sexta-feira, 22 de abril de 2016

APONTAMENTOS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL-1 (6º ANO)

EGITO ANTIGO

Prof Eduardo Simões

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O rio Nilo
         O Egito está situado no norte da África, dentro do deserto do Saara. Portanto, o Egito é uma área de deserto, onde quase nunca chove, atravessada por um rio famoso: o Nilo. Enquanto atravessa o Egito, o rio Nilo não recebe água nem de chuva nem de nenhum afluente.
         O Nilo não nasce no Egito, mas muito distante, no centro do continente africano, numa região coberta de florestas, onde chove muito. Além dessas chuvas, o rio recebe as águas de muitos afluentes, antes de chegar ao deserto. Como a água é fundamental para a vida podemos dizer que o Egito só existe por causa do Nilo, e um autor antigo, chamado Heródoto, falou: “o Egito é uma dádiva do Nilo”.
         Nos meses de agosto e setembro as águas do rio Nilo, por causa das chuvas intensas nas suas cabeceiras, começavam a subir e inundavam as suas margens, alargando o comprimento do rio. Passado esse período, as águas começavam a baixar, mas deixavam depositada na terra uma quantidade imensa de matéria orgânica, chamada húmus (folhas, cascas de árvores, restos de plantas e animais mortos, etc.), que era um excelente adubo para a agricultura.

As primeiras comunidades
         Há muito tempo, uns 9 mil anos, algumas comunidades humanas isoladas começaram a fixar moradia próximo ao rio, para tirar vantagem da enorme quantidade de peixes, répteis, como o crocodilo do Nilo e mamíferos, como os enormes hipopótamos, que nele viviam, além de animais selvagens do deserto, como leões, chacais, etc., que se aproximavam para matar a sede, e inúmeras aves nidificavam nas suas margens ou nelas descansavam na sua migração.
         Essas comunidades, que a princípio se dedicavam à caça, à pesca e à coleta, com o passar do tempo começaram a praticar a agricultura de subsistência, plantando, apenas para consumo próprio, o trigo, a cevada, além de frutas e leguminosas, formando núcleos independentes, cada um comandado por um chefe local. A essas comunidades independentes foram chamadas de nomos.
         Os nomos do norte se uniram e formaram um reino, o Baixo Egito, enquanto os nomos do sul formavam o Alto Egito. Há uns 5 mil anos atrás, um rei do Alto Egito, chamado Menes, dominou o Baixo Egito e unificou os dois reinos, tornando-se o primeiro faraó do Egito.

O reinado dos faraós
         Para ter um maior controle sobre áreas tão distantes, ao longo do Vale do Nilo, o faraó, com a ajuda de um corpo de sacerdotes, conseguiu espalhar a crença sua origem divina, de tal sorte que as pessoas acreditavam que ele era uma espécie de deus aqui na terra, devendo-lhe obediência absoluta.
         Essa união em torno do faraó facilitou a que este, com a ajuda de funcionários bem preparados, organizasse o povo para trabalhar em grandes obras de engenharia, para tirar mais proveito das cheias do Nilo, por meio da construção de diques de canais, aumentando a área de cultivo.
         Para aumentar a veneração à sua pessoa, os faraós, além de viverem em luxuosos palácios, mandavam construir para si enormes sepulturas: as pirâmides, construções que exigiam o trabalho de milhares de camponeses, por anos a fio. A pirâmide mais antiga tem 4.700 anos, e a pirâmide maior e mais famosa é a do faraó Quéops, com 146 m de altura (um prédio de 48 andares).
         Os faraós eram tão zelosos de sua origem divina que ele e a sua família constituíam, sozinhos, uma classe especial na sociedade egípcia, e para evitar que estranhos entrassem na família, manchando a sua fama de divina, era comum o casamento entre parentes próximos – hoje nós sabemos que isso não convém, e pode ocasionar doenças ou defeitos graves nas crianças.
         O excesso de trabalho nas grandes construções acabou sobrecarregando os camponeses, que em diversas ocasiões se levantaram contra esse abuso, provocando uma crise geral no país. Os faraós seguintes entenderam o recado, e passaram a se conformar com tumbas mais modestas, algumas, inclusive não passavam de cavernas e túneis escavados nos montes ao redor.

A força dos sacerdotes
         Os sacerdotes, como compensação pelo apoio dado aos faraós, controlavam grandes extensões de terras dos templos dos quais eles eram guardiões. Oficialmente as terras pertenciam ao faraó. Eles também recebiam recursos e autorização para usar da força de trabalho dos camponeses para erguer imensos templos, além de cobrar, daqueles que trabalhavam nas suas terras, uma parte da produção. Desta maneira os sacerdotes se tornaram também uma classe muito rica e poderosa.
         Os sacerdotes faziam parte do conselho que orientava o faraó nas decisões mais importantes, e, dentro do palácio tentavam interferir na sucessão do faraó. Às vezes os sacerdotes, aliados aos nobres e chefes militares, tentavam se tornar independentes do faraó, e, se este era fraco, a anarquia tomava conta do país.

Nobres e militares
         Embora a civilização egípcia seja reconhecida pela sua índole pacífica, sempre houve povos interessados em roubar suas riquezas ou tomar as suas terras. Por isso os faraós mantinham exércitos bem organizados para combater os invasores. Para comandar esses exércitos os faraós precisavam de gente próxima e confiável, e assim, alguns jovens de famílias importantes eram treinados para comandar tropas e governar as regiões conquistadas. Esse grupo era a nobreza, e dela o faraó tirava governadores e ministros, dos quais o mais importante era o vizir, que fiscalizava o Egito em nome do soberano.
         O crescimento máximo do Egito se deu após 1575 a.C., quando eles conseguirem expulsar um povo asiático, chamado hicsos, que dominou o Egito por 200 anos. Comandados por alguns faraós agressivos, os egípcios invadiram a Palestina, guerreando contra os povos da região. Um faraó que ficou famoso pelas guerras que travou na região foi Ramsés II, o mais poderoso que o Egito já teve, muito ligado à história de Moisés da Bíblia. Essas guerras fizeram crescer o prestígio dos militares, também ansiosos por tomar o poder dos faraós.
        
Comerciantes e Escribas
         O rio Nilo foi uma via de comunicação vital para as pessoas que viviam no Egito, não para os camponeses, que não podiam sair de suas terras, mas para os comerciantes que o utilizavam para transportar e vender mercadorias, em geral alimentos e artesanato, de uma região para outra do país.
         Com o passar do tempo o comércio foi se ampliando e o Egito aumentou seus laços comerciais com os povos que viviam nas ilhas do Mediterrâneo, na Europa e na Ásia. O Egito exportava ouro, trigo, tecidos de linho, cerâmica fina, e o seu artesanato era famoso, enquanto importava prata, marfim e madeira. Havia comerciantes muito ricos, mas sua classe não tinha poder ou influência na sociedade egípcia. A indústria de extração de pedras, construção de navios, cerâmica, vidros e tecido se destacavam.
         Muita influência, porém, tinha o grupo dos escribas, especialistas nos três tipos de escrita que havia no Egito: a hieroglífica, a hierática e a demótica, além da matemática. Os escribas eram escolhidos em algumas famílias, pois era uma profissão que passava de pai para filho. A formação do escriba era longa e rigorosa, mas o habilitava como um administrador, escrivão e contabilista, algo muito necessário, quando se tratava de calcular o imposto que o camponês devia ao faraó, aos sacerdotes ou aos nobres. Os textos que temos hoje sobre o Egito nós devemos aos escribas.

Camponeses e escravos
         Quem realmente sustentava a sociedade egípcia era o camponês, livre, mas preso à terra onde trabalhava, e sujeito a muitos trabalhos gratuitos para o estado, como as grandes construções da engenharia civil e militar, que geralmente ocorriam depois da colheita, enquanto o camponês esperava a enchente do ano seguinte. Não havia tempo para o lazer.
         As colheitas eram abundantes e quase sempre havia fartura de alimentos, inclusive com sobras, que eram vendidas a outros povos, mas algumas vezes as chuvas, na África Central, podiam falhar, e aí a inundação do Nilo não seria tão grande, o que provocaria aperto e até fome, ou as chuvas podiam ser tão abundantes, que a inundação avançava sobre as casas dos camponeses e as destruíam. Mas, em comparação com outras regiões, a vida do camponês egípcio era tranquila, simples e farta.
         Abaixo do camponês estavam os cativos, homens e mulheres aprisionados em guerras ou que se submetiam a um trabalho obrigatório para saldar uma dívida. Essas pessoas, quer estivessem a serviço de uma família quer estivessem a serviço do estado, eram bem tratados e acabavam fazendo parte da família. Os estrangeiros capturados em guerras eram submetidos a um processo de egipcianização, e, após esse treinamento, eram considerados egípcios. Em geral eles eram incorporados ao exército, pois os egípcios não gostavam do serviço militar, e se tornaram as tropas preferidas dos faraós. O número desses cativos sempre foi muito reduzido
         Os egípcios não praticavam a compra e a venda de seres humanos em mercados.

A religião egípcia
         A religião egípcia era politeísta, ou seja, servia a uma grande quantidade de deuses, cada um responsável por um determinado aspecto da vida, nesse mundo e no mundo dos mortos. Uma das formas mais curiosas desses deuses era o seu aspecto: meio homem, da cintura para baixo, e meio bicho da cintura para cima.
         Esses deuses, apesar do seu aspecto, exigiam de seus fieis uma conduta elevada, que valorizava a justiça feita aos pobres, aos parentes próximos, aos abandonados, além do respeito à propriedade e às leis do país. Mas esse comportamento não se estendia aos outros povos, por quem os egípcios alimentavam desprezo e queriam distância. A bondade só era entre eles.
         Num determinado momento, um faraó chamado Akhenáton tentou implantar no Egito a crença em um deus único chamado Áton, representado pelo disco solar, um século antes de Moisés fundar o monoteísmo hebreu. Porém, os sacerdotes, que viviam e prosperavam da crença do povo em muitos deuses, ficaram inconformados, por isso, depois da morte do faraó, aplicaram um golpe com a ajuda do exército, restaurando o politeísmo.
         Os três deuses mais importantes, entre centenas de outros, foram: Osíris, o deus da vegetação e da vida, muito ligado ao Nilo, que casou-se com Ísis, deusa da maternidade, e com ela teve um filho: Hórus, o deus do céu, representado pelo falcão, que combate e vence seu tio Seth, o deus das trevas e da traição. Essa luta aconteceu, porque o malvado Seth havia morto o seu pai, Osíris, para assumir o poder supremo na terra, e espalhado os seus restos pelo mundo. A sua mãe, Ísis, entretanto, juntou os pedaços e conseguiu fazê-lo ressuscitar. Hórus, após crescer e tornar-se forte, derrota o assassino de seu pai e assume o poder.
         Uma técnica muito desenvolvida entre os egípcios é a da mumificação, pois para eles o paraíso só é pleno se o corpo permanecer intacto. Entretanto, essa técnica, que era praticada pelos sacerdotes, era caríssima, de sorte que só os muito ricos poderiam esperar a vida plena após a morte. Agora se alguém invadisse a sepultura e destruísse a múmia, tudo estaria perdido. Essa é uma razão para as armadilhas mortais que os egípcios colocavam nas sepulturas mais ricas.

O fim do Egito Antigo
         Após uma longa história, uma das mais longas que se conhece, a sociedade egípcia se esgotou e foi se tornando incapaz de defender as suas riquezas materiais e a sua cultura, frente a outros povos mais poderosos e mais adaptados aos novos tempos, a começar pelos grandes impérios asiáticos. Os assírios invadiram e causaram grande destruição em suas cidades. Mais tarde vieram os persas, em 341 a.C., e deram fim ao Egito independente.

         Posteriormente o Egito foi ocupado por gregos e romanos. O Egito que existe hoje é fruto da união dos antigos egípcios com os conquistadores árabes, e é, culturalmente, muito diferente do Antigo Egito.     

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