A
MALDIÇÃO DA REPÚBLICA
Prof
Eduardo Simões
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1889
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É curioso o quanto o Brasil, e a América Latina em geral, só consegue
estabilidade e um bom crescimento durante regimes autoritários. Fora isso reina
a instabilidade política e a romaria de desgraças a ela associada: a violência,
miséria, oportunismo, etc. No nosso caso em particular parece haver uma forte
relação entre essa tendência tão nefasta e o regime republicano.
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Digo isso com pesar, porque sou um republicano desde que me conheço, mas não
hesitaria em sacrificar essa minha convicção se me convencesse que isso seria o
melhor para o país, em função das disposições culturais-psicológicas de nosso
povo, a precisar sempre de referenciais concretos ou imagens paternas fortes
como modelo de ação. A história explica, mas quem sabe História do Brasil nos
dias de hoje? Agradeçam ao modelo educacional vigente.
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Quando destituímos o segundo imperador, o homem que fez o governo mais longo e
estável do Brasil, seguindo em parte as pegadas de um ascendente autoritário e
profícuo: o rei português João VI, em 1889, a liderança republicana teve o bom
senso de preservar a estrutura autoritária, burocrática, e elitista do governo
anterior, ao longo de toda “República Velha” (1889-1930), estabelecendo a fase
republicana mais estável desses 129 anos de república, em que pese muitos
conflitos sociais graves, revoltas e motins, que não permitem equipara-lo
totalmente ao 2º Reinado.
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Quando Getúlio assume o poder, em 1930, ele busca um contato direto com o povo,
eliminando os intermediários, a burocracia, mas mantendo o autoritarismo e o
pulso forte, que fizera a fama do 2º presidente: Floriano Peixoto, idolatrado,
por isso, pelas massas cariocas. Mas a eliminação renitente da burocracia, e a
incapacidade de reestruturação do varguismo, gerou uma fragilidade estrutural
no sistema que levará inevitavelmente à crise de 1946, e ao modelo democrático
importado da República Populista, com burocracia, mas sem autoridade, em
virtude do horizontalismo alienígena made in USA, até o dramática crise de
1964, onde desponta a mais feroz de todos os regimes, o Militar, que recuperou
a autoridade e o elitismo, mas transformou a burocracia numa piada, favorecendo
à corrupção. Com a volta da democracia, via Nova República, nos vemos às voltas
com uma burocracia escangalhada, um horizontalismo confuso, presente nas
eleições diretas à presidente, e uma autoridade difusa, mais próxima do partido
e das lideranças sindicais que do governante, uma jaboticaba brasileira.
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um sinal da estabilidade de uma república é a passagem do símbolo de poder, no
caso a faixa presidencial, de um governante democraticamente eleito para outro,
eleito da mesma forma. Vejamos como isso se deu na república brasileira, a
partir de 1926:
1926
– Washington Luiz recebe a faixa de seu antecessor, mas não passa ao seu
sucessor porque é deposto por Vargas...
1930
– Vargas não recebe a faixa do antecessor, deposto, e não passa ao seu sucessor
por ser deposto em 1946.
1946
– Dutra não recebe a faixa do antecessor, deposto, mas a passa ao sucessor:
Getulio Vargas
1954
– Café Filho assume, uma vez que Getúlio se suicida, nem a passa ao seguinte,
por ser deposto em um ano em que o Brasil teve três presidentes.
1956
– Juscelino não recebe a faixa do antecessor, mas a transmite ao sucessor:
Janio Quadros.
1961
– Janio renuncia pouco tempo após assumir, e não passa a faixa ao sucessor
1961
– João Goulart assume, por ser vice, e é deposto em 1964,
1964
– o Gal Castelo Branco assume, sem receber a faixa do antecessor, mas a
transmite ao sucessor.
1967
– o Gal Costa e Silva recebe a faixa do antecessor, mas morre no meio do
mandato, em circunstâncias misteriosas.
1969
– Assume o poder uma junta militar espúria e ilegal, de acordo com a
Constituição de 67, feita pelos militares!
1970
– Assume o Gal Medici, que não recebe a faixa do antecessor, mas passa ao
sucessor.
1974
– Assume o Gal Geisel, que recebe a faixa e a transmite ao sucessor
1979
– Assume o Gal Figueiredo, que recebe a faixa do antecessor, mas se retira de
Brasilia uma hora antes da posse de seu sucessor, e não lhe transmite a faixa.
1985
– Assume Tancredo Neves, que não recebe a faixa do antecessor nem a transmite.
1985
– José Sarney assume, por ser vice, com a morte de Tancredo.
1990
– Collor de Mello assume, não recebe a faixa do antecessor, morto, e ainda
sofre impedimento pelo Congresso no meio do mandato.
1992
– Itamar Franco assume, em receber a faixa do antecessor, mas a transmite ao
sucessor.
1995
– Assume FHC, que não recebe a faixa do antecessor, impedido, e a transmite ao
sucessor
2003
– Assume Lula, que recebe a faixa do sucessor e a transmite à sucessora.
2011
– Assume Dilma Rousseff, que recebe a faixa do antecessor, mas sofre
impedimento pelo Congresso.
2016
– Michel Temer assume, enquanto vice.
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Tomando como base o ano de 1930, temos então 88 anos de crise política quase
contínua, e pela primeira vez percebemos que essas crises estão começando a
afetar seriamente a economia, o que não acontecia no passado; ou seja, estão
ficando mais graves. É possível um regime ser minimamente viável após gerar um
ciclo de crises políticas de 88 anos? Não estará na hora de pensar seriamente
sobre isso?
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O momento presente nos dá esperanças em prol da República Brasileira?
Infelizmente não: a atual Constituição, a sétima da República (!), com apenas
30 anos, está destroçada por mais de 100 emendas, além de 147 projetos de
emendas esperando a sua vez no Congresso! Não é possível, acabou-se, acabou-se!
Que dizer da disposição do povo nas ruas? À esquerda, grupos fornidos ajuntam-se
para tornar um líder corrupto e populista inalcançável pela lei, sem falar da
atuação agressiva na greve dos caminhoneiros que quase colapsa todo país,
enquanto à direita grupos fornidos fazem apelos melodramáticos para que os
militares deem um novo golpe na democracia cambaleante, caso único no mundo
atual (!); à margem, grupos de traficantes e milicianos começam a construir
enclaves territoriais dentro das grandes cidades, com o amplo apoio de setores
a população mais pobre e até mediana; embriões de futuros países?
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Creio que ao Brasil restam duas alternativas, na verdade só uma, a volta da
monarquia, e a outra seria a divisão em vários países diferentes de língua
portuguesa; mas aí já é outra história.
Álbum da interminável crise
republicana
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