sábado, 23 de julho de 2016

ESCOLA EM PEDAÇOS

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos do Brasil, EUA, Canadá, Ucrânia, França, Suécia, Portugal. Deus os abençoe.

http://imguol.com/c/noticias/f6/2015/12/01/1dez2015---a-escola-estadual-coronel-antonio-paiva-de-sampaio-em-osasco-na-grande-sao-paulo-e-alvo-de-vandalismo-apos-ser-ocupada-por-alunos-que-protestam-durante-a-reestruturacao-escolar-ninguem-1448990558751_615x300.jpg
http://educacao.uol.com.br/

__ Não há nada tão ruim que não possa ficar pior; esse deveria ser o lema de nosso país nesses tempos de crise e crenças, que tornam intelectuais brilhantes em pessoas impermeáveis às mais graves denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público, enquanto múmias da direita, empolgadas pelos últimos acontecimentos, saem dos porões sombrios da finada, esperamos, Ditadura Militar, para fazer a apologia da tortura, do estupro de mulheres e da Escola Sem Partido (ESP), que, como revelou o professor da UFF, Fernando de Araújo Penna, nasceu no seio da família Bolsonaro (assista ao vídeo nesse endereço https://www.youtube.com/watch?v=J2v7PA1RNqk)  
__ Esse movimento, que se espalha como uma peste ou como um incêndio pelo país, já gerou diversos projetos de lei, em várias da administração pública – federal, estadual e municipal – em várias unidades da Federação, e fez uma vítima: o
Estado de Alagoas, onde foi aprovado, com muito empenho, pela Assembleia Legislativa, salvo ação posterior de inconstitucionalidade,  graças a iniciativa do deputado do PMDB Ricardo Nezinho, um homem tão despreparado e ignorante que sua justificativa para o projeto parece retirada de um programa de humorismo barato (veja em https://www.youtube.com/watch?v=ktNgvBnUj_A).
__ O projeto nº 867/2015, que tenta transformar em lei as premissas do movimento Escola Sem Partido, apresentado pelo deputado Izalci, do PSDB do Distrito Federal, um partido que historicamente combate os professores enquanto grupo organizado e esvazia os grandes debates educacionais, reduzindo a formação integral dos alunos a uma mera busca por melhor desempenho em provas padronizadas, é a versão direitista da mesma tentativa da esquerda em amordaçar a imprensa, como aconteceu na era PT, só que no ambiente escolar. Seus propugnadores alegam, aleivosamente, que o projeto de lei não busca mais que fazer cumprir, na escola, um preceito constitucional, protegendo os alunos de possíveis efeitos maléficos em sua relação assimétrica com os professores, além de proteger os direitos da família, contra a exposição de ideologias estranhas, para não dizer “exóticas”, como no tempo do malfadado Regime Militar. Esse desvario da extrema direita, das viúvas da ditadura, peca grosseiramente pelos seguintes motivos:.
__ Se esse projeto de lei visa apenas fazer cumprir um ditame constitucional, então ele é absurdamente inútil, pois enquanto lei ordinária não pode sobrepor-se à Constituição, muito menos criar uma lei que constranja o professor no seu direito constitucional de expressar uma opinião, mesmo em um ambiente escolar, desde que ele não obrigue nem constranja qualquer pessoa, inclusive menor sob sua responsabilidade, a pensar como ele (1).
__ A relação assimétrica com o professor é inevitável, vem tanto da diferença quantitativa e qualitativa entre as experiências de vida de ambos e do conhecimento teórico sobre a matéria ou sobre as normas educacionais, que o professor tem muito mais, e precisa ser, ainda que tardiamente, valorizado pela sociedade brasileira, enquanto ainda não é tarde. Os brasileiros, peessedebistas à frente, julgam que podem fazer uma revolução educacional sem precisar dos professores, imagine-se o que será dessa profissão no Brasil, quando os profissionais entrarem na sala de aula temendo as famílias, em geral pobres, que não raro invadem a escolas querendo agredir professores e funcionários, por causa de algum incidente com a sua criança, e as famílias de classe média, ameaçando-os com processo e prisão, caso ousarem emitir uma opinião pessoal em sala de aula. NÃO EXISTE NENHUMA REVOLUÇÃO EDUCACIONAL BEM-SUCEDIDA NO MUNDO QUE NÃO TENHA VINDO PELA VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR (cite-se a Finlândia, a Coreia, o Japão, etc.). Aonde queremos chegar insistindo em fazer justo o contrário?

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__ Com relação à defesa da família, dos valores e direitos familiares, eu indago: existe algo mais sagrado e digno de preservar, junto com a fé em Deus, a incolumidade física e psicológica da intimidade familiar? E o que fez esse estroina do senhor Jair Bolsonaro, do alto da tribuna de uma das casas do Congresso, do poder mais representativo da República, numa audiência pública? A apologia do estupro. “Eu lhe falei que não estuprava você, porque você não merece”. Disse ele auma deputada do PT que o interpelava. Ts, ts, ts.
__ Que dizer que, segundo esse... a minha mãe, enquanto foi viva, a minha esposa e filhas seriam pessoas melhores se tivessem sido estupradas? Estupro é merecimento! Nessas horas faz bem haver uma lei no país que proíba as pessoas de andarem armadas, pois todo homem que um dia teve uma mãe, uma esposa ou uma filha, ou as três ao mesmo tempo, foi gravemente ofendido, tanto quanto as mulheres, por essa que é uma das mais canalhas e asquerosas declarações já feitas no plenário de nosso Congresso, já tão desfalcado de juízo e de decência. E o que são as mulheres senão o cerne da família, que o homem brasileiro, para a sua desgraça, abandona tão irresponsavelmente. Quem, que não seja um completo hipócrita ou desajuizado, espera fazer a defesa da família atacando a mulher ou se abrigando à sombra de quem a ataca? Isso bem lembra o Golpe Militar desferido em 1964, que prometeu a democracia, mas instituiu uma ditadura, prometeu a liberdade contra a repressão comunista e espalhou a censura pelo país, prometeu acabar com a inflação e a crise econômica e entregou o país com a maior inflação e a maior crise econômica de sua história, prometeu salvar a família do comunismo ateu, mas estabeleceu o divórcio, financiou pornochanchadas, prendeu e matou padres...  Covardes! Mentirosos!
__ Creio que a possibilidade dessa lei passar no Congresso é pequena, por pior que sejam nossos parlamentares, sem falar que é muito grande a possibilidade de, se aprovada, essa lei venha a ser barrada pelo STF, em virtude de sua flagrante inconstitucionalidade e excesso normativo, que em nada beneficiará as relações dentro da escola. Ela é enfim o retrato da falência completa de nosso sistema educacional, precariamente oculto pelos nossos políticos nos anos eleitorais, e da falta de rumo, de valores, que se diga, de nossa sociedade, que ficarão ainda mais difíceis de serem ministrados e aprofundados às novas gerações uma vez que alguém, pode interpretar uma discussão sobre o conjunto ou determinados valores como algum tipo de doutrinação, de ideologia, e são mesmo, gerando apreensão e grande risco aos professores de serem presos ou multados por estarem a exercer a sua profissão.  

Notas

(1) Um dos defensores desse movimento, o advogado Miguel Nagib, diz que o disparador para a sua em prol do ESP começou quando sua filha de 13 anos chegou em casa dizendo que o professor de sua filha comparou Che Guevara com São Francisco! Qual é o problema? O professor por acaso obrigou a filha desse coitado a também aderir a essa interpretação? Existem opiniões esdrúxulas por toda a parte, ditas nos mais inesperados momentos, como evitar isso? Para mim seria uma comparação idiota, tosca, mas em nada perturba as minhas crenças particulares ou dos alunos, desde que o professor não as torne obrigatórias ou use de meios legais, como a avalaição, para fazer o aluno reproduzir mecanicamente esse discurso, não tanto pelo conteúdo, que é uma idiotice, como pelo método, que é pedagogicamente ineficaz.

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