quinta-feira, 31 de maio de 2018


A MALDIÇÃO DA REPÚBLICA

Prof Eduardo Simões

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1889

__ É curioso o quanto o Brasil, e a América Latina em geral, só consegue estabilidade e um bom crescimento durante regimes autoritários. Fora isso reina a instabilidade política e a romaria de desgraças a ela associada: a violência, miséria, oportunismo, etc. No nosso caso em particular parece haver uma forte relação entre essa tendência tão nefasta e o regime republicano.
__ Digo isso com pesar, porque sou um republicano desde que me conheço, mas não hesitaria em sacrificar essa minha convicção se me convencesse que isso seria o melhor para o país, em função das disposições culturais-psicológicas de nosso povo, a precisar sempre de referenciais concretos ou imagens paternas fortes como modelo de ação. A história explica, mas quem sabe História do Brasil nos dias de hoje? Agradeçam ao modelo educacional vigente.
__ Quando destituímos o segundo imperador, o homem que fez o governo mais longo e estável do Brasil, seguindo em parte as pegadas de um ascendente autoritário e profícuo: o rei português João VI, em 1889, a liderança republicana teve o bom senso de preservar a estrutura autoritária, burocrática, e elitista do governo anterior, ao longo de toda “República Velha” (1889-1930), estabelecendo a fase republicana mais estável desses 129 anos de república, em que pese muitos conflitos sociais graves, revoltas e motins, que não permitem equipara-lo totalmente ao 2º Reinado.
__ Quando Getúlio assume o poder, em 1930, ele busca um contato direto com o povo, eliminando os intermediários, a burocracia, mas mantendo o autoritarismo e o pulso forte, que fizera a fama do 2º presidente: Floriano Peixoto, idolatrado, por isso, pelas massas cariocas. Mas a eliminação renitente da burocracia, e a incapacidade de reestruturação do varguismo, gerou uma fragilidade estrutural no sistema que levará inevitavelmente à crise de 1946, e ao modelo democrático importado da República Populista, com burocracia, mas sem autoridade, em virtude do horizontalismo alienígena made in USA, até o dramática crise de 1964, onde desponta a mais feroz de todos os regimes, o Militar, que recuperou a autoridade e o elitismo, mas transformou a burocracia numa piada, favorecendo à corrupção. Com a volta da democracia, via Nova República, nos vemos às voltas com uma burocracia escangalhada, um horizontalismo confuso, presente nas eleições diretas à presidente, e uma autoridade difusa, mais próxima do partido e das lideranças sindicais que do governante, uma jaboticaba brasileira.
__ um sinal da estabilidade de uma república é a passagem do símbolo de poder, no caso a faixa presidencial, de um governante democraticamente eleito para outro, eleito da mesma forma. Vejamos como isso se deu na república brasileira, a partir de 1926:
1926 – Washington Luiz recebe a faixa de seu antecessor, mas não passa ao seu sucessor porque é deposto por Vargas...
1930 – Vargas não recebe a faixa do antecessor, deposto, e não passa ao seu sucessor por ser deposto em 1946.
1946 – Dutra não recebe a faixa do antecessor, deposto, mas a passa ao sucessor: Getulio Vargas
1954 – Café Filho assume, uma vez que Getúlio se suicida, nem a passa ao seguinte, por ser deposto em um ano em que o Brasil teve três presidentes.
1956 – Juscelino não recebe a faixa do antecessor, mas a transmite ao sucessor: Janio Quadros.
1961 – Janio renuncia pouco tempo após assumir, e não passa a faixa ao sucessor
1961 – João Goulart assume, por ser vice, e é deposto em 1964,
1964 – o Gal Castelo Branco assume, sem receber a faixa do antecessor, mas a transmite ao sucessor.
1967 – o Gal Costa e Silva recebe a faixa do antecessor, mas morre no meio do mandato, em circunstâncias misteriosas.
1969 – Assume o poder uma junta militar espúria e ilegal, de acordo com a Constituição de 67, feita pelos militares!
1970 – Assume o Gal Medici, que não recebe a faixa do antecessor, mas passa ao sucessor.
1974 – Assume o Gal Geisel, que recebe a faixa e a transmite ao sucessor
1979 – Assume o Gal Figueiredo, que recebe a faixa do antecessor, mas se retira de Brasilia uma hora antes da posse de seu sucessor, e não lhe transmite a faixa.
1985 – Assume Tancredo Neves, que não recebe a faixa do antecessor nem a transmite.
1985 – José Sarney assume, por ser vice, com a morte de Tancredo.
1990 – Collor de Mello assume, não recebe a faixa do antecessor, morto, e ainda sofre impedimento pelo Congresso no meio do mandato.
1992 – Itamar Franco assume, em receber a faixa do antecessor, mas a transmite ao sucessor.
1995 – Assume FHC, que não recebe a faixa do antecessor, impedido, e a transmite ao sucessor
2003 – Assume Lula, que recebe a faixa do sucessor e a transmite à sucessora.
2011 – Assume Dilma Rousseff, que recebe a faixa do antecessor, mas sofre impedimento pelo Congresso.
2016 – Michel Temer assume, enquanto vice.
__ Tomando como base o ano de 1930, temos então 88 anos de crise política quase contínua, e pela primeira vez percebemos que essas crises estão começando a afetar seriamente a economia, o que não acontecia no passado; ou seja, estão ficando mais graves. É possível um regime ser minimamente viável após gerar um ciclo de crises políticas de 88 anos? Não estará na hora de pensar seriamente sobre isso?
__ O momento presente nos dá esperanças em prol da República Brasileira? Infelizmente não: a atual Constituição, a sétima da República (!), com apenas 30 anos, está destroçada por mais de 100 emendas, além de 147 projetos de emendas esperando a sua vez no Congresso! Não é possível, acabou-se, acabou-se! Que dizer da disposição do povo nas ruas? À esquerda, grupos fornidos ajuntam-se para tornar um líder corrupto e populista inalcançável pela lei, sem falar da atuação agressiva na greve dos caminhoneiros que quase colapsa todo país, enquanto à direita grupos fornidos fazem apelos melodramáticos para que os militares deem um novo golpe na democracia cambaleante, caso único no mundo atual (!); à margem, grupos de traficantes e milicianos começam a construir enclaves territoriais dentro das grandes cidades, com o amplo apoio de setores a população mais pobre e até mediana; embriões de futuros países?
__ Creio que ao Brasil restam duas alternativas, na verdade só uma, a volta da monarquia, e a outra seria a divisão em vários países diferentes de língua portuguesa; mas aí já é outra história. 

Álbum da interminável crise republicana

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2018

quarta-feira, 30 de maio de 2018


O VALOR DA EDUCAÇÃO

Prof Eduardo Simões

__ Amigos!
__ Não dá realmente para revogar a lei da gravidade, assim como não dá para modificar a verdade universal de que a maior riqueza de um país é o seu povo, bem cuidado por um sistema educacional coeso, coerente, de primeira qualidade. Judeus, japoneses, escandinavos, gente moradora de regiões pequenas, inóspitas e com poucos recursos nos revelam isso de uma forma brutal!
__ Leiam a matéria abaixo, uma cópia de um trecho de uma matéria que saiu do site em português do jornal espanhol El Pais, como os judeus, graças aos seus profissionais altamente qualificados, professores comprometidos e valorizados e uma educação geral de alto nível, transformaram um deserto de areia em uma fonte de riquezas, enquanto nós, que insistimos em desprezar a educação de nossas crianças, transformamos, pela nossa ignorância e às vezes má fé, florestas e solos riquíssimos em desertos estéreis – por enquanto o PIB per capita nominal de Israel é de uns US$42,115, o 22º do mundo, o do Brasil é de US$10,224, o 65º do mundo, previsto para 2018. Compare também as fotos do campus da Universidade Bem Gurion, em Beerscheva, com os de nossas universidades e escolas públicas, inclusive as criadas mais recentemente...


Beersheva transformou a proteção da rede em um negócio de 22 bilhões de reais por ano para o país

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__ Tudo isto antes era areia. Os camelos ainda descansam ao sol nas margens da estrada que conduz a Beersheva, principal núcleo urbano do deserto do Negev. Esta cidade, 110 quilômetros ao sul de Tel Aviv, é considerada o Vale do Silício do Oriente Médio. Representa a prova física e arquitetônica do que conseguiu o setor de cibersegurança em Israel: 10 edificações novas em cinco anos. Em Beersheva foram construídas no deserto, partindo quase do zero, as instalações necessárias para abrigar as milhares de mentes que têm de defender o país. Estas instalações pertencem tanto à Universidade Ben-Gurion do Negev, grandes empresas e startups, como ao Governo e ao Exército. Entre estes quatro atores foi criado um ecossistema de inovação no qual se compartilha informação e objetivo: transformar Israel na grande referência da cibersegurança.
__ [A importância de pensar para frente:] “Começamos a nos preocupar com a cibersegurança quando ninguém fazia isso. Há 30 anos já a definíamos como a quarta fronteira a defender. Do mesmo modo que você precisa de pessoas para defender terra, mar e ar, também quer gente que defenda das ciberameaças... isto não é ficção científica”, conta Roni Zehavi, CEO da CyberSpark, uma das líderes do ecossistema de cibersegurança criado em Beersheva. [Ele] Faz referência ao WannaCry e ao Petya, os dois últimos ciberataques que afetaram hospitais, Governos e grandes empresas de todo o mundo. Esses malwares infectaram os sistemas de milhares de equipamentos – através de uma vulnerabilidade encontrada no Windows –, criptografaram a informação que havia neles e pediram um resgate para que fosse recuperada... os especialistas afirmam que se tratam de ataques muito baratos para preparar e muito caros para responder.

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__ O mercado da cibersegurança já movimenta mais de 225 bilhões de reais por ano em todo o mundo. Quase 10% do total, 22 bilhões de reais, é faturado por Israel, segundo o professor Isaac Ben-Israel – um dos ideólogos por trás da revolução cibernética que o país está vivendo. Dessa cifra, cerca de 13 bilhões de reais provêm das exportações de produtos e sistemas de segurança, explicou Achiad Alter, chefe de cibersegurança do Instituto de Exportações de Israel. O restante vem de vendas internas.
Um país de startups
__ Em Israel, um país de 8,5 milhões de habitantes, existem 400 empresas dedicadas a cibersegurança; 300 delas são startups (a maioria com mais de dois anos de existência)... 30% dos investimentos em P&D do Estado vão para a cibersegurança. Na Espanha, o número de empresas que se dedicam à cibersegurança, por exemplo, é de 533 e seu faturamento atingiu 600 milhões de euros, de acordo com os últimos dados disponíveis do relatório da ONTSI e do Incibe publicados em 2016.

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Frente e lateral da Biblioteca Central

__ A diferença, ainda maior se levarmos em conta o tamanho do país, se deve à cultura empreendedora da qual se gabam os israelenses. A cada ano são criadas 40 novas startups relacionadas apenas com a cibersegurança. Para promover a criação dessas novas empresas, o Governo introduziu incentivos fiscais, econômicos e chegou até mesmo a absorver a dívida, caso uma empresa fracasse [o problema não são os subsídios em si, mas a sua necessidade estratégica, a prudência e a seriedade com que se usa a verba pública; é bem diferente, não?].
__ Em Israel há 400 empresas dedicadas à cibersegurança, das quais 300 são startups
Muitas dessas novas empresas estão escolhendo Beersheva como sede pela facilidade de conexão com outras instituições. IBM, Dell, Cisco, PayPal ou Deutsche Telekom criaram centros de pesquisa e desenvolvimento neste parque de tecnologias avançadas. “Fisicamente tudo está aqui: a Universidade, a indústria e o Governo. Todos estão trabalhando juntos. A indústria sabe melhor do que ninguém do que necessita e ajuda a atualizar o currículo das universidades. O que se sabia há dois anos sobre cibersegurança já envelheceu, é preciso se manter atualizado. Hoje, o tempo que a IBM ou a Cisco precisam para qualificar alguém é muito curto”, explica Zehavi. “O Governo sabe o potencial que tem em estabelecer essas relações. Portanto, Beersheva é reconhecida como a capital [mundial] da cibersegurança”
[Para mais informações visite o endereço:  https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/30/tecnologia/1498797340_490111.html]

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Faculdade de engenharia; uma educação, uma ciência e um país prontos para “levantar voo”

segunda-feira, 28 de maio de 2018


A TRAGÉDIA DE ERROS OU A TEMPESTADE... PERFEITA

Prof Eduardo Simões


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Vendedor de ilusões!

No final dos anos 1800, o conhecido Visconde de Taunay encontrou-se, em um bonde no Rio de Janeiro, com o republicano, já desiludido, Benjamin Constant. Conversa vai conversa vem, Constant se despede de Taunay, justificando o seu afastamento da política, ele que fora muito atuante e até ministro de Deodoro da Fonseca. “Foi por causa do excesso de pratiotismo, diz Constant” “O senhor que dizer patriotismo?!” “Não, é pratiotismo mesmo, confirma Constant, pois cada um só pensa no próprio prato”

__ O grande Shakespeare fez tipo de texto teatral, que na linguagem do teatro medieval chamava-se “farsa”, conhecida como a Comédia de erros, escrita e 1591, cujo título, por sinal, foi usado de forma muito incorreta pelo economista Samuel Pessôa, para descrever as causas da greve dos caminhoneiros, uma vez que os efeitos histriônicos do enredo shakesperiano são frutos da ignorância dos personagens sobre o que acontece em sua volta, de tal sorte que se pode dizer que são plenamente desculpáveis dos “erros” que cometem. Tenho dúvidas sobre se o que acontece atualmente no Brasil foram inconscientes ou de alguma forma fruto de ingenuidade e boa-fé, sem falar que seus efeitos na população não têm nada de engraçados, a ponto de poder ser chamada de “comédia”, embora sintamos o cheiro sufocante de “farsa”, no sentido não dramatúrgico do termo...
__ Em homenagem ao mestre inglês, coloquei o nome de outra de suas obras no título: A tempestade.

Da plateia

__ Com é difícil para nós professores, em sala de aula, conseguirmos mobilizar turmas, ainda que pequenas, para um trabalho de grupo, fazer um acordo coletivo, fruto do consenso ou da aceitação de uma minoria em se submeter à decisão da maioria, até ficar provado de que esta estava errada, quando for o caso. Se o menino, ou a menina, suspeita que o seu conforto pessoal será de alguma forma perturbado por uma decisão de seus colegas, ainda que esta, no final, redunde em vantagens para todos, ele se alevanta, e, ameaçando levar o caso aos pais e às autoridades educacionais, contra tudo e contra todos fazer cessar um trabalho que poderia ser um grande avanço – na EE Gabriel Prestes, tentei fazer um trabalho de dinâmica de grupo, o auge da tecnologia educacional, numa turma do 2º ano do Ensino Médio, quando uma garota, de dezesseis/dezessete anos, começou a chorar porque não queria se sentar junto de um tal colega, preferindo levar nota zero nas atividades de grupo, até a mãe vir à escola pedir pela sua bebezinha. Na EE Costa Braga, um aluno, quando soube que iria ficar no mesmo grupo que certa uma garota, desancou em tais ofensas contra ela e contra mim, que dei por encerrada a proposta.
__ A capacidade de trabalhar em grupos autônomos ou de rejeitá-la de forma tão agressiva não é genética, mas aprendida, é hábito criado no ambiente doméstico, e se refletem nas atitudes das crianças entre seus pares, e pelo que temos observado, a filosofia de boa parte dos brasileiros médios é: “se “EU” estou bem, o resto não me interessa. Muitos brasileiros, nessas últimas décadas, cuidaram de levar “vantagem em tudo”, ainda que isso acarretasse uma desvantagem injusta para o seu vizinho, e agora que a nossa sociedade ficou a cara dessa filosofia, acorrem aos quartéis pedindo golpe militar. “Bebezões”.

Dos atores

__ Incompetentes, desonestos, irresponsáveis, etc. etc., com certeza de todos os adjetivos negativos que existem, ou um dia existirão, vários, senão todos, podem ser aplicados a um grande número de políticos que ora se arrogam nossos representantes, graças a nosso votos, à maneira irresponsável como os brasileiros elegeram seus representantes – conheci um professor que disse “já que a política está mesmo uma p... eu votei logo no... (palhaço), para a p... ficar completa”.
__ Além desses que foram eleito sem a menor seriedade ou compromisso, que só serve para engrossar as fileiras do fisiologismo sem peias do chamado “Centrão”, temos a eterna esquerda acéfala, que, a modelo das seitas religiosas fanáticas, tenta anular “leis pétreas”, milenarmente consagradas, que vieram da observação da natureza e da evolução do senso comum, adquirindo com todos os direitos o status de “científicas”, que, por razões históricas, foram descobertas por pensadores “burgueses”, dentro de uma ordem burguesa. Esses tais, já exorcizados dos países mais desenvolvidos, onde formam minorias inexpressivas, mas onipresentes na realidade latino-americana, acham que o fato de essas leis terem sido gestada numa sociedade burguesa estão, por isso mesmo, ideologicamente “contaminadas”, e podem ser a qualquer momento anuladas ou ignoradas; falo aqui dos governos do PT e de seus aliados: a direita corrupta, oportunista, representada pela geleia geral do Centrão, em especial o atual MDB de Michel Temer, que interviram desastradamente na economia, gerando as razões econômicas do caos atual.

Do enredo

1º Ato – em outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas cria a Petrobras, como uma estatal responsável pelo monopólio da exploração, refino e transporte de petróleo e derivados. Nos próximos 65 anos a manutenção da estatal será o único objetivo nacional digno de nota e de todos os sacrifícios
2º Ato – é estabelecido na Constituição de 1988, pela esquerda, com o apoio do PMDB e PSDB, o princípio antiliberal da “unicidade sindical” – cada categoria profissional ou atividade econômica seria representada exclusivamente por um único sindicato. Os sindicatos se tornam escoadouros do dinheiro público, grosseiramente aparelhados por grandes empresas, no setor patronal, e por grupos fechados à esquerda, entre o operariado; pequenas empresas e empreendedores individuais ficam sem nenhuma cobertura. É a morte do capitalismo moderno. Nossos “representantes” constituintes também se garantiram juridicamente seus crimes presentes e futuros, instituindo o foro privilegiado.
3º Ato – obcecado pela miragem da moeda forte, Fernando Henrique Cardoso sobrevaloriza o real e provoca uma crise cambial, com reflexos na economia; para compensar as perdas causadas por sua irresponsabilidade, FHC recorre ao “baú da viúva”, seu governo aumenta barbaramente a tributação: cria novos tributos (a CIDE sobre os combustíveis), amplia a base de cálculo de outros, aumenta as alíquotas – em 1994 os tributos correspondiam a 29,45% do PIB, em 2003 corresponderá a 35,53%. Com a farra da tributação, o peso dos tributos no preço final da gasolina corresponderá a 45%, englobando tanto os tributos federais como estaduais.
4º Ato – Lula assume a presidência em 2003, e faz um excelente primeiro mandato, graças à política liberal de seu Ministro Palocci e à sua sensibilidade sobre os problemas sociais. A economia brasileira dispara, e logo ele se vê cercado pela eterna tentação da “esquerda”: ignorar a lei da oferta e da procura. A partir de 2009 o governo Lula dá um aporte financeiro gigantesco ao programa Procaminhoneiro do BNDES, injetando bilhões para empréstimo na aquisição de novos caminhões, enquanto alongava o prazo de pagamento (até 120 meses!). Milhares de autônomos e pequenas empresas de transportes acorreram à “galinha dos ovos de ouro”, e em breve as estradas estavam recheadas com dezenas de milhares de novos caminhões.
5º Ato - Amaldiçoe o mercado; mas não se esqueça de se submeter a ele. Com o aumento explosivo da oferta de transportadoras e autônomos o preço do frete começa a cair. Temendo não ter dinheiro para pagar a prestação no final do mês, os caminhoneiros vão à luta com tudo. Muitos se drogam para poder trabalhar mais tempo e ganhar mais; os acidentes nas estradas se multiplicam, e neles muitos perdem tudo o que têm, e até a vida, junto com a de muitos inocentes.
6º Ato - Começa o dramático governo Dilma Rousseff, em 2011, dando uma guinada na direção do populismo irresponsável ou da esquerda falida, sai dos trilhos, já muito contorcidos, deixados por seu antecessor e inaugura a chamada Nova Matriz Econômica, com intervenção cerrada do governo na formação dos preços das estatais, usando do Tesouro Nacional para financiar rocambolescos programas sociais; uma das empresas mais lesadas com essa nova política foi a Petrobras, que passou a vender combustível abaixo do custo de produção. Enquanto a presidenta fazia essas loucuras, a população e até grandes empresários, fechando os ouvidos para os avisos dos especialistas como Alexandre Schwartsman, Mansueto Almeida, etc., dava à senhora Rousseff índices de popularidade nunca antes alcançado por um presidente da república. Era o Titanic afundando e os passageiros fazendo a maior festa!
7º Ato – Dilma sofre impeachment, em 2016, e aparece aos olhos de todos uma realidade inimaginável: em virtude da politicagem rasteira e do saque generalizado feito pela farândola no poder, a Petrobras encontra-se à beira do colapso. O presidente legal, ex-sócio da patifaria ubíqua, nomeia Pedro Parente, com a missão de salvar a qualquer preço a “joia da coroa” da nação brasileira. Parente é inexorável: os preços dos combustíveis aumentarão diariamente, de acordo com a oscilação dos preços internacionais. O gasolina e diesel disparam nas bombas.
8º Ato – Para salvar o presidente Lula, superencrencado na operação Lava Jato, os petistas, e quase toda esquerda, se voltam contra o Poder Judiciário, descaracterizando-o e colocando em dúvida, genericamente, a idoneidade e a isenção desse Poder, o único que ainda restava incólume na estrutura política federal e estadual. Os corruptos de direita, também enquadrados na operação, passam a fazer coro contra juízes específicos e a justiça como um todo. Alguns magistrados do Supremo cedem a pressão – o cientista político Bolívar Lamounier os compara a “onze patetas a bater cabeça”. Sem ter em quem confiar, cresce no seio do povo a ideia de que só uma intervenção militar pode resolver a crise.
9º Ato – a irresponsabilidade fiscal do governo Dilma, e o seu sonho de uma nação de funcionários públicos, contaminou vários estados que, após perderem o controle de suas contas, começaram a parar de pagar despesas básicas e até salários e aposentadorias, a começar pelo Rio Grande do Sul, berço político de Dilma com forte presença do PT, até chegar ao caso do Rio de Janeiro, onde a administração pública mergulhou num caos inimaginável, cujo ex-governador, Sergio Cabral, muito próximo de Lula e Dilma, é denunciado como o chefe de uma das mais amplas, eficientes e perversas quadrilhas de roubo ao dinheiro público. Seguem outros estados como Minas Gerais, notório ninho tucano, e Espírito Santo. Quase todos os estados brasileiros, nesse momento, estão tecnicamente quebrados e seriam considerados “falidos” se fossem empresas privadas, e por isso mesmo, não podem abrir mão de um milésimo de centavo da receita oriunda dos tributos sobre os combustíveis. Se pudessem tributavam mais.
10º Ato – com o aumento explosivo do preço da gasolina, só resta às pequenas empresas e autônomos a certeza de que realmente não vão poder pagar as prestações de seus caminhões, perdendo todas as economias de suas vidas e já vendo suas famílias na miséria; sabendo que não contarão com o apoio dos grandes sindicatos e associações – esses grupos tendem mais a torcer para o fechamento das pequenas empresas e redução dos autônomos, para reduzir a concorrência – se articulam, com possível ajuda de pequenas empresas e sindicatos minoritários, e começam a fechar as rodovias de forma pulverizada, o que dificulta, e muito, a possibilidade de um acordo geral com a categoria.
11º Ato – um grupo de ministros de um governo corrupto e desmoralizado chama os representantes de grandes sindicatos e associações e faz um acordo pífio, um deboche, que, evidentemente não surte efeito algum, obrigando o governo a tentar um novo acordo, agora com um grupo mais representativo e com propostas mais substanciosas, que ainda não sabemos se vai funcionar, uma vez que deixa uma dúvida importante no ar: como o governo Federal vai conseguir de entes estaduais cambaleantes, com as contas em pandarecos, renúncia fiscal de tal porte? De onde vai sair o dinheiro, até agora um nove bilhões, para pagar o acordo? Parece-nos que o governo Temer apenas ganha tempo, deixando a bomba do endividamento para explodir mais adiante, nas mãos de quem vencer as eleições, que ele já sabe não será nem ele nem um aliado, sem deixar de considerar que foi mandada uma mensagem para as outras categorias: “se insistir, o governo cede”
12º Ato – um governo, covarde e incompetente, ignorando a realidade criada pela próprio Estado, uma vez que foram governos anteriores que fizeram a coisa chegar a esse ponto, resolve usar da lei e de órgãos de repressão, para punir possíveis descumprimentos da lei durante a articulação da greve, justo um governo acusado, com provas, de estar entulhados de criminosos, denunciados por desviar bilhões do dinheiro público ou aceitar suborno, uma verdadeira quadrilha de colarinho branco, protegida pelo manto do foro privilegiado, entre os quais o próprio presidente, mobiliza-se para punir o povo trabalhador, em luta desesperada pela sobrevivência, pela concessão de alguns centavos em bombas de gasolina...
__ Até quando?

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Socorro!

Album


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Desgoverno histórico: a arte de transformar sonho em pesadelo!

sexta-feira, 25 de maio de 2018


TRIBUTO A EDWARD ROSCOE MURROW; SALVE-NOS A SUA CORAGEM E A SUA SABEDORIA

Prof Eduardo Simões

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__ No auge da chamada “caça as bruxas”, nos Estados Unidos, quando o senador Joseph McCarthy, de Winsconsin, resolveu, oportunisticamente, explorar o medo do comunismo que começava a se criar no senso comum americano, para se fazer cada vez mais presente à mídia, perseguindo de maneira pública e acintosa a todos que supostamente tivessem ligação com a temível ideologia, alicerçando uma carreira política de sucesso no medo genérico ao desconhecido e na desconfiança patológica, ódio latente, que os americanos começaram a desenvolver uns contra os outros, exatamente como acontece hoje no Brasil, o jornalista e radialista Edward R. Roscoe (1908-1965), no programa de TV See you now, da Rede CBS, no dia 9 de março de 1954 fez uma declaração, cujo trecho final traduzimos abaixo, na esperança de que traga algum proveito aos nossos leitores...

“Ninguém que seja familiarizado com a história deste país pode negar que os comitês do Congresso são úteis [McCarthy perseguia os supostos comunistas por meio de comitês no Congresso, onde submetia os suspeitos a grandes constrangimentos]. É necessário investigar antes de legislar; mas a linha entre uma investigação e uma perseguição é muito tênue, e o senador júnior de Winsconsin cruzou-a diversas vezes. Seu principal feito foi confundir na mente de todos com o que seriam as ameaças internas e externas do comunismo. Não devemos confundir discordância com deslealdade; devemos nos lembrar sempre que uma acusação, simplesmente, não é prova, e que a convicção depende da evidência e do devido processo legal. Não vamos andar com medo um do outro, nem seremos levados pelo medo a uma era de irracionalidade, pois quando mergulhamos na nossa história e nas nossas tradições nos recordamos que não somos descendentes de gente medrosa.
Não é hora de aqueles que se opõem aos métodos do senador McCarthy se calarem, assim como aqueles que o aprovam. Podemos negar nossa herança e nossa história, mas não podemos fugir da responsabilidade pelo resultado. Como nação nós entramos em nossa plena herança ainda jovens. Nós nos proclamamos, como de fato o somos, defensores da liberdade onde quer que ela exista no mundo, mas não podemos querer defender a liberdade no exterior abandonando-a em nossa própria casa.
As ações do senador júnior de Winsconsin causaram alarme e desalento entre os nossos aliados no exterior, e deram considerável conforto aos nossos inimigos. E de quem é a culpa? Realmente não é dele. Ele não criou essa situação de medo [como também não a criaram no Brasil, Lula, Dilma, Temer, etc.] ele apenas a explorou, e com bastante sucesso. Cassius [um dos conspiradores e autores da morte de César] estava certo. “A culpa, querido Brutus [outro conspirador], não está em nossas estrelas, mas em nós mesmos” [e como está, e como está! Não é caro leitor?].

“Boa noite e boa sorte”
       
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PD-US, https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=22014220


terça-feira, 22 de maio de 2018

OS MESTRES DA PSICOLOGIA MODERNA


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Reparem Watson, com um rato sobre o ombro, e Pavlov com o seu cão!Menos animais e mais gente!
DIÁLOGOS COM SCHUMPETER – 2

(Baseado na História da análise econômica de Joseph A. Schumpeter)



Eduardo Simões



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Algumas reflexões prévias



__ Com uma inteligência muito aguçada e uma cultura fora do comum, Schumpeter é precioso até nas suas notas de rodapé, de onde saltam, aqui e ali, observações imperdíveis, que em geral contestam antigas crenças, em especial as fabricadas no século XVIII, pelos iluministas franceses. Para ressaltar o avanço do conhecimento científico, pelo menos do pensamento crítico, baseado na lógica, ele diz numa nota, na p 32:



Como ponto de referência [para mostrar o avanço do pensamento crítico no século XIII], escolhemos a Suma Teológica de São Tomás de Aquino, que exclui a revelação de entre as disciplinas filosóficas, quer dizer de todas as ciências, exceto a teologia sobrenatural... Esse pode ser considerado como o mais antigo e um dos mais importantes passos dados pelo criticismo metodológico na Europa, depois da decadência do mundo greco-romano”.



__ Em seguida Schumpeter passa à análise do conceito de “teoria”, fundamental para distinguir, ao longo dos séculos os avanços e os recuos da compreensão e análise de fatos econômicos; houve observações muito avançadas sobre fenômenos específicos, mas que devem ser consideradas apenas como “descobertas” isoladas, que podem até ter influenciado outras descobertas e teorias posteriores, daquilo que, mesmo não sendo de grande valor em seu conjunto, tem, pela integração lógica e harmônica de vários elementos, um sentido lógico e o status de “teoria”, e teoria científica, uma vez que, para ele, Schumpeter, não há como negar o status de “ciência” à economia.

__ Os argumentos de Schumpeter, na tentativa de explicar o que se deve entender por “teoria”, nem sempre são felizes; um tanto obscuros, repetitivos, e de uma maneira geral se referem a questões que não cabem ser aprofundadas neste artigo, embora aqui e ali deixe escapar alguma observação interessante: como a sua não adesão ao “cientificismo”, ou seja, a submissão da economia aos métodos e abordagens aplicados às ciências naturais, muito em voga na primeira metade do século XX:



Esse termo [Cientificismo] foi introduzido pelo professor von Hayek, para nomear o erro de copiar-se sem crítica alguma, os métodos das ciências naturais no pressuposto, igualmente acrítico, de que esses métodos tenham aplicação universal e que devam ser seguidos por toda atividade científica” (idem, p 39).



__ A respeito de uma certa similaridade entre os métodos usados pelas ciências naturais e a economia ele faz uma observação interessante:



Há limites, porém, para esse paralelismo [economia e ciências naturais]... quando os economistas discutem a respeito de experimentação, querem significar algo muito diferente do que comumente se entende por experimentação em laboratório, mas dispõem, por outro lado, de uma fonte de informação que não está ao alcance da física, isto é o amplo conhecimento do homem a respeito do sentido das ações econômicas... quando falamos sobre indivíduos e grupos, nossa fonte de informações... será o conhecimento dos processos psíquicos, conscientes ou inconscientes, que seria absurdo não usar” (p 38-39)



__ Não dá para negar o forte teor weberiano nessa observação, compreensível pelo fato de que ele e Max Weber (1864-1920) terem sido muito próximos (1). Portanto ao contrário dos “clássicos” e, principalmente, “neoclássicos” que tendiam a abordar a economia como uma disciplina neutra, baseada em princípios estritamente lógicos, o que supunha modelos ideais submetidos a uma “racionalidade”, dirigindo as ações humanas, pelo menos no campo da economia – como dizem por aí, para saber se alguém está realmente louco basta saber se ele trata o dinheiro: se o queima com certeza é “caso perdido”. Schumpeter, por seu lado está consciente da precariedade estrutural do fator humano presente na pesquisa econômica, embora mostre uma confiança nas possibilidades reais de conhecimento da sua psicologia, que talvez não seja mais compartilhado no mesmo grau, hoje em dia; mas ao negar à economia uma objetividade na economia semelhante à das ciências naturais, nem por isso fica cego ao subjetivismo, por vezes pueril e anômalo, que pode se imiscuir na economia.



É necessário que nos acautelemos contra uma ilusão de ótica similar a que tornou os marxistas tão relutantes a usarem termos como preço, custo, moeda, valor dos serviços da terra ou juro equivalente, quando tratam da futura ordem socialista, pois embora esses termos denotem conceitos da lógica econômica geral, parecem, aos socialistas, estar impregnados de significado capitalista, somente porque são usados também nas sociedades capitalistas” (p 40).



__ Outro alerta importante é contra o caráter por vezes difícil, quase “hermético”, do discurso dos economistas – em nosso país se usa o termo “economês” para referir-se a discursos ou textos que ninguém consegue entender, sem falar das inúmeras tentativas,  de nossos Ministros da Fazenda para se tornarem inteligíveis, ou explicar o inexplicável: quanto mais eles explicavam menos as pessoas entendiam –  o que amplia a resistência do cidadão comum a essa ciência, e o deixa, ao povo, mais propenso a seguir líderes populistas cevados de promessas econômicas irrealizáveis, mas com um discurso fácil.    

__ Outro problema ainda é o das alianças espúrias que economistas tenderam a firmar com as elites político-econômicas de seu tempo, que comprometeram, até certo ponto, a intenção geral de tornar a economia numa ciência... respeitável – para Schumpeter, boa parte dessas iniciativas se deve ao “imprevisível”, mas repetitivo padrão de comportamento oriundo da inflamação do ego dos economistas.



Um exemplo clássico dessa situação foi a aliança da teoria econômica com o liberalismo político do século XIX... esse entendimento foi a causa de relacionar-se por algum tempo o malogro do liberalismo político com o da teoria econômica [ele deve se referir a episódios como a Quebra da Bolsa de 1929 e a ascensão de regimes totalitários no entreguerras]. A esse tempo, muitas pessoas definitivamente odiavam a teoria econômica por pensarem que a sua fundamentação era apoiar um programa político que elas desaprovavam. Essa convicção era reforçada porque os próprios teóricos econômicos... punham o seu aparato analítico a serviço de suas convicções liberais em matéria política... [e assim] os economistas satisfazem a estranha propensão de dedicar-se à política como amadores, mascateando as prescrições políticas, oferecendo-se como filósofos da vida econômica [dando asas à livre especulação], embaraçando-se nos julgamentos de valor [valores burgueses, é claro] que, inevitavelmente, introduziam em suas análises” (p 42)



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Clarificando a questão da “teoria”



__ Não é uma “sacada”, uma intuição, por mais genial que seja, nem mesmo um monte delas, sem qualquer interconexão aparente, que constituem uma “teoria” científica – Schumpeter não gosta do termo, coloca-o entre aspas no seu livro, por achar que este se presta a mal-entendidos, preferindo o de “análise”, que supõe uma apresentação mais integrativa e profunda, como deve ser um relato científico; entretanto ele foi “voto vencido” na evolução da ciência contemporânea, e o termo “teoria” se vulgarizou entre acadêmicos e leigos, com todos os perigos que advém de uma unanimidade, sempre a flertar com a máxima do dramaturgo pernambucano-carioca Nelson Rodrigues (1912-1980) de que “toda unanimidade é burra!”.

__  Portanto, não dá para escapar desse assunto, ainda mais porque do correto entendimento desse termo dependem muitas das afirmações de Schumpeter em sua análise. A apresentação do tema em HAE não me parece clara para o iniciante, que é a quem eu me dirijo preferencialmente, e para não me alongar numa seara que não me atrai nem é a principal razão de ser desse projeto, apresento, de uma maneira esquemática, a moderna noção de teoria científica conforme aparece nos dicionários de filosofia, de Nicola Abbagnano (1901-1990) e José Ferrater Mora (1912-1991).   

__  A teoria científica cumpre várias funções, a primeira e mais simples é a de ser uma “hipótese explicativa”, Schumpeter fala disso, enquanto ressalta seu pouco valor e faz questão de assinalar a resistência que se lhe opôs o físico inglês Isaac Newton (1642/43-1727) (2). Entretanto, é inegável que há espaço para hipóteses numa teoria científica. Para reforçar isso Abbagnano cita as palavras do médico e pesquisador francês Claude Bernard (1813-1878): “O experimentador formula sua ideia [ou hipótese experimental] como uma questão, uma interpretação antecipada da natureza, mais ou menos provável, da qual deduz logicamente consequências que a cada momento compara com a realidade por meio da experiência... o objetivo das hipóteses não é só levar-nos a fazer experiências novas, mas também descobrir fatos novos que não teríamos percebido sem elas” (Abbagnano; 2000; p 952). O grande perigo é a multiplicação de hipóteses, comprometendo a higidez, a coerência do arcabouço teórico.

__ Em segundo lugar, “a teoria [que é um produto da mente do pesquisador] condiciona tanto a observação dos fenômenos quanto o uso de instrumentos de observação” (p 952-53), ou seja, a influência ideológica, das preferências pessoais e/ou sociais, que é mais perceptível nas chamadas “ciências humanas”, como se houvessem outras além destas!

__ Em terceiro lugar, “além de uma parte hipotética, uma teoria científica contém um aparato que permite sua verificação ou confirmação... Bergmann [Gustav Bergmann (1906-1987), fazendo uma analogia com a matemática] disse que uma teoria científica consiste em 1º axiomas [um sistema de declarações indemonstráveis, convencionadas, mas evidentes, no qual se baseia uma determinada teoria; esse sistema partilha a qualidades de ser coerente, completa, independente, pequeno e simples]; 2º teoremas [proposições demonstráveis]; 3º prova [ou demonstração] dos teoremas [mostra que a implicação lógica dos axiomas prevalece mesmo numa mudança de contexto = verificação de uma teoria no mundo real]; 4º definições [ou corolário = afirmação deduzida de uma verdade demonstrada, que equivaleria às conclusões sobre a validade da teoria]... [atenção! Mesmo considerando o quanto a proposta de Bergmann tem de analogia e paralelismo, um teorema não é exatamente a mesma coisa que uma teoria, ela, antes, nos ajuda no sentido de ressaltar que] as modalidades e o grau de prova ou confirmação que uma teoria deve possuir para ser considerada ‘científica’ não são definíveis segundo um critério unificado... a verdade de uma teoria psicológica ou de uma teoria econômica exige um tipo de comprovação completamente diferente do exigido por uma teoria física, visto que as técnicas de verificação são completamente diferentes”(p 953). Abbagnano também encarece, como decorrente das disposições de Bergmann, a necessidade de limitar o número de hipóteses contidas na teoria. Creio que se as pessoas tivessem a dimensão exata do quão difícil é estabelecer e articular os elementos envolvidos numa teoria científica, entrariam mais humildes e flexíveis nos debates acadêmicos, mais dispostos a aprender que a ensinar...

__ “Uma teoria não é necessariamente uma explicação do domínio dos fatos, mas um instrumento de classificação e previsão... A verdade de uma teoria está em sua validade, e a sua validade depende de sua capacidade de cumprir as funções às quais se destina... 1º uma teoria deve constituir um esquema de unificação sistemática de conteúdos diversos...; 2º... deve apresentar um conjunto de meios de representação conceitual e simbólica [uma linguagem] dos dados de observação... o critério ao qual deve satisfazer é o de economia dos meios conceituais, vale dizer, simplicidade lógica; 3º ... deve constituir um conjunto de regras de inferência [que lhe permitam algum grau de previsibilidade a partir dos fatos observados]... a capacidade de previsão de uma teoria é o critério fundamental para avaliá-la” (idem).

__ Ferrater Mora (1912-1991), chama a atenção para a diferença essencial entre uma teoria nas ciências naturais e outra das humanidades: “enquanto nas primeiras a teoria não modifica em princípio a realidade, antes pretende ajustar-se a ela [ou descrevê-la] o mais minuciosamente possível, nas segundas a teoria pode transformar, e quase sempre transforma, a realidade submetida à teorização, pois a teoria é neste caso fruto exclusivo da reflexão humana sobre atividades humanas. E assim uma teoria sobre uma realidade histórica ou social não é algo que permaneça à margem dessa realidade, mas se constitui antes um traço desta [é condicionada pelo período histórico ou pela sociedade assim observada]” (1964; p 775)

__ O físico inglês Stephen Hawking (1942-2018) arremata, reforçando uma das principais características daquilo que se pode chamar teoria científica: “uma teoria é boa se satisfaz dois requisitos: descreve com precisão uma extensa classe de observações e é capaz de realizar predições corretas acerca de resultados de futuras observações... Qualquer teoria física [ou científica] é sempre provisória, no sentido que é apenas uma hipótese, e, portanto, não pode ser provada. Não importa quantas vezes os resultados dos experimentos confirmem a teoria, nunca se estará seguro de que na próxima vez o resultado não a desmentirá. Por outro lado, basta uma única observação em desacordo com as predições da mesma, para que ela seja dada como refutada [bem diferente de certos grupos que clamam o caráter “científico” de sua teoria econômica, justo por não ser nunca refutada, uma vez que se recusam a encarar os “furos” grosseiros, em sua teoria]” (trecho traduzido da Wikipedia em espanhol) – nesse momento eu lembro de uma das frases mais felizes de meu mestre Lauro de Oliveira Lima (1921-2013), num artigo onde estigmatiza a velorização, nas escolas, do “saber sistematizado”: “a ciência, dizia ele, é um cemitério de ideias”. 

__ Para Schumpeter, mesmo reconhecendo as contribuições geniais feitas à análise econômica por inúmeros autores, ele não hesita em afirmar que a vasta maioria não chegou a construir uma teoria econômica científica, na acepção técnica do termo. O primeiro, para ele, a construir um arrazoado de hipóteses e explicações, que poderia ser chamado de uma “teoria” econômica, foi o economista franco irlandês Richard Cantillon (1680-1734) – nisso ele acompanha a outros, como o britânico William Jevons, que afirmou ser o livro de Cantillon, Ensaio sobre a natureza do comércio em geral, de 1755, “o berço da economia política”.

__ Quem diria!     



Notas

1 – O que não impediu desentendimentos um tanto ‘dramáticos’, quase “latinos”, entre eles, como quando no início dos anos 20, aborrecido com a indiferença que Schumpeter aparentava em relação ao sofrimento humano imposto pela Revolução Russa recém-acontecida, Weber retirou-se, resmungando a sapatear, da lanchonete onde se travou o diálogo.

2 – Segundo Abbagnano (2000), na concepção de Aristóteles, o criador do termo, hipótese é “um enunciado ou um conjunto de enunciados que só pode ser comprovado, examinado e verificado indiretamente, por meio de suas consequências. Portanto a característica da Hipótese é que ela não inclui nem garantia de verdade nem a possibilidade de verificação direta” (p 500). Aos poucos, porém, o significado de “hipótese” ganha mais abrangência e peso na filosofia, passando a designar o mesmo que “causa”, dando –lhe uma tonalidade mais metafísica, intolerável, por exemplo, para gente como Newton, que assim se exprimiu: “Até agora, não pude deduzir dos fenômenos [a queda dos objetos ao solo] as razões dessas propriedades da gravidade, e não formulo hipóteses. Tudo o que não se deduz dos fenômenos deve ser chamado hipótese, e as hipóteses, tanto as metafísicas como as físicas, sejam elas de qualidades ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental” (p 501). Abbagnano então completa com muita felicidade: “a renúncia de Newton às hipóteses, não mais é que a renúncia à explicação [ inevitável em quem observa fenômenos sociais] em favor da descrição [dos fenômenos naturais]” (p 501-02). No alvo!



Bibliografia

Abbagnano, Nicola; Dicionário de filosofia; trad. Alfredo Bosi – rev. Ivone C. Benedetti; 4ª edição; Martins Fontes; São Paulo; São Paulo; 2000

Bottomore, Tom; Dicionário do pensamento marxista; trad Waltensir Dutra; Zahar; Rio de Janeiro; 2012 – edição digital de 2013

Mora, José Ferrater; Diccionario de Filosofia; 5ª edición; Sudamerica; Buenos Aires; 1964

Schumpeter, Joseph A; História da análise econômica; trad Alfredo Moutinho Reis – José Luís Miranda – Renato Rocha; Fundo de Cultura; Rio de Janeiro – São Paulo – Lisboa; 1964; 3 vols.

Schumpeter, Joseph A; History of economic analysis – introduction of Mark Perlman; Routledge; 2006; UK (online)
BBC ONLINE



Mais uma vez essa história! Ela mostra o quanto as crianças adolescentes e jovens, no Brasil e no mundo estão abandonados, maltratados, vilipendiados pelos adultos, eternos descumpridores de promessas, a começar pela de cuidar daqueles a quem geraram. A culpa disso, aqui no Brasil, é a miopia moral e a ausência de valores sociais sólidos, coerentes com o mundo civilizado, enfim a ausência de modelos sadios dos adultos para os jovens, que se sentem cada vez mais abandonados, mimados ou machucados. Na minha juventude eu ouvia dizer: “não abandone o seu filho, para que um traficante não o adote”, pois a desgraça era quase certa, hoje é a Internet que os está adotando e desgraçando de várias maneiras possíveis, dentro de seu próprio lar: não há mais lugar seguro – naquela época, pelo menos em casa nós estávamos seguros.

E qual é a bandeira do principal grupo de pais mobilizados nesse momento, no Brasil? Fazer aprovar uma lei que obrigue os professores a se calarem dentro de sala de aula, a pretexto de os filhos não se verem propensos a apoiar candidatos e partidos políticos que os pais não querem, nem provocar uma situação que obrigue a eles, os pais, a falar com seus filhos, nem que seja sobre política... no Brasil! Escola Sem Partido: porque desgraça pouca é bobagem!

Papais, mamães, professores e adultos em geral, está na hora, e até já passou, de abrir os olhos, arregaçar as mangas e assumir as suas obrigações, num nível e numa intensidade muito superiores às que foram feitas até agora, porque a mensagem que esses episódios passam é a de que o mundo criado pelos adultos é tão ruim, tão "pesado" que é preferível sair dele o quanto antes, e da pior forma possível. A nossa missão é refazer o mundo, pois nem os jovens, tão autoconfiantes, o aguentam mais.





Polícia investiga grupos no Facebook suspeitos de incitar suicídio de jovens no Brasil

Vinicius Lemos De Cuiabá para a BBC Brasil



A morte trágica de um adolescente de 15 anos, que morava em Goiás e se enforcou em fevereiro deste ano, deu o alerta para a Polícia Civil do Estado sobre a atuação de um grupo online de incentivo ao suicídio nas redes sociais. Outras mortes de adolescentes, que teriam sido encorajadas pelos mesmos perfis online, também são investigadas. De acordo com os investigadores, os casos estariam relacionados a dois grupos de Facebook cujos nomes, por questões de segurança, a BBC Brasil optou por omitir.

__ Uma das páginas foi retirada do ar, a outra continua ativa, apesar de já ter sido temporariamente removida após denúncias. Ambas são apontadas como responsáveis por incentivar jovens a atentar contra a própria vida. Induzimento ao suicídio é crime previsto pelo Código Penal brasileiro: quando o resultado da indução é a morte de alguém, o acusado pode pegar até 6 anos de prisão.

__ De acordo com as investigações, as duas páginas de Facebook possuem o mesmo administrador, um perfil supostamente pertencente a um brasileiro. Juntas, chegaram a somar mais de 43 mil membros. A primeira, que segue ativa, possui, atualmente, 25,6 mil membros.

__ Os líderes dos grupos que incentivam suicídios se apresentam como adolescentes de diversos Estados, entre eles São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas. Há também administradores em outras regiões do Brasil, que não foram reveladas pela polícia.

__Por meio de desafios, cuja missão final é atentar contra a própria vida, participantes dos grupos teriam sido induzidos ao suicídio.

__ As tarefas são repassadas aos adolescentes por meio de grupos de WhatsApp, para os quais são convidados os participantes dos grupos de Facebook que se interessam pelos desafios. "Nesta segunda fase, somente aqueles que recebem um link de convite podem entrar. É mais complicado termos informações sobre esses grupos, porque são fechados", afirma a delegada Sabrina Leles, da Delegacia Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DERCC) de Goiás.

__ Entre os desafios estão: invasão a redes sociais e computadores de terceiros, disseminação de fake news e automutilação.

__ "Os grupos dizem que o objetivo deles é fazer piada, contar histórias e apoiar uns aos outros. No entanto, temos provas que mostram que o objetivo é criminoso", diz a delegada.



O jogo



__ Os desafios têm início quando os jovens são chamados para participar dos jogos. Na maioria dos casos, os convites são feitos por meio de mensagens privadas no Facebook, motivadas pela participação em páginas pertencentes aos grupos na rede social.

__ Segundo a Polícia Civil, os grupos investigados têm como figura mais importante o curador, cujo nome não será divulgado pela BBC Brasil. Abaixo dele estão os administradores e depois os moderadores. Cada um possui funções no jogo, que variam da cooptação de jovens à invasão de computadores.

__ Um adolescente que participou do grupo relatou à Polícia Civil que os organizadores se tornam íntimos dos participantes, perguntam sobre questões familiares e relacionamentos amorosos.

__ "Eles pegam nos pontos fracos dos participantes. Dizem que a família não os ama e que os amigos não gostam deles. Depois de um tempo, começam a incutir a ideia de que ninguém gosta do adolescente de verdade e, por isso, seria melhor ele acabar com o sofrimento e se matar, porque todo mundo morre no final. Aconselham o adolescente a 'adiantar o processo'", relata Leles.

Abaixo alguns trechos de bate papos reproduzidos pelo site da BBC em português 



https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/8031/production/_101271823_suicidio3.jpg



https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/172C5/production/_101271949_suicidio2.jpg



https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/3E2D/production/_101271951_print10.jpg



É impressionante o número de entradas nos vídeos de desafio na Internet, invariavelmente passam das centenas de milhares, quando não milhões, onde perfeitos idiotas, espertalhões e toda sorte de canalhas aparecem fazendo coisas perigosíssimas ou convidando os jovens a se machucarem, inclusive gravemente, para se tornar uma celebridade ou simplesmente dar fim à sua vida.