segunda-feira, 23 de maio de 2016

NÃO É NUESTRO PAIS (CARTA AO SITE BRASILEIRO DO JORNAL EL PAIS)

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de BR, EUA, Bélgica e Bulgária. Deus os abençoe.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9OdTrh7fZ3XJWxu55ikjRvrm2DtqEEcFtUr-_U5Fqq6TxWyt68ljlWNnyqodibQ4Ke6UQv-W3tLE7q6XRvCu2gkqyMnSOGobbOfOm9WP2tOYW9Hna73sF2wCpiYJn3Sv-V86Vixjw_hw/s1600/amizade-colorida_luedil.jpg
http://caricaturasdo.blogspot.com.br/

         Senhor Editor
         Sempre fui um fã do site brasileiro do El Pais, em virtude da quantidade e da qualidade de artigos noticiosos e de opinião que fizeram a fama de um dos mais importantes veículos de informação e análise do Hemisfério Ocidental, até ser brutalmente surpreendido e decepcionado com um editorial, datado de 12 de maio do El Pais, Brasil, com o seguinte título: Um Brasil de Temer.
         A primeira coisa a observar é a tentativa forçada, fracassada e infame de criar um trocadilho entre o nome do presidente provisório e o verbo temer, de “dar medo”, tenho certeza que o senhor consegue fazer muito melhor, acompanhada da seguinte chamada: “A destituição de Dilma Rousseff não soluciona nada e aumenta a instabilidade do país”; e acrescenta um pouco mais abaixo, que ela aporfundará a crise institucional vivida pelo país. A questão, quanto a esse ponto, é saber que profeta, Nostradamus ou bola de cristal lhe passaram essa informação, uma vez que os verbos, embora no presente, pelo contexto, apontam para um futuro; manhas da língua portuguesa, a não ser que o Senhor esteja querendo propor que uma simples mudança de quadros administrativos possa, de per si, gerar mudanças numa estrutura tão gigantesca e complexa como a político-econômica do Brasil. Isso só é possível, fora de um âmbito político-ideológico, a um pensamento mágico!
         Qual seria então a solução, que por sinal não é colocada pelo Senhor? Deixar as coisas como estão? Olhar, impassíveis, o país derretendo econômica e moralmente nas mãos de um governo sem o mínimo de apoio institucional ou de alguém, que, fora do seu partido, não tenha sido escandalosamente comprado? Sem considerar a incapacidade técnica e de estatura moral da atual presidente em dar qualquer direção ao país, em que pese a sua “integridade”, posta já em cheque pelo testemunho do ex-senador Delcídio do Amaral, um de seus mais próximos, o Senhor, complacente, anota que contra ela pesam denúncias de “práticas nocivas”, que outros praticaram, inclusive em outros países. Mas se me consta à memória os espanhóis não foram tão liberais nem usaram de tais analogias, no possível envolvimento da infanta Cristina com as falcatruas de seu marido. Nós também somos um país sério, e apenas o contrário nas anedotas. Que nós curtimos, mas não queremos imitar!
         O Senhor reproduz que o governo do tirou milhões da miséria, mas esqueceu-se de atualizar seus dados e considerar que o índice de desemprego, nos últimos dois anos da presidenta simplesmente dobrou, em relação ao período aúreo, arrastando uns cinco milhões ao desemprego, à informalidade a empregos precários e maus pagos. A renda média do trabalhador está caindo, junto com a produção e o PIB.
         O Senhor então não sabe, ou demonstra não saber, que as acusações pelo envolvimento da senhora Dilma Rousseff, na Operação Lava Jato e no Petrolão, que mancham a honra do país, foi fruto de um acordo zelosamente guardado pelo seu principal articulador, o Presidente da Câmara Eduardo Cunha, que também é atingido em cheio por esse escândalo? O seu ex-braço direito, Delcídio do Amaral é quem a denuncia! Aliás, quem, próximo desse monumento de integridade, que é a nossa, queira Deus, ex-presidenta, não está envolvido em escândalo? Que país, a Espanha inclusive, admite um governante cercado por tanta gente corrupta? Mas o Senhor parece só ter olhos para a “infestação de corruptos” do lado oposto. A brincadeira acabou; o Senhor já pode abrir o seu olho esquerdo.
         Por falar em Eduardo Cunha, custa-me crer que o Senhor tenha escrito o que escreveu a esse respeito, tão ofensivo é ao povo de meu país e ao mais elementar bom senso. Chamar Cunha de “verdadeiro motor do processo de impeachment”, é deconhecer e tripudiar sobre os milhões de brasileiros que foram as ruas, nas maiores manifestações da história desse país, pedindo a saída desse governo e o fim do caudal de corrupção que extravasava da cadeira presidencial da senhora Dilma; é desconhecer e tripudiar do altíssimno nível moral e jurídico que embasam as figuras de Miguel Reale e Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT (!), que são os autores da peça acusatóreia que levou ao impeachment, e que não cessaram de denunciar a ceifa proposital que Cunha e Calheiros fizeram ao extirpar da peça acusatória a parte referente à Lava Jato e ao Petrolão, onde a presidenta está envolvida até o pescoço. Se existe um momento em que o Congresso foi particularmente suspeito quanto ao andamento do processo foi justamente quando conseguiu extirpar a acusação mais grave contra a presidenta deste processo. Mas nem isso salvou a sua pele nem a de Eduardo Cunha, sobre as quais o povo, por meio de seus representantes ainda bailará.
         Por fim pela primeira vez, nos últimos nãos vemos um Congresso minimamente articulado com a presidência da república, apontando minimamente para uma superação da fragmentação política, embora só um ingênuo acredite que a travessia será fácil suave e sem dor, mas pelo menos ela começou.
         Resta-me por fim, lamentar que um veículo de informação com a história e a envergadura do El Pais tenha aquiescido em se transformar numa mera repetidora do discurso oficial do Partido dos Trabalhadores, uma agremiação política ainda impúbere, sem credibilidade, abandonado por vários de seus fundadores, com algumas de suas grandes personalidades recolhidas a centros de detenção, por roubalheira, controlado por um caudilho, hoje acusado de chefe de quadrilha, uma espécie de Francisco Franco da esquerda, imune a qualquer franqueza...

         Francamente!   

Nenhum comentário:

Postar um comentário