sábado, 8 de agosto de 2015

BYE, BYE, BRASIL! 1

Prof Eduardo Simões

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         Nem parece, mas já fomos um povo muito batalhador e orgulhoso de suas origens.

         Os norte-americanos, nunca tiveram vocação para o governo do mundo. Eles não têm a flexibilidade e a visão geral dos romanos, que sabiam intervir, a tempo de evitar que uma guerra regional se transformasse em mundial, ou eram capazes de trazer para dentro de Roma populações derrotadas no campo de batalha, para torna-los cidadãos romanos, enquanto assimilavam, curiosos, a cultura de seus cativos. Nesse item os americanos não alcançam, sequer, o padrão dos ingleses, os que, no Mundo Ocidental, mais perto chegaram do ideal romano, embora também tenham criado a mais profunda e odiosa doutrina racista de todos os tempos: a eugenia.
         Não, os americanos são, como recomendavam Jefferson, Washington, e outros, essencialmente domésticos e paroquiais, no sentido mais estrito do termo, preocupados apenas com o seu mundo imediato, o seu entorno imediato, caseiro, conforme recomendação explícita, em testamento político, de seu primeiro presidente, sem falar de outro defeito gravíssimo: eles são racistas, segregacionistas, o segundo povo – o primeiro foram os alemães – que mais avançou na aplicação dos ideais eugênicos.
         Até a Segunda Guerra Mundial o país se isolou em feroz confinamento mundial, o chamado “isolacionismo”, com suas elites preocupadas apenas em contar o dinheiro acumulado pela operosidade e inventividade de um povo inquieto, embora mal dirigido, porque eles sequer podiam, a religião não os permitia, gozar do fruto do trabalho, em um ócio que lhe desse tempo de processar suas últimas experiências internacionais, e criar uma sabedoria diplomática. Eles foram treinados, por suas elites, para ser um povo competitivamente compulsivo, preocupados, primordialmente, com o sucesso profissional-financeiro, e mesmo as suas ações socialmente meritórias têm por objetivo, propagandear os seus méritos pessoais e o de suas empresas. É o marketing da caridade, numa sociedade onde o maior pecado é ser “perdedor”, ou permanecer oculto, onde os 15 minutos de fama se tornaram culto. O dinheiro seria o caminho privilegiado para se chegar ao paraíso, tanto terrestre quanto celeste. Leiam Calvino.... e Donald Trump, se conseguirem.
         Essa elite simoníaca, que inverteu o Sermão da Montanha, e criou um Deus que abençoa os mais ricos e poderosos, foi bruscamente tirada do deleite de sua fortuna, por outra elite ainda mais compulsiva, e tão boa de briga quanto, no infernal bombardeio de Pearl Harbour, e, contrariada, compreendeu que, se quisesse continuar acumulando, teria que dedicar um pouco de seu tempo ao mundo exterior, ainda mais depois da Segunda Guerra, porque lhe surgia, vinda do leste, uma força frontalmente concorrente ao seu confortável capitalismo. E se há uma coisa que essa elite não suporta é a concorrência. Eles precisam ser sempre os pioneiros e os melhores em tudo, inclusive na paternidade da aviação. Antissocial por formação e evolução, essa elite, ao contrário da romana, só consegue ver as relações internacionais como projeção de seu poder e imposição de sua cultura, pela extinção ou exclusão do diferente, e, a partir de sua ascensão, nunca mais o mundo teve paz, embora nunca antes na história uma nação tenha acumulado tanta força econômica e militar.
         A justificativa teórico-ideológica para uma intervenção em escala global, tomada pelos membros mais relevantes e “esclarecidos”, dessa elite, precisava ser muito bem elaborada, sutil, e, porque não dizer, cheia de contradições, para convencer o grande número de membros recalcitrantes dessa elite, ainda mais porque essa intervenção iria demandar ‘muuuito’ dinheiro, sem certeza de retorno, investido fora dos EUA. E essa justificativa veio na forma de dois documentos básicos: o discurso do Presidente Truman ao Congresso, em 12 de março de 1947, e o lançamento do Plano Marshall, na Universidade de Harvard, em 5 de junho do mesmo ano, pelo general George Marshall.
         Segundo o discurso de Truman, o comunismo é sempre fruto de uma violência ilegítima: seja de uma nação mais poderosa sobre outra, no caso a União Soviética, ou de uma “minoria armada” – o comunismo é sempre minoritário, tão minoritário quanto os revolucionários americanos que iniciaram a guerra de independência, mas que, é claro, não foi lembrado – que se impõe, pela força, à uma maioria enfraquecida. Isso para nós, hoje, não faz o menor sentido, mas desde quando o discurso dos políticos se preocupou com isso?
         A partir daí ele urge que os americanos não podem ficar de braços cruzados, vendo os seus aliados em tão premente situação, ainda mais porque se um único país cair em poder do comunismo, seus vizinhos cairão em seguida, com graves prejuízos para aquilo que é a tendência natural da maioria, o desejo de liberdade, de livre expressão, etc. Disse Truman: “os povos do mundo esperam de nós o suporte para manter a sua liberdade” (tradução livre do inglês), numa crassa projeção dos valores americanos, o “american way of life”, e ocultação de seu claro matiz imperial, que aparecerá depois, em intervenções patrocinadas pelos americanos, contra governos de tendência socialista livremente eleitos, impondo, a seguir, cruéis ditaduras de direita, que esmagavam qualquer pretensão de democracia, e foram perfeitamente aceitas por Washington... e pelos “liberais” nativos.
         O principal argumento, porém, é que é preciso a todo custo combater a pobreza em escala mundial, pois, segundo Truman, “As sementes dos regimes totalitários são alimentadas pela miséria e a penúria. Elas se espalham e crescem no solo mal da pobreza e dos conflitos. Elas atingem o seu pleno desenvolvimento quando a esperança de um povo em uma vida melhor se acaba...” (idem) – esse argumento aparece, de forma mais atenuada e ambígua, no discurso de Marshall, como convinha a um chefe militar ainda na ativa, conforme os padrões da democracia e da cultura política americana. Mas tanto um como o outro é taxativo: esses dois momentos, pobreza e comunismo, estão intimamente integrados, e são, principalmente o segundo, uma ameaça real aos Estados Unidos, o que justificaria o seu combate, inclusive, por meios militares, tornado aceitáveis as ditaduras, desde que sejam pró-americanas...
         Ao olhar para o Brasil dos anos 1940, os americanos achavam que tinham especiais razões de se sentirem preocupados: a sua fronteira era enorme e, analisada dentro do padrão da teoria do dominó, era de tirar o sono, nessa época já devia estar maduro, pelo menos em ideia, dentro do Departamento de Estado americano, o mote “para onde o Brasil pender a América do Sul penderá”, repetido por Nixon, na presença do oligarca brasileiro, Garrastazu Medici.
         O povo parecia, para os americanos, muito pobre e infeliz, sob o domínio de uma ditadura política, a de Getúlio, e de velhos chefes políticos, os oligarcas civis, que deviam reger esse pobre povo com “mãos de ferro”, tornando a sua vida ainda mais infeliz, e, consequentemente, mais propenso a acolher o comunismo, cujo combate, feito por essas antigas oligarquias, era sobremodo ineficaz. Para piorar, sob o controle dessas lideranças, a tendência era isso se perpetuar, uma vez que a ausência de uma democracia plena, impedia o surgimento de novas lideranças, e o seu nacionalismo atávico, impedia a expansão do capitalismo, impedindo tanto a prosperidade das pessoas, o crescimento de uma classe média brasileira, nos padrões americanos, of course, e a entrada mais fácil de empresas americanas num mercado tão promissor quanto, no momento, estagnado.
         A respeito disso podemos dizer o seguinte:
        

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         Em 1950, no seu grande sucesso, “A volta da asa branca”, Luis Gonzaga cantava o “sertão das muié séria, dos homes trabaiador”. Em 1981, após 17 anos de oligarquia militar, o Trio Nordestino lança um disco, com a capa acima. Um retrato do que a nação se tornara. Uma paródia barata de si mesma.

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