NÃO É NUESTRO
PAIS (CARTA AO SITE BRASILEIRO DO JORNAL EL PAIS)
Prof Eduardo Simões
Obrigado aos amigos de BR, EUA, Bélgica e
Bulgária. Deus os abençoe.
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Senhor
Editor
Sempre
fui um fã do site brasileiro do El Pais, em virtude da quantidade e da
qualidade de artigos noticiosos e de opinião que fizeram a fama de um dos mais
importantes veículos de informação e análise do Hemisfério Ocidental, até ser
brutalmente surpreendido e decepcionado com um editorial, datado de 12 de maio
do El Pais, Brasil, com o seguinte título: Um
Brasil de Temer.
A
primeira coisa a observar é a tentativa forçada, fracassada e infame de criar
um trocadilho entre o nome do presidente provisório e o verbo temer, de “dar
medo”, tenho certeza que o senhor consegue fazer muito melhor, acompanhada da
seguinte chamada: “A destituição de Dilma
Rousseff não soluciona nada e aumenta a instabilidade do país”; e acrescenta
um pouco mais abaixo, que ela aporfundará a crise institucional vivida pelo
país. A questão, quanto a esse ponto, é saber que profeta, Nostradamus ou bola
de cristal lhe passaram essa informação, uma vez que os verbos, embora no
presente, pelo contexto, apontam para um futuro; manhas da língua portuguesa, a
não ser que o Senhor esteja querendo propor que uma simples mudança de quadros
administrativos possa, de per si, gerar mudanças numa estrutura tão gigantesca
e complexa como a político-econômica do Brasil. Isso só é possível, fora de um
âmbito político-ideológico, a um pensamento mágico!
Qual
seria então a solução, que por sinal não é colocada pelo Senhor? Deixar as coisas
como estão? Olhar, impassíveis, o país derretendo econômica e moralmente nas
mãos de um governo sem o mínimo de apoio institucional ou de alguém, que, fora
do seu partido, não tenha sido escandalosamente comprado? Sem considerar a
incapacidade técnica e de estatura moral da atual presidente em dar qualquer
direção ao país, em que pese a sua “integridade”, posta já em cheque pelo
testemunho do ex-senador Delcídio do Amaral, um de seus mais próximos, o
Senhor, complacente, anota que contra ela pesam denúncias de “práticas
nocivas”, que outros praticaram, inclusive em outros países. Mas se me consta à
memória os espanhóis não foram tão liberais nem usaram de tais analogias, no
possível envolvimento da infanta Cristina com as falcatruas de seu marido. Nós
também somos um país sério, e apenas o contrário nas anedotas. Que nós curtimos,
mas não queremos imitar!
O
Senhor reproduz que o governo do tirou milhões da miséria, mas esqueceu-se de
atualizar seus dados e considerar que o índice de desemprego, nos últimos dois
anos da presidenta simplesmente dobrou, em relação ao período aúreo, arrastando
uns cinco milhões ao desemprego, à informalidade a empregos precários e maus
pagos. A renda média do trabalhador está caindo, junto com a produção e o PIB.
O
Senhor então não sabe, ou demonstra não saber, que as acusações pelo envolvimento
da senhora Dilma Rousseff, na Operação Lava Jato e no Petrolão, que mancham a
honra do país, foi fruto de um acordo zelosamente guardado pelo seu principal
articulador, o Presidente da Câmara Eduardo Cunha, que também é atingido em
cheio por esse escândalo? O seu ex-braço direito, Delcídio do Amaral é quem a
denuncia! Aliás, quem, próximo desse monumento de integridade, que é a nossa,
queira Deus, ex-presidenta, não está envolvido em escândalo? Que país, a
Espanha inclusive, admite um governante cercado por tanta gente corrupta? Mas o
Senhor parece só ter olhos para a “infestação de corruptos” do lado oposto. A
brincadeira acabou; o Senhor já pode abrir o seu olho esquerdo.
Por
falar em Eduardo Cunha, custa-me crer que o Senhor tenha escrito o que escreveu
a esse respeito, tão ofensivo é ao povo de meu país e ao mais elementar bom
senso. Chamar Cunha de “verdadeiro motor do processo de impeachment”, é
deconhecer e tripudiar sobre os milhões de brasileiros que foram as ruas, nas
maiores manifestações da história desse país, pedindo a saída desse governo e o
fim do caudal de corrupção que extravasava da cadeira presidencial da senhora
Dilma; é desconhecer e tripudiar do altíssimno nível moral e jurídico que
embasam as figuras de Miguel Reale e Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT (!),
que são os autores da peça acusatóreia que levou ao impeachment, e que não
cessaram de denunciar a ceifa proposital que Cunha e Calheiros fizeram ao
extirpar da peça acusatória a parte referente à Lava Jato e ao Petrolão, onde a
presidenta está envolvida até o pescoço. Se existe um momento em que o
Congresso foi particularmente suspeito quanto ao andamento do processo foi
justamente quando conseguiu extirpar a acusação mais grave contra a presidenta
deste processo. Mas nem isso salvou a sua pele nem a de Eduardo Cunha, sobre as
quais o povo, por meio de seus representantes ainda bailará.
Por
fim pela primeira vez, nos últimos nãos vemos um Congresso minimamente
articulado com a presidência da república, apontando minimamente para uma
superação da fragmentação política, embora só um ingênuo acredite que a
travessia será fácil suave e sem dor, mas pelo menos ela começou.
Resta-me
por fim, lamentar que um veículo de informação com a história e a envergadura
do El Pais tenha aquiescido em se transformar numa mera repetidora do discurso
oficial do Partido dos Trabalhadores, uma agremiação política ainda impúbere,
sem credibilidade, abandonado por vários de seus fundadores, com algumas de
suas grandes personalidades recolhidas a centros de detenção, por roubalheira,
controlado por um caudilho, hoje acusado de chefe de quadrilha, uma espécie de
Francisco Franco da esquerda, imune a qualquer franqueza...
Francamente!
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