A
TRAGÉDIA DE ERROS OU A TEMPESTADE... PERFEITA
Prof
Eduardo Simões
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No final dos anos 1800,
o conhecido Visconde de Taunay encontrou-se, em um bonde no Rio de Janeiro, com
o republicano, já desiludido, Benjamin Constant. Conversa vai conversa vem,
Constant se despede de Taunay, justificando o seu afastamento da política, ele
que fora muito atuante e até ministro de Deodoro da Fonseca. “Foi por causa do
excesso de pratiotismo, diz Constant” “O senhor que dizer patriotismo?!” “Não,
é pratiotismo mesmo, confirma Constant, pois cada um só pensa no próprio prato”
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O grande Shakespeare fez tipo de texto teatral, que na linguagem do teatro
medieval chamava-se “farsa”, conhecida como a Comédia de erros, escrita e 1591, cujo título, por sinal, foi usado
de forma muito incorreta pelo economista Samuel Pessôa, para descrever as
causas da greve dos caminhoneiros, uma vez que os efeitos histriônicos do
enredo shakesperiano são frutos da ignorância dos personagens sobre o que
acontece em sua volta, de tal sorte que se pode dizer que são plenamente
desculpáveis dos “erros” que cometem. Tenho dúvidas sobre se o que acontece
atualmente no Brasil foram inconscientes ou de alguma forma fruto de
ingenuidade e boa-fé, sem falar que seus efeitos na população não têm nada de engraçados,
a ponto de poder ser chamada de “comédia”, embora sintamos o cheiro sufocante
de “farsa”, no sentido não dramatúrgico do termo...
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Em homenagem ao mestre inglês, coloquei o nome de outra de suas obras no
título: A tempestade.
Da plateia
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Com é difícil para nós professores, em sala de aula, conseguirmos mobilizar
turmas, ainda que pequenas, para um trabalho de grupo, fazer um acordo
coletivo, fruto do consenso ou da aceitação de uma minoria em se submeter à
decisão da maioria, até ficar provado de que esta estava errada, quando for o
caso. Se o menino, ou a menina, suspeita que o seu conforto pessoal será de
alguma forma perturbado por uma decisão de seus colegas, ainda que esta, no
final, redunde em vantagens para todos, ele se alevanta, e, ameaçando levar o
caso aos pais e às autoridades educacionais, contra tudo e contra todos fazer
cessar um trabalho que poderia ser um grande avanço – na EE Gabriel Prestes,
tentei fazer um trabalho de dinâmica de grupo, o auge da tecnologia
educacional, numa turma do 2º ano do Ensino Médio, quando uma garota, de
dezesseis/dezessete anos, começou a chorar porque não queria se sentar junto de
um tal colega, preferindo levar nota zero nas atividades de grupo, até a mãe
vir à escola pedir pela sua bebezinha. Na EE Costa Braga, um aluno, quando
soube que iria ficar no mesmo grupo que certa uma garota, desancou em tais
ofensas contra ela e contra mim, que dei por encerrada a proposta.
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A capacidade de trabalhar em grupos autônomos ou de rejeitá-la de forma tão
agressiva não é genética, mas aprendida, é hábito criado no ambiente doméstico,
e se refletem nas atitudes das crianças entre seus pares, e pelo que temos
observado, a filosofia de boa parte dos brasileiros médios é: “se “EU” estou
bem, o resto não me interessa. Muitos brasileiros, nessas últimas décadas,
cuidaram de levar “vantagem em tudo”, ainda que isso acarretasse uma
desvantagem injusta para o seu vizinho, e agora que a nossa sociedade ficou a
cara dessa filosofia, acorrem aos quartéis pedindo golpe militar. “Bebezões”.
Dos atores
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Incompetentes, desonestos, irresponsáveis, etc. etc., com certeza de todos os
adjetivos negativos que existem, ou um dia existirão, vários, senão todos,
podem ser aplicados a um grande número de políticos que ora se arrogam nossos
representantes, graças a nosso votos, à maneira irresponsável como os
brasileiros elegeram seus representantes – conheci um professor que disse “já
que a política está mesmo uma p... eu votei logo no... (palhaço), para a p...
ficar completa”.
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Além desses que foram eleito sem a menor seriedade ou compromisso, que só serve
para engrossar as fileiras do fisiologismo sem peias do chamado “Centrão”,
temos a eterna esquerda acéfala, que, a modelo das seitas religiosas fanáticas,
tenta anular “leis pétreas”, milenarmente consagradas, que vieram da observação
da natureza e da evolução do senso comum, adquirindo com todos os direitos o status
de “científicas”, que, por razões históricas, foram descobertas por pensadores “burgueses”,
dentro de uma ordem burguesa. Esses tais, já exorcizados dos países mais
desenvolvidos, onde formam minorias inexpressivas, mas onipresentes na
realidade latino-americana, acham que o fato de essas leis terem sido gestada
numa sociedade burguesa estão, por isso mesmo, ideologicamente “contaminadas”,
e podem ser a qualquer momento anuladas ou ignoradas; falo aqui dos governos do
PT e de seus aliados: a direita corrupta, oportunista, representada pela geleia
geral do Centrão, em especial o atual MDB de Michel Temer, que interviram
desastradamente na economia, gerando as razões econômicas do caos atual.
Do enredo
1º
Ato – em outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas cria a Petrobras, como
uma estatal responsável pelo monopólio da exploração, refino e transporte de
petróleo e derivados. Nos próximos 65 anos a manutenção da estatal será o único
objetivo nacional digno de nota e de todos os sacrifícios
2º
Ato – é estabelecido na Constituição de 1988, pela esquerda, com o apoio do
PMDB e PSDB, o princípio antiliberal da “unicidade sindical” – cada categoria
profissional ou atividade econômica seria representada exclusivamente por um
único sindicato. Os sindicatos se tornam escoadouros do dinheiro público, grosseiramente
aparelhados por grandes empresas, no setor patronal, e por grupos fechados à esquerda,
entre o operariado; pequenas empresas e empreendedores individuais ficam sem
nenhuma cobertura. É a morte do capitalismo moderno. Nossos “representantes”
constituintes também se garantiram juridicamente seus crimes presentes e
futuros, instituindo o foro privilegiado.
3º
Ato – obcecado pela miragem da moeda forte, Fernando Henrique Cardoso
sobrevaloriza o real e provoca uma crise cambial, com reflexos na economia;
para compensar as perdas causadas por sua irresponsabilidade, FHC recorre ao “baú
da viúva”, seu governo aumenta barbaramente a tributação: cria novos tributos (a
CIDE sobre os combustíveis), amplia a base de cálculo de outros, aumenta as
alíquotas – em 1994 os tributos correspondiam a 29,45% do PIB, em 2003
corresponderá a 35,53%. Com a farra da tributação, o peso dos tributos no preço
final da gasolina corresponderá a 45%, englobando tanto os tributos federais
como estaduais.
4º
Ato – Lula assume a presidência em 2003, e faz um excelente primeiro mandato,
graças à política liberal de seu Ministro Palocci e à sua sensibilidade sobre
os problemas sociais. A economia brasileira dispara, e logo ele se vê cercado
pela eterna tentação da “esquerda”: ignorar a lei da oferta e da procura. A
partir de 2009 o governo Lula dá um aporte financeiro gigantesco ao programa
Procaminhoneiro do BNDES, injetando bilhões para empréstimo na aquisição de
novos caminhões, enquanto alongava o prazo de pagamento (até 120 meses!).
Milhares de autônomos e pequenas empresas de transportes acorreram à “galinha
dos ovos de ouro”, e em breve as estradas estavam recheadas com dezenas de milhares de novos
caminhões.
5º
Ato - Amaldiçoe o mercado; mas não se esqueça de se submeter a ele. Com o
aumento explosivo da oferta de transportadoras e autônomos o preço do frete
começa a cair. Temendo não ter dinheiro para pagar a prestação no final do mês,
os caminhoneiros vão à luta com tudo. Muitos se drogam para poder trabalhar
mais tempo e ganhar mais; os acidentes nas estradas se multiplicam, e neles
muitos perdem tudo o que têm, e até a vida, junto com a de muitos inocentes.
6º
Ato - Começa o dramático governo Dilma Rousseff, em 2011, dando uma guinada na
direção do populismo irresponsável ou da esquerda falida, sai dos trilhos, já
muito contorcidos, deixados por seu antecessor e inaugura a chamada Nova Matriz
Econômica, com intervenção cerrada do governo na formação dos preços das
estatais, usando do Tesouro Nacional para financiar rocambolescos programas
sociais; uma das empresas mais lesadas com essa nova política foi a Petrobras,
que passou a vender combustível abaixo do custo de produção. Enquanto a
presidenta fazia essas loucuras, a população e até grandes empresários,
fechando os ouvidos para os avisos dos especialistas como Alexandre Schwartsman,
Mansueto Almeida, etc., dava à senhora Rousseff índices de popularidade nunca
antes alcançado por um presidente da república. Era o Titanic afundando e os
passageiros fazendo a maior festa!
7º
Ato – Dilma sofre impeachment, em 2016, e aparece aos olhos de todos uma
realidade inimaginável: em virtude da politicagem rasteira e do saque
generalizado feito pela farândola no poder, a Petrobras encontra-se à beira do
colapso. O presidente legal, ex-sócio da patifaria ubíqua, nomeia Pedro
Parente, com a missão de salvar a qualquer preço a “joia da coroa” da nação
brasileira. Parente é inexorável: os preços dos combustíveis aumentarão
diariamente, de acordo com a oscilação dos preços internacionais. O gasolina e diesel
disparam nas bombas.
8º
Ato – Para salvar o presidente Lula, superencrencado na operação Lava Jato, os
petistas, e quase toda esquerda, se voltam contra o Poder Judiciário,
descaracterizando-o e colocando em dúvida, genericamente, a idoneidade e a
isenção desse Poder, o único que ainda restava incólume na estrutura política
federal e estadual. Os corruptos de direita, também enquadrados na operação,
passam a fazer coro contra juízes específicos e a justiça como um todo. Alguns
magistrados do Supremo cedem a pressão – o cientista político Bolívar Lamounier
os compara a “onze patetas a bater cabeça”. Sem ter em quem confiar, cresce no seio
do povo a ideia de que só uma intervenção militar pode resolver a crise.
9º
Ato – a irresponsabilidade fiscal do governo Dilma, e o seu sonho de uma nação
de funcionários públicos, contaminou vários estados que, após perderem o controle
de suas contas, começaram a parar de pagar despesas básicas e até salários e
aposentadorias, a começar pelo Rio Grande do Sul, berço político de Dilma com
forte presença do PT, até chegar ao caso do Rio de Janeiro, onde a
administração pública mergulhou num caos inimaginável, cujo ex-governador,
Sergio Cabral, muito próximo de Lula e Dilma, é denunciado como o chefe de uma
das mais amplas, eficientes e perversas quadrilhas de roubo ao dinheiro
público. Seguem outros estados como Minas Gerais, notório ninho tucano, e
Espírito Santo. Quase todos os estados brasileiros, nesse momento, estão
tecnicamente quebrados e seriam considerados “falidos” se fossem empresas
privadas, e por isso mesmo, não podem abrir mão de um milésimo de centavo da
receita oriunda dos tributos sobre os combustíveis. Se pudessem tributavam
mais.
10º
Ato – com o aumento explosivo do preço da gasolina, só resta às pequenas
empresas e autônomos a certeza de que realmente não vão poder pagar as
prestações de seus caminhões, perdendo todas as economias de suas vidas e já
vendo suas famílias na miséria; sabendo que não contarão com o apoio dos
grandes sindicatos e associações – esses grupos tendem mais a torcer para o
fechamento das pequenas empresas e redução dos autônomos, para reduzir a
concorrência – se articulam, com possível ajuda de pequenas empresas e
sindicatos minoritários, e começam a fechar as rodovias de forma pulverizada, o
que dificulta, e muito, a possibilidade de um acordo geral com a categoria.
11º
Ato – um grupo de ministros de um governo corrupto e desmoralizado chama os
representantes de grandes sindicatos e associações e faz um acordo pífio, um
deboche, que, evidentemente não surte efeito algum, obrigando o governo a
tentar um novo acordo, agora com um grupo mais representativo e com propostas
mais substanciosas, que ainda não sabemos se vai funcionar, uma vez que deixa
uma dúvida importante no ar: como o governo Federal vai conseguir de entes
estaduais cambaleantes, com as contas em pandarecos, renúncia fiscal de tal
porte? De onde vai sair o dinheiro, até agora um nove bilhões, para pagar o
acordo? Parece-nos que o governo Temer apenas ganha tempo, deixando a bomba do
endividamento para explodir mais adiante, nas mãos de quem vencer as eleições,
que ele já sabe não será nem ele nem um aliado, sem deixar de considerar que
foi mandada uma mensagem para as outras categorias: “se insistir, o governo
cede”
12º
Ato – um governo, covarde e incompetente, ignorando a realidade criada pela próprio
Estado, uma vez que foram governos anteriores que fizeram a coisa chegar a esse
ponto, resolve usar da lei e de órgãos de repressão, para punir possíveis
descumprimentos da lei durante a articulação da greve, justo um governo acusado,
com provas, de estar entulhados de criminosos, denunciados por desviar bilhões
do dinheiro público ou aceitar suborno, uma verdadeira quadrilha de colarinho
branco, protegida pelo manto do foro privilegiado, entre os quais o próprio
presidente, mobiliza-se para punir o povo trabalhador, em luta desesperada pela
sobrevivência, pela concessão de alguns centavos em bombas de gasolina...
__
Até quando?
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Socorro!
Album
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