“COMIGO NÃO,
VIOLÃO!” (1979)
Prof Eduardo
Simões
Obrigado aos maiogs de Brasil, EUA, França, Portugal, Ucrânia, México, Cabo Verde, Polônia. Deus os abençoe
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__ Em setembro de
1979, o general-tirano do Brasil, João Batista Figueiredo, estava em viagem
promocional por Belo Horizonte, quando o seu pai, um militar liberal, avisou à
sua filha, de cinco para seis anos, que almoçaria com o presidente, eleito no colégio eleitoral de 15/10/1978, no dia
seguinte. A menina não sossegou enquanto não conseguiu da mãe a promessa de que
ela a levaria para ver o presidente, pois a pequena imaginou um recado para dar
ao general.
__ No dia seguinte, o presidente encomendado estava próximo a um boteco, no contorno da Praça da
Liberdade, fazendo a encenação de praxe – Figueiredo gostava de posar como
homem do povo, contrastando o estilo dos generais anteriores, múmias carrancudas, que sequer retocavam a maquiagem para parecerem mais simpáticos, ou menos antipáticos, mas o fazia de uma forma tão artificial e forçada que só conseguia tornar-se
ridículo – sempre cercado de áulicos e bajuladores, dispostos a qualquer
subserviência para agradá-lo, às vezes de forma grotesca, como aconteceu com o
na época deputado federal Alcides Franciscato, de São Paulo.
__ A menina,
livrando-se da mãe, caminhou até o general e chegando nele, com as mãos na
cintura (acima), perguntou-lhe a queima-roupa se iria almoçar com o seu pai. O general
então perguntou-lhe se seu pai comia muito. A menina responde que sim, e
asseverou que não ia sobrar nada para o “presidente”. Despediu-se dizendo que
iria para a sua escolinha.
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http://g1.globo.com/
__ Nesse momento
os “adultos” ao redor começaram a clamar insistentes: “[faz como nós] dá a mão para o
presidente”, que, fazendo o seu papel, estendeu-lhe a sua, e, para a surpresa
absoluta de todos eles, que não estavam acostumados a gestos de autonomia e autorrespeito, a meninota simplesmente cruzou os braços e recusou-se a cumprimentar
o general e dublê de presidente, e retirou-se. Esse fato inusitado, um ato
inconsciente de coragem de uma criança, no seio de uma nação de adultos majoritariamente
acovardados ou acomodados, e conscientes disso, foi como um raio de esperança
na mais tenebrosa escuridão: a futura geração salvaria os brasileiros de si
mesmo, fato devidamente registrado pelas lentes do fotógrafo carioca Guinaldo
Nicolaevsky, da revista VEJA.
__ Guinaldo tentou
em vão conhecer a garotinha da foto, morrendo em 2008, sem nunca tê-la conhecido, até que em
junho de 2010 uma equipe do jornal O Globo conseguiu localizá-la, morando em
Belo Horizonte, sem saber ainda o quanto era famosa. Boa parte de sua vida
adulta foi passada no exterior, uma vez que se e comércio exterior, tendo feito
mestrado, inclusive, no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), uma
entidade militar, tendo conseguido sucesso na carreira. Seu nome também veio a
público: Rachel Clemens Coelho, casada e mãe de uma filha. Clemens também revelou o motivo de seu gesto: não gostava que ninguém lhe dissesse o que fazer, e nesse sentido dava uma lição naqueles adultos tão submissos. Em 2011 ela era como
aparece na foto abaixo:
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__ O Brasil
entretanto teve pouco tempo para curtir e saber mais sobre a sua precoce e misteriosa
heroína. Rachel Clemens Coelho morreu em abril de 2015, de parada cardíaca. Com
apenas 41 anos de idade.
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