terça-feira, 1 de maio de 2018


CARTA A KIM KATAGUIRI
(ampliada em 09/05/18)

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Sr Kim Kataguiri, saudações.

Sou o professor Eduardo Coelho Simões, da rede pública estadual paulista, em Guaratinguetá, usando do facebook de minha esposa, que conhece um pouco da luta do MBL, e embora me considere de um liberal assumido, como vocês, devo dizer que os senhores estão muito errados acerca do projeto Escola Sem Partido, pelas seguintes razões:
É ANTILIBERAL COM OS PROFESSORES – uma vez que cassa para estes, ainda que parcialmente, um direito político que nasceu do liberalismo, no mundo ocidental, e é a essência do significado do nome “liberal”, que quer dizer “liberdade”, em especial a liberdade de opinião.
É ANTILIBERAL COM OS PAIS – pois desconhece que a atitude de muitos alunos nas escolas, se comportando como esquerdista, é aprendida na família, junto a seus pais, que professam essa crença político-ideológica, e nós podemos até discordar deles, mas não podemos negar-lhes o direito, conforme a mais legítima e límpida teoria liberal, para não falar da mensagem cristã, de ensinarem seus filhos a sua crença política.
MASCARA O MAIS GRAVE PROBLEMA DA INFÂNCIA BRASILEIRA: O ABANDONO - quem, entre os mais velhos, esqueceu que nos anos 1980 éramos o campeão mundial de crianças abandonadas? Será que esse abandono acabou pelo fato de a maioria das crianças viverem hoje sob um abrigo, seja sob a guarda de pais que precisam ser ameaçados para irem à escola pegar as notas de seus filhos, seja nos abrigos precários onde as mas pobres são alojadas? Se crianças de famílias de "direita" se sentem atraídas por professores doutrinadores, emocionalmente imaturos, poder ser porque lhes falta diálogo e atenção em casa, por isso, ao invés de calar os professores esses pais deveriam era estimular mais o diálogo dentro das famílias, em especial os dos senhores pais, os homens, e seus filhos. Senhores, não é vergonhoso participar e até curtir a formação dos próprios filhos.
DESVIA A ATENÇÃO DA SOCIEDADE DAQUELES QUE SÃO OS MAIORES INIMIGOS DAS CRIANÇAS - é relativamente fácil criar constrangimentos aos professores, embora eu não creia que isso vá dar certo, pelo contrário,  por meio de uma lei, e apontá-los como o grande vilão dos descaminhos das crianças de qualquer classe social, mas enquanto a família ESP se esquece que, uma vez encurralados os professores, as crianças que ainda se sentirem sem diálogo adulto dentro de casa irão procurá-lo em outro lugar, fora da escola, e aí fatalmente encontrar-se-ão com traficantes de drogas, rufiões, etc. O professor doutrinador, que já é um desastre, pode ser o menor dos males na vida de uma criança abandonada.   
DIVIDE PERIGOSAMENTE E IRREMEDIAVELMENTE O CORPO ESCOLAR – alunos e professores se dividirão e se atacarão reciprocamente em função de suas simpatias e antipatias político-partidárias, acirradas pelo conteúdo da lei. A quem interessa tão perigosa desunião? Quem vê o nosso instante político e conhece a Bíblia sabe perfeitamente a resposta.
DIVIDE PERIGOSA E IRREMEDIAVELMENTE A COMUNIDADE ESCOLAR – todos procurarão se situar num campo que lhe corresponda de sorte que uns ficarão à “direita”, enquanto outros se colocarão à “esquerda”. Assim, se um grupo de pais, supostamente de direita, começar a pressionar professores supostamente de “esquerda”, os pais de “esquerda” se mobilizarão para constranger a professores supostamente de “direita”, a assim sucessivamente
FACILITA A DOUTRINAÇÃO NOS CURSOS SUPERIORES – ao defender que a escola se torne estritamente conteudista o ESP facilita o trabalho de doutrinação que por ventura haja nos cursos de formação, nas licenciaturas das universidades, quando esse aluno, dispondo apenas de retalhos de conteúdos “técnicos” terá que lidar com a formulação de “teorias”, e a aplicação de seu ramo de conhecimento ou tecnologia num meio social. Este aluno será presa fácil de um professor doutrinador em uma universidade... A melhor alternativa, portanto, é fazer justo o contrário do que propõe a ESP, estimulando os debates nas escolas, cuidando para que estes sejam os mais abrangentes e respeitosos possíveis, dentro de uma pedagogia voltada para a interação e a integração bem ajustada, mas crítica, do indivíduo à sociedade, dando-lhe um firme substrato lógico-conceitual e uma afetividade madura, que lhe permita fazer frente a professores doutrinadores em um curso superior. Pressionados por esse alunos esses mestres doutrinadores terão que mudar...

ENCURRALA TODO O SISTEMA – é bem provável que um professor doutrinador teve a sua formação numa faculdade doutrinadora. Ora, de nada adianta coibir a doutrinação os professores nas escolas se esta não for coibida nas universidades; logos estaremos falando de um projeto análogo para os cursos de licenciatura na Academia. Entretanto, de nada adianta coibir a doutrinação nas universidades se não a coibirmos em sua origem: os partidos políticos de ideologia contrária à nossa; logo esses partidos serão obrigados a cerrar as portas e nós voltaremos ao período mais negro da ditadura recente, tão decantada por alguns defensores da ESP.  
ACIRRA UMA DICOTOMIA ULTRAPASSADA E PERIGOSA – justamente as famosas “esquerda” e “direita”, obrigando a pais, alunos e professores a se acochambrarem num desses dois “espectros” políticos artificiais, com os quais muitos não se veem identificados, e se criará, assim, uma situação de compromissos artificiais: “na falta de mais opções, como existem no mundo real, é melhor ficar neste ou naquele grupo”. Tudo se tornará artificial dentro da escola, como artificial, extemporâneo e danoso é esse projeto. A única coisa real serão os conflitos graves nascidos da aplicação daquele.  
INCENTIVA AINDA MAIS A JÁ COMUM AGRESSÃO VERBAL OU FÍSICA AOS PROFESSORES – dando aos pais e alunos agressores mais um motivo para “partirem para cima”, caso venham a supor que o professor está fazendo a tão odiada como mal conhecida prática de “doutrinação”, visto que é um termo nascido e usado no seio das classes médias; portanto muitos nem entendem direito o que significa, poderão julgar que o termo se refere a tudo aquilo que alguém não gosta de ouvir... Ai de nós professores! Antes; ai do Brasil...!
É ANTIPEDAGÓGICO – uma vez que cria uma dificuldade absolutamente desnecessária para o nosso já deteriorado sistema de ensino, do qual os professores doutrinadores são um sintoma, uma vez que acrescenta às já incontáveis dificuldades da prática docente mais uma: a perda parcial de um direito, pelo simples exercício da profissão. Se o objetivo é destruir de vez a autonomia técnica dos professores, e por no seu lugar autômatos falantes, os senhores estão no caminho certo... para afundar esse país.
É ANTIEDUCACIONAL – uma coisa é alguém se privar de emitir uma opinião por respeito a imaturidade do interlocutor, outra bem diferente é ser forçado a isso por via de lei, pois certamente todos os alunos saberão da lei, se aprovada, e terão mais uma razão para não quererem ser professores no futuro nem respeitar os seus professores atuais, definidos previamente, por esse projeto, como potenciais “corruptores” de menores.
DESEDUCA AOS PAIS E FRAGILIZA A FAMÍLIA – muitos jovens que buscam os pais para entender coisas que ouviram na escola estão, por ventura, querendo criar pontes com genitores ocupados demais em ganhar dinheiro, mas sem tempo para dialogar com os filhos. O ESP tenta artificialmente, pela força bruta da lei, que o problema sequer exista, sem resolver a questão básica da falta de tempo, que alguns pais alegam, para não participar da educação dos filhos. Não será melhor os pais discutirem política e outros problemas do mundo moderno às claras com os filhos, ao invés de simplesmente tentar obrigar os professores a se calarem quanto aos assuntos mais delicados, ainda que existam, só porque a família não quer falar deles? É melhor deixar esses jovens na ignorância, com a curiosidade aguçada, para irem buscar resposta com os corruptos do mundo, para transtorno futuro da família?
IGNORA O PAPEL DA ESCOLA – pois ela é uma instância social que prepara a criança para o seu ingresso na grande sociedade, coisa para o qual a família nem sempre está bem preparada, assim sendo é um absurdo considerá-la apenas como um apêndice da família, imaginando que só exista um tipo de família e uma única ideologia norteando as famílias. Como a escola poderá preparar o educando para a sociedade diversificada, que já existe lá fora, se justo os temas que fazem a sociedade ser diversa forem previamente proibidos? A família pode até ter o direito de alienar o seu filho, mas pode-se querer transformar isso em lei para todas as famílias, bloqueando na escola o acesso a uma informação sadia sobre o assunto?  Os professores são responsáveis pelas escolhas heterodoxas que outras pessoas fazem fora da escola?
IGNORA QUE OS PROFESSORES DOUTRINADORES SÃO UMA MINORIA – muito barulhenta e idiota, mas uma minoria, por que então punir a todos, sem sequer ter feito previamente uma pesquisa sobre o alcance dessa doutrinação? Será o ESP um movimento motivado por fakenews?
IGNORA A NATUREZA AFETIVA DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM – que o senhor certa vez definiu como apenas “ensinar conteúdos”. Errado; quem ensina só conteúdo é o Google, e nesse sentido aqui desponta uma das maiores críticas ao atual sistema de ensino escolar brasileiro: é estritamente conteudista, ignorando os aspectos afetivos dos atos humanos, inclusive na aquisição de novos conhecimentos e habilidades, como acontecia a 50 ou 60 anos atrás, em uma outra realidade histórica. Quem está dentro do sistema, como eu e muitos colegas que ainda não desanimaram diante de tanto descalabro, sabe que o grande problema em sala de aula hoje, além da superlotação, é o de como motivar os alunos a querer aprender: eles são normais, há recursos, mas a gente não consegue fazer eles se interessarem pelo conteúdo. É aí que está o nó, que conteúdo nenhum consegue desatar. Uma escola que só ensina conteúdo só forma maus profissionais, gente que só sabe cumprir ordens e as cumprem mal.
PROVOCA UMA GROTESCA INVERSÃO DE VALORES – não será mais o ancião, o mestre, a maturidade, o sábio, que orientará o discípulo e velará pelo seu progresso, mas este, ainda que imaturo, insensato, doidivanas, uma pobre criança eivada de preconceitos aprendidos, às vezes, em famílias desajustadas, quem fiscalizará o mestre e o denunciará às autoridades por ter emitido uma opinião, tomada por ele como “doutrinação”. É a desmoralização final da função do professor. Aqueles a quem a Bíblia recomenda a correção, a até a vara, serão os maiores responsáveis pela denúncia e condenação de seus mestres. É o “elogio à loucura”, made in Brasil
BASEIA-SE EM CRITÉRIOS ABSTRATOS E SUBJETIVOS – onde começa e acaba a doutrinação e começa uma opinião válida, uma preleção necessária em virtude de um acontecimento social ou escolar, como fazer uma apresentação absolutamente neutra de conteúdos como de história, filosofia, sociologia, que não podem ser pesados, medidos, de forma a que professor possa dizer, numa acusação: “eu provo que lecionei três quilos, ou três metros, de teoria liberal e três quilos, ou três metros, de teoria marxista”. É possível reconstituir, na tela de um celular todo contexto que deu início à discussão, e se houver edição? A única testemunha, enfim, será o aluno, com a sua imaturidade biopsicológica natural e a carga de preconceitos, senso comum e crença social trazidos de casa. Pare-se a aula, senão a escola toda, e vamos discutir, na delegacia ou num tribunal, se houve doutrinação ou não! ONDE ISSO VAI PARAR? Será que daqui a algum tempo falar de “evolução” será considerado doutrinação? Repetiremos, cem anos depois, o “julgamento do macaco”, do professor John Scopes!
INCENTIVA O DESCUMPRIMENTO DE LEI PELAS CRIANÇAS, CORROMPENDO-AS – pois em vários estados é proibido o uso de celulares em sala de aula por razões não só pedagógicas como de saúde pública – graves sintomas de dependência tecnológica, que já assusta pais responsáveis pelo mundo afora – supondo que a base para o início das ações penais seja pelo menos alguma imagem e áudio de celular, até pouco tempo usado ilegalmente para flagrar e divulgar professores em situações vexaminosas, indiscretas, para curtir nas redes sociais. Agora eles serão para pegar o professor “na palavra”. Legalmente, desta vez?
NÃO ENTENDE NADA SOBRE PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E CRIANÇAS – na verdade usa uma abordagem arcaica, no sentido pejorativo, para justificar sua necessidade. Não é porque um monte de criança, insuflada por um energúmeno qualquer, começa a gritar “fora Temer”, “fora Dilma”, que houve, naquela escola, uma reversão de crença nas crianças. Se o sr. Arthur du Val, muito hábil nisso, se infiltrasse entre essas crianças e perguntasse porque elas haviam gritado aquilo, a maioria esmagadora responderia “porque todo mundo está gritando” ou “o professor mandou” etc., como se tudo não passasse de uma “farra”, uma grande festa, perfeitamente compreensível num sistema escolar sufocante e bitolador. Aqueles que se mostrassem convictos decerto diriam: “meus pais me disseram que ele (ou ela) não presta...”
BASEIA-SE EM PREMISSAS DE APRENDIZAGEM FALSAS – se nós professores tivéssemos o poder de, com nossas palavras, fazer mudar o comportamento das crianças, a escola seria um paraíso e a história da humanidade já teria acabado a muito tempo – viveríamos numa situação de equilíbrio social permanente, pacífico e próspero. Se nós tivéssemos o poder, que o ESP diz que nós temos com as crianças, a primeira coisa que com certeza faríamos seria convencê-las a não mais nos mandarem tomar seja lá o que for naquele local tão inadequado e acreditarem que nossas mães são ou foram mulheres honestas. A premissa fundamental, o suposto controle do discurso do professor sobre os alunos, ainda que uma razoável minoria, é totalmente falso, e as pesquisas do grande pesquisador suíço Jean Piaget, mostram isso sobejamente.   
IGNORA PROCESSOS E FATOS SOCIAIS BÁSICOS, GRITANTES – ao afirmarem que a educação das crianças e de exclusividade única das famílias, ignora que as famílias humanas só conseguem existir e se manter mantém em um meio social estável, do qual, agora, o ESP quer isolar as crianças. É a civilização, entendida como comunidade estável, regida por leis, costumes, tradições, etc., que possibilitam a existência das famílias, se não fosse assim seríamos como os animais selvagens, incapazes de constituir família. A família é portanto, profundamente devedora do processo civilizatório, ao mesmo tempo em que o viabiliza, com a ajuda daquela instituição que todos dizem odiar, mas que sem a qual não haveria civilização: o Estado. Sr Kataguiri, se não fosse a obrigatoriedade de sigilo nos eventos criminais ou disciplinares que envolvem crianças, eu poderia lhe narrar com nomes e circunstâncias inúmeras histórias de horror narradas por meus alunos, nos seios de suas famílias, e a história de professores e professoras que buscam de alguma forma libertá-las de uma opressão tão desestabilizante quanto esta. Aliás, se o senhor lesse com atenção os jornais da grande imprensa decerto saberia que as estatísticas apontam para o ambiente familiar como a origem da maioria das agressões sofridas pelas crianças no Brasil, assim como da política de perda relativamente fácil do pátrio poder, levada a cabo nos Estados Unidos, o país que é tradicionalmente a lanterna do liberalismo. Eles certamente fazem isso porque sabem que toda vez que uma família abandona uma criança é o Estado quem deve acolher, que quando uma criança adoece sem recursos, às vezes por imprevidência dos pais, é o Estado quem deve tratá-la, que quando uma criança é abusada é o Estado quem deve salvá-la, punir os agressores e providenciar tratamento, se a família não tem recursos. Não há uma disputa entre Estado e família, isso é uma falsa dicotomia pregada pela ESP, mas antes deve haver uma complementariedade de ações acadêmicas, educativas, preventivas, sob todos os aspectos, em defesa da criança e do jovem, pois a sociedade, tanto quanto a família, é engrandecida quando uma criança se torna um adulto bem-sucedido, da mesma forma que ela sofre, assim como a família, e às vezes até mais do que esta – como nos assassinatos, nos acidentes de trânsito, na imperícia profissional, etc. – toda vez que um menino ou menina fracassa na sua maturação.  
DESCONSIDERA ACINTOSAMENTE AQUELAS QUE MAIS CUIDAM DA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NAS NOSSAS FAMÍLIAS: AS MÃES – os homens são a maioria esmagadora e mais ativa daqueles que estão levando adiante, pelo menos publicamente, o projeto da ESP, mas quem for a uma escola pública, nos momentos de reunião de pais, como a entrega de nota e coisas assim, verá que a maioria esmagadora dos presentes são mulheres, mães e parentes. Por que elas não agitam tão ferozmente a bandeira da ESP e não se fazem notar nesse movimento? É porque elas sabem o quão difícil é educar uma criança e secretamente devem sentir muita pena dos professores por terem que enfrentar o que nós enfrentamos, com dezenas de crianças e jovens numa mesma turma. As mães sabem, ainda que intuitivamente, que no momento em que o professor for completamente desmoralizado pelo projeto do ESP, e passarem a ser acusados levianamente de “doutrinação”, o futuro de seus filhos estará definitivamente perdido. As mães são as nossas maiores aliadas nessa luta!
ENTRETANTO... é preciso reconhecer que alguns professores fazem de sua aula palco para uma grotesca doutrinação, um circo para a exibição de sua imaturidade emocional, e sua incapacidade estrutural para ser professor, como aquele... como não dizer... estrupício, que pôs para fora de aula um aluno que ousou assumir a defesa de um candidato. Então que fazer?
1º - É preciso reconhecer nisso um sintoma da falência do atual modelo de ensino, em todas as áreas possíveis – a falência acadêmica já está amplamente demonstrada nos resultados de exames internos e externos.
2º - Episódios como o citado acima mostram o quão baixa é a qualidade do professorado brasileiro provocada tanto pelos baixos salários como pelas péssimas condições de trabalho, para não falar do desprestígio social. É preciso tornar a carreira de professor mais atraente para os jovens mais capazes de todas as classes sociais, promover a categoria, e não pisoteá-la ainda mais, como quer a ESP, e quando isso acontecer essas “tranqueiras” vão sumir das escolas. Os pais que amam seus filhos concordam comigo.
3º - Uma mudança eficaz na escola demanda uma mudança em larga escala em padrões e conceitos vigentes na sociedade, inclusive no seio das famílias, com a descoberta e o resgate prévio dos mais autênticos valores que alicerçam a nossa sociedade, atualmente reduzidos a pó pela busca desenfreada de riqueza, que se assenhorou de todos, inclusive de muitos que sempre fizeram combate em favor dos pobres, contra a corrupção e à concentração de renda. É preciso reconhecer: estamos TODOS muito contaminados.
4º - É preciso repensar o papel da escola como elemento não só informador (conteúdos), mas formador (valores nacionais, republicanos e democráticos), de forma que a escola seja antes de tudo um centro estimulador da socialização e maturidade emocional, aprendida no contato com o seu grupo geracional, além daquela formação prévia que o educando trará de sua família – quem melhor avançou nisso, na minha opinião, foi o modelo finlandês.
5º - Precisamos retornar ao bom caminho das escolas experimentais antigas e recuperar o apreço pela psicologia do desenvolvimento da criança, pela observação científica e meticulosa do comportamento e das necessidades de toda ordem das crianças e dos jovens, para podermos traçar objetivos e métodos de ensino compatíveis com a grau de maturidade de jovens e crianças.
6º - Precisamos envolver todos aqueles que de uma forma ou de outra trabalham no circuito escolar, para que possamos acompanhar e turbinar, desde a formação do professor na universidade até a sua aposentadoria, o seu trabalho com as crianças, de tal sorte que nunca haja empobrecimento da informação ou formação prestadas em sala de aula, nem perda de tempo precioso, por meio de doutrinações fajutas.
7º - Precisamos nos conscientizar de um fato atual grave e corriqueiro: as crianças do Brasil estão sob ataque! Ataque de todo tipo; como o da pornografia onipresente, a indiferença ou o mimo dos genitores, para não falar dos ataques físicos, muitos dos quais redundam em morte, e dos quais a grande imprensa tem dado grande destaque, principalmente aqueles que são praticados por aqueles que têm a obrigação biológica, moral e legal de manter e proteger a criança.
8º - O desvalor da criança no Brasil é tradicional e histórico, e é a causa primeira e última da desvalorização do professor, que o ESP pretende agravar, com graves perda para as mesmas crianças, como vimos acima, apesar do discurso em contrário. A mensagem do ESP para a educação é uma só: “já que não queremos mudar para valer o que está aí, enfrentar os desafios do presente, vamos voltar ao passado, de forma agravada, por meio de uma lei”; afinal se deu certo em 1800, por que não dará certo em 2018?
9º - Tomadas as medidas acima, afastada a assombração do ESP, estabeleçamos concursos e provas de qualificação severíssimas para os futuros professores de forma a deixarmos ao máximo fora do sistema aqueles que não estejam preparados para exercer essa augusta profissão, que um dia, espero ainda estar vivo para vê-lo, será valorizada nesse país, mesmo porque não há outro jeito de sermos um país respeitável.
Sr Kataguiri, eu sei que os jovens não gostam de ler os clássicos e não sabem o que perdem com esse preconceito, mas se o senhor tomar um dos clássicos do liberalismo político, o francês Voltaire, lerá uma das definições mais espetaculares e definitivas do que é a essência do liberalismo, descrita numa frase lapidar: “Não concordo com uma só palavra do que você diz, mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-la”. Por que vocês, então, querem cassar a palavra dos professores?
A Bíblia recomenda, das mais variadas formas e em diversos trechos, em especial do Primeiro Testamento, a seguinte máxima de sabedoria: “Menino, ouve as palavras de teu mestre”; já o Escola Sem Partido recomenda: “Menino vigia e denuncia o teu mestre”.
A quem seguiremos? 

Saudações


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