terça-feira, 23 de agosto de 2016

O JULGAMENTO DO MACACO (1925) O FRACASSO DA “ESCOLA SEM PARTIDO” AMERICANA

Prof Eduardo Simões

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__ Tudo começou quando um fazendeiro do Tennessee, John Washington Butler, um deputado da Câmara dos Representantes do estado, apresentou um projeto de lei, em janeiro de 1925, que proibia terminantemente a aplicação do conceito de evolução, da teoria de Darwin, ao homem, nas escolas financiadas pelo estado – Butler dirá, posteriormente, que nunca lera nada a respeito da evolução e da teoria evolutiva de Darwin, e que a motivação para a apresentação de seu projeto de lei fora que tinha lido nos jornais, que meninos e meninas, após terem contato com essa teoria nas escolas, estavam dizendo aos pais que a Bíblia era um livro cheio de bobagens. Ele não se lembrou de mencionar o entorno social dessas crianças, que nessa época estava saturado da teoria darwiniana, e de sua contraparte necessária: o movimento da eugenia, que se alastrava como fogo por todos os EUA, aceito entusiasticamente pelos religiosos fundamentalistas (1).
__ O texto da lei, o Butler Act, dizia o seguinte: “Que seja ilegal, a todo e qualquer professor, de todas as universidades, escolas de magistério, e todas as escolas que são financiadas, ao todo ou em parte, por verbas públicas destinadas às escolas do Estado, ensinar qualquer teoria que negue a Criação divina do homem, como a ensinada na Bíblia, para ensinar, ao invés disso, que o homem descende de uma ordem inferior de animais”. Essa lei, aprovada na Câmara Baixa, por 71 x 5, e na Câmara Alta, por 24 x 6, foi sancionada no dia 21 de março de 1925 pelo governador Austin Peay, que na ocasião disse que o faria como um protesto contra o declínio do ensino de religião nas escolas, mas que não esperava que a lei fosse ser aplicada pra valer. Como se diz no Brasil: “não iria ‘pegar’”
__ Essa lei tinha algumas peculiaridades: não proibia o utilização do conceito de evolução no estudo dos outros animais, nem as teorias científicas relativas á duração das Eras Geológicas, quanto a origem da Terra, e definia ao seu descumprimento como um delito, e não um crime, prevendo multa que variaria de 100 a 500 dólares – US $100 em 1925 equivalem a US $1.350, em 2015.
__ Até aquele momento o livro básico para o estudo de biologia nas escolas, e até nos cursos de formação de professores, era a Biologia Cívica: apresentada por meio de problemas, de George William Hunter, publicado pela primeira vez em 1914, que defendia claramente o pensamento evolutivo de Darwin, mas também defendia a eugenia, a proposta mais científica e radical de racismo que existia.   

A grande ‘armação’

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__ Não muito longe dali a cidadezinha de Dayton (acima), no Tennessee (não confundir com a célebre Daytona Beach, das corridas, na Flórida) após uma fulgurante arrancada no final do século XIX, graças a atividade mineradora, experimentava no anos 1920, um acentuado processo de declínio, com o fechamento das empresas e, inclusive, uma forte retração da população – o censo de 1920 apontara para 1.701 moradores, 37% menos que em 1890. A cidade parecia estar à beira da extinção.
__ Preocupados, alguns dos principais representantes da elite local. convocados por George Rappleyea, o representante local de uma grande mineradora, a Cumberland Fero e Carvão, compareceram, no dia 5 de abril de 1925, na Robinson’s Drug Store, uma mercearia e ponto de encontro local. Nessa reunião, além de Rappleyea, estavam o diretor da escola local, Walther White, o advogado Sue Hicks, o proprietário do local, o senhor Robinson, além de outros menos cotados. Discutindo a situação da cidade eles chegaram a conclusão que se talvez lançassem um desafio à nova lei poderiam atrair a atenção de muita gente para Dayton, ajudando-a a sair do marasmo. Essa é a primeira surpresa desse estranho episódio: ele foi artificialmente fabricado, com o intuito claro de testar a lei e atrair publicidade para Dayton. De um jeito ou de outro eles ganhariam, pois se não houvesse condenação o lei ficaria oficialmente desmoralizada, mas se houvesse condenação, o lei, então era para valer, e Dayton, num caso ou noutro, seria a pioneira. O valor da multa não era problema.

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__ Faltava agora encontrar um professor que se dispusesse a incorrer no delito previsto em lei. Foi então que o grupo entrou em contato com John Thomas Scopes (acima), um jovem professor de ciências e matemática, além de treinador do time de futebol americano, com apenas 24 anos, que foi convencido pelo grupo a assumir que teria, um dia, ensinado o capítulo do Biologia cívica que se referia à evolução humana, numa turma de Ensino Médio, embora de fato Scopes jamais tenha admitido que realmente ministrou esse conteúdo. Ele sempre disse que não se lembrava. Scopes foi imediatamente encarcerado, mas numa prisão muito relaxada – Scopes nem era da cidade, pois nascera numa fazendinha perto de Paducah, no Kentucky. Foi também combinada a data do delito: 24 de abril.
__ No dia 7 de maio Scopes foi preso, e no dia 25 indiciado pelo juiz do caso, e a data de julgamento marcada.

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__ Quando a notícia de sua prisão saiu dos limites de Dayton, o país se contorceu violentamente e se dividiu, apaixonadamente, entre defensores da lei e defensores de Scopes. Ao lado da lei e do Estado do Tennessee, apresentou-se um dos políticos mais populares da história dos Estados Unidos, um típico representante do protestantismo fundamentalista nacional: William Jennings Bryan (acima), que em três oportunidades concorrera à presidência do país pelo Partido Democrata (1896, 1900, 1908). Quando soube da aprovação do Butler Act, Bryan fez questão de parabenizar a legislatura do Tennessee: “os pais cristãos do estado [do Tennessee] têm uma dívida de gratidão para com os senhores, por salvar os seus filhos da influência venenosa de uma hipótese não comprovada”. Agora Bryan, que vivia um certo ostracismo, se oferecia para dar suporte à acusação, no julgamento de Scopes, e com ele vieram várias igrejas e organizações bíblicas fundamentalistas. No dia 13 de maio ele se ofereceu à equipe de acusação. Era muito mais do que os “conspiradores” imaginavam.

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__ Mas o outro lado, os defensores do ensino laico, também se mobilizou, com destaque para o envolvimento da ACLU (União para as Liberdades Civis Americanas), uma organização que nasceu da iniciativa de grandes, advogados, intelectuais e ativistas americanos, em geral das grandes cidades da costa leste, em 1920, para substituir a CLB (Birô Nacional das Liberdades Civis), fundado em 1917, e que andava necessitada de algo impactante, para criar uma marca e se projetar para a opinião pública nacional. Foi da ACLU que partiu a iniciativa de contratar Clarence Seward Darrow, um dos advogados mais famosos e respeitados dos Estados Unidos, conhecido por sua atuação em defesa de trabalhadores perseguidos, em especial grevistas e sindicalistas, negros perseguidos por brancos, e por sua luta contra a pena de morte. Um paladino dos direitos dos mais pobres. E... ferrenho agnóstico.
__ Darrow estava muito confiante: ele chegou a Dayton na véspera do julgamento, à noite!

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__ O time da acusação contava, além de Bryan, com Thomas Stewart, o chefe da promotoria e um notório anti-evolucionista, que afirmava ser a teoria evolutiva “prejudicial à nossa moral” e um ataque “á cidadela de nossa religião cristã” – foi ele quem orientou a acusação no sentido de manter os debates, durante o julgamento, no âmbito estrito de saber se houve ou não descumprimento de lei estadual, inviabilizando os argumentos mais fortes da defesa – os irmãos Herbert e Sue Hicks, Wallace Haggard, pai e filho Ben e Gordon MacKenzie e Willian Jennings Bryan Junior, em equipe bem familiar, para impressionar o homem “comum”, em geral dos estratos mais humildes da sociedade. Nesse grupo pode também ser contado o juiz John Tate Raulston (acima, com esposa e filhas), um fundamentalista cristão, que tudo fez para embaraçar a defesa e conseguir a condenação de Scopes, em que pese as escassas evidências, seguindo o roteiro dirigido por Stewart – dizem que ao final, nos anos 1940, ele mudou de opinião e passou a defender a liberdade do ensino evolucionário nas escolas, desde que não fragilizasse os conceitos morais básicos. Percebeu, tarde, que se assombrara a toa.
__ Já a defesa era composta por uma equipe de advogados de renome, chefiados por Darrow, na qual contava alguns muito reputados nos meios jurídicos nas grandes cidades: Dudley Field Mallone (que se tornaria consultor e ator da 20th Century Fox), a ele coube dizer uma das frases mais felizes do julgamento, dirigida a Bryan: “eu nunca aprendi nada com alguém que concordava comigo”; o excêntrico, e por vezes atrapalhado, mas brilhante, John Neal; Arthur Garfield Hays, cofundador da ACLU e defensor de Georgi Dimitrov, num julgamento na Alemanha, em 1933, quando ele foi acusado do incêndio do Reichstag (o parlamento alemão) etc. Um grupo feito para impressionar o homem culto, da classe média urbana.

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__ Outro elemento desse julgamento, fortemente alinhado com a defesa foi a imprensa, principalmente o famoso, nos EUA, professor, jornalista e crítico literário, Henry Louis Mencken, editor do jornal Baltimore Sun, um jornal de Maryland, de grande circulação nacional. Muito polêmico, um nietzschiano convicto, Mencken assumiu a causa de Scopes com paixão, tanto por convicção própria, como por ter percebido o alto valor propagandístico daquele julgamento para o seu jornal, sem nenhum demérito. Foi ele quem cunhou os termos “Julgamento do Macaco” e “o infiel Scopes”, para atrair os leitores, além de ter providenciado a transmissão do julgamento pelo rádio, pela primeira vez na história do país. A abundância de recursos promove a criatividade, e esta mais recursos ainda...
__ Uma frase de Hencken nos permite conhecer bem o seu tipo: “para cada problema complexo sempre há uma resposta simples, clara e... errada”.

O julgamento

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__ Foi tal o alvoroço provocado pela perspectiva do julgamento que, quando ele começou, Scopes já era o personagem secundário; as atenções se voltaram para o embate dos dois gigantes do direito que se defrontariam perante o júri, com posições pessoais perfeitamente antagônicas a respeito do assunto em questão: Clarence Darrow, e o mítico Jennings Bryan – ambos aparecem na foto acima, respectivamente à esquerda e à direita, na sala do júri, ambos sem paletó, por autorização expressa do juiz, uma vez que naquele ano os EUA experimentaram um dos verões mais quentes da sua história, e a sala do tribunal, a courthouse, estava lotada.

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__ A primeira sessão foi no dia 10 de julho de 1925, com a abordagem de Darrow que, após abandonar a tese da ACLU, que focava no cerceamento de liberdade acadêmica, tentou dirigir os debates no sentido de que não havia uma contradição inconciliável entre evolução e criacionismo bíblico. Nesse intento ele buscou e conseguiu o apoio e a presença, financiada pelo Baltimore Sun, de oito renomados especialistas no assunto: entre os quais Fay-Cooper e Jacob Goodale Lipman, vistos acima, entre outros. O juiz, entretanto, não acolheu a tese, dizendo que o que estava em julgamento era o descumprimento de uma lei estadual, e não permitiu aos estudiosos depor, embora tenha admitido a introdução de suas teses, na forma de artigos escritos, para apreciação do júri. Darrow, frustrado, dirigiu uma observação sarcástica ao juiz, como já fizera em outras ocasiões, mas, confrontado, pediu desculpas no dia seguinte, para não incorrer em desrespeito ao tribunal.
__ O presidente do júri, segundo dizem, não estava convencido do mérito da lei ou de sua conveniência, mas acabou agindo, sob orientação do juiz Tate Raulston, assim como todo o júri, no sentido de focar apenas no descumprimento de uma lei já aprovada e condenar Scopes. Darrow, mais adiante dirá que o juiz agiu assim pensando escancaradamente nas próximas eleições, já que ele era de tradicional família republicana, e estava para fazer uma incursão na política.


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__ A seguir Darrow passou a atacar a literalidade das interpretações bíblicas e a própria fama de Bryan de, além de grande orador, ser um “expert” na Bíblia. O ponto alto do julgamento, porém, estava nas mãos de um orador e um frasista espetacular: o advogado de defesa, Dudley Malone. “No seu discurso [acontecido em 16 de julho] Malone agita temores inquisitoriais do passado [muito forte no inconsciente do homem médio americano, que vê no seu país a “pátria da liberdade”], afirmando que a Bíblia deveria ser observada para a salvaguarda da religião e da moralidade e não em contraste com à ciência. Que o duelo de morte de Bryan [contra a evolução] não deveria ser amparada por uma decisão judiciária unilateral, que afastava do banco das testemunhas os mais importantes argumentos da defesa, e por fim disse que não haveria duelo porque “com a verdade não se duela”. O tribunal foi à loucura, quando Malone terminou o seu discurso” (traduzido da Wikipedia em inglês: Scopes Trial). Bryan ficou surpreso, afinal já era “macaco velho”, considerado uma espécie de “príncipe dos oradores americanos”, e estava ali sendo “passado pra trás” por jovens advogados cheios energia, mas inexperientes, defendendo ideias “exóticas”, que lhe causavam tanta apreensão – na foto acima Malone está de pé, de paletó, com os braços cruzados, atrás de Darrow. Scopes aparece sentado, de camisa branca, ao lado de um senhor, também sentado, de óculos.
__ No pé em que estavam as coisas a defesa decidiu agir de uma forma extrema: forçar a condenação de Scopes, para poder apelar à mais alta corte do Tennessee, e nesse sentido alguns alunos de Scopes, três, foram induzidos, até pelo próprio Scopes, e depor contra ele, pois os alunos de fato não se lembravam de o professor ter-lhes, um dia, ensinado evolução. Um deles, indecisamente, confirmou a versão.

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__ No dia 20 de julho aconteceu a grande surpresa do tribunal. Logo no início da sessão, em virtude do grande calor que fazia, o juiz Raulstron ordenou que a salão do júri fosse deslocado para fora do prédio, ficando ao ar livre, quando se pode ver, pela multidão, uma vista da enormidade do impacto desse julgamento. Mas tinha mais! Num momento de grande audácia, Darrow simplesmente convoca a principal figura da acusação, Jennings Bryan para depor!!! Estupefação geral! Darrow, já que não pudera, em sua tese, encaminhar um diálogo construtivo entre ciência e religião, para relativizar a Butler Act, tomara para si a tarefa de desmoralizar o literalismo bíblico, e com ele a Butler Act, por meio do seu mais abalizado defensor. Não fora um passo tresloucado nem um ato de desespero, na noite anterior Darrow recebeu assessoria e treinamento de Charles Francis Potter, teólogo liberal e ministro da Igreja Unitarista, e do renomado professor de geologia Kirtley Fletcher Mather, mas também um cristão batista devoto, e membro de uma família cuja herança religiosa remontava aos puritanos da colonização inglesa na América. Questionado sobre os motivos daquela inquirição Darrow repondeu: “para prevenir que fanáticos e ignorantes não continuem a decidir sobre a educação nos estados Unidos” – na foto acima vemos Darrow inquirindo Bryan.
__ Darrow começou questionando o absurdo da literalidade bíblica, pelo episódio clássico de Adão e Eva. Se Eva fora a única mulher criada por Deus na ocasião, onde teria Caim, após o assassínio de Abel, encontrado uma mulher para esposar e ter e ter filhos? Bryan respondeu com ironia: “vou deixar que os agnósticos busquem por ela!” Como considerar a questão da tentação, se esta foi feita, literalmente, por uma serpente, um animal, que fala e tem um finíssima compreensão da psicologia humana? Darrow invectiva mal humorado às respostas ora evasivas ora simplórias de Bryan: “o senhor ofende cada homem letrado desse país, com a sua religiosidade tola”. Como o clima entre as partes estivesse esquentando muito acima do calor da estação, o juiz bateu o martelo e suspendeu a sessão. Mais tarde pediu que o júri desconsiderasse tudo o que fora dito entre os dois, e ainda fez uma série de restrições ao trabalho da defesa. A parcialidade do juiz começava a clamar nas páginas dos periódicos americanos, e é possível até que tenha sido uma das causas da interrupção precoce de sua carreira política. Essa parcialidade, por sinal, fica completamente exposta quando Darrow, ao completar a sua participação no tribunal do júri, após comentar, com elegância, a atitude predatória do juiz contra a defesa, disse nada mais lhe restava fazer, senão pedir que seu cliente fosse condenado, para que ele pudesse apelar para uma corte de nível superior e mais isenta.
__ No dia 21 de julho o júri, após uma reunião de nove minutos, lê o veredito: culpado. O juiz, após rejeitar um pedido de prisão para Scopes, decreta-lhe uma multa de 100 dólares. Scopes faz uma declaração final: “Meritíssimo, eu creio que fui condenado por desobedecer uma lei injusta. Continuarei no futuro, como fiz no passado, a me opor a essa lei de todas as maneiras possíveis. Qualquer outra atitude seria uma violação do meu ideal de liberdade acadêmica, garantida pela Constituição, que é a de ensinar a verdade, independente de crenças pessoais ou religiosas”.
__ Na noite daquele dia os vencedores fazem um grande baile para comemorar o resultado do júri e a derrota da ciência frente a religião... Ou à uma concepção fundamentalista de religião.

Rescaldo
__ A defesa apelou para a Suprema Corte do Tennessee e viu todos os seus argumentos em favor da inconstitucionalidade do Butler Act indeferidos, embora a condenação contra Scopes tenha sido anulada por motivos técnicos, além de ter revisto o valor máximo da multa para a 50 dólares.
__ John Butler, quando questionado sobre o que acontecia em Dayton deu uma demonstração pública de o quanto era “mané”, dizendo: “eu não queria causar todo esse alvoroço, eu só queria impedir que se ensinasse a evolução nas escolas do estado”. Só isso?
__ Scopes continuou sua vida como professor e geólogo, sem nunca mais dar motivos para aparecer na mídia, até a sua morte, em outubro de 1970.
__ Darrow manteve sua como um dos advogados mais respeitados e polêmicos nos EUA até a sua morte, em 1938.
__ O juiz Raulston tentou fazer carreira política, logo após o julgamento, mas só colheu derrotas e encerrou precocemente essa iniciativa. Parece que muitas pessoas do Tennessee, inclusive que adotavam os princípios gerais de Raulston referente a evolução, não perdoaram a sua atitude durante o julgamento. A etiqueta de “parcial”, afixada por Darrow a ele, parece que fez o seu efeito, e foi considerada verossímil. Raulstrom terminará seus dias mais liberal neste assunto, mas o estrago já estava feito, pois na mente de muitos americanos a ida de Bryan para Dayton representava a luta do elefante contra o ratinho, Scopes, e mesmo seu cão de guarda, Darrows. Ora, ainda assim Raulston se alia àquele para esmagar a esses! Foi uma vitória que “pegou mal!”
__ O grupo antievolucionista venceu, mas sua vitória foi inócua, pois a lei não proibia que o professor dirigisse críticas, inclusive críticas muito ácidas, à narrativa criacionista da Bíblia, desde que não ensinasse Darwin. Não impedia que, fora da escola, os professores orientassem grupos autônomos e jovens interessados em ciências, muito comuns nesse país, onde se estudaria apenas a teoria evolutiva, e mesmo o ensino da evolução nas escolas privadas, que no conceito de muitos, principalmente dos melhores professores, passaram a ser vistas como preferíveis às públicas. Teve ainda o ponto negativo de impedir, pela violência legal, um diálogo construtivo entre ciências e religião no estado.
__ Bryan destacou-se nos debates, nem sempre de forma positivia, e o custo disso foi enorme, uma vez que que foi pintado de forma grotesca em charges, artigos e editoriais de inúmeros jornais pelo país como intolerante e obscurantista, e sua boa imagem do passado sofreu forte retração nos centros urbanos mais desenvolvidos e populosos, virou um tipo bizarro. Foi uma pá de cal numa carreira e numa personalidade já em declínio. Após Scopes, Bryan foi convidado para inúmeras palestras pelas comunidades interioranas do país, para quem ainda era um ídolo, dando-lhe uma falsa ideia de um novo apogeu, mas no dia 26 de julho, de volta Dayton, ele foi recepcionado com um laudo banquete, no qual comeu até se fartar, morrendo logo em seguida. Ao que tudo indica de indigestão...
__ Em 1967 o Butler Act fez nova vítima na pessoa do professor Jack L. Scott, em Jacksonboro, que foi demitido por ensinar a evolução a uma turma. Scott entrou com uma ação na justiça, baseado na Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão, e conseguiu reverter a sua demissão. E não parou por aí, e entrou na Corte Distrital Federal de Nashville para conseguir uma imunidade permanente, para si, contra os efeitos dessa lei. Era muito aborrecimento, absolutamente desnecessário, para qualquer cristão! Três dias após a entrada da petição de Scott as duas casas legislativas do Tennessee dão início à discussão para a rejeição do Butler Act, o que foi conseguido, e no dia 17 de maio o governador assinou a nova lei.
__ E fez-se luz!

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Notas
(1) A eugenia foi um movimento científico de purificação racial nascido na Inglaterra do final do século XIX, fruto das pesquisas de um primo de Darwin, Francis Galton, e fundamentado numa torrente de números, gráficos estatísticos, observações, como poucas vezes aconteceu a uma teoria na história das ciências, e inclusive, um dos filhos de Darwin, Leonard, foi presidente da sociedade eugênica da Inglaterra. A ciência da eugenia abriu as portas, na época, para a “certeza” de que algumas raças eram realmente inferiores a outras, e o fim de todos os limites entre o homem e os animais irracionais, especialmente entre os de raça inferior. Essa teoria empolgou os Estados Unidos, e graças a ela muito pastor fundamentalista passou a justificar, do púlpito de sua igreja, o linchamento bárbaro, desumano, de negros e hispânicos, pelos seus fieis congregados. Dito de outra maneira: para esses pastores era inconcebível, imoral e sacrílego estabelecer qualquer relação entre os homens, enquanto espécie, e os macacos, mas não era inconcebível, imoral e sacrílego os seus fieis se comportarem como um – os bandos de chimpanzés massacram, imediatamente, qualquer macho que for pego dentro de seu território. Para esses pastores, parece, o maior problema com Darwin é que este não criou uma hipótese especial para a evolução do homem branco...

Fonte
Wikipedia em ingles - Scopes Trial e verbetes derivados
http://www.antievolution.org/topics/law/scopes/
http://skepticism.org/timelines/tag/people/john-tate-raulston/order:year/criteria:4/tmpl_suffix:_table/ 

http://allday.com/post/4782-90-years-ago-the-scopes-monkey-trial-pitted-evolution-against-fundamentalism/#

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