindicatos, são diretorias incondicionalmente vinculadas a partidos de esquerda, como num exército, onde os soldados fazem, ou devem fazer, o que os generais mandam, inclusive investir contra a ordem institucional ou constitucional do país, mais ou menos com as legiões faziam ao final do império romano, quando a sua vontade era a lei. Nós conhecemos o desfecho dessa história. Isso está tão claro para a nossa esquerda atual, que Lula, no célebre telefonema gravado e exposto na mídia, se reconhece como o “único homem capaz de incendiar o país”, e assim como as legiões, esses generais sem juízo e pouca moral são financiados por toda a nação, inclusive por aqueles que discordam dessa de suas práticas abjetas, graças ao imposto sindical.
__ Isso não seria evitado, e haveria mais chance de chegarmos pela via da negociação e não do conflito aberto, como vemos em nossas ruas e no Congresso Nacional, se  houvesse um pluralidade sindical, que obrigasse os sindicatos a serem mais presentes no dia a dia dos operários e cuidar de suas questões substantivas, como condições de trabalho e salário, para terem mais afiliados, e portanto mais recursos, sem impedir que viessem a se unir para fazer pressão político-partidária, desde que fosse do desejo dos associados e não pela decisão exclusiva, pela manipulação demagógica de lideranças voluntariosas, com métodos obscuros, escoradas pela presença ameaçadora de claques e infiltrados, comprometidos com interesses estranhos à classe?
__ Todos os percalços que agora sofremos em busca de uma saída pacífica e legal dessa enrascada, que a esquerda petista e a mentira insidiosa de políticos de todas as cores nos colocaram, não devem ter os seus responsáveis procurados apenas entre os lobos sinceros à esquerda, pois, mirando na outra direção, podemos dar de cara um lobo velho, matreiro, em pele de ovelha...
__ Deixo, por fim, um pensamento precioso do ministro Celso de Melo, do STF: “nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegítimo que elaborar uma Constituição sem a vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou , então, de apenas executá-la com o propósito subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem ajustados à conveniência e aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidadãos”.
__ PT e PSDB o sabem...

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