sexta-feira, 7 de outubro de 2016

“O HORROR! O HORROR!” (1905)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Brasil, EUA, França, China, Argélia, Portugal, Ucrânia, Argentina, Letônia. Deus os abençoe.

https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/e1/ad/29/e1ad29b6af759327dda467872bcf1545.jpg
br.pinterest.com

__ Um pai olha completamente arrasado, paralisado, mudo (uma legenda sob essa foto disse que ele permaneceu horas assim), um pé e uma mão de sua filha de nove anos, recentemente amputados a sangue frio, como um castigo por ele não ter recolhido a quantidade de caucho contratada pela firma a serviço do rei belga Leopoldo II, no Congo, que lhe pertencia como uma propriedade pessoal - outra versão, relatada na Wikipedia em inglês, diz-se que a criança teria sido canibalizada por uns selvagens, que serviam na milícia da Abir Congo Company, uma empresa de capital aberto anglo-belga, dedicada à exploração do caucho, para o fabrico de borracha. Dá para imaginar o sentimento de culpa e impotência que se apodera de um pai numa hora dessas? Uma “bela” imagem para aqueles que tendem a absolutizar a iniciativa privada em tudo... Como é mesmo aquele mantra tão comum em São Paulo: “a iniciativa privada é sempre melhor gestora que a pública?”.
__ Essa foto foi tirada com muito sacrifício por um casal de missionários, o Reverendo John Harris e sua esposa, Alice, numa perigosa viagem pelo interior do Congo – os missionários, tanto católicos como protestantes tiveram um papel primordial na denúncia das atrocidades ali cometidas – uma vez que o rei Leopoldo, um esquizofrênico mal-caráter, fazia de tudo para ocultar a realidade em sua propriedade, chegando inclusive a contratar gente famosa para rebater ou esvaziar as denúncias que escapavam para a grande mídia. A famosa editora e viajante americana Mary French Sheldon (1847-1936), disse: “tenho visto mais atrocidades nas ruas de Londres... que no Congo”, um famoso professor de antropologia da Universidade de Chicago, Frederick Starr (1855-1933) foi contratado para selecionar e descontextualizar as fotos, numa apologia que escreveu sobre o Congo de Leopoldo: A verdade sobre o Congo, em 1907; sem falar dos meios brutais usados para calar os opositores.

__ Mas Leopoldo II perdeu. Perdeu a batalha de narrativas na imprensa e perdeu o poder absoluto sobre o Congo, embora não tenha perdido o trono real, a vida luxuosa e o gosto pelo escândalo e a infâmia, que cultivou até o fim de sua miserável vida.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário