VÉSPERAS
BRASILEIRAS
Prof
Eduardo Simões
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Ameaça,
até nas mais amistosas expressões.
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Chantagista, corrupto, quadrilheiro, procrastinador, mafioso, chicaneiro, obstrutor
da justiça, falso e mentiroso. Tudo isso se pode deduzir da peça jurídica, de
autoria do ministro Teori Zavaski, que justificaria o afastamento do Presidente
da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, mais tarde ratificada, numa
medida extrema e incomum, mas absolutamente necessária, por todos os ministros
do Supremo Tribunal Federal.
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Nunca alguém foi tão longe, e de forma tão acintosa e constante, em seu intento
de desmoralizar as instituições mais importantes da república e da democracia
brasileiras. Seus atos são a prova mais cabal do quanto os bandidos da pior
espécie estão convictos de que o seu ninho, aqui no Brasil, é a vida política,
garantia da impunidade e, no pior dos casos, de foro privilegiado, que lhes
permite mover a indústria de recursos procrastinatórios, até a prescrição de
seus crimes.
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Um peso gigantesco, de humilhação e vergonha, foi tirado, repentinamente dos
ombros de 200 milhões de brasileiros, que estão com a alma lavada e só querem
comemorar, inclusive o que escreve essas linhas, enquanto aguardam,
esperançosos, a condenação da segunda leva de corruptos e bandidos incrustados
no Poder Executivo, e, devo confessá-lo, embora esteja absolutamente convicto
da culpa de Dilma e sua gangue, e deseje ardentemente vê-los longe de Brasília,
inclusive em alguma unidade penal, junto com Cunha, não comemorarei, antes
refletirei sobre tantas esperanças perdidas e a traição de toda uma geração,
patriótica, entusiástica, que lutou contra uma oligarquia militar tirânica, e
esperava que fizessem melhor uso de seus sonhos e de seus votos.
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Entretanto a nossa alegria é a dos pobres, e por isso comemoraremos antes pelo
que deixamos de perder, do que pelo que ganhamos, uma vez que Michel Temer está
longe de ser um grande político, e menos ainda um estadista, preparado para enfrentar
a crise que se agrava a cada dia, e que deve piorar nos próximos. Seja porque
perceberam a fragilidade do “presidente da vez”, seja porque estão sedentos demais
pelo poder, a ponto de não quererem enfrentar uma transição problemática, ainda
mais porque o ganho seria, “apenas”, o bem do Brasil, os partidos da oposição,
desde o insaciável PSDB ao patético Rede Sustentabilidade, não querem se
comprometer com Temer, enfraquecendo-o irremediavelmente. Itamar, em 1992, era
mais incapaz ainda, mas a oposição era outra...
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Tomado por todo tipo de gente, desde homens de bem até a mais escandalosa
camarilha, o PMDB encontra-se dividido e pouco pode fazer por Temer. O PSDB, um
ajuntamento de burocratas e políticos de gabinete, preocupados apenas com o
desempenho da economia, que evita o povo o máximo que pode, que bloqueou o
desenvolvimento do pensamento e da criatividade no estado de renda mais elevada
do país, transformando-o, intelectualmente, num mísero tucanistão, só pensa em
voltar ao Planalto. A Rede Sustentabilidade é presidido pela mulher invisível,
Marina Silva, que desaparece sempre que há uma crise. Já imaginaram se ela, no governo,
vê surgir uma crise inesperada? “Onde está a presidenta Marina Silva?” “Debaixo
da cama” ou “dentro de uma gaveta”, esperando a crise passar. Além disso, quem
mais aguenta ouvir seus intermináveis discursos politicamente corretos?
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Resta a proposta do PT e sua trupe de “eleições diretas já”. Isso bem mostra o
quanto eles desconhecem da natureza humana e da de suas próprias ações. São uns
completos irresponsáveis. Qualquer um, que tenha um mínimo de consciência do
que acontece no mundo real, para além dos delírios ideológicos, sabe que não existe
situação política mais polarizadora do que as eleições , quando o que está em
jogo é o poder, ainda mais o principal poder da ainda imperial república
brasileira. O que os nossos políticos não fazem para alcançá-lo! A sujíssima campanha
deles, nas últimas eleições, é uma prova cabal disso! Quem seria louco o bastante
de querer que o país fique mais polarizado do que já está? Melhor seria gritar:
“vamos começar uma guerra civil!” Definitivamente eles não são deste planeta, e
não se preocupam nada com esse país!
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Resta uma última reflexão. O que causou todo esse desastre, o quase colapso,
até agora, da vida política do Brasil? “Foi a oposição!”, diz o governo. “Foi o
governo!” Diz a oposição, ambos nada criativos e muito menos inteligentes. Quem
está criando toda essa revolução é, simplesmente, um Ministério Público com
liberdade para investigar gente “grande”, e uma justiça mais célere, o remédio
mais simples, óbvio e conhecido em todas as grandes democracias do mundo. Se a
justiça funciona, e as leis, com suas respectivas punições, mesmo essas frouxas
que existem no Brasil, são obedecidas ou passíveis de o serem à força, o
ambiente político purifica-se, o resto é consequência.
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O pior ainda está por vir. Eu não tenho dúvidas. Mas, pelo menos, com a punição
de Cunha e Dilma Rousseff, estaremos muito melhor preparados do que se a coisa
continuasse como estava. Apertem os cintos, que é só uma calmaria, a véspera do
vendaval. As tripas só faltam dar um nó cego, mas antes agora do que nunca...
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