LIÇÕES
FINLANDESAS 2.0 E O SONHO DE LAURO DE OLIVEIRA LIMA - 1
Prof
Eduardo Simões
http://www.admin.paginaoficial.ws/admin/arquivos/biblioteca/prof37547.jpg
http://m.vermelho.org.br
__
Conheci e privei com Lauro de Oliveira Lima, para mim um dos maiores educadores
que o mundo já conheceu, um revolucionário com um descortino de visão
impressionante, numa área do conhecimento marcada pelo tradicionalismo, o que o
torna ainda mais raro. Seus textos sobre educação são os únicos que fazem algum
sentido para mim, porque dizem coisas, descrevem situações, que eu posso
facilmente identificar na realidade, uma vez que Lauro não fica apenas na
divagação abstrata, nas grandes dimensões éticas, antropológicas, políticas,
etc. do agir pedagógico, próprio de quem não tem muito claro onde quer chegar,
mas busca ensinar aos seus leitores, de maneira por vezes confusa, por causa de
sua abissal erudição, como fazer, passo a passo, para alcançar um fim almejado.
__
Suas palestras eram impressionantes. Seu humor cáustico disparava como uma
metralhadora, não perdia uma piada, já os amigos... A sua erudição espetacular,
as relações inesperadas e geniais que criava entre os fatos mais
insignificantes, faziam-nos ficar mobilizados, de modo a não perder uma
palavra, do princípio ao fim. Mas era um provocador! Um provocador compulsivo,
que não raro incitava o horror e repulsa de parte considerável dos ouvintes,
incapazes de perceber o caráter metafórico e o objetivo mobilizador, didático,
de suas provocações. Noutras palavras, eram esses os ignorantes, os acomodados,
os conformados com o status quo, que constituíam a maioria na educação do país,
e que arrastaram a nossa escola formal para o fundo do abismo onde hoje se
encontra.
__
Sim, Lauro lutou como um leão para que nossa educação fosse diferente, e pagou
o preço de ter olho são em terra de cegos, mas estes sofrerão mais e,
infelizmente, muito mais do que eles, os seus filhos, pois a causa de Lauro, e
daqueles que admiram as suas ideias, é o pleno desenvolvimento de jovens e
crianças, cada vez mais comprometido nesse manicômio em que se transformou o sistema
escolar brasileiro, onde cada reforma não passa de uma grosseira repaginação de
antigas práticas, já aleijadas de tão decrépitas e de tão errado que que
deram... É mais do mesmo, até ver se a quantidade se transforma magicamente em
qualidade, como nos livros de fábulas.
__
A pregação profética de Lauro começou no final dos anos 50 e alcançou plena
maturidade nos 70, até que, por força das circunstâncias políticas, uma vez que
estava associado às iniciativas educacionais do governo João Goulart, foi
perseguido pelo Governo Militar, preso, cassado e precocemente aposentado,
junto com a elite brasileira pensante na época, num movimento de pura vingança
ou para não deixar dúvidas sobre a densidade das trevas do novo regime, que
alguns ensandecidos, ignorantes, pedem hoje, nas ruas, para que volte. Nessa
situação tremenda, tipicamente latino-americana, Lauro montou, sobre os
alicerces da mais profunda e consistente teoria do conhecimento existente, a de
Jean Piaget, um projeto de educação e de escola, que nunca chegou a se
concretizar plenamente, uma vez que visava todo o Brasil, mas que deu frutos na
escola fundada por ele e seus filhos no Rio de Janeiro e em Fortaleza, e numa
escola fundada por mim e minha esposa em Guaratinguetá – 14 anos após
sepultarmos essa nossa escola, recebemos de um ex-aluno, que agora reside na
Austrália, um depoimento emocionante: “foi a melhor escola que eu já estudei na
minha vida”, enquanto funcionava muitos pais nos contaram que seus filhos os
importunavam no sábado e no domingo... para irem à escola! Resta-me um consolo:
eu vi essa escola funcionando no Brasil!
__
Em terras de... de... de quem mesmo hein? Não sobrou ninguém da plêiade de
grandes educadores brasileiros dos anos 50 e 60. Os porta-vozes da educação
atual ou são militantes fanáticos de esquerda, prontos a usá-la como degrau
para a conquista do poder a qualquer preço, ou empresários, economistas,
estatísticos, administradores, de uma direita neobehaviorista, que não consegue
pensar em outra coisa que “mão-de-obra” qualificada, nem barata nem cara o
bastante para não parecer escravidão ou servidão medieval, sem deixar completamente
de o ser, nem reduzir os lucros da escola-empresa ou sobrecarregar as despesas
do Estado. O importante é que essa mão-de-obra se preocupe com desempenho e não
pense muito, como os ratos de laboratórios de Watson e Skinner, o escravo
romano antigo e o servo da gleba medieval. O trabalhador brasileiro deve viver
para trabalhar, apertar botões no momento certo, como os ratos de Skinner vivem
para apertar alavancas, a fim de receber sua porção diária de comida. Voltamos às cavernas...
__
Nesse ambiente não é de admirar que um pensamento educacional tão avançado,
fulgurante e desafiador, como o de Lauro O Lima, se encaminhasse lentamente
para o ocaso, não fora um caso fortuito e espetacular. No final da primeira
década do século XXI começou a ser noticiada pela imprensa a existência de um
modelo educacional estonteante, capaz de arrastar ao seu país de origem, levas
de educadores do mundo inteiro a perguntarem assombrados: “mas o que é que está
acontecendo aqui? É o contrário de tudo que estamos acostumados a considerar
“sagrado”, “intocável”, na educação, e aqui funciona muito melhor!” O sistema
educacional finlandês subverteu todos os conceitos e crenças da “boa” educação
e ameaça deixar o resto da humanidade para trás, se não aprender logo a sua
lição! Avançando mais na leitura e nos vídeos sobre essa maravilhosa revolução
educacional percebemos, pasmos, que essa estrutura é quase idêntica àquela que
o professor Lauro buscava instaurar no Brasil, há uns 50 ou 40 anos atrás, e
pela qual ele pagou tão caro!
__
Lauro previu e planejou para o Brasil, com décadas de antecedência, aquilo que
hoje é considerado o maior fenômeno educacional do mundo e, decerto, a maior
glória desse pequeno país do norte, enquanto o nosso país, em matéria de
educação... Lauro, se estivesse vivo hoje, bem que poderia dizer aquelas
palavras de Darcy Ribeiro: “fui derrotado em todos os projetos educacionais que
sonhei para o Brasil, mas eu não queria estar no lugar dos que me venceram!”
Duas divergências
importantes, mas não fundamentais
__
Filho do seu tempo, o efervescente Brasil dos anos 1950 e 1960, Lauro era um
pessimista em relação à nossa sociedade, que ele via como que encruada em
antigos costumes patriarcais, herdados do império e quiçá, do período colonial,
controlado por pessoas de mentalidade estreita e repressora, que jamais
permitiriam a crianças e jovens desenvolver toda a sua potencialidade. A melhor
coisa a fazer, portanto, seria separar as crianças dessa sociedade, em escolas
transformadas em comunidades educacionais, pelo maior tempo possível, até
tornarem-se plenamente sujeitas de todo o imenso cabedal de conhecimento e
inteligência que a natureza dotou a nossa espécie, aptas, por conseguinte, a
revolucionar nossa sociedade estagnada. Lauro e a sua geração tinham pressa.
Nesse sentido ele apoiou a escola de tempo integral e o aumento da carga
horária letivo – no seu livro Escola secundária moderna ele apresenta essa
questão de forma tão dimensionada que até parece ver aí a panaceia salvadora de
nossa educação. A crise da segurança pública atual parece indicar que a escola
pública é o melhor, caminho na atualidade, para nossas crianças e jovens. Já
que o Estado não consegue dar segurança aos cidadãos...
__
Por caminho bem diferente foram os finlandeses, segundo Pasi Sahlberg. A reforma da educação
finlandesa foi considerada desde o início como uma condição e uma consequência
necessária da reforma da sociedade finlandesa. O sucesso da reforma escolar
dependeria assim do sucesso nas tentativas de legisladores finlandeses em
reduzir as desigualdades sociais, em estabelecer uma sociedade mais justa para
todos, e seria, ao mesmo tempo, um fator de aceleração desse mesmo processo de
mudança social. Nesse sentido a sociedade torna-se uma extensão da escola e
vice versa, no que tange aos cuidados com a infância, e um importante fator de
experiências tanto cognitivas como emocionais, assim como a escola, sendo
inclusive muito benéfico e esperado que a criança conviva ao máximo com sua
família e comunidade de origem – as pessoas não imaginam o bem que faz a uma
criança poder circular sem medo nas ruas do bairro e da cidade onde mora – não
sendo, portanto, de admirar que o seu ano letivo e a carga horário dos
estudantes finlandeses na escola sejam uma das menores do mundo.
__
Lauro frequentou uma escola que eu nem consigo imaginar seus méritos e suas
deficiências. Ele, porém, percebeu mais a estas, principalmente aquelas
derivadas da ação direta do professor, que nós sabemos que existem, embora não
seja politicamente correto ou “revolucionário” apontá-las. Mas Lauro não se
importava em ser politicamente incorreto, antes até considerava isso um
atestado de inteligência, numa sociedade onde todos primavam por ser
politicamente corretos, acomodados e submissos, e por isso ele estabeleceu como
meta – ele me falou isso uma vez, numa conversa densa, recheada de maresia, nas
areias da Praia do Futuro, em Fortaleza – criar “um método à prova de
professor”, podendo passar para os mais desavisados que, para Lauro, o grande
adversário da boa educação era o professor. Ele tinha muito péssimas memórias
de seus professores, e às vezes era cruel e expunha publicamente as deficiências
de professores consagrados, mas ele também era muito crítico em relação aos
pais, em especial as “má-mães”, e as babás, que enchiam a mente das crianças de
medos infundados. Para Lauro o cerne do sistema educacional era a criança, e
não atender, por uma deformação da personalidade ou por puro comodismo, às
necessidades naturais desta um crime.
__
Bem diferente, parece, o sistema finlandês onde o realce da pessoa do professor
é mais do que evidente. O professor passa por uma “peneira” tremenda, e logo após
esta uma preparação rigorosíssima, e então estará pronto a ser admitido em sala
de aula. Na escola de Lauro também havia um sistema rigoroso e diário de
formação do professor, que fazia com que sua escola, apesar de ser privada, não
hesitasse em ficar com o professor, quando de uma pendência em que o aluno
estava errado, porque os gestores da escola sabiam o quanto lhes custava
preparar um professor minimamente apto para aplicar o seu complexo
planejamento. E era estritamente a esse planejamento, às atividades nele
descritas, que o professor tinha que se ater, embora sempre houvesse alguma
liberdade para a criatividade. O sistema finlandês, ao contrário, dá completa
liberdade aos seus professores, inclusive para, se acharem conveniente, dar as
suas aulas usando apenas lousa e giz! Ele tem total liberdade sobre o método a
ser usado e as formas de avaliação cognitiva, que por sinal lá são raríssimas,
ao contrário do sistema de Lauro em que as avaliações são constantes. Os
finlandeses colocaram o professor num patamar superior, e fizeram dele a
principal coluna de seu sistema.
__
Eu, pessoalmente não me inclino nem a um nem a outro. Eu acredito que o cerne
do sistema educacional escolar é uma relação, a relação professor-aluno,
secundada pela outra que também é fundamental: a relação criança-família. Nesse
sentido eu concordo com os finlandeses quando afirmam que nenhuma reforma de
longo alcance atingirá o seu objetivo se, concomitante a ela, a sociedade
também não se reformar, e as famílias não tiverem melhora real na sua qualidade
de vida, no sentido mais abrangente possível desse termo. Também concordo com
eles quando afirmam que nenhuma reforma duradoura acontecerá sem a participação
fundamental, indispensável do professor, de onde a necessidade estratégica de
turbinar as suas condições de trabalho, o seu status social e, em consequência,
o seu salário; mas também concordo com o professor Lauro por achar que o
professor deve conhecer tudo que puder sobre psicologia infantil, psicologia do
desenvolvimento e da aprendizagem – aliás esta parece ser a grande ausente nos
debates sobre educação implementados pelos finlandeses, nos quais não se
consegue perceber a matriz psicológica infanto-juvenil que os guia – de tal
sorte que antes que um “expert” em alguma matéria o professor deve ser um
especialista em criança. Haja psicologia! Cada vez mais!
__
Bem, já que o nosso xenocentrismo, nosso complexo de inferioridade, nos fez
perseguir a Lauro de Oliveira Lima e ignorar sistematicamente o seu chamado
profético a uma educação escolar de qualidade, muito à frente de seu tempo, só
nos resta aprender a um custo muito maior, mas de uma fonte também segura,
embora estrangeira, os ditames de uma educação escolar que realmente funciona
para além das promessas dos políticos, dos números e gráficos de pesquisas
encomendadas, que de quatro em quatro anos tentam nos convencer que temos um
dos melhores sistemas escolares do mundo, até o próximo exame internacional nos
mostrar, cruamente, justo o contrário. Recuperemos com os finlandeses a
educação que desprezamos com nosso Lauro de Oliveira Lima. É o mínimo que
podemos fazer por nossas crianças e... professores.
__
A estes dedico esse trabalho.
LIÇÕES
FINLANDESAS 2.0 (DE PASI SAHLBERG)
Tradução,
entre aspas e em itálico, e
comentários [entre colchetes]: Eduardo Simões
http://swisspearl.com/uploads/pics/Kannisto_School_Vantaa_Finland_0006_Kannisto_school_photo_1.jpg
http://swisspearl.com
Escola
Kanniston, em Helsinque
Prefácio
da Segunda Edição (Salhberg)
“Quando eu sou convidado para falar sobre
lições finlandesas... Eu sempre começo chamando a atenção sobre três questões
que merecem destaque. Primeiro, minha intenção com esse livro e na apresentação
do sistema escolar finlandês não é convencer a minha audiência de que a
Finlândia tem o melhor sistema educacional do mundo. A imprensa internacional e
alguns especialistas criaram a falsa impressão de que existe uma métrica
universal para determinar qual é o melhor – ou o pior – sistema educacional do
mundo... quando o primeiro resultado
do PISA foi divulgado em 2001, mostrando a Finlândia em primeiro lugar, alguns
finlandeses disseram a si mesmos: “nós devemos estar fazendo alguma coisa
errada, para sermos os melhores em um exame de avaliação estandardizado, que
mede as aquisições dos alunos em três áreas do conhecimento acadêmico...”
[eles,
entretanto, não estavam fazendo nada errado, mas apenas ativaram, talvez sem o
saber plenamente, o principal motor da aprendizagem inteligente – que é
extremamente adaptativa – a motivação, a mobilização da afetividade, fruto de
métodos e expectativas sociais saudáveis sobre crianças e jovens. Os testes
estandardizados, em áreas do conhecimento dos alunos, são uma coisa banal,
banal demais para uma criança inteligente e motivada]
.......
“Segundo, eu jamais digo, em meu livro ou em
minhas palestras, que se outros países quiserem imitar o modelo finlandês na
reforma de seus sistemas de ensino, que eles estão fazendo a melhor escolha...
o que faz sentido e traz progresso a um sistema de ensino, numa determinada realidade,
pode não ter o mesmo efeito em outra realidade... A Finlândia apenas pode
oferecer a educadores de outros países oportunidade para refletir mais
profundamente sobre suas próprias escolas ou sobre suas próprias culturas...
[O
fundamental, creio eu é descobrir os princípios gerais que movem o sistema, sem
se impressionar com as aparências, ou aquilo que se destaca mais aos sentidos,
que em geral é o menos relevante, e uma vez captado o sentido, aplica-lo em
outra realidade que, se for formada por outros seres humanos, fatalmente dará
bons resultados. Princípio geral: descobrir os princípios gerais da educação
finlandesa, para além das escolas, as sociedade e da cultura finlandesa, e que
funcionam bem pelo simples fato de eles serem humanos]
Finalmente é preciso ter
em mente que muito da reforma do sistema escolar finlandês foi inspirado em
políticas educacionais de outros países. No início do século XX, quando a
Finlândia se tornou uma nação independente, e começou a estabelecer o seu
sistema escolar, a Alemanha e a Suíça serviram de inspiração às primeiras
escolas. A ideia de uma escola compreensiva igualitária veio de seus vizinhos
nórdicos, em especial a Suécia. Mais recentemente, Escócia, Inglaterra e
Estados Unidos foram lugares onde educadores finlandeses buscaram ideias para o
atual modelo de ensino-aprendizagem”.
[Princípio
geral: abrir-se para aprender com outros países, estar atento ao que ocorre no
exterior]
...
“Eu espero que “Lições finlandesas 2.0”
inspire a você e o convença que dá para construir uma escola de boa qualidade
para todas as crianças. A receita finlandesa para uma boa educação é simples:
pergunte a você mesmo se a política ou a reforma que você pretende começar vai
ser igualmente boa para alunos e professores. Se você hesita na resposta então
é melhor nem começar”.
[Princípio
geral: ter bem claro que são os atores principais do processo. Entre os
finlandeses são os alunos e os professores, igualmente]
Introdução:
Sim Nós Podemos (aprender uns com os outros)
.........
“Ser bem-sucedido nessa reforma [a da
educação] é um imperativo moral e
econômico para uma nação assim como para seus líderes. É uma obrigação moral
porque toda pessoa bem formada e minimamente feliz é mais valorada pelo
conhecimento, habilidades, e cultura geral que se adquire com uma boa educação
escolar. É também um imperativo econômico porque o bem-estar das nações depende
mais do que nunca do know-how tecnológico...”
......
A vitrine do norte
“As lições finlandesas podem ser sempre
retomadas porque elas partem de ideias e sugestões frequentemente encontradas
em livros e jornais especializados em desenvolvimento educacional [não há
mistério, antes uma vontade política honesta]. Além disso, essas lições mostram que a melhoria sistêmica é possível
apenas quando as políticas e estratégias são construídas de forma realista e
sustentável, envolvendo professores e diretores no planejamento, implementação
e revisão sobre todos os aspectos os quais se pretende aperfeiçoar.
[Princípio
geral: envolver todos os sujeitos do processo nas mudanças]
Embora essas lições
contenham em si uma grande promessa, elas também clamam por paciência. Nesse
tempo de busca de resultados imediatos, a educação exige outra predisposição
mental. A reforma de um sistema educacional é um processo lento e complexo;
acelerá-lo [como tentamos fazer em São Paulo] seria a sua ruína...”
[Princípio
geral: toda mudança educacional requer tempo, muito mais tempo que a média das
mudanças em outros setores da sociedade. É algo de longo prazo. Não podemos
continuar com essa política de resultados de curto prazo, estritamente
quantificáveis, em função do ciclo das empresas ou das eleições, o ciclo da
educação é muito mais longo; se mede por décadas, talvez seja o caso de tirar a
educação do Brasil do controle dos políticos, que só podem garanti-la nos
quatro anos de seu mandato]
........
http://swisspearl.com/uploads/pics/Kannisto_School_Vantaa_Finland_0001_Kannisto_school_photo_8.jpg
(idem)
Interior
da escola Kanniston
A Finlândia como uma
inspiração
“Os sistemas de educação pública estão em
crise no mundo inteiro... por falhar em prover uma educação de qualidade para
todas as crianças [noutras palavras: a discriminação social as emperra], embora tentativas de soluções nada ortodoxas
não faltem nesses países [na Europa e América do Norte] como: aumentar a competição entre as
escolas, complexificar a avaliação de resultados dos alunos, condicionar os
ganhos dos professores ao desempenho das turmas, fechar escolas com baixos
índices [ou entregá-las a outro ente público; os municípios por exemplo] é tudo parte do receituário falho imposto a
esses sistemas [fala São Paulo!].
Esse livro não sugere
que o aumento da competição ou da carga horária das aulas, o enfraquecimento
das associações e sindicatos de professores, a entrega de escolas à iniciativa
privada [as
charter-schools americanas], o emprego de
elementos da gestão corporativa em sistemas educacionais possa dar uma solução
para a crise... O outro caminho [tomado pela Finlândia] é buscar
o fortalecimento do status do professor, limitar as avaliações ao mínimo
possível, estimular o senso de responsabilidade e a confiança antes das
avaliações e controles, investir em igualdade educacional, entregar a direção
das escolas e dos órgãos intermediários a experimentados profissionais da
educação”
[Nós
preferimos denunciar e expor os maus profissionais e fazer deles o suposto
modelo de toda a categoria, forçar a aposentadoria ou exoneração dos
professores mais antigos, a pretexto de sua inabilidade em novas tecnologias].
[Quatro
são os fatores porque a Finlândia tornou-se uma inspiração para o mundo...
inteligente]
1º
- “A Finlândia é especial por ter sido
capaz de criar um sistema educacional onde os estudantes aprendem bem e onde
uma educação de qualidade foi garantida em todos os rincões do país, de sorte
que há muito pouca diferença entre as escolas espalhadas no território
finlandês”.
[Nós
sempre colocamos como opostas, como contraditórias, educação de qualidade e
educação para todos, e sempre optamos pela segunda, por ser mais fácil e barata
de implementar...]
2º
- “A Finlândia demonstra que há outro
caminho para construir um sistema educacional bem-sucedido, usando soluções
diferente das propostas de uma educação orientada pelo mercado, que se tornou muito
comum no resto do mundo [como em São Paulo]. A fórmula finlandesa de mudanças... se baseia na confiança, no
profissionalismo e na responsabilidade compartilhada... e despreza a inspeção
nas escolas [o que reduz os custos e não estressa professores e alunos], a dependência de dados colhidos por órgãos
externos, currículo estandardizado, testagem contínua de estudantes, avaliações
padronizadas e definidoras...”
3°
- “... A Finlândia pode oferecer
alternativa para que se pense sobre o problema educacional crônico que atinge
outros países... tais como as altas taxas de desistência na escola secundária
[só 4% dos alunos, na Finlândia, não chegam à escola secundária], o desgaste prematuro dos professores e
educação especial inadequada”.
4º
- “A Finlândia tem uma alta performance
mundial em comércio, desenvolvimento de tecnologia sustentável, boa governança,
prosperidade, igualdade de gênero e proteção à infância, e dessa maneira tem
levantado questões muito instigantes sobre a interdependência entre a educação
e outros setores da sociedade. Aparentemente, outros setores de políticas
públicas, tais como saúde e emprego, respondem aos efeitos benéficos de longo
prazo das mudanças ocorridas na educação”.
.....
“Embora haja limites quanto ao que se pode
transferir do sistema educacional finlandês para os outros países, algumas
lições básicas podem ser repetidas com sucesso alhures, como encaminhar uma política de valorização dos
professores, criar situações de aprendizagem para os alunos livres de estresse,
criar um ambiente de confiança mútua dentro do sistema escolar”.
“...
Eu gostaria de citar três elementos das mudanças educacionais ocorridas a
partir de 1970, na Finlândia, que transcendem a cultura nacional:
1º é preciso estar claro
para todos que é possível uma educação pública de boa qualidade: Toda a
Finlândia se comprometeu seriamente com a construção de uma escola pública para
todas as crianças, cem por cento financiada pelo Estado e gerida pelos governos
locais [desconfio que
isso não seja possível ou adequado no Brasil, em virtude do nosso ainda pouco
comprometimento com o poder local, e ausência de uma cultura da vizinhança – os
brasileiros veem suas cidades como meros locais de passagens, como estações de
rodoviária numa viagem sem fim]... Desde
a introdução da peruskoulu [escola básica compreensiva], no início dos anos 1970, houve cerca de 20 governos diferentes,
representando diferentes correntes políticas, com 27 ministros de educação
diferentes, dirigindo os caminhos da reforma...”
[Eis
aí o grande segredo da Finlândia e a nossa maior dificuldades: a continuidade, no governo seguinte, das boas
inciativas do governo anterior. Sem isso nunca haverá nada consistente na
nossa educação, uma vez que nesse setor os resultados só aparecem no longo,
quando não no longuíssimo, prazo! Talvez a reforma educacional brasileira
precise ser tocada por um organismo próprio, independente dos percalços da
política, em especial das eleições, prestando contas diretamente a um corpo
técnico superior; talvez o STF ou uma outra instância judiciária, ou ainda
outra composta por elementos dos três poderes. Fica também patente a
necessidade de preservar e ampliar a educação pública gratuita, enquanto instrumento
indispensável de igualdade social, que jamais uma escola privada poderá
propiciar]
“2° observar e aprender
com os vizinhos... A via finlandesa de reforma educacional preserva o que há de
melhor na sua cultura e práticas educativas, combinando-as com inovações
trazidas de fora...”
3º
a criação de respeitosas e inspiradoras
condições de trabalho para professores e diretores. Que fazer para que os
melhores e mais talentosos jovens se sintam motivados a fazer carreira no
magistério? A experiência finlandesa... mostra que não é suficiente programas esporádicos
para prepará-los para o mundo da sala de aula [como acontece nesses
treinamentos, que vicejam nas escolas pública e desviam milhões para empresas especializadas
em cursos de fins de semana] ou apenas
pagar bem aos professores. A Finlândia paga bem aos seus [ganham metade do
salário de um deputado... de lá!]. Mas a
grande diferença da Finlândia é que seus professores sabem que poderão
ministrar o seu conhecimento e exercer o seu julgamento, sozinho ou em grupo,
com irrestrita liberdade e autoridade profissional. Os professores controlam o
currículo, a avaliação dos alunos, as melhorias na escola, o envolvimento desta
com a comunidade...
Aprendendo Com os Outros
[Para
Sahlberg a Finlândia pode aprender com os outros por não ser tão diferente
destes como se pensa, conforme descrito nas três situações descritas abaixo]
“1º a Finlândia é mais
cultural e etnicamente homogênea que os EUA, por exemplo. Mas isso também é
verdade para Estônia, Coreia, Japão, Xangai, Polônia. O índice de cidadãos
nascidos no exterior é de 5,2%, em 2013, e o número de cidadãos não falantes do
finlandês é superior a 10%... Note-se que a Finlândia é um país trilíngue, onde
o finlandês, o sueco e o lapão são línguas oficiais. Entre as minorias as línguas
mais faladas são o russo, o estoniano e o somali. A diversidade da sociedade
finlandesa, após os anos 1990, aumentou a uma taxa de 800%, a mais alta da
Europa...
2° a
Finlândia é considerada muito pequena para ser um bom referencial de educação...
Quando o fator tamanho é considerado em uma reforma educacional, é importante
notar que muitas unidades federadas, como os estados nos grandes países, gozam
de uma grande autonomia em questões educacionais. A população da Finlândia é
hoje de 5,5 milhões de pessoas, a mesma do estado de Minesota, nos EUA, ou de
Vitória, na Austrália, e um pouco mais que a de Alberta, no Canadá... [ou
estados como Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, etc].
3º alguns não acreditam
comparações internacionais sejam relevantes ou confiáveis naquilo que se
propõem mostrar. Alguns desses testes como o PISA da OCDE... focam em áreas
muito estreitas; estreitas demais para capturar tudo o que é relevante no
conjunto do espectro da educação escolar, ignorando as habilidades sociais, o
desenvolvimento moral, a criatividade ou a destreza digital, conquistas importantes
numa educação pública dirigida para todos.
Há ainda críticas
crescentes contra essas comparações por induzirem
a criação de políticas educacionais “governadas por números” [São Paulo na cabeça!!!]
Outro grupo de céticos
questiona que as metodologias de medida e avaliação aplicadas nesses testes,
por acaso coincidem com aquilo que aparece na cultura e currículo das escolas
finlandesas... Howard Gardnes, de Harvard, ao tratar desses testes, num encontro
recente na Finlândia, alertou que os seus resultados devem ser vistos com
cautela, uma vez que os seus resultados podem ser influenciados pela área de
conhecimento escolhida e a metodologia de avaliação dos resultados usada... Há
um número crescente de pessoas que questionam a credibilidade do PISA e a
possibilidade de toda uma complexa rede de transformações, exigida por reformas
educacionais no mundo inteiro, ser orientadas por um único instrumento de
medida".
(Continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário