OS COVEIROS DA DEMOCRACIA
Prof Eduardo Simões
Agradeço aos amigos de Brasil, EUA,
Ucrânia, França, Potugal, Letônia e Kuwait. Deus os abençoe.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0c/STF_of_Brazil_in_2006.jpg
Wikipedia
Da esquerda para a direita, sentados Marco
Aurélio, o relator do processo (claro!), Sepúlveda Pertence, Ellen Gracie
(Presidente), Celso de Mello e Gilmar Mendes. De pé, na mesma ordem, Eros Grau,
Carlos Britto, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski (claro!),
Antonio Fernando de Souza
__ Numa quinta feira, 7 de dezembro de
2006, a “nobre” turma do Supremo Tribunal Federal, acima, declarou, por unanimidade, a inconstitucionalidade da lei 9096, aprovada em 1995, a ser aplicada às eleições daquele ano, que previa a necessidade de um mínimo de consistência eleitoral a
qualquer agremiação que quisesse fazer parte do Congresso Nacional e receber suporte
de verbas públicas, para ajudar na campanha, ignorando uma das lições mais
pungentes e reveladoras a nesse sentido: a Itália do pós-guerra, cujo
Parlamento acabou quase todo controlado pelo crime organizado, para não falar
em eleições bizarras como a da atriz pornô Cicciolina, pelo Partido Radical
Transnacional e Transpartido, em 1987 – esse estropício chegou a se oferecer
sexualmente a Saddam Hussein pela paz mundial, em 1990 – e que fazia campanha
mostrando os seios. Nesse clima de anarquia e instabilidade política crônica o
crime organizado se sentiu tão a vontade que não hesitou em explodir
espetacularmente os dois juízes mais populares da Itália, que o enquadravam sem
hesitações, em 1992, até chegar em Silvio Berlusconi...
__ O processo brasileiro chegou às raias do
ridículo, quando o Ministro Ayres Britto fez um trocadilho dizendo que a
cláusula de barreira deveria se chamar “cláusula de caveira”, pois iria matar a
voz das minorias, e o que colhemos é exatamente o que a Itália colheu, só que
numa escala muito maior. A corrupção tornou-se endêmica e crônica em todo o
aparato de governo; quem quiser governar o país terá que fazer concessões, as
mais imorais e dispendiosas, a dezenas de siglas de ocasião, que só na mente
dos ilustres magistrados, pretendem representar alguma opinião minimamente
relevante nesse país, além de interesses inconfessáveis. A politica partidária
tornou-se a principal fonte de impunidade do crime organizado, graças ao
recurso do absurdo foro privilegiado. “Vamos roubar, que o ritmo Supremo
garante”. O famoso “Centrão” fruto da pulverização partidária no Congresso,
mais parece uma expressão do crime organizado, no mais popular poder da
República. Quem nos salvará?...
__ Como o crime organizado no Brasil não
tem tanta paciência nem jogo de cintura do italiano, a sua presença explodiu de
uma maneira bem carnavalesca nas eleições municipais desse ano. Um dos mais
respeitáveis sites jornalísticos da Internet denuncia a cifra de 96 assassinatos
por motivação política, entre os quais mais de vinte candidatos ou
pré-candidatos. Um massacre! Voltamos ao início do século XX, ao sindicato do crime,
à presença onipresente da pistolagem e do exército nas eleições, etc. A única
vantagem é que um jovem que quiser saber como era as eleições no Brasil de a
cem anos atrás, ou mais, não precisará abrir um livro de História do Brasil,
que os jovens brasileiros, por sinal, odeiam; basta esperar pela próxima
eleição... Eu, entretanto, não creio que qualquer juiz no Brasil vá ser
atacado, simplesmente porque não vale a pena ataca-los; afinal as leis são tão
frouxas, e se pode até, com todo o conforto, dirigir ações criminosas de dentro
dos presídios, que matar juízes, como fez a Mafia italiana, seria o suprassumo
da burrice, embora isso também possa acontecer...
__ Quem não conseguia ver, em 2006, que ia
dar nisso? Só os homens mais ilustres e eruditos de nossa tão ilustre, mas não
tão erudita, República. As opiniões devem ser escutadas e preservadas, e para
isso existe, ou deve existir, a mais completa liberdade de expressão e de
imprensa, coisa que ainda estamos devendo. Agora: todas as opiniões devem ser
sempre todas escutadas, em todas as ocasiões e em todos os lugares? É óbvio que
não, e estamos a pagar, inclusive com esse recente impedimento da presidenta, o
preço por homens tão cultos e sábios terem decidido, em nosso nome, de uma
maneira tão inculta e louca.
__ Esperamos que isso seja corrigido.
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