A
ÚLTIMA TENTAÇÃO DE RENAN CALHEIROS
Prof
Eduardo Simões
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Revista VEJA, 5 de agosto de 2007
O presidente do Senado foi categórico:
não será um novo Auro de Moura Andrade, que, atropelando todos os ritos e a
decência, declarou vaga, em abril de 1964, a Presidência da República, estando
o Presidente João Goulart, sabidamente, em território brasileiro. Ele será “um
magistrado”. Resta saber se será um magistrado como Sérgio Moro, da nova
REPÚBLICA DE CURITIBA, ou será mais um do velho Brasil, tão preocupado em esquadrinhar
ritos e vírgulas mal postas, que o crime prescreve antes do julgamento. Ele próprio
já escapou de uma condenação séria na justiça graças a esse recurso, sem falar de
sua renúncia, em 2003, para não ser cassado. Chegou mesmo ameaçar de entregar
os trabalhos para o presidente do STF, que significaria praticamente parar os
trabalhos.
Na sessão de abertura dos trabalhos do impedimento
no Senado, ontem, dos que eu vi, o senador Caiado foi um dos poucos que
percebeu a gravidade da questão e a exigência de celeridade dos trabalhos,
alegando o agravamento das tensões sociais, por conta do descalabro econômico
que tomou conta do país, antes atribuído, pelo governo, à crise internacional,
e agora, pelo Senador Humberto Costa, do PT, a ação da oposição. Ou seja: o
vale tudo vai continuar.
O grande problema a meu ver, que não foi
citado na hora, é o fato de que a aprovação da admissibilidade do impedimento
pela Câmara tornou público o fato de que mais de dois terços da principal casa
legislativa disseram de maneira categórica à presidente: “não queremos mais a
senhora no Executivo”, criando, na prática, um vazio de poder, um Presidente
sem autoridade real, de consequências perigosíssimas, em um país economicamente fragilizado e politicamente polarizado. Tudo pode acontecer, desde ataques especulativos dirigidos do exterior até a quebradeira
generalizada dos Estados, além de um rombo extraordinário nas contas do Governo
Federal. Um dia que se perca pode ser fatal, mas o Presidente do Senado já sentenciou
magistralmente que não haverá sessões extras. Os brasileiros poderão passar o seu fim
de semana como se nada estivesse acontecendo.
Calheiros tem interesse que os
holofotes continuem na direção de Dilma, Cunha e Temer, e destes não mude, pelo
equacionamento da crise, em sua direção, ele que está tão comprometido com os
mal feitos da vez como os outros atores, ao mesmo tempo em que o PT, sonhado
com o retorno ao poder, pretende, como os russos diante de Napoleão, deixar uma
terra arrasada para o sucessor de Dilma, de sorte a fazer recair sobre ele a responsabilidade
da crise, da mesma forma que os apertos passados por Fernando Henrique, que deixaram
um país viável a Lula, foram usados pelo PT como matéria de acusação por desinteresse
pela questão social, enquanto, hoje, à medida que protela a solução do problema
que esmaga a classe trabalhadora, segue afirmando que a oposição prega o “quanto
pior melhor”. Coitado do povo que ignora a sua história...
Para não ser Auro de Moura Andrade
Renan Calheiros corre o risco de ser outro Poncio Pilatos, que após muita
protelação acabou oPTando por um desastre, que só não aconteceu porque a vítima
era Deus, e deu a volta por cima, com vantagem para todos. Mas não é sempre que
Deus está à disposição das fraquezas humanas, ainda mais com gente tão disposta
a repeti-las.
Para quem tem memória curta: https://forarenancalheiros.wordpress.com/category/noticias/page/2/
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