A FACE DA HISTÓRIA – HUNGRIA 1956
Prof Eduardo Simões
__ Durante a Segunda Guerra, a Hungria
lutou ao lado dos nazistas, focada visceralmente no combate ao comunismo e à
influência da União Soviética, antiga Rússia, na Europa Central – não esquecer
que a Hungria fazia parte do Império austro-húngaro, que combateu, o quanto
pode, a expansão da Rússia na região. O governo húngaro também agiu brutalmente contra os judeus, embora não os tenha aniquilado premeditadamente como os alemães
nazistas. Ora, com a derrota da Alemanha e a ocupação da Hungria pelo Exército
Vermelho soviético, chegou a horta do acerto de contas, ao mesmo tempo em que o
país era constrangido a se tornar um dileto aliado da URSS.
__ A implementação de medidas econômicas
conforme a cartilha soviética foi uma catástrofe, que, aliada à brutal perseguição
política movida pelos comunistas em nome da “verdadeira” democracia, fez a
temperatura política do país subir às alturas, até que explodiu numa gigantesca
e sangrenta rebelião, começada pelos estudantes em 23 de outubro de 1956,
quando o povo tomou de assalto diversos arsenais das forças armadas, iniciando
o linchamento imediato de todos que eram considerados leais ao governo comunista,
em especial os membros da odiada polícia política comunista: a AVH (Autoridade
de Proteção do Estado).
__ as fotos a seguir foram tiradas por John
Sadovi, fotografo tcheco-americano, da revista LIFE, que conseguiu se infiltrar
no movimento popular húngaro, disfarçado de vendedor de sorvetes, e nessa
condição tirou fotos incríveis, dramáticas e muito cruéis do conflito. Vi essas
fotos pela primeira vez, na extinta revista Cruzeiro, quando era adolescente.
https://www.iphotocentral.com/Photos/VintageWorks_Images/Full/13894_Sadovy.jpg
https://www.iphotocentral.com/
Como era de se
esperar, o primeiro alvo da multidão em fúria foi o quartel-general da AVH, de
onde saíram, após alguma violência, pode-se ver sangue correndo do ouvido
esquerdo, do agente mais à esquerda da foto, em torno de uma dezena de agentes
vivos e com as mãos para cima.
https://iconicphotos.files.wordpress.com/2010/11/72385233.jpg?w=700
https://iconicphotos.wordpress.com
Eles estão
aparentemente tranquilos, afinal se renderam. O homem mais à direita, ao fundo,
parece que dialoga com alguém, talvez esteja se justificando ou tentando
convencer aos seus captores de algo.
https://iconicphotos.files.wordpress.com/2010/11/51212041.jpg?w=700
https://iconicphotos.wordpress.com
Entretanto, é o
povo descontrolado, a massa bruta, dominada pela emoção visceral, que está no
controle e, inesperadamente, alguém alguém abre fogo, e começa uma fuzilaria. O
homem à frente faz uma careta, ao sentir os primeiros impactos, e põe as mãos à
frente do rosto, como quem quer se proteger da saraiva de balas. Ah, se isso
fosse suficiente!
http://media.gettyimages.com/photos/hungarian-partisans-walking-away-from-bodies-of-secret-policemen-they-picture-id72385205
http://www.gettyimages.com/
Os corpos jazem
sobre a calçada, sendo posteriormente recolhidos pela Cruz Vermelha. Sadovi
escreveu um editorial na LIFE, sobre essas fotos, onde diz: “eu podia ver o
impacto das balas nas roupas daqueles homens”, e, apesar de ter sido correspondente
na Segunda Guerra, confessou que “nada se compara ao horror disso... as lágrimas
corriam pela minha face, e deixei-as a secar por si mesmas”.
__ Hoje, no Brasil,
é moda querer colocar povo na rua movido a gritos de guerra, que a experiência
húngara, e todas as outras em que o povo, ensandecido por seus líderes, em
geral infames demagogos, tomou as ruas e quis fazer história no grito, na
palavra de ordem ou na pancada, e tudo que conseguiu foi aprofundar a sua
própria tragédia e a da espécie humana, onde, permita-me o poeta Belchior, “nada
é eterno”, nem divino.
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