ÍDOLO DE SHIGIR (+/- 9000 A.C.)
Prof Eduardo Simões
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__ Nas últimas
décadas do século XIX, trabalhadores escavando uma mina de ouro numa região de
turfeiras chamada Shigir, próxima à cidade de Kirovgrado (acima), a uns 100 km
de Yekaterinburgo, quando começaram a encontrar objetos, aparentemente antigos
e incomuns, nesse tipo de solo, como chifres, ossos, objetos de madeira, padra
e argila, em 1879, atraindo a atenção de estudiosos. Nesse mesmo ano, essas
descobertas são relatadas pelo médico e pesquisador Aleksandr Andreyevich Mislavskiy
à Sociedade dos Naturalistas dos Urais, e em 1880 o local recebeu uma equipe de
investigadores da Sociedade Geográfica Imperial Russa.
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__ Entretanto
seria necessário esperar uns 14 anos, até vir à luz um dos mais espetaculares achados
arqueológicos do mundo. Em 24 de janeiro de 1894, foram descobertos, a uns 4 m
de profundidade, vários pedaços de madeiras que, posteriormente, mostraram serem
partes de uma única e gigantesca escultura, representando um ser em forma
humana. Levado aos pedaços ao Museu Regional de Sverdlovsk, em Yekaterinburg, o
conjunto foi montado, como um quebra cabeça, pelo guardião das coleções: o
professor Dimitr Ivanovich Lubanov, de forma mais ou menos precária, quando então
se dispensou várias partes encontradas, para dar a forma que mais agradava ao
guardião, embora já fossem o suficiente para dar ao objeto uma altura de 2,8 m.
Em 1914, porém, foram feitos novos estudos, com bases mais científicas, por um
arqueólogo especializado: o doutor Vladimir Yacovlevich Tolmachev, que fez a
montagem completa da escultura, que então elevou-se até 5,3 m do chão. Acima os
desenhos da imagem, segundo Tolmachev.
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__ Existência
vida desse achado espetacular, não estava fadada a ser fácil, afinal a região
dos Urais foi muito conflagrada durante a Revolução Russa, e a guerra civil dos
anos seguintes – foi em Ekaterinburg que os comunistas fuzilaram toda a família
imperial russa – e algumas partes da escultura se perderam, de sorte que hoje
ela só tem 3,4 m de altura, mas que ainda assim pode ser qualificada com uma
das maiores, senão a maior, representação de figura humana em madeira do mundo,
e é conhecido como o Ídolo de Shigir – ela é também uma das mais perfeitas
representações masculinas de um artista pré-histórico, que de uma maneira
geral, caprichava mais em figuras femininas. Na foto acima vemos o que sobrou
do Ídolo de Shigir, exposto dentro de numa caixa de vidro. A primeira datação
científica do objeto, feita pelo carbono 14 deu entre 8 e 7,5 mil anos! Mas uma
datação mais recente, feita por um laboratório alemão, usando uma versão mais
moderna do C 14, apontou para algo em torno de 11 mil anos! Esta é, de longe, a
mais natiga escultura em madeira que se conhece.
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Idem
http://siberiantimes.com/PICTURES/SCIENCE/Shigir-Idol-october-22-2014/inside%20profile.jpg
Idem
__ Vemos, acima,
duas fotos da cabeça. Os detalhes são impressionantemente minuciosos, considerando
a sua idade e o meio onde foi encontrada. O professor Mikhail Zhilin, do
Instituto de Ciências da Rússia disse: “nós estudamos esse ídolo com um sentimento
de temor. É uma obra-prima, de uma intensidade emocional e de uma força gigantescas.
É uma escultura original, e não há nada parecido com ela no mundo. Ela é ao
mesmo tempo muito vívida e muito complexa. O seu ornamento são apenas mensagens
criptografadas. Aquelas pessoas estavam transmitindo conhecimento com a ajuda
do ídolo” (traduzido do The Siberian Times - online http://siberiantimes.com/science/casestudy/features/is-this-the-worlds-oldest-secret-code/).
Pelos traços do rosto deduz-se que o povo que a fez tinha maçãs do rosto
salientes e nariz reto, conservando a linha da testa.
http://siberiantimes.com/upload/information_system_38/1/6/9/item_1691/information_items_1691.jpg
idem
__ Por falar em
conhecimento, o corpo da imagem, está repleto de marcas geométricas que se
alternam, como numa forma de escrita (ver detalhe acima). Para os
pesquisadores, a grande dificuldade na leitura desses signos se deve à
polissemia – multiplicidade de significado – que esses sinais têm nas culturas
primitivas: “a linha reta pode significar terra ou horizonte – o limite entre a
terra e o céu, a água e o céu, ou a fronteira entre os mundos. A linha ondulada
ou em zigue-zague, significa o elemento aquoso, cobra, lagarto, ou um
determinado limite. Além disso, pode representar perigo, como um campo de
estrepes. Cruzes, losangos, quadrados, círculos, representam o fogo ou o sol, e
assim por diante” (idem). Petr Zollin, outro especialista na imagem, diz: “os
caracteres do ídolo podem não ter uma interpretação ambígua. Se são imagens de
espíritos que habitavam o mundo dos homens em tempos antigos, a posição
vertical das figuras (uma encima da outra), provavelmente se relacionam com a
sua hierarquia” (idem).
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/cf/M%C3%A9l%C3%A8ze_en_Automne.JPG/800px-M%C3%A9l%C3%A8ze_en_Automne.JPG
By Antony.sorrento at French Wikipedia - photo
by Antony.sorrento, CC BY-SA 3.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=948798
__ Outro
detalhe: estudos dendrológicos determinaram que a árvore usada para a confecção
do ídolo foi um lariço (acima), e que a árvore tinha 159 anos, quando foi
abatida para o seu entalhamento. Uma questão, porém, intriga os cientistas e
gera debates: como o ídolo ficava em pé?
http://history.uspu.ru/images/stories/yUOf5T7V-VI.jpg
http://history.uspu.ru/
__ Estudantes e
professores aprendendo com a história remota de seu país, aprofundando laços
nacionais. Por esse foto pode se ter uma ideia mais clara do tamanho da
escultura.
http://askural.com/wp-content/uploads/2012/02/P10501171.jpg
http://askural.com/
__ Mera coincidência? Um xamã siberiano faz um ritual diante de figuras
humanas em madeira, no Parque Bazhovskie Mesta, nos Urais, a 60 km de
Yekaterinburg, para os turistas, mantendo vivas as crenças dos antigos povos
dos Urais.
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