terça-feira, 25 de outubro de 2016

SEM “HEIL HITLER” E SEM FAMÍLIA (1936-1944) UMA FAMÍLIA DESPEDAÇADA

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__ Em 13 de junho de 1936, durante o lançamento do navio-escola Horst Vessel – nome de um desclassificado, de um rufião, transformado em mártir pelos nazistas – no cais do estaleiro Blohm+Voss, de Hamburgo, na Alemanha, a massa de operários, frenética, saúda o eu amado Führer, com o tradicional gesto do braço direito erguido reto, o “Heil Hitler”, e imediatamente se destaca da massa um homem, um único homem, que, com os braços cruzados, recusa-se ao cumprimento, a seguir a massa encarneirada, fanatizada. Ato esse flagrado pelo fotógrafo oficial na ocasião. O seu nome provável é August Landmesser.

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__  Landmesser era um ex-nazista, que entrara para o Partido, em 1931, por oportunismo, esperando mais facilidade para conseguir um emprego, entretanto, em 1935 ele se apaixonou por uma judia alemã, Irma Eckler (acima), e por isso foi expulso, por se recusar a desfazer a relação. Em agosto de 1935 eles deram entradas nos papeis, em Hamburgo, para oficializar o casamento, mas no dia 15 de setembro os nazistas decretaram as chamadas Leis de Nuremberg, que proibiam explicitamente o casamento entre alemães e judeus, impedindo o reconhecimento oficial. Em outubro de 1935 nasceu-lhes a primeira filha, Ingrid, vista abaixo numa foto durante a guerra, de feições tipicamente “arianas”.

http://all-that-is-interesting.com/wordpress/wp-content/uploads/2013/05/august-landmesser-ingrid-portrait.jpg
idem

__ No início de 1937 eles tentam fugir para a Dinamarca, mas são presos na fronteira. Desrespeitando as leis nazistas, ela engravida de novo e em julho de 1937 é acusada de “desonrar a raça”, com base nas leis de Nuremberg, mas os dois contra-argumentam que Irma havia sido criada e batizada no protestantismo, e que por isso não viam impedimentos maiores. Foram absorvidos, mas alertados a não se aproximarem de novo, em 27 de maio de 1938. Eles entretanto não levam a sério a decisão do tribunal, e mantiveram o seu relacionamento em público, tendo inclusive posado para uma foto, em junho de 1938, a única em que a família aparece toda unida apareceram publicamente (abaixo).

http://all-that-is-interesting.com/wordpress/wp-content/uploads/2013/05/august-landmesser-whole-family.jpg
idem
__ Em 15 de julho de 1938 ele é preso e condenado a dois anos e meio no campo de concentração de Börgemoor, mas muito pior aconteceria com Irma. A Gestapo a prendeu e a levou ao campo de concetração de Fulhsbüttel, depois para o campo de Oranienburgo, em seguida Lichtenburgo, e por fim o campo de mulheres de Ravensbrück. Por fim ela foi levada para Centro de Eutanásia de Bernburg, onde caiu nas mãos da equipe do médico psicopata Irmfield Eberl, onde possivelmente encontrou a morte em abril de 1942, na câmara de gás, junto com outras 14 mil vítimas – entre as vítimas desse matadouro encontra-se a companheira de nosso Luis Carlos Prestes: Olga Benário. A foto abaixo foi mandada para August, no início de seu internamento em Börgemoor. A expressão facial de Irma diz tudo (abaixo), embora na dedicatória estivesse escrito "espero que você goste".

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__ A situação de August, menos grave, arrastou-se ao longo dos anos. Em 1943 ele esteve por um breve tempo unido a uma trabalhadora compulsória ucraniana, chamada Sonia Pastchenko, na verdade uma ex-estudante de medicina russa, com um nome falso para evitar perseguição, um relacionamento igualmente proibido pelo código nazista. August não se dava por vencido, até que em agosto de 1944 foi transferido para a Divisão Penal 999 – ou seja, unidade militar composta por prisioneiros e criminosos, com menos armas e missões mais difíceis, tipo "bucha de canhão" – em operação nos Bálcãs, no espinhoso combate à guerrilhas iugoslava. Foi dado oficialmente como desparecido em combate, em outubro deste ano. Pode ter sido morto em combate num lugar remoto, junto com todos os seus companheiros, ou ter sido executado em lugar desconhecido. Seja como for nunca mais se ouviu falar do corajoso operário que ousou desafiar a mais sangrenta e bestial ditadura do Ocidente

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http://mentalfloss.com/



__ A tragédia dessa família, entretanto não pararia aí. As duas filhas do casal foram separadas. Ingrid ficou morando com a sua avó, enquanto Irene, de aspecto mais “semítico” foi para um orfanato de crianças judaicas, sendo a custo salva de ir para um campo de extermínio. Mais tarde ela foi adotada por uma família problemática, e lá acabou no centro de uma grave crise familiar, sendo, após a guerra, levada de volta a uma casa de órfãos. Irene não foi bem aceita pela família do pai, nem pelos vizinhos que a conheciam, mesmo depois da derrocada alemã. Guardando mágoas profundas e envolvida num sem número de mal entendidos ela encerrou cedo a sua carreira de professora, mas coube a ela deixar por escrito a história incrível dessa família ao mesmo tempo tão comum e tão especial, em um livro lançado em 1998: “A Family torn apart by “Rassenschande””. Uma família dilacerada pela política racial nazista. Irene aparece acima sob a vista de seu controvertido pai adotivo.
__ Quem quiser a vitória sobre si mesmo, qualquer que seja o obstáculo a ser vencido, deve pagar o preço. Landmesser pagou o seu, e com ele toda a sua família; foi caro. Você está pronto para pagar pela sua vitória ou se renderá precocemente, como a maioria?
__ Há muita informação sobre Landmesser e sua família, em inglês, no seguinte endereço: http://www.fasena.de/courage/english/index.htm

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

“COMIGO NÃO, VIOLÃO!” (1979)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos maiogs de Brasil, EUA, França, Portugal, Ucrânia, México, Cabo Verde, Polônia. Deus os abençoe

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http://blogdarachelmcs.blogspot.com.br/

__ Em setembro de 1979, o general-tirano do Brasil, João Batista Figueiredo, estava em viagem promocional por Belo Horizonte, quando o seu pai, um militar liberal, avisou à sua filha, de cinco para seis anos, que almoçaria com o presidente, eleito no colégio eleitoral de 15/10/1978,  no dia seguinte. A menina não sossegou enquanto não conseguiu da mãe a promessa de que ela a levaria para ver o presidente, pois a pequena imaginou um recado para dar ao general.
__ No dia seguinte, o presidente encomendado estava próximo a um boteco, no contorno da Praça da Liberdade, fazendo a encenação de praxe – Figueiredo gostava de posar como homem do povo, contrastando o estilo dos generais anteriores, múmias carrancudas, que sequer retocavam a maquiagem para parecerem mais simpáticos, ou menos antipáticos, mas o fazia de uma forma tão artificial e forçada que só conseguia tornar-se ridículo – sempre cercado de áulicos e bajuladores, dispostos a qualquer subserviência para agradá-lo, às vezes de forma grotesca, como aconteceu com o na época deputado federal Alcides Franciscato, de São Paulo.
__ A menina, livrando-se da mãe, caminhou até o general e chegando nele, com as mãos na cintura (acima), perguntou-lhe a queima-roupa se iria almoçar com o seu pai. O general então perguntou-lhe se seu pai comia muito. A menina responde que sim, e asseverou que não ia sobrar nada para o “presidente”. Despediu-se dizendo que iria para a sua escolinha.

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http://g1.globo.com/

__ Nesse momento os “adultos” ao redor começaram a clamar insistentes: “[faz como nós] dá a mão para o presidente”, que, fazendo o seu papel, estendeu-lhe a sua, e, para a surpresa absoluta de todos eles, que não estavam acostumados a gestos de autonomia e autorrespeito, a meninota simplesmente cruzou os braços e recusou-se a cumprimentar o general e dublê de presidente, e retirou-se. Esse fato inusitado, um ato inconsciente de coragem de uma criança, no seio de uma nação de adultos majoritariamente acovardados ou acomodados, e conscientes disso, foi como um raio de esperança na mais tenebrosa escuridão: a futura geração salvaria os brasileiros de si mesmo, fato devidamente registrado pelas lentes do fotógrafo carioca Guinaldo Nicolaevsky, da revista VEJA.
__ Guinaldo tentou em vão conhecer a garotinha da foto, morrendo em  2008, sem nunca tê-la conhecido, até que em junho de 2010 uma equipe do jornal O Globo conseguiu localizá-la, morando em Belo Horizonte, sem saber ainda o quanto era famosa. Boa parte de sua vida adulta foi passada no exterior, uma vez que se e comércio exterior, tendo feito mestrado, inclusive, no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), uma entidade militar, tendo conseguido sucesso na carreira. Seu nome também veio a público: Rachel Clemens Coelho, casada e mãe de uma filha. Clemens também revelou o motivo de seu gesto: não gostava que ninguém lhe dissesse o que fazer, e nesse sentido dava uma lição naqueles adultos tão submissos. Em 2011 ela era como aparece na foto abaixo:

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__ O Brasil entretanto teve pouco tempo para curtir e saber mais sobre a sua precoce e misteriosa heroína. Rachel Clemens Coelho morreu em abril de 2015, de parada cardíaca. Com apenas 41 anos de idade. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

PARCERIAS IMPROVÁVEIS (DÉCADAS 1930 E 1940)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos do Brasil, França, Emirados Unidos, México, Portugal, EUA, Alemanha, Cabo Verde, Lituânia, Índia. Deus os abençoe.


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__ Numa época que a segregação racial vigia nos EUA, e que em diversas regiões do país homens negros eram torturados e mortos barbaramente, em linchamentos públicos, pelo simples fato de serem negros ou qualquer outro motivo tão banal quanto, as crianças acima mostravam que a convivência racial era não só possível como extremamente benéfica para as duas “raças”. Elas também mostram que nesse, e em outros aspectos básicos da maturação humana (o desejo do jogo, a imitação, a ausência de preconceitos, etc.), o ser humano continua rigorosamente imutável ao longo dos séculos, variando apenas no secundário, no que é aprendido socialmente na juventude, como explicou Jean Piaget.

__ Na foto de cima, batida por Luke Swank, nos anos 1930, aparecem dois meninos negros e um branco gostosamente amontoados sobre um típico carrinho infantil, que fazia sucesso entre as crianças americanas da época. Na foto de baixo um casal de pequenos bailarinos ensaiam uma coreografia numa rua de Nova York, no ano de 1940, captado pela câmara de Helen Levitt.
PARCERIAS IMPROVÁVEIS (DÉCADAS 1930 E 1940)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos do Brasil, França, Emirados Unidos, México, Portugal, EUA, Alemanha, Cabo Verde, Lituânia. Deus os abençoe.


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__ Numa época que a segregação racial vigia nos EUA, e que em diversas regiões do país homens negros eram torturados e mortos barbaramente, em linchamentos públicos, pelo simples fato de serem negros ou qualquer outro motivo tão banal quanto, as crianças acima mostravam que a convivência racial era não só possível como extremamente benéfica para as duas “raças”. Elas também mostram que nesse, e em outros aspectos básicos da maturação humana (o desejo do jogo, a imitação, a ausência de preconceitos, etc.), o ser humano continua rigorosamente imutável ao longo dos séculos, variando apenas no secundário, no que é aprendido socialmente na juventude, como explicou Jean Piaget.

__ Na foto de cima, batida por Luke Swank, nos anos 1930, aparecem dois meninos negros e um branco gostosamente amontoados sobre um típico carrinho infantil, que fazia sucesso entre as crianças americanas da época. Na foto de baixo um casal de pequenos bailarinos ensaiam uma coreografia numa rua de Nova York, no ano de 1940, captado pela câmara de Helen Levitt.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O EXTERMINADOR DOS FUTUROS...

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, Ucrânia, Índia, China, Portugal, Argentina.Deus os abençoe.

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__ Aloprado, falastrão, raivoso, campeão da falta de compostura, touro numa loja de cristais, urso com dor de dente, elefante no estro, desvairado, etc. escolha a sua definição para o candidato à presidência, em 2018, pelo PDT, Ciro Ferreira Gomes, uma ótima opção para quem acha que desgraça pouca é bobagem. Reproduzo abaixo um excelente artigo de um dos mais respeitáveis analistas políticos do país, Josias de Souza (para mim o melhor, junto com Demetrio Magnoli, com estilos diferentes), copiado de http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2016/10/09/ciro-desconstroi-rivais-e-ignora-autoconstrucao/

__ “Eterno candidato à Presidência, Ciro Gomes exibiu-se neste domingo num encontro jornalístico, em São Paulo. Concedeu uma entrevista. Nela, declarou que Lula ''está em final de ciclo'', porque ''brincou de Deus e se queimou''. Chamou Michel Temer de “golpista salafrário”. Disse que José Serra está “senil”. Referiu-se a Fernando Henrique Cardoso como “um traidor do Brasil”.
__ Provocado pelos entrevistadores, Ciro revelou-se mais língua do que cérebro. Foi enfileirando críticas. Além de Lula, Temer, Serra e FHC, despejou fel sobre Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Marina Silva, João Doria e até o candidato a prefeito do Rio pelo PSOL, Marcelo Freixo, a quem atribuiu “um moralismo estreito”.
__ A certa altura, Ciro revelou-se portador de uma ética larga. Já trocou de partido uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Por enquanto, está no PDT. Referiu-se ao presidente da legenda, Carlos Lupi, apeado do Ministério do Trabalho sob Dilma Rousseff em meio a denúncias de corrupção, como “um amigo”.
__ Ao final do desfile de opiniões de Ciro, a plateia ficou sabendo que ele preza a amizade de um personagem que gerencia o PDT como um cartório e despreza qualquer outro ser humano que possa representar um estorvo ao seu desejo de chegar ao Planalto.

__ A prioridade de Ciro continua sendo a desconstrução de projetos alheios. Como de hábito, o eterno candidato se esquece da autoconstrução. Fiel ao velho estilo, Ciro dispensa adversários. Tornou-se uma espécie de candidato autoimune. Seu fígado produz uma toxina que ataca sua língua e obstrui o processo sináptico, impedindo a comunicação entre os neurônios vizinhos.”

sábado, 8 de outubro de 2016

O CANTO DA SEREIA TECNOLÓGICA

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, Ucrânia, China, Índia, Argélia, Portugal, Marrocos. Deus os abeçoe

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 “O EMOCIONAL NÃO NOS INTERESSA”: uma supervisora de ensino de São Paulo.

__ Uma sereia nos apareceu. Politicamente correta, bem vestida e cuidada, diante das câmaras de TV, falando como autoridade em educação, conhecedora profunda das necessidades e as aspirações daquelas que, em geral, os adultos brasileiros ignoram: as crianças. Essa sereia não ocultava sua origem, denunciada tanto pelos valores de sua campanha à prefeitura como na forma compulsiva como pronunciava o termo “tecnologia”, no seu significado mais comum de maquinário, de parafernália eletrônica, citado cinco vezes em menos de quatro minutos, sem falar de alguns derivativos (celulares, computadores, etc.).
__ Nascido e criado em lares onde o uso e a posse de modernas tecnologias de entretenimento, informação ou comunicação não foi problema, apesar de alguns momentos difíceis na adolescência e juventude, João Dória fala com se a realidade do povo pobre ou da pequena classe média, que vive no subúrbio da grande cidade, lhe fosse perfeitamente conhecida, senão íntima, assim como a educação mais adequada de crianças e jovens da escola pública generalista. Vejamos o que diz o novo prefeito da cidade de São Paulo sobre esse assunto.
__ “Os jovens, disse ele numa entrevista à TV exclusiva da empresa iG (provedora da internet), não querem mais lousa de pedra e giz... querem tecnologia, tablets, computadores, celulares, tecnologia, banda larga, wifi gratuito [quem não quer?]”.
__ Doria decerto conhece muito bem as crianças e jovens da classe média alta, com quem convive, e dentre elas pode se citar como exemplo, inclusive porque sabe que o uso intensivo dessa tecnologia é um dos melhores meios para mantê-los afastados de perguntas moralmente embaraçosas e do sentimento de culpa por não dar mais atenção aos seus filhos, claramente visível no discurso de alguns que pregam a chamada “Escola Sem Partido”, também defendida pelo novo prefeito – e melhor calar os professores, do que constranger ou obrigar os pais a tirarem um pouco do seu tempo para conversar com seus filhos sobre o que os incomoda.
__ Os mais pobres, que não têm acesso a tanta tecnologia (computadores, tablets, etc.), distraem as suas crianças com a tecnologia doméstica da televisão ou ignoram quando elas ficam o dia todo na rua, manuseando a primitiva, mas extremamente prazerosa tecnologia das bolinhas de gude, da bola de futebol (que tornou a muitos mais ricos do que Doria; e por isso mais competentes?), das pipas, encarando fios de alta tensão ou degolando motociclistas incautos, etc. Há ainda o acesso aos celulares piratas ou roubados, usados como central de jogos, vídeos eróticos ou pornográficos além de uma cipoada de músicas de todos os tipos, algumas pavorosas, com letras superagressivas, mas nenhum desses meninos pensa em usar esse equipamento em sala de aula, pois está muito associado ao seu entretenimento ou lazer proibido – quando as vezes eu autorizo o seu uso para pesquisa escolar em sala de aula, uma vez que o governo do PSDB proibiu, eles ficam numa admiração só. O celular, para os jovens, é mais um confidente, um amigo íntimo, num mundo em que o “outro” desapareceu, engolido pela tecnologia, há tempos.
__ Quando vou com meus alunos para a sala de informática – hoje só vou forçado por alguma circunstância – sei que o tempo de estudo aí será mínimo, pois eles entram num frenesi, numa necessidade compulsiva, de viajar pelo Facebook, pelos sites de jogos e vídeos do Youtube, para ver de uma outra maneira, talvez mais colorida e dinâmica, pessoas e músicas que eles só conhecem por meio da reduzida e às vezes precária tela do seu celular (cheia de trincas e rachaduras), do mp3, etc. É puro entretenimento, um entretenimento muito pessoal, e, quiçá, proibido, denunciado pelos gestos nervosos toda vez que me aproximo para ver o que estão fazendo. As vezes que tentei levá-los com mais firmeza para o estudo e a aquisição de informação socialmente relevante, o que consegui foi estressar nossa relação.
__ Que rapaz, com os hormônios à flor da pele, sem as amarras dos controles sociais, que não são postas nem pela família nem pela escola, emocionalmente indiferente, vai deixar de buscar um site cheia de mulheres nuas, ou algo parecido, para navegar em fórmulas matemáticas, regras gramaticais, personagens históricos, etc.? E as meninas, como livrá-las das salas de bate-papo? O efeito do erotismo adulto sobre os jovens ainda é pouco aquilatado entre nós, apesar da sua onipresença em nossas escolas – em algumas de minhas turmas, inclusive de 6º Ano, verbos como “dar”, “entrar”, “gozar”, seja em que contexto for, não podem ser pronunciados sem provocar um risinho tão desconcertante quanto irritante. Recentemente um 9º Ano reagiu dessa maneira ao ouvir o nome de Che Guevara, uma vez que o termo “vara”, no seu meio social, está associado ao órgão genital masculino.
__ A atenção e o apego “gratuito” de que nossos jovens votam pela tecnologia podem bem ser constatados, em nossas escolas, nas chamativas estruturas de segurança, tipo grades e portas de presídio, que cerram as salas que abrigam essas máquinas, e até elas próprias, como as TVs em salas de aula, para isolá-las de jovens sempre prontos a fazerem uso inadequado delas ou até tomarem-nas para si, “tanto anseiam por essa tecnologia”! Na minha escola-sede, os alunos encheram as caixas de som instalados nas salas de bolinhas de papel, introduzidas meticulosamente pelos furos nos invólucros; o aparelho de projeção foi roubado e nunca mais apareceu, soubemos que fora, posteriormente, trocado por droga – nesse contexto foi a troca de seis por meia dúzia. E assim em outras escolas públicas que eu conheço.
__ Os jovens e as crianças têm outras necessidades muito mais prementes, como segurança, abrigo, atenção-proteção, intimidade (socialização) etc., em casa e na escola, coisa que nem passa pela cabeça das autoridades educacionais peessedebistas, tal a indiferença delas para com esses “detalhes”, mas que aparecem na forma compulsiva com que os alunos destroem o material coletivo posto à sua disposição, principalmente quando são convidados a fazer uso deles. Eu mesmo faço uso intensivo do livro didático, que é escolhido entre os que apresentam o conteúdo mais simples e as melhores ilustrações, inclusive após pesquisa nas turmas, além de sempre premiar com nota ou pontos essas atividades. Pois bem, os livros de minha matéria estão entre os mais destruídos e desaparecidos da escola, apesar dos elogios positivos que predominam na minha aula, do grande número de médias aprovativas,  das manifestações de apreço que os alunos em público ou particular me devotam e das elevadas notas em história que eles obtém no SARESP. Atesto, pois, que a destruição de meus livros é impressionante, mas devo ressaltar que nesse mister, a destruição de patrimônio público, eles demonstram uma engenhosidade, uma paciência e uma obstinação que nem os melhores, por vezes, demonstram na aquisição de conhecimentos adaptativos socialmente valorados.
__ Por que se dá essa situação? Porque em casa eles não são treinados a lidar com esse tipo de material ou se lhe dão muito pouca importância. De que adianta essa cultura, livresca e culta, no seu meio? Eles não estão sendo educados na família nem na escola a cooperar, a se socializar, antes vivem em um mundo onde é cada um por si, onde quase não há leitura nem cuidado pelos bens coletivos, qualquer praça pública, em qualquer cidade de porte médio e grande nesse país, é uma prova do que eu falo. Estamos criando uma civilização hiperindividualista, ou melhor, retomando o hiperindividualismo da senzala e da casa grande. As crianças e jovens que vêm de casa com essa cultura antissocial, sejam de que classe forem, a perderão magicamente em contato com a tecnologia, segundo a tese eleitoralmente dominante, ou os aparatos eletrônicos terão o mesmo fim que os modestos suportes de escrita atuais? Com certeza haverá outra tentação que um livro já não dá hoje em dia: trocar por dinheiro ou por droga.
__ O jovem de hoje, e de sempre, busca em casa, mas principalmente na escola três coisas: sentido ou significado: uma compreensão sobre o que acontece com ele e com o mundo, com a ajuda de profissionais que já viveram o que ele está vivendo e acompanham as transformações mundiais e locais a mais tempo (isso, historicamente, diz respeito à cognição); modelos: padrões aceitáveis de comportamento minimamente reconhecidos como adaptativos pelo meio social onde o jovem adolescente vive, e que o ajudará em sua inserção social, na aquisição de conhecimento, assim como na montagem de uma bem-sucedida escala de valores no âmbito pessoal (esse é o campo da socialização); valores: ou seja escalas de prioridades individuais e sociais que lhes permitam fazer escolhas e manter-se firme nelas, apesar das oposições e seduções em contrário, onde ele exercitará a sua vontade e marcará a sua personalidade em relação ao meio social e natural circundante, fator primordial de sobrevivência e saúde psicológica (é o campo da afetividade). E esses três fatores, ou antes necessidades básicas, estão integradas e precisam ser desenvolvidas concomitantes, sob pena de gerar um aleijão humano, como aquele doutor em zootecnia que cometeu um crime horrendo por suspeitar da fidelidade da esposa. Mas como disse a supervisora: “O EMOCIONAL NÃO NOS INTERESSA”.
__ O pensamento de Doria sobre a educação é exatamente o mesmo do século XIX, de curta visão e paternalista, que considerava a escola o local onde as crianças iriam buscar as informações que elas, de maneira alguma, encontravam na sociedade, devido a escassez e o alto custo da informação, antes de ela ficar ao alcance de todos na internet e em outros meios de comunicação de massas. Quem não tem uma TV em casa e quem não tem um celular com possibilidade de acesso à internet? Doria pretende que a sociedade permanecerá estagnada e a tecnologia informática mais “sofisticada” será eternamente inacessível ao jovem pobre, o que não é verdade já hoje, e que o simples fato de a parafernália estar na escola gerará um potencial de motivação capaz de tirar o nosso sistema do “ponto morto” em que se encontra. Ou seja pelo projeto do prefeito a escola existe para dar aos jovens alguns lampejos de algo que a maioria deles, em pouco tempo, terá sobrando dentro de sua casa, mas não o necessário, o essencial, vistos no parágrafo acima.


http://pre12.deviantart.net/3497/th/pre/f/2013/147/e/7/kato_mermaid_golden_fire__by_tariq12-d66uu6z.jpg
http://tariq12.deviantart.com/
     á ainda o recurso a celulares made in há         
__ “[os alunos] querem também que os professores tenham oportunidade para a sua requalificação contínua, para que eles possam estar atualizados, poder oferecer aos seus alunos o que de melhor o ensino pode lhes proporcionar, principalmente no campo da tecnologia”.
__ Os alunos, de fato, clamam muito pela ida à sala de informática, mas pelos motivos apresentados acima, fora isso eu acredito que ou eu ou o senhor Doria mora em Marte, pois eu há muito tempo, para minha grande frustração, não sou requisitado por um aluno para desenvolver mais algum tema de minha disciplina, seja por que meio for. Uma lousa, um giz e uma grande ideia, uma consistente concepção psicoeducativa, ainda que seja puramente intuitiva, com o suporte de uma direção esclarecida e flexível, e não toda engessada como é hoje, podem fazer muito mais por jovens e crianças que toda a tecnologia do mundo. Aliás, entregar um saber tecnológico avançado a um ser humano não, ou só parcialmente, socializado, é o mesmo que entregar uma arma a uma criança ou a um incapaz. Alguém se ferirá gravemente...
__ Os professores, por sua vez, não devem de pronto e previamente recusar a tecnologia, pois esta pode ser uma auxiliar positiva, desde que venha como acréscimo, como suporte, a uma doutrina psicopedagógica científica, fundamentada, prudente (estamos lidando com seres humanos e não cobaias de laboratório, aliás até essas estão recebendo atenção e cuidados hoje em dia, já as crianças...), reconhecida por especialistas e aplicadores, e não como o objetivo primordial da educação e/ou caminho privilegiado para esta, com querem os tolos, os behavioristas e os caixeiros viajantes das empresas de informática.

__ “É preciso também ter escolas maiores... o ideal é termos a educação plena, a educação que ofereça o tempo integral, para que as crianças possam passar o dia na escola. Com isso terem melhores aulas, educação física... a prática do lazer, a prática da cultura... cinco refeições por dia...”
__ Claro, para termos mais economia de escala (redução de custos) em prejuízo do acompanhamento especializado, um pouco mais personalizado, que, no caso paulista, está beirando o mais grotesco “faz de conta”. Eu vejo nesse clamor arcaico por grandes escolas, tipo grandes fábricas, um sintoma da despersonificação provocada pela sociedade de massas, empurrada para dentro do sistema educacional, enquanto as novas gerações e novos modelos sociais apontam para uma maior personalização dos processos, de mais contato face a face, bem mais eficientes para conduzir a marcha da formação e preparo das futuras gerações, assim como para evitar a desagregação de personalidades ainda imaturas. O senhor prefeito avança na contramão do que se conhece sobre o assunto, por meio das pesquisas e abordagens psicológicas mais modernas, e se embrenha no que há de mais atrasado e antiadaptativo do surrado behaviorismo americano, do início do século XX, e, é bom constatar, ele não está nada sozinho. A sociedade precisa se mobilizar.
__ Se esse projeto tivesse nascido de um movimento paulatino e bem-sucedido nessa direção, colhendo informações inquestionáveis, colhidas em escolas de meio perído de sucesso, que corroborassem as conclusões estapafúrdias e deslumbradas, de nosso jovem prefeito, tudo bem, mas o movimento da escola de tempo integral surge das ruínas propositais da escola de meio período, abandonadas à sua sorte justamente para delas não sair qualquer desmentido ao projeto do bolso do senhor governador, copiado literalmente do sistema americano, inclusive com a sua justificativa pouco psicopedagógica, mas bem econômico-empresarial.
__ A escola na gestão do PSDB não nasce de um projeto liberal, embora aponte para a iniciativa privada, mas de um projeto estritamente capitalista, que é o liberalismo sem o ser humano, como Marx viu no século XIX, e se torna uma extensão, um apêndice, da empresa, mas a empresa do século XIX-XX, treinando a criança desde a mais tenra idade a ficar sob o controle de um chefe, de um especialista, para garantir a melhor produtividade possível, ignorado as sua necessidades socais e afetivas. Como disse uma supervisora: “O EMOCIONAL NÃO NOS INTERESSA”. Nesse momento as condições de trabalho, as salas aula, de crianças e professores se aproxima das fábricas do século XVIII. Nesse ambiente, a disciplina e/ou engajamento no trabalho só pode ser feito por assédio moral contínuo, e sem uma válvula de escape adequada, antes só se pensa em aumentar a pressão, pode ocorrer, a qualquer momento e por qualquer razão, uma manifestação violenta, abrupta, inesperada, da qual a escola em Realengo, no Rio de Janeiro, foi o exemplo mais extremo, mas que nós todos já vemos pulular aos montes, embora em um grau menor, nos vídeos da internet, e mesmo nas discussões em sala de aula, onde os desafetos, meninos ou meninas, ignoram da maneira mais esculachada a pessoa do professor, como se estivessem na zona mais “barra pesada” da cidade. Será que não estão?
__ Não se criou uma escola modelo de meio expediente. Não se preparou diretamente, na linha de produção, na sala de aula, um professor capaz de detectar o que é significativo ou não na sua matéria, e que métodos de trabalho são mais adequados para essa ou aquela faixa etária, e até de acordo com o meio social dominante. Não se acumulou know how no trato com as comunidades infanto-juvenis nem na mediação e administração de conflitos – veja-se o critério absurdo com que se escolhe professor mediador, um tipo de psicólogo improvisado, nas escolas de São Paulo. Ganha o professor que estiver sem aulas,...
__ Quer dizer então que esse cargo fundamental de professor que media conflitos, que refaz o delicado equilíbrio relacional entre alunos e professores, tem como critério de escolha o fato de o professor estar sem aulas, o que normalmente ocorre com os professores com menor tempo na rede, os mais inexperientes, embora também, de forma excepcional, possa ocorrer com professores antigos? É isso mesmo, uma função estratégica dentro da escola está sendo usada como cabide de emprego, às custas das crianças e dos professores. É por isso que eu digo e repito: a escola de meio período está sendo sabotada de dentro para fora, para abrir espaço, sem contestação, para a completa novidade da escola de tempo integral e que, para esse governo e sua equipe, O EMOCIONAL NÃO INTERESSA.
__ O problema relacional foi, por conseguinte, empurrado para debaixo do tapete. Que fazer com os casos tão comuns e escandalosos de bullying nas escolas? Recentemente em Goiás, quatro adolescentes entre 13 e 16, torturaram outra de 13 anos por causa de namorado. Uma delas disse “ “No nosso pensamento, nós ia bater nela e ela ia morrer e nós ia enterrar ela [sic]. Só que aí não deu certo” (copiado de http://veja.abril.com.br/brasil/video-adolescentes-torturam-menina-de-13-anos-em-goias/). Já imaginaram se elas tivessem de conviver num espaço o dia todo, todo os dias? Certamente que o assassinato ocorreria lá dentro mesmo, na frente das outras crianças. Na escola de um expediente, quando um menino ou menina é vítima de agressões na escola, ao acabar o expediente ele retorna à sua família e aos amigos da rua, recompondo-se, revigorando-se, mas quando a escola é de tempo integral, os amigos de rua e a saudável socialização desse ambiente são os primeiros a desaparecer (já pensaram nisso?), e o seu martírio não para nunca, a não ser que professores atentos, sensíveis e experientes intervenham e restabeleçam o equilíbrio, o que não é fácil, pois os jovens simulam e não gostam que adultos se metam em seus assuntos. A única alternativa, nesse caso, nos é apresentada, a mancheias, pelos garotos americanos que vivem essa realidade. Chacinas inúmeras e espetaculares, dentro das escolas, onde de uma só vez desaparecem o problema, a(s) vítima(s), o(s) agressor(es) e quem estiver por perto. Vamos abrir, sem qualquer preparo ou modelo anterior, a caixa de Pandora da educação...

__ “São Paulo tem 103 mil crianças fora das creches... se essas crianças não tiverem o amparo, o ensino, a educação, a nutrição e a ação preventiva da saúde nessa faixa etária já serão perdedores. Quando forem para a escola já serão perdedoras, já não terão mais chance de se tornarem executivos, de se tornarem profissionais, de se tornarem empreendedores”.
__ Ora, a idade de acolhimento de crianças em creches oscila entre 0 e 3 anos, e, segundo o nobre prefeito, se as crianças não entrarem nesse período na creche já se tornarão de per si “perdedoras!” Esse é um dos maiores disparates que eu já ouvi, mas para além de sua bizarria existe uma concepção educacional no mínimo preocupante: Primeiro, mostra uma visão estritamente quantitativista de fenômeno ensino-aprendizagem; formar seres humanos não difere muito, ou nada, de fabricar latas de conservas, mas quem quer que lide com seres humanos no seu dia a dia, por razões não exclusivamente econômicas, sabe perfeitamente a diferença entre uma relação qualitativamente prazerosas ou não, independente do volume da conta bancária daquele com quem se convive. Segundo, vem carregada por uma das expressões mais comuns e preconceituosas dos americanos do norte, que em sua colossal ignorância e cegueira votaram duas vezes em George Bush e promovem um homem como Donald Trump – de que adianta obrigar uma criança, durantes décadas, a uma escola de tempo integral, desde a mais tenra idade, para vê-la, já adulta, encantar-se por um alguém como Donald Trump, ninguém merece... Por fim ela não esconde uma estratégia já em curso nas escolas do governo estadual, de fazer propagar os mecanismo de controle sobre a ação de professores, e a necessidade de contínua de planejamentos, replanejamentos, além de relatórios minuciosos sobre os mais prosaicos aspectos da ação magisterial, sob ameaça de fiscalização e denuncia crescentes, inclusive de funcionários do TCU, que supõem uma tentativa insana, tresloucada, e absolutamente behaviorista, de transformar a ciência pedagógica numa ciência exata, e poder-se programar infalivelmente a educação das crianças desde pequenas, seguindo a crença expressa por John Watson, desde 1930: “Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas [fisicamente perfeitas] e meu mundo específico para criá-las [a escola de tempo integral, por exemplo], e eu me comprometo a escolher uma delas ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que eu queira – médico, advogado, artista, comerciante, e até um mendigo ou ladrão, independente de seus talentos, capacidades, tendências, habilidades, vocação, ou a raça de seus ancestrais [no caso Doria ela deverá se tornar uma ‘empreendedora’, e a escola num centro de formação exclusiva de ‘empresários’]”. O simples fato de Watson propor esse experimento já o desqualifica como ser humano, ainda mais para se tornar a fonte de inspiração à superação de nossa educação estagnada, a não ser que realmente seja verdade aquilo que a supervisora disse: “O EMOCIONAL NÃO NOS INTERESSA”. Metrópolis está perdendo...

__ “Prestigiando os profissionais da educação essa gente valorosa, mas que precisa receber a sua requalificação nos programas de treinamento, de atualização permanentemente
__ Note-se que Doria chama os professores de “valorosos”, mas não de “competentes”, afinal os competentes são ele, seus amigos empresários e as autoridades educacionais que escrevem toneladas de teorias abençoadas pelos mais “prestigiosos”, uma questão de ponto de vista, centro de pesquisa do mundo, sem nunca terem frequentado uma sala de aula ou terem-na abandonado há tanto tempo, que nem notaram o quanto dos seus antigos interesses e aprendizagem estão contaminados pelos interesses e aprendizagens mais recentes, e novos valores assumidos em locais estranhos à sua primitiva vocação. Tem muita gente na universidades e em prestigiosos centros de pesquisas dizendo muita coisa absurda; por exemplo, é voz dominante em importantes centros de pesquisas do Brasil, a opinião de que o partido do senhor Dória é cúmplice em um golpe, coisa que ele e seu partido certamente não concordam, sem falar que outros há, e de grande valor, que negam que esse seja o melhor caminho a se seguir para promover a qualidade da educação nas escolas públicas, sem falar que o melhor motivador para a melhoria da qualidade da educação privada, fora do âmbito das escolas grandes e tradicionais, na grande maioria de escolas que atendem à classe média e baixa, é a concorrência da boa escola pública. Uma escola pública de qualidade é o maior motor e incentivo para a criação de boas escolas privadas ao alcance de boa parte da população, pois entregues a si mesmas, vivendo de bolsas pagas pelo Estado para alunos pobres, sem a concorrência de escolas públicas, elas fatalmente articularão conluios, trustes e carteis, sem falar dos intermináveis problemas policiais com os recursos dispendidos em bolsas públicas etc. que dizer do preconceito contra aquele aluno pobre e negro? Para que embarcar nessa canoa, quando tantas experiências ao redor do mundo, e mesmo o conselho do insuspeito Adam Smith e dos liberais, mostram a superioridade da educação pública sobre a privada? Todo poder de fazer política educacional para o povo, e todas as verbas públicas, para as escolas públicas!
__ Resta-nos esperar que em algum momento da caminhada, ou numa próxima curva desta, os governantes do PSDB e as autoridades a eles ligadas compreendam o grave passo que vão dar, que cessem o seu açodamento, e se acheguem à sociedade civil e a órgãos de representação, para estabelecer uma discussão absolutamente transparente sobre o que fazer com nossas crianças e como prepará-las melhor para o presente, para nós vermos se o futuro fica menos nebuloso.

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É disso que nossas crianças precisam?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

“O HORROR! O HORROR!” (1905)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, China, Argélia, Portugal, Ucrânia, Argentina, Letônia. Deus os abençoe.

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__ Um pai olha completamente arrasado, paralisado, mudo (uma legenda sob essa foto disse que ele permaneceu horas assim), um pé e uma mão de sua filha de nove anos, recentemente amputados a sangue frio, como um castigo por ele não ter recolhido a quantidade de caucho contratada pela firma a serviço do rei belga Leopoldo II, no Congo, que lhe pertencia como uma propriedade pessoal - outra versão, relatada na Wikipedia em inglês, diz-se que a criança teria sido canibalizada por uns selvagens, que serviam na milícia da Abir Congo Company, uma empresa de capital aberto anglo-belga, dedicada à exploração do caucho, para o fabrico de borracha. Dá para imaginar o sentimento de culpa e impotência que se apodera de um pai numa hora dessas? Uma “bela” imagem para aqueles que tendem a absolutizar a iniciativa privada em tudo... Como é mesmo aquele mantra tão comum em São Paulo: “a iniciativa privada é sempre melhor gestora que a pública?”.
__ Essa foto foi tirada com muito sacrifício por um casal de missionários, o Reverendo John Harris e sua esposa, Alice, numa perigosa viagem pelo interior do Congo – os missionários, tanto católicos como protestantes tiveram um papel primordial na denúncia das atrocidades ali cometidas – uma vez que o rei Leopoldo, um esquizofrênico mal-caráter, fazia de tudo para ocultar a realidade em sua propriedade, chegando inclusive a contratar gente famosa para rebater ou esvaziar as denúncias que escapavam para a grande mídia. A famosa editora e viajante americana Mary French Sheldon (1847-1936), disse: “tenho visto mais atrocidades nas ruas de Londres... que no Congo”, um famoso professor de antropologia da Universidade de Chicago, Frederick Starr (1855-1933) foi contratado para selecionar e descontextualizar as fotos, numa apologia que escreveu sobre o Congo de Leopoldo: A verdade sobre o Congo, em 1907; sem falar dos meios brutais usados para calar os opositores.

__ Mas Leopoldo II perdeu. Perdeu a batalha de narrativas na imprensa e perdeu o poder absoluto sobre o Congo, embora não tenha perdido o trono real, a vida luxuosa e o gosto pelo escândalo e a infâmia, que cultivou até o fim de sua miserável vida.   

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O ROSTO DO MUNDO - VENEZA

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, Portugal, Índia, Letônia, Marrocos. Deus os abençoe.


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O TERROR QUE VEM DO CÉU (1942)

Prof Eduardo Simões

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__ Essas crianças soviéticas mostram todo o estresse da frente de batalha ao saírem para a entrada do buraco que as abriga para ver uma ação de bombardeios aéreos de caças alemães nas proximidades.
__ Segundo a Wikipedia em inglês essa foto teria sido batida em 23 de junho de 1941, por um fotógrafo anônimo e entregue aos cuidados da Agência Novosti, enquanto pelo menos três sites russos, e vários sites ocidentais, atestam que a foto foi batida por L. I. Konov, no outono de 1942, em Stalingrado. Segundo um site russo, o original da foto se encontraria nos Arquivo do Estado da Região de Volgogrado (atual nome de Stalingrado), sob a seguinte classificação (em alfabeto latino) F. R-790. Op. 1. Ed. H. 76. SH 1. A criança no fundo, olhando para o fotógrafo parece indicar que a foto foi arrumada, mas como ela parece ser ainda bem pequena, uns sete oito anos, é possível que tenha sido atraída pela presença do fotógrafo e se centrado nele. Seja como for e seja qual for o contexto em que a foto foi tirada a sua mensagem é clara, e só não enxerga que não quer ou já se brutalizou tanto, que baixou do nível de animal para o de máquina.  

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O futuro que os nazistas tinham em mente para as crianças eslavas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016


A CAMPANHA DE GERMÂNICO (14-16) OS LIMITES DO IMPÉRIO

Prof Eduardo Simões

O cenário das operações

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Di Cristiano64 - Opera propria, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11141282

__ Vemos no mapa a fronteira dos domínios romanos ao longo do rio Reno, durante as operações de contenção levadas a efeito por Tiberio (setas vermelhas), após o massacre de Teutoburgo. No conjunto temos:
a) As porções verde escuras mostram os povos germânicos aliados aos romanos: no norte, junto à foz do Reno, temos: os frísios, os batavos, caninefates e camavos; ao centro temos; um pouco abaixo os sicâmbrios e os têncteros, e mais abaixo, numa cunha feita pelo curso do rio, temos: os vangiões, os nêmetes e os tribocos.
b) Em amarelo os grupos independentes, mas clientes de Roma: no norte, junto à foz do rio Elba temos: os casuaros, os amsivaros e os caúcos; ao sul, na área maior, os ermunduros, marcomanos, naristos e quados.
c) Em róseo temos a área de domínio dos povos que ofereciam resistência à dominação romana: angrivaros, brúcteros, queruscos, usípetes, marsos, catos, matiacos.

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__ Entre 11 e 13, as regiões à margem direita do Reno assistiram às tépidas operações militares de Tibério César, mais no sentido de fortalecer a aliança com os povos aliados, procurando conter uma explosão de revoltas na fronteira, que punir a afronta sofrida em Teutoburgo, não só pela falta de recursos, mas também porque os olhos e a preocupação maior de Tibério estava a milhares de quilômetros dali, em Roma, onde dava sinais de fim próximo o seu pai adotivo, o príncipe-imperador Otaviano Augusto, e começava a se desenhar uma luta pela sua sucessão, que Tibério não queria ficar de fora. Deve ter sido com certo alívio quando ele, afinal, deu por encerrada a sua participação e voltou para Roma, em outubro de 12, para celebrar as suas vitórias na Panônia (partes da Hungria, Áustria, Croácia, Eslovênia), deixando o teatro de operações nas mãos de um general jovem e competente: Germânico Julio César (abaixo), filho de outro general que, trinta anos antes, havia feito muito estrago entre as tribos germânicas: Nero Claudio Druso Germânico.

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By Self-photographed — PierreSelim (taken in 26 october 2012), CC0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25609528

__ Para Tibério, assimilando a doutrina de Otaviano, a fronteira ideal para o império na região seriam as terras à margen esquerda  Reno, também chamada de Germânia Inferior, isoalda pelo rio dos  povos da Germania Magna, terras entre o Reno e o Elba, por uma série de fortins e paliçadas, nos pontos em que o Reno era mais delgado, ao mesmo tempo em que estava convencido de que não haver, para lá do Reno, riquezas que compensassem os custos de operações militares contra os povos locais. Era melhor esquecer o incidente em Teutoburgo. Entretanto não era assim que pensava Germânico Julio Cesar (acima), que aproveitou a ausência do seu superior e rival político para acumular recursos e conseguir patrocinadores para punir exemplarmente os autores da emboscada às legiões de Varo e recuperar as águias das legiões massacradas. Para isso ele dispunha de oito legiões: a XXI Rapax, a V Alaudae, a I Germanica, a XX Valeria Victrix, a II Augusta, a XIII Gemina, a XIV Gemina e a XVI Galica. Uma emboscada em tempo de paz é só uma emboscada em tempo de paz; Roma agora iria mostrar como é que se faz uma guerra de verdade! Esse era o espirito que o animava.
__ Havia entretanto um problema, com a morte de Augusto os veteranos das legiões mais antigas se revoltaram, afinal eles vinham de 20 anos de campanhas duríssimas, e achavam que já haviam adquirido algum direito à reforma e a um aumento substancial de soldo. Germânico agiu com presteza e satisfez todas as reivindicações dos legionários, e ainda presenteou-os com um soldo que era o dobro do que pediram, após o que recebeu o juramento de lealdade das tropas, e partiu para a sua campanha.

Início das operações (ano 14)
__ A primeira medida foi devolver a emboscada a Varo com outra, dirigida aos marsos, aliados de Armínio. No ano de 14 ele construiu uma ponte e atravessou o Reno com 4 legiões (12 mil soldados), 26 coortes de infantaria auxiliar e 8 alas de cavalaria, para cobrir os flancos das tropas. Suas tropas avançaram até os restos de uma velha fortaleza, na floresta de Cesia, atual cidade Delbrück. A data escolhida para o início das operações fora cuidadosamente pensada. Era dia de uma importante festa religiosa dos germânicos, que, como era de praxe nessas ocasiões, os homens bebiam até não poder mais, ficando logo imprestáveis.

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__ As legiões foram espalhadas em quatro colunas diferentes, para abarcarem uma grande extensão de terreno e fazer o maior estrago possível, num arco de umas 50 milhas, aproveitando-se que era uma noite de lua cheia, e seria mais fácil divisar os alvos, podendo caminhar pela floresta sem luz artificial. A ordem era uma: todos germânico que estiver ao alcance de uma arma romana, independente de idade e sexo, deve ser abatido imediatamente. Não haveria prisioneiros. Os legionários, ao sinal combinado, como máquinas, caíram ao mesmo tempo sobre várias aldeias e foram matando, sistematicamente, todos que lhes caiam nas mãos. Mulheres e crianças, as que conseguem, correm para as matas gritando e chorando frenéticas. As que tentam resistir morrem com os homens, estes sem nem o saber, após o que as aldeias são queimadas junto com os corpos, inclusive o templo de uma deusa, muito cultuada por esse povo.
__ Aldeias próximas de brúcteros, tubantes e usípetes, são alarmadas pela gritaria e o clamor difuso que se alevantavam das aldeias marsas, e acorreram em armas para atacar os romanos, alcançando-lhes a retaguarda, onde estava a XX. Os romanos, já preparados para isso e comandados pessoalmente por Germânico, conseguiram rechaçar o ataque, voltando em seguida para os seus quarteis de inverno.
__ Assim acabou o ano 14

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Novos confrontos
__ No ano seguinte, 15, partiu uma nova expedição romana, dessa vez com as tropas divididas em duas colunas: uma, comandada por Aulo Cecina Severo, sairia da fortaleza de Castra Vetera, com 4 legiões (12 a 15 mil homens), 5 mil auxiliares, mas algumas tropas de aliados germânicos da margem esquerda do Reno; outra sob o comando de Germâncio, sairia de Mogontiacum (atual Mainz), com 4 legiões, e o dobro de aliados germânicos. Germânico fez seu ponto de apoio nas ruínas de uma fortaleza em Monte Tauno (norte da atual Frankfurt).
__ Germânico avança rápido no coração do território dos calcos e vai exterminando a todos que encontra pela frente. Quem tentou se opor pereceu enquanto muitos jovens e adolescente, fugindo daquele rolo compressor,  se atiram no rio Adrana (atual Eder) e se afogam. A capital dos catos, Mattium (atual Niedenstein), é tomada e meticulosamente saqueada e incendiada. Depois ele volta calmamente para o Reno. Ninguém ousou enfrentá-lo.

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__ Mais ao norte Aulo Cecina consegue conter os grupos de queruscos que tentam ajudar aos catos. Os marsos se arriscam a uma confronto direto com ele, mas são derrotados.
__ Germânico chegara a uma fortaleza na margem romana do Reno quando foi avisado, por uma embaixada do querusco aliado de Roma, Segeste, sogro de Armínio contra a vontade, de que naquela hora se achava cercado pelos queruscos partidários do chefe rebelde e precisava de ajuda romana. Germânico partiu prontamente e conseguiu levantar o cerco contra o aliado que, ao final, lhe entregou um presente inesperado: a sua própria filha, Thusnelda, que tanto desgosto lhe causara. Ela encarou o pai com dureza e queixo erguida, enquanto este, sem dizer nada, deu-lhe as costas.

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Di Karl Theodor von Piloty - Web Gallery of Art:   Image  Info about artwork, Pubblico dominio, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15499896

__ Thusnelda, que era a esposa preferida de Armínio e estava grávida de um filho deste, foi levada a Roma e obrigada pelas ruas da cidade no triunfo de Germânico, no ano 17, estando entre os presentes o seu antigo pai... Algum tempo depois de capturada ela dará a luz a um filho de Arminio, chamado Tumélico, que, supõe-se, foi entregue a uma escola de gladiadores, e, segundo os dados disponíveis, teria morrido antes dos 20 anos. E ela? Provavelmente foi feita escrava e vendida para algum ricaço romano. Após o desfile a história silencia a seu respeito. Nada mais sabemos... A imagem acima, feita por um pintor alemão do século XIX, Carl Theodor von Piloty, mostra os prisioneiros germânicos desfilando diante do imperador. Os germânicos, embora vencidos, são belos, vistosos e estão na luz, enquanto os romanos são apresentado de modo caricato, como os soldados em primeiro plano, ou estão nas sombras, afinal para os alemães Armínio e os seus podem ser considerados os fundadores da nacionalidade alemã. O pai de Thusnelda está na imagem, de pé, ao lado de Tibério, com a cabeça baixa, sabe lá se com vergonha da filha ou de si mesmo... É uma obra de arte politicamente muito engajada.
__ Armínio, é claro, não ficou imóvel e começou a articular, junto com os chefes de outros povos, uma grande sublevação contra o invasor, ao mesmo tempo em que, alertado desses preparativos, Germânico preparou outra campanha ainda para aquele ano, da seguinte maneira:
a) Aulo Cecina, com 40 coortes (20 mil soldados, incluindo auxiliares), invadiu o território dos brúcteros, em direção ao rio Amisa (atual Sem).
b) o prefeito Pedone conduziu as unidades de cavalaria, pelo país dos frísios, em direção ao mesmo rio.
c) Germânico seguiu com 4 legiões (20 mil homens) embarcadas, seguindo o trajeto do rio, para se encontrar com os outros dois no estuário do Amisa, talvez na atual Bentumersiel (Baixa Saxônia).

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__ Após a reunião dessa forças ele determinou a um oficial Lucio Estertinio a seguir com a infantaria e cavalaria ligeira pelas terras dos brúcteros, arrasando sistematicamente tudo à sua frente. Essa ação, entretanto, teve um resultado inesperado: foi encontrada a águia da legião XIX, exterminada em Teutoburgo. Após ter exterminado todos os inimigos ao longo de um vasto território, Germânico avançou bem no coração da Germania Magna e se dirigiu até Teutoburgo, para prestar honras aos legionários que morreram. À frente marchava Aulo Ceccina e suas tropas, preparando o terreno para o grosso do exército que seguia atrás, por meio de pontes, rampas e aterros, até que o grosso do exército penetrou em densas florestas, envolvido por uma paisagem macabra (acima), até que chegaram ao lugar fatídico:
Pelo chão, espalhavam-se pilhas de ossos embraquiçados ao tempo... por todo o entorno... fragmentos de armas e carcaças de cavalo. Viam-se crânios presos aos galhos das árvores. Nos bosques sagrados das proximidades foram vistos altares onde os germânicos sacrificaram oficias de alta patente, tribunos e centuriões. Sobreviventes da batalha, que haviam escapado à prisão, apontaram o lugar onde haviam visto cair mortos os legados [oficias superiores], e onde haviam sido arrebatadas as Águias, e mostraram onde Varo recebera a sua primeiro ferimento, e onde se bateu até a morte, cometendo ao final o suicídio. Mostraram uma elevação, onde Armínio teria falado aos seus, e as numerosas forcas preparadas para os prisioneiros, e a arrogância e o desprezo com que Armínio havia mandado sepultar, numa vala comum, as insígnias e a Aguia imperial [cada legião levava vários sinais de identificação: bandeirolas, esculturas, etc., cuja preservação era ponto de honra]” (trecho de Anais de Cornelio Tacito, traduzido de Spedizione germanica di Germanico – Wikipedia em italiano).

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__ Nesse momento é detectada a presença de Armínio nas redondezas e vários esquadrões de cavalaria foram mandados para persegui-lo, Arminio, fingindo fuga, atraiu-os para um lugar de densa vegetação, e fez cair sobre eles uma emboscada, que começou a causar pânico entre os cavaleiros. Nesse momento chega a infantaria ligeira para dar suporte à cavalaria, mas só aumenta a confusão. Germânico faz então avançar ordenadamente as legiões que tinha, equilibrando o combate, forçando a retirada dos germânicos.
__ Após o confronto, Aulo Cecina, à frente de 40 coortes, tomou um itinerário conhecido como das Pontes Longas, que, através da floresta, cruzavam uma zona de pântanos, e haviam sido construídas pelo cônsul Lucio Enobarbo, uns 18 anos antes, numa das intermináveis campanhas dos romanos na Germânia. Entretanto, ao chegar lá percebeu que as ditas pontes tinham sido destruídas, por isso fez alto e começou o trabalho de reconstruí-las com seus soldados, não sem antes escolher um local seco e elevado, onde mandou construir uma acampamento com todos os cuidados e recursos de segurança comuns aos acampamentos romanos. Os romanos estavam nesses trabalhos quando os germânicos atacaram em massa as tropas que estavam a refazer a ponte de madeira sobre o pântano.

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__ O choque foi tremendo, e mais uma vez os romanos estavam em desvantagem, lutando com o seu equipamento pesado em um solo muito mulhado e escorregadio, que atrapalhava, inclusive, no arremesso das lanças da infantaria, enquanto os alemães, mais leves a acostumados ao terreno, lançavam as suas com grande precisão causando muitas baixas. Para a sorte dos romanos a noite desceu, e os germânicos cessaram o seu ataque, embora estes continuassem dentro da mata, em grande algazarra. Aulo Cecina então organizou taticamente as suas legiões a V Alaudae à esquerda a XXI Rapax à direita, a I Germania ao centro e a XX Valeria Victrix na retaguarda, criando um anel de proteção em torno das tropas atacadas, restabelecendo um pouco do moral da tropa.
__ Aquela noite no pântano foi pavorosa, para os romanos, que ouviam os cantos e as vozes festivas dos germânicos ecoando pela mata, já comemorando a derrota dos invasores. Diz o historiador Tácito, que, insone, Aulo Ceccina teria visto visto o espectro de Varo sair da lama do pântano, todo ensanguentado e coberto de musgos, estendo-lhe a mão como a dizer-lhe: “vem comigo”, mas aquele recusou-a. Quarenta anos de serviço deram a Ceccina a calma e o sangue frio para não entrar em pânico. E bem que havia motivos para pânico: à noite, procurando, se instalar em terra seca, a V e a XXI deixaram as suas posições, sem comunicar nada a Cecina, deixando as tropas auxiliares e a bagagem expostas ao ataque. Arminio não desprezou a oportunidade.
__ De manhã, enquanto uma névoa se dissipava, ouviu-se um brado em um latim, saído da floresta: “Aqui Varo e suas legiões enfrentaram o mesmo destino, presos por um laço”, ao mesmo tempo em que, gritando loucamente, milhares de germâncios com sua grande estatura e aspecto selvagem saem da mata e se atiram sobre as exaustas tropas auxiliares que forcejavam com a bagagem. A tropa começa a mostrar sinais de pânico. Cecina atordoado e a se perguntar “como eles passaram pela V e a XXI?”   Cavalga então com pressa para a frente, a fim de organizar a defesa, mas logo que chega seu cavalo é atingido por uma flecha na barriga e cai, arrastando consigo o cavaleiro. Os germânicos se animam mais ainda e avançam na direção de Cecina. Nesse momento a I Germania, que estava à frente, ouvindo o baraluho do combate, voltou, e carregou sobre os germânicos com grande impacto, obrigando-os a recuar, depois de muita luta, salvando na última hora o dia e o seu comandante.
__ Os romanos então se posicionam num lugar mais elevado e seco e procuram montar um acampamento defensivo improvisado, com grande sacrifício pois boa parte das ferramentas se perdera junto com os muitos vagões de bagagem na batalha. Foi outra noite de vigília e preocupação, mas a tropa permaneceu coesa, enquanto mensageiros foram mandados para contatar as outras legiões.

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__ No dia seguinte os germânicos atiraram com toda gana contra o acampamento romano, para o ou tudo ou nada. A I e as tropas auxiliares aguentaram bem o tranco, enquanto os germânicos se amontoavam cada vez mais junto a eles, tentando com empurrões forçar as tropas romanas a se desagregarem e dispersarem. Quando Cecina sentiu que a sua concentração atingira o auge, deu ordem para os músicos tocarem na cornu (uma enorme trombeta) um sinal convencional. Nesse momento duas muralhas de escudos formadas pela V e a XXI apareceram nos dois lados dos atacantes. De dentro dessas muralhas, lanças romanas, uma maravilha de engenharia militar (penetra o corpo com facilidade, mas dificilmente fica presa aos ossos), se projetam e recuam, e vão perfurando o que estiver à frente. A fileira de trás empurra a da frente, e ai de quem cair! Os legionários tentam firmar os pés sobre os corpos dos germânicos caídos, pisando-os com força, quebrando ossos, é uma máquina, uma morsa com dois mordentes se fechando. Os germânicos tentam resistir, em vão, Arminio teve que abandonar a batalha bastante ferido, assim como o seu tio Inguiomero, outro líder dos revoltosos. Seguiu-se um massacre horripilante, após o qual os romanos, após uma grande comemoração, seguiram o seu caminho para invernar na margem ocidental do Reno, onde encontraram todos em polvorosa, pois a notícia de seu cerco chegara, junto com o boato de que os germânicos iriam, por isso, invadir as Gálias, e muitos já falavam em derrubar a ponte sobre o rio, impedida na última hora pela intervenção pessoal de Agripina, a esposa de Germânico.  
__ Mais ao norte, porém, aconteceu uma tragédia. A coluna de Públio Vitelio, formada pelas legiões II Augusta e XIV Germania, teve que se retirar por terra, pelas terras baixas do norte, na atual Holanda, e justo quando passavam por essa parte do terreno sobreveio uma tempestade incomum, e a maré avançou sobre as praias, engolindo uma grande quantidade de soldados, animais e bagagem. A maior parte das legiões, entretanto se salvou, amontoada em desordem, sobre um banco de areia mais elevado, até que no dia seguinte foi salva por uma forta trazida por Germânico, pelo Mar do Norte.

As operações no ano 16
__ Após dedicar um longo tempo, junto com seus oficiais, ao estudo das lições tiradas dos dois primeiros anos de guerra Germânico chegou às seguintes conclusões:
a) Embora vulneráveis em áreas abertas, os germânicos eram muito difíceis de serem derrotados dentro de suas florestas e pântanos, além de serem favorecidos pelo inverno precoce e longo em seu país.
b) Ao se deslocarem pelas florestas, em caminhos inadequadas, os romanos eram obrigados a estender suas linhas, o que os deixava sujeitos a constantes contra-ataques e ações de guerrilha, sem falar que os soldados chegavam às batalhas já esgotados pela caminhada e o peso da bagagem.
c) Os auxiliares gauleses estavam perto do esgotamento quanto à sua capacidade de fornecer comida e armas aos legionários.

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__ A solução encontrada foi embarcar a maior parte dos suprimentos e das máquinas de guerra em navios, além de soldados. Para isso foram despachados engenheiros e construtores navais para reforçar a chamada Classis Germanica, que era o nome da frota de barcos romanos que fazia a vigilância no Mar do Norte e nos rio da região, criada por Augusto. Seria uma grande operação anfíbia, cuja viabilidade demandou adaptações tecnológicas nos barcos: popa e proa estreitas, mas bojo largo, para dar-lhe mais estabilidade nas águas revoltas do Mar do Norte; quilha aplainada para reduzir o calado, e, consequentemente, as possibilidades de encalhar; encaixes para o leme na proa e na popa, permitindo que o navio fizesse rapidamente a marcha a ré, etc. No início das operações Germânico tinha à sua disposição cerca de 1.000 barcaças.
__ Seguindo pela margem ocidental do Amisia (Ems), Germânico desembarcou à altura de Kalkriese-Teutoburgo, e mandou um legado com tropas auxiliares devastar a terra dos catos, enquanto ele se dirigia ao forte de Aliso (atual Haltern), para liberá-lo de um cerco, com oito legiões. Os germânicos fugiram ante a notícia de sua aproximação, e ele avançou para Teutoburgo, onde constatou que o monumento a Varo e seus companheiros fora destruído. Reconstruiu-o e, abastecido pela frota, continuou a marcha, não sem antes destacar um comandante, Stertino, com tropas auxiliares, para devastar as terras dos angrivaros, autores do sacrilégio, e avançou em marcha forçada para o leste, na direção do rio Visurgis (atual Weser). Lá chegando, encontrou afinal o que esperava: Armínio e seus queruscos, do outro lado do rio. Os dois exércitos miraram-se com ódio recíproco.
__ Nesse momento ocorre um fato inusitado, segundo o historiador Tácito: Armínio indaga se um seu irmão, de nome Flavio, encontra-se entre os legionários, ao receber resposta afirmativa, pede para lhe falar. Os romanos consentem. Os dois irmãos se encontram entre os dois exércitos e, após um cumprimento constrangido, tentam convencer-se mutuamente: Flávio pede para Armínio que abrace a causa de Roma e se submeta, Armínio, ao contrário, pede ao irmão que permaneça fiel às antigas tradições de seu povo. Como nenhum consegue convencer o outro, o diálogo vai ficando mais áspero e ambos começam a insultar-se, mais um pouco e eles se atracavam ali mesmo. Estertino, que fora junto com Flavio, intervém, e os contendores se afastam cheios de mágoas e ressentimentos, sem aperceberem-se que não passam de peões no jogo da história e do mundo real, que os envolvem, e de que eles não são capazes de abarcar em toda magnitude, alguém poderá?, e destrói, sem dó, os mais nobres e fraternos sentimentos!

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__  O exército de Germânico compunhá-se de 1.000 pretorianos, 24.000 legionários (8 legiões), 20.000 soldados auxiliares (40 coortes), 4.000 cavaleiros (divididos em 8 alas), 800 arqueiros montados e 5.000 germânicos aliados (batavos, ubis, caucos, frísios, etc), o de Armínio tinha um número equivalente, embora não tão especializados. No primeiro momento a cavalaria batava cruzou o rio e, percebendo a retirada da cavalaria querusca, açodou-se em persegui-la, caindo numa armadilha, e logo adiante foi envolvida pelos queruscos. O rei dos batavos, Cariovaldo, e muitos chefes caem mortos, e o restante só escapa pela intervenção da cavalaria pesada romana de Estertino (acima).
__ Nesse momento, Germânico, que cruzara o rio, soube por um desertor, do lugar escolhido por Armínio para a batalha. Os romanos montam logo um acampamento, que sofre um inopinado ataque dos germânicos, a custo repelido.
__ Na manhã seguinte os romanos foram ao encontro dos germânicos e os encontraram alinhados numa planície, cercada por uma vegetação densa e... suspeita. Os romanos estavam tão ressabiados que Germânico dispôs suas tropas de uma forma estritamente simétrica, um tanto defensiva, por precaução contra qualquer ataque inesperado pelos flancos, bem como tentou balancear ao máximo as tropas que dispunha, de acordo com o poder e a capacidade de combate de cada uma. A batalha começou com a arremetida violenta dos germânicos contra a primeira linha da infantaria auxiliar, que cedeu e recuou, sendo escorada pela segunda linha, mais poderosa, formada por legionários. A cavalaria germânica, com Armínio à frente, sai de surpresa de uma floresta e tenta golpear o flanco direito dos romanos, mas é detida pela cavalaria pesada dos romana, enquanto pelo outro lado, esquadrões de cavalria sob o comando de Estertinio, vendo o caminho livre, entram pela floresta no intuito de pegar a infantaria germânica pela retaguarda.
__ Num determinado momento Germânico ordenou o avanço de suas legiões, justo no momento em que a cavalaria romana, devidamente posicionada, lançou-se contra multidões de germânicos escondidos na mata (acima). Aconteceu então uma barafunda total entre estes: os que enfrentavam os romanos na planície, impactados pelo choque com as legiões, fugiram para a floresta, enquanto aqueles que etavam ocultos na floresta correram para a planície, tocadas pela cavalaria de Estertinio. Imaginem as duas massas se esbarrando, em meio a uma chuva de lanças, flechas e pedras arremessadas por legionários, arqueiros e os fundibulários das legiões.
__ Armínio se desespera e arremete contra os arqueiros, e teria alcançado-os se não fosse impedido por tropas auxiliares celtas e itálicas (retos, galos e vindélicos). Frustrado, Armínio e Inguimero fogem do campo de batalha, lambuzando o rosto com sangue dos mortos, para dificultar o reconhecimento, e a custo se salvam. Aqueles grupos que continuaram lutando foram isolados e massacrados sistematicamente até o último. Aqueles que correram para o rio foram atingidos pelas costas ou em pleno nado por flechas e pedras ou ainda arrastados pela corrente do Visurgi.  Alguns tentaram se esconder na copa das árvores. Os romanos os descobriam e os derrubavam de lá a flechadas em meio a muita algazarra. No fim desse dia de batalha os romanos computavam umas mil baixas e os germânicos mais de dez mil, espalhados numa vasta extensão da planície. Observando-os, os romanos descobriram em muitos corpos uma coisa curiosa: cadeias! Cadeias com as quais pretendiam prender os romanos derrotados, tão certos que estavam da vitória, e que devem ter atrapalhado muito na hora do combate.
__ Os romanos e seu aliados, frenéticos, quase enlouquecidos pela vitória e o cheiro do sangue e morte que exalava da campina, gritavam a plenos pulmões, agitando armas e outros troféus sangrentos: “Roma victor!” “Roma victor!” Roma vitoriosa... Germânico é erguido nos ombros pelos legionários de sua escolta pessoal. As espadas e as lanças dos legionários apontam na sua dureção: a vitória é dele.
__ Irritados com a comemoração dos romanos os germânicos, ainda em choque, tentaram, desajuizadamente, outro confronto direto, arregimentando toda gente que podiam, de velhos a adolescentes, e se puseram por trás de um sistema defensivo, um terrapleno antecedido por uma fossa, tendo um pântano de um lado e floresta do outro (onde a cavalaria ficaria de tocaia), no chamado Valo dos Angrivaros, onde eles esperavam deter a marcha das legiões rumo ao Reno. Informado previamente dos planos dos adversários, Germânico dispôs a cavalaria na planície aberta, e dividiu sua infantaria em duas colunas: uma atacaria o terrapleno e a outra a floresta.

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__ O primeiro ataque da infantaria ligeira ao terrapleno foi violento, mas os germânicos aguentaram bem e depejando muitas flechas, pedras sobre os romanos e golpes de espada e machado contra os romanos, forçaram-nos a recuar. Germânico, agora conhecedor dos pondos fortes e fracos dos defensores, faz avançar as linhas dos fundibulários e arqueiros que fazem cair uma chuva de projéteis sobre os germânicos, enquanto a infantaria legionária avança para um segundo assalto. Os germânicos sentem o impacto e sua linha de defesa colapsa, e eles são obrigados a se retirar em meio á uma tormenta de flechas e pedras.

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__  Na floresta, as unidades romanas também encontraram uma defesa desesperada, mas fazendo uso da superioridade de seu armamento e da grande disciplina tática, avançam de maneira metódica e organizada, a inflingir baixas terríveis nos grandalhões guerreiros germânicos, perfurando-lhe os órgãos sensíveis no dorso, num movimento de baixo para cima, enquanto se defendiam, com seus escudos, do que lhes era dos golpes daqueles vindos de cima para baixo. Entre os romanos estava Germânico, perfeitamente identificado com seu vistoso uniforme de comandante, incitando os soldados a não deixar ninguém vivo, a não fazer prisioneiros, pois essa seria a única forma de acelerar o fim da guerra. E assim foi feito...  
__ De volta para as bases de inverno, porém, as legiões romanas quase sucumbem a outro desastre... meteorológico. Após embarcarem em navios no rio Amísia, as legiões seguiram para o norte onde chegaram à foz do rio, no Mar do Norte, e seguiram rumo a oeste, no que seria hoje a costa da Holanda. Nesse momento desaba sobre a frotilha uma extravagante tempestade que ameaça destruir todos os barcos. Em apuros, vendo as ondas assomarem o convés, cavalos, mantimentos e até armas são lançadas ao mar para impedir o naufrágio, enquanto os barcos são dispersos, e alguns vão acabar nas terras dos angrivaros, que, para sorte dos romanos haviam mudado de lado, e outros na Grã-Bretanha, sendo posteriormente devolvidos com as suas guarnições. Aportando às pressas numa ilha, Germânico, já esgotado pela campanha, foi tomado por um pânico religioso, e começou a bradar ser o responsável por aquilo, sendo necessário que seus amigos o contivessem para evitar que se lançasse ao mar...
__ Um general romano pode até dar um chilique; mas não pode nele permanecer porque o dever para com Roma é 24 horas por dia. Foi só terem a notícia de que uma quantidade gigantesca de corpos cavalos, equipamentos de guerra, maquinas, apareceram boiando junto às praias, que os germânicos começaram a se eriçar e a pensar em novas aventuras militares. Sabedor disso, Germânico despacha imediatamente o legado Silio, com 30 mil homens e 3 mil cavaleiros, contra os catos para fazer o de sempre: não deixar nada vivo ou de pé; ele mesmo à frente de forças maiores invadiu a região dos marsos, que acharam mais prudente se render a ele e revelar o paradeiro de mais uma das águias das legiões massacradas em Teutoburgo – esta estava enterrada numa floresta – depois do que saiu desfilando por aquelas terras, batendo todos os que cometeram a loucura enfrentá-lo. Não houve nenhum grande massacre, pois o simples anúncio da presença de legiões na proximidade fez a maioria dos rebeldes correr para as florestas.
__ Terminadas essas operações Germânico voltou com suas tropas para os fortes na fronteira onde deveria passar o inverno (abaixo). Os germânicos estavam impressionados: como eles, os romanos, conseguiam todo esse poderio? A produção crescente de excedentes e o comércio em larga escala explicam, e por falar nisso, enquanto Germânico pensava nas próximas operações e talvez até na conquista definitiva da Germania Magna, entraram em campo os mais poderosos generais do exército, para dar a palavra final a respeito do assunto, e dizer o que Germânico podia fazer: os contadores....

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A tragédia continua
__ Quando o imperador Tibério recebeu o relatório dos custos das operações de Germânico, se os romanos conhecessem a expressão “ter um filho preto pelo pé”, eles a teriam dito a respeito daquele. E a ordem veio peremptória: “Parem imediatamente as operações militares na Germania!” E Tibério tinha toda razão:
__ A primeira questão de honra, o massacre sem aviso das legiões, fora alcançado com vitórias brilhantes e o massacre inesperado de várias aldeias germânicas, sem falar que o número de vítimas entre estes superava, agora, de muito as perdas romanas.
__ A segunda questão de honra, a perda das águias, fora quase toda resolvida; e a maioria das águias (duas) foi recuperada.
__ Terceiro: o rebelde e taidor, Armínio, que era cidadãos romano, fora exemplarmente punido, perdera quase todo o seu exército e tornara-se um chefe desacreditado entre os seus. Não oferecia mais perigo a Roma.
__ Quarto: a Germania é imprevisível até no clima! Por duas vezes os romanos estiveram perto de uma grande catástrofe. Até quando conseguiriam driblar a natureza e a meteorologia surpreendente daquela região, que os romanos, mediterrâneos, tanto temiam e evitavam?
__ Quinto: não havia como evitar a transferência de cultura e tecnologia de todos os tipos para a Germânia, inclusive a militar, e Armínio era um exemplo, por causa da interação entre as culturas, que tornariam suas tribos cada vez mais difíceis de serem derrotadas, como Teutobrugo e essa campanha mesma haviam demonstrado. As campanhas tenderiam a ser sempre mais onerosas e difíceis em todos os sentidos.
__ Sexto: a Germânia era uma região inóspita e cheia de florestas, onde povos tribais, ciosos de seus costumes e liberdade, podiam se ocultar, enquanto submetiam as legiões a uma guerrilha interminável. O que havia para além? Apenas as planícies da Polônia e da Rússia, das quais os romanos, sem uma população autóctone amigável, só poderiam colher resfriado. De uma certa forma os romanos já forçavam muito a si próprios investindo tantos recursos na manutenção da Britânia, porque arranjar mais um escoadouro de recursos, por uma terra que não tinha, naquela época, nehuma riqueza substancial à vista, um comércio próspero, etc. Definitivamente não fazia mais sentido manter aquelas operações.
__ Sétimo: o próprio Otaviano Augusto determinara em testamento que o Reno deveria ser a fornteira natural entre o mundo romano e os povos da Germânia.
__ A política romana para região foi, portanto, consolidada por Tibério: não ocupar território a leste do Reno, deixando esses povos entregues à sua sorte; fazer alianças ora provisórias ora permanentes com alguns grupos, em vista aos interesses estratégicos romanos na região, aproveitando do ardor guerreiro dos germânicos para jogar um grupo contra o outro indefinidamente, sem gastar muito dinheiro com isso.
__ E, acima de tudo, Tibério aspirava manter um general em ascensão longe de Roma e de seu trono. Germânico tinha ‘tudo’ contra si. Era uma general muito competente, um gênio militar de primeira grandeza, com uma capacidade de liderança e motivação  formidável sobre seus comandados, além de ser uma pessoa de trato fácil e gentil, que encantou as massas de Roma, durante o seu desfile triunfal. Exatamente o oposto de Tibério, um homem reservado, enrustido, que alimentava um sentimento desconfiança doentio contra tudo e contra todos, de trato muito desagradável. A atmosfera ficava “pesada” ao seu redor. A última coisa que Tibério queria era um Julio Cesar, turbinado pela Germania, junto a ele, e até na Europa, por isso mandou-o para uma das Sibérias do império romano: ao Oriente, à Síria, para difíceis missões junto aos soberanos locais, com um espião e amigo sua inteira confiança, Cneu Calpurnio Pisão, num posto superior, para ficar na cola do incauto desafeto.
__ As desavenças entre Germânico e Pisão foram inevitáveis, pelas medidas desmoralizantes que este tomava contra aquele, que resolveu largar a Síria e retornar à Roma. Entretanto, mal expôs seu projeto caiu doente, em Antioquia, capital da Síria, e no dia 10 de outubro de 19 morreu em meio a terríveis sofrimentos, não sem antes expressar a crença de que tinha sido envenenando por Pisão e pedir à sua mulher, em testamento, que vingasse a sua morte. A notícia disso causou sensação em Roma e um movimento furioso de identificar e punir os responsáveis começa a subir os escalões do poder até chegar em Tibério – este não participara da cerimônia fúnebre a Germânico nem proferirá uma só palavra a respeito de sua morte. Nas ruas o povo começa a se amotinar. As tropas ficam inquietas.  
__ Tiberio toma a iniciativa rápida de entregar Pisão ao julgamento no Senado e não toma a sua defesa, deixa-o entegue aos senadores, e este, percebendo que a sua pena era inexorável comete suicídio ou foi “suicidado” por alguém na prisão – fala-se na participação de laguém próximo a Tibério. No final, assim como o nebuloso assassinato do presidente americano John Kennedy, nada ficou definitivamente provado. Embora para o grande público Tibério passe para a história como o mandante e o principal interessado na morte de Germânico.

O preço da derrota
__ Armínio terminou a campanha de 16 encurralado. Deve ter se sentido solitário, nesse momento! Teutobrugo prometia um prestígio militar, uma vitória espetacular sobre o maior império do mundo, e, quem sabe, até que o início de um império querusco, englobando uma federação de povos,  sobre a Germania, capaz de negociar com Roma de igual para igual. Já imaginaram, devia pensar ele, a garra e a força dos germânicos aliadas às técnicas militares aprendidas dos romanos!
__ Convenhamos: Armíno foi ingênuo e não percebeu que a principal força de Roma não estava nas armas incríveis, na disciplina tática, no número de seus soldados mas em toda uma estrutura previa, anterior, tanto econômica como ideológica, que tornava possível um exército gigantesco, coeso e motivado. No plano econômico os germânicos jamais poderiam criar recursos que lhes permiotissem contrapor a Roma forças esquivalentes, sem uma profunda reforma de seus costumes e tradições, que eram, justamente, o que eles mais queriam conservar! Tampouco os germânicos conseguiriam algo relevante nesse sentido se não conseguissem superar a mentalidade tribal por outra que os unissem como causa comum, da mesma forma que Roma unia seus generais, soldados, povo e aliados em torno do ideal de uma cidade viva, uma deusa, uma mãe nutriz, à qual se devia lealdade ao preço da própria vida.
__ Não que os germânicos não fossem capazes de dar a vida por uma causa, e bem que o davam, e até com muita frequência, só para encher o saco ou descorçoar outro germânico a quem roubara algo ou matava, em infindáveis acertos de contas e razias familiares. Essa era a liberdade tribal que eles gozavam e queriam manter, e foi em nome delas que Armínio começou toda essa guerra que no final deveria presentiar os germânicos justo com aquilo que eles não queriam: a perda da liberdade tribal e dos costumes antigos. O que Arminio propunha era sacudir o jugo romano para os germânicos incorporarem o jugo dele próprio e de seu povo. Ao invés de terem um chefe, numa numa cidade esquisita, a milhares de quilômetros de suas terras, os germânicos passariam a ter um chefe local a dizer-lhes o que seria melhor fazer, justo por ter aprendido com o inimigo a como fazer isso. Creio que alguns germânicos começaram a pensar que estavam trocando seis por meia dúzia.
__ Armínio, entretanto, continuava a alimentar a ideia de uma aliança de povos, e continuava a sua pregação por uma federação germânica – já dera a mulher e um filho pela causa – principalmente entre os chefes do seu povo e aqueles que lhe eram mais próximos, e ainda conseguiu, entre os anos 17 e 18, vencer com sua gente o poderoso reino germânico dos marcomanos, cujo rei foi obrigado a pedir asilo em Roma – os romanos não o ajudaram, porque na campanha de 14-16 ele preferiu ficar neutro, e não deu ajuda aos romanos. Mas foi justamente nas mãos de parentes proximos que encontrou a morte de maneira misteriosa, provavelemtne envenenado, no mesmo ano que Germânico.

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 __ Os legionários da fronteira com a Germânia, algumas das tropas mais duras e bem preparadas do exército romano, tinham uma alegria especial: as traquinagens de seu mascote, um garotinho de três anos chamado Caio Julio Cesar Germânico, o filho de seu querido comandante, Germânico Julio Cesar, que passeava entre eles, vestido de legionário, com uma caliga, bota militar, adaptada, parecendo um soldadinho de verdade. Era a alegria dos soldados e o orgulho do papai, que imaginava estar assim preparando o menino para a dura vida militar, que era o mínimo que se esperava de um bom cidadão romano, bem como de um pretenso herdeiro ao posto de comando do império. Os legionários o chamavam de “calígula”: “botinha”.
__ Esse garoto, porém, seja pela violência e pelo estresse que viveu nas campanhas militares ou pela convivência pacífica, mas doentia e cheia de perigos, com os poderosos de Roma, sem falar do fim trágido de seu pai, ou fosse ainda por causa de uma doença estrutural, uma psicose – alguns imaginam a esquizofrenia – ou como sequela de uma doença gravíssima que o acometeu em 37, e da qual quase não escapou vivo, tornou-se, com o passar do tempo, um psicopata, um monstro de depravação e crueldade, e também governante máximo do Império Romano, sucedendo a Tibério, a partir de 18 de março de 37.

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__ Em 24 de janeiro de 41, enquanto se dirigia ao Fórum de Roma, para a habitual reunião do Senado e audiências diversas, o jovem imperador Calígula, ou Botinha, andava despreocupado entre cortesões e guarda costas; certamente pensava nas últimas perversões que havia praticado com seus áulicos e, quem sabe, imaginando outras ainda mais perversas e degradantes para aquele dia, quando de repente sente uma dor intensa e profunda no abdômen. Ele sai de seus pensamentos e vê, à sua frente, a Cassio Querea, um dos mais elevados oficiais da Guarda Pretoriana, e, até ali, o seu “saco de pancadas”. Quereas tinha um punhal ensanguentado nas mãos. Botinha, horrorizado, descobre, segurando o lugar onde doía, que é o seu sangue, que fora ferido, e antes que pudesse esboçar qualquer gesto de defesa ou mesmo gritar de dor e de medo ante o desenlace que se avizinhava, sentiu uma série de pontadas e dores excruciantes apor todo o seu corpo, conforme os punhais e adagas de outros guarda pretorianos e conspiradores lhe penetravam até perder definitivamente os sentidos e cair no chão, sobre uma poça de sangue, num fim infame de um homem infame, filho de um dos maiores generais de Roma...
__ Na casa de uma ricaça italiana uma senhora germânica escrava, de cabelos louros embranquiçados, preparava cuidadosamente o toucador de sua senhora, enquanto se informava sobre as últimas notícias, que a ama falava sem parar, mostrando grande nervosismo: “Que absurdo, mataram o imperador!... tenho que me preparar para as exéquias... que amolação, logo hoje!... mas que mundo é esse? ??? Tire esse sorriso idiota da boca!...”

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__ Poucos dias depois, num forte da fronteira do Reno, um grupo de cavaleiros germânicos se aproxima da paliçada e comunica algo à sentinela. Um soldado vai até o centurião no comando, que naquele momento se aquecia em frente a um fogo dentro de um aposento. “Alguns bárbaros estão aí e querer falar-lhe”. O centurião pragueja e pronuncia um monte de maldições, enquanto veste um grosso agasalho de pele de urso, e coloca o elmo com um vistoso penacho, antes de sair da casa, rumo à uma paisagem fria e hostil, coberta de neve. Completam o quadro um céu cinzento escuro e um vento frio penetrante...
__ Os portões se abrem e o centurião sai, acompanhado de um grupo de soldados prontos para qualquer eventualidade. Do alto da paliçada um grupo de arqueiros se posiciona. Um mediterrâneo típico, ele se admira ao ver os rudes cavaleiros com roupas tão mais leves que a sua. “São filhos de urso!” Pensou, embora fosse ele, com o seu capote, quem mais parecia um urso.
__ “Ave” disse ele, fazendo o tradicional gesto romano: braço direito erguido. O cavaleiro que estava à frente limitou-se a fazer um sinal para outro e este, descendo do cavalo, foi até o centurião e entregou-lhe algo envolvido numa pele mal curtida. O centurião recebeu aquilo, admirado, e antes que pudesse dizer algo os cavaleiros se afastaram a toda rédea e começaram a atravessar lentamente sobre o Reno.
__ “Veja centurião, eles cavalgam sobre o rio congelado”, observou um soldado.
__ “É, esse ano o gelo deve ter ficado mais grosso... Isso ainda nos vai causar problemas!”
__ Os soldados se acercaram, curiosos e tumultuários, ao centurião que começou, cheio de desconfiança, a desamarrar os cadarços que envolviam ao embrulho. Quando finalmente apareceu o conteúdo. Os soldados então fizeram um profundo silêncio e lágrimas rolaram pelo rosto do centurião...
__ Era a águia que ainda faltava das legiões exterminadas em Teutoburgo...    

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Fonte principal: Spedizione germanica di Germanico - Wikipedia em italiano.