terça-feira, 3 de maio de 2016

A FACE DA HISTÓRIA – HUNGRIA 1956

Prof Eduardo Simões

__ Durante a Segunda Guerra, a Hungria lutou ao lado dos nazistas, focada visceralmente no combate ao comunismo e à influência da União Soviética, antiga Rússia, na Europa Central – não esquecer que a Hungria fazia parte do Império austro-húngaro, que combateu, o quanto pode, a expansão da Rússia na região. O governo húngaro também agiu brutalmente contra os judeus, embora não os tenha aniquilado premeditadamente como os alemães nazistas. Ora, com a derrota da Alemanha e a ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho soviético, chegou a horta do acerto de contas, ao mesmo tempo em que o país era constrangido a se tornar um dileto aliado da URSS.
__ A implementação de medidas econômicas conforme a cartilha soviética foi uma catástrofe, que, aliada à brutal perseguição política movida pelos comunistas em nome da “verdadeira” democracia, fez a temperatura política do país subir às alturas, até que explodiu numa gigantesca e sangrenta rebelião, começada pelos estudantes em 23 de outubro de 1956, quando o povo tomou de assalto diversos arsenais das forças armadas, iniciando o linchamento imediato de todos que eram considerados leais ao governo comunista, em especial os membros da odiada polícia política comunista: a AVH (Autoridade de Proteção do Estado).
__ as fotos a seguir foram tiradas por John Sadovi, fotografo tcheco-americano, da revista LIFE, que conseguiu se infiltrar no movimento popular húngaro, disfarçado de vendedor de sorvetes, e nessa condição tirou fotos incríveis, dramáticas e muito cruéis do conflito. Vi essas fotos pela primeira vez, na extinta revista Cruzeiro, quando era adolescente.

https://www.iphotocentral.com/Photos/VintageWorks_Images/Full/13894_Sadovy.jpg
https://www.iphotocentral.com/

Como era de se esperar, o primeiro alvo da multidão em fúria foi o quartel-general da AVH, de onde saíram, após alguma violência, pode-se ver sangue correndo do ouvido esquerdo, do agente mais à esquerda da foto, em torno de uma dezena de agentes vivos e com as mãos para cima.

https://iconicphotos.files.wordpress.com/2010/11/72385233.jpg?w=700
https://iconicphotos.wordpress.com

Eles estão aparentemente tranquilos, afinal se renderam. O homem mais à direita, ao fundo, parece que dialoga com alguém, talvez esteja se justificando ou tentando convencer aos seus captores de algo.

https://iconicphotos.files.wordpress.com/2010/11/51212041.jpg?w=700
https://iconicphotos.wordpress.com

Entretanto, é o povo descontrolado, a massa bruta, dominada pela emoção visceral, que está no controle e, inesperadamente, alguém alguém abre fogo, e começa uma fuzilaria. O homem à frente faz uma careta, ao sentir os primeiros impactos, e põe as mãos à frente do rosto, como quem quer se proteger da saraiva de balas. Ah, se isso fosse suficiente!

http://media.gettyimages.com/photos/hungarian-partisans-walking-away-from-bodies-of-secret-policemen-they-picture-id72385205
http://www.gettyimages.com/

Os corpos jazem sobre a calçada, sendo posteriormente recolhidos pela Cruz Vermelha. Sadovi escreveu um editorial na LIFE, sobre essas fotos, onde diz: “eu podia ver o impacto das balas nas roupas daqueles homens”, e, apesar de ter sido correspondente na Segunda Guerra, confessou que “nada se compara ao horror disso... as lágrimas corriam pela minha face, e deixei-as a secar por si mesmas”.


__ Hoje, no Brasil, é moda querer colocar povo na rua movido a gritos de guerra, que a experiência húngara, e todas as outras em que o povo, ensandecido por seus líderes, em geral infames demagogos, tomou as ruas e quis fazer história no grito, na palavra de ordem ou na pancada, e tudo que conseguiu foi aprofundar a sua própria tragédia e a da espécie humana, onde, permita-me o poeta Belchior, “nada é eterno”, nem divino.

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