HISTORIA
DA IGREJA BASEADA EM JEDIN – XVI
Prof
Eduardo Simões
Obrigado aos amigos dos EUA, BR, Portugal, Holanda, Egito e Suécia. Deus os abençoe.
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No caldeirão, junto às
outras
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No início da era cristã, Roma era uma babel religiosa; havia “iluminação” e
“salvação” para todos os gostos, mas também se podia observar uma mudança
importante em curso: o esvaziamento paulatino e preocupante, para alguns
membros da elite política, da primitiva religião oficial, de matiz
greco-itálica, muito utilitarista e burocrática, voltada para a busca de um
equilíbrio nas relações sociais dentro das cidades onde vigia a cultura
ocidental-mediterrânea.
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A questão é que Roma já não era mais a capital do Lácio ou mesmo de uma Itália,
culturalmente unificada, mas a cabeça de um grandioso império, que incorporara
não só imensas áreas rurais como numerosas cidades de cultura celta, ao norte
dos Alpes, mas também povos de cultura ainda mais diferentes, “estranhas”, no
Oriente, que, para desespero dos romanos tradicionalistas, era mais urbanizado
e próspero que o Ocidente, além de ter uma cultura muito mais antiga e provada
que a romana. Ademais os orientais tinham uma larga experiência na construção e
manutenção de grandes impérios, e sabiam da necessidade de uma religião como
elemento aglutinador da unidade política. Ora, isso jamais poderia ser feito
por uma religião com perspectivas tão curtas e prosaicas como o politeísmo
greco-romano tradicional. Era necessária uma religião com objetivos mais
abrangentes, universais, como eram as religiões orientais – aliás, se pegarmos
todas as religiões de cunho universalita do mundo nós veremos que todas elas
nasceram no Oriente: cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo,
etc.
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Alguns imperadores, em especial Otávio Augusto, bem que tentaram resistir e
impor, por decreto, o retorno triunfante de antigas práticas religiosas, para
conter a atração irresistível das seitas e religiões orientais, algumas deveras
muito bizarras, que se alastravam por Roma, esvaziando as cerimônias religiosas
públicas, enquanto davam a impressão de uma certa decadência moral. Como disse
um poeta satírico: “os esgotos do Orontes [rio da Síria] desaguam no Tibre”.
Essa decadência, porém, certamente que estava mais ligada ao absurdo e à
imoralidade da escravidão onipresente, que às estranhas doutrinas dessas
religiões, que, no geral, exigiam uma conduta correta de seus fieis. A essas
seitas acorriam a pequena classe média, os comerciantes, mais afeitos a
contatos com outras culturas, sem falar da aderência maciça dos soldados, mais expostos
à doutrinação nos países por eles ocupados. A penetração do cristianismo também
não foi diferente e deve ter seguido o mesmo padrão de outras religiões, que
entraram como que clandestinamente na capital do império, arriscando um futuro
glorioso ou uma asfixia lenta e melancólica, em meio a tantas outras mensagens
muito mais bem apresentadas e atraentes no curto prazo.
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Quem foi o primeiro a levar o cristianismo à Roma é um mistério. Pode ter sido
um soldado ou centurião de alguma legião ou unidade militar desmobilizada, que,
após ter-se feito discípulo na periferia da comunidade principal do
cristianismo palestinense, ao regressar à Roma tentou preservar aquilo que
aprendera do misterioso rabi. Pode ter sido um comerciante, que, após passar um
tempo de discipulado, precisou ir a Roma realizar negócios, um judeu
convertido, etc. A história jamais saberá, exceto por uma certeza: não foi
nenhum dos apóstolos. Pedro apenas, como disse o Senhor, confirmará a fé de
seus irmãos (Lc 22,32). Foi, provavelmente, entre as pessoas mais humildes de
Roma, romanos pobres e escravos, que o cristianismo deitará suas primeiras raízes,
tanto é que passará seus primeiros anos completamente desapercebido, até que a
perseguição de Nero jogará, sobre a Igreja, os holofotes que ela não pediu nem
buscou...
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Seus piores inimigos ajudaram-na a projetar-se. O preço, porém, foi arrasador,
e, naquelas circunstâncias, era de se temer o seu desaparecimento precoce não
fosse a força estranha que emanava de sua mensagem, e que crescia à medida que aumentava
a perseguição das autoridades romanas e do povo insuflado pelos inimigos
históricos do cristianismo – é curioso observar as estranhas e incríveis
reações que essa igreja sempre apresentou, ao longo da história, toda vez que
se vê a perigo de desaparecer ou sofrer perdas inestimáveis, por alguma
catástrofe eminente, mas deixemos isso por ora. A perseguição de Nero deu
oportunidade aos cristãos de mostrar a serena coragem de quem, mesmo sendo
escravo, se vê liberto da prisão da história e soberano de seu destino. Isso
impressionou sobremaneira aqueles que não haviam perdido o faro para as virtudes,
e acendeu neles, independente da classe social, o desejo de ascender àquela
graça. Não se sabe de ninguém, de certo peso social em Roma, sendo massacrado
na perseguição de Nero, mas na de Domiciano, uns trinta anos depois, um dos
atingidos foi Tito Flavio Clemente, cônsul e tio do próprio imperador, e membro
de uma família importantíssima, uma das fundadoras da cidade: a gens Flavia.
Fazendo-se notar
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O número e a qualidade dos membros da elite religiosa cristã não param de
crescer e, tomando consciência do absurdo jurídico de sua situação, afinal eram
perseguidos por um delito de opinião não previsto na lei romana, tomam a
iniciativa de ir ao encontro das mais altas autoridades romanas denunciando
abusos e pedindo justiça, justificando aos cristãos como cidadãos exemplares,
mostrando que não havia, em absoluto, incompatibilidade entre a prática do
cristianismo e a cidadania romana. Os primeiros que fizeram isso foram são
Melitão de Sardes (morto em 180), bispo, Apolinário de Hierápolis (segunda metade
do século II), bispo, e Atenágoras de Atenas (idem), filósofo cristão, que
escreveram cartas ao imperador Marco Aurélio Antonino Augusto (161-180), para fazer
uma apologia da fé cristã e pedir a sua intervenção contra as vexações injustas
que os cristãos sofriam impunemente, e sem motivo legal aparente, nas mãos de
autoridades civis, religiosas e do povo não cristão.
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De certa forma, essa queixa vai, aparentemente, contra um mandato do próprio
Cristo: “a quem te ferir uma face, oferece a outra” (Lc 6,29). O contexto agora
é diferente, não é mais uma questão pessoal, mas o legítimo direito de uma
coletividade injustamente agredida dentro de uma ordem jurídica estável, e que
não previa aquele tipo de tratamento. Calar-se e submeter-se seria compactuar
com uma injustiça e, no extremo, agir hipocritamente, contra muitos irmãos que
sofriam na carne aqueles desmandos legais. Qual foi a reação do Imperador Marco
Aurélio a esses pedidos? Não sabemos, mas sabemos que, embora esse imperador
tenha uma merecida fama de homem sábio, justo e equilibrado, a partir dos
padrões mais elevados da filosofia pagã da época, ele não via o cristianismo
com bons olhos: “[Marco Aurélio] desprezava
profundamente os cristãos, já que, como ele acreditava, sacrificavam sua vida a
uma ilusão... ele não estava disposto a permitir que a religião do estado fosse
posta em perigo por exaltados sectários religiosos, nem pela introdução de
cultos antes ignorados” (Jedin, p 252). Por conta disso o sangue dos
mártires correu também durante o seu reinado (1), inclusive o famoso episódio dos mártires de Lyon (2), onde se nota cada vez mais a
iniciativa de turbas descontroladas, agindo a revelia, pressionando as
autoridades. O que ou quem estaria por trás desse movimento? Eis o que diz
Jedin;
“Se agora um governador de província cedia
mais frequentemente ao furor popular, também em Roma o ambiente público pesava
mais contra os cristãos. O descontentamento geral da população contra o Império
continuava também a se manifestar, no governo de Marco Aurélio, sob diversas
formas. As campanhas militares intermináveis do imperador acarretavam várias
sequelas, como a constante ameaça sobre as populações fronteiriças de invasões
bárbaras, que aumentava a irritabilidade; a isso se somavam catástrofes
naturais como inundações do Tibre [provavelmente causadas pelo assoreamento
do leito devido ao desmatamento e ao excesso de gente morando em suas margens]
e a peste (2a); e tudo isso ia se tornando
prelúdio de inevitáveis perseguições. Se
nos ritos de expiação que o imperador ordenara se notava a ausência de
cristãos, já era sabido aonde se iria descarregar a fúria da população”.
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As disputas com o judaísmo, no início, e com correntes internas heterodoxas,
fruto da fragilidade estrutural da Igreja e da complexidade da mensagem cristã,
deixavam os pagãos ainda mais perplexos e irritados. Para complicar surge entre
eles uma corrente fanática, o montanismo, imprudentemente sequiosa por
martírio, enquanto negava com afinco todo o patrimônio cultural das
civilizações pagãs, a provocar os nervos já distendidos dos povos do império.
“Os cristãos só nos trazem problemas”, diriam eles.
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Infelizmente a lógica da história não é a mesma do espírito e da moral, e assim
um imperador sábio e virtuoso, para os padrões do mundo greco-romano, além de
filósofo notável, como Marco Aurélio, passa para a história como alguém que não
entendeu nem aceitou a mensagem cristã, moralmente mais elevada que as virtudes
utilitárias das sociedades pagãs, o seu filho, Cesar Comodo Augusto (180-192),
um imperador depravado e abjeto, que tinha seu deleite nas lutas de
gladiadores, graças a influência de uma concubina, Marcia, que ao que tudo
indica era cristã ou nutria simpatias por essa religião (3), assinou alguns decretos que anulavam punições contra cristãos feitas
no reinado de seu pai. Mas se Comodo era fraco o bastante para se deixar
manipular por um rosto bonito, ou coisa que o valha, e desfazer algumas
injustiças, certamente que não era lúcido nem moralmente capaz o suficiente
para levar uma decisão às últimas consequências, de tal sorte que perseguições
esporádicas e impunes continuaram por todo o império (4).
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Seja como for tudo indica que estamos diante de iniciativas tomadas por uma
turba revoltada contra os cristãos, cujos motivos ainda precisam ser
esclarecidos, deixando, às vezes, constrangidas as autoridades responsáveis,
como o pró-cônsul da Ásia, Tito Ario Antonino, que, segundo o escritor cristão
Tertuliano, depois de prender muitos cristãos, movido por diversas denúncias,
fez libertar a maior parte deles dizendo: “miseráveis,
se quereis morrer aí tendes cordas e despenhadeiros” (p 257). Isso mostra,
definitivamente, que não havia uma predisposição, e menos ainda uma conduta
obrigada por lei, da parte do estado romano politeísta, contra o cristianismo,
na maioria dos casos de martírio.
No Olimpo dos
intelectuais
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Mas se o povo começava a dar mostras de irritação contra os cristãos, seja essa
irritação espontânea seja movida por grupos interessados, no seio da elite
intelectual pagã nota-se um interesse crescente pela nova religião.
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Nas primeiras menções ao cristianismo, feita por historiadores que relatavam o
incêndio sob Nero, como Tácito e Suetonio, os cristãos são citados de passagem,
de forma muito vaga e depreciativa; o primeiro fala de uma “abominável
superstição” (pg 259), e o segundo chamará os cristãos como membros de uma “superstitio nova et maléfica” (idem).
Mas essa atitude mudará:
“A partir da metade do século II, pode
reconhecer-se claramente, em amplos círculos de pagãos cultos, uma crescente
preocupação com o crescimento da religião cristã, que, a despeito dos tumultos
populares e das medidas restritivas oficiais, não se consegue frear. Os
representantes da filosofia pagã se veem agora obrigados a inteirar-se da
doutrina cristã, para discuti-la ou combatê-la” (p 259).
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O primeiro confronto que se tem notícia deu-se entre o apologista cristão
Justino e um filósofo cínico chamado Crescencio (5), que propagava serem os cristãos “gente ateia e sem religião” (idem), enquanto aquele punha a nu as
contradições morais do cinismo. Dizem os autores cristãos que Crescencio,
enfurecido pelo silêncio que lhe foi imposto pela argumentação irretocável de
Justino, denunciou-o às autoridades, que o fizeram decapitar, com outros seis
companheiros e uma mulher, todos cristãos, em 165.
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Outro relato, é o que saiu da pena de um dos mais ilustres membros da elite
romana, o senador, jurista e retórico romano Marco Cornelio Fronton
(95-+/-167), que em uma alocução pública, depois espalhada na forma de um
folheto, afirmava que “deveriam ser
consideradas plausíveis as suspeitas do populacho contra os cristãos; que em
suas reuniões, após suculenta comilança, regada a muito vinho, se entregavam
aos piores excessos, inclusive ao incesto” (p 260). Aparentemente fica justificada
a tese de que o incentivo á perseguição dos cristãos pelo povo saiu do seio da
própria sociedade pagã, por meio de seus grandes intelectuais e personagens
acatados – Fronton foi preceptor dos príncipes imperiais Marco Aurélio e Lucio
Vero. Mas ainda assim fica a pergunta: por que esses homens espalharam essas
notícias tão inverídicas? Com certeza eles não conviviam com os cristãos. Quem,
dentro da corte, estava próximo o bastante das autoridades, para ser
considerada fonte fidedigna a ponto de seu testemunho dar crivo de verdade a
tamanhos absurdos? Ou será que homens tão ilustres acataram, sem mais, os
alardes saídos da boca do povaréu? Por que não se promoveu uma investigação
séria, isenta, pelas autoridades, para saber o que realmente acontecia nos
bastidores do cristianismo, ante de liberar punições tão extravagantes?
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Curiosa, embora tão ilustrativa do tratamento dado aos cristãos pela
intelectualidade pagã, quanto irrisória em matéria de história ou material
apologético anticristão é a obra Morte de
Peregrino, do satírico Luciano de Samosata, cidade da atual Turquia (125-180),
escrito após presenciar a morte do filósofo cínico (5) Peregrino Proteu (95-165), que se autoimolou numa fogueira,
durante os Jogos Olímpicos de 165, após ter lido sua própria oração fúnebre,
onde se comparava a Hércules, e que, por isso, devia morrer como tal, queimado,
enquanto prometia a si mesmo, pelo seu gesto, glória imorredoura.
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Luciano, que presenciou o fato e não só não ficou impressionado como desdenhou
profundamente aquela demonstração de falta de juízo, deve ter procurado mais
informações sobre aquele transtornado, e quando soube que ele, em algum
momento, fora cristão, percebeu que o ocaso lhe dera uma oportunidade que não
podia perder. Ele não se fez de rogado e escreveu uma das mais grotescas
biografias que se tem notícia, e de quebra, um ataque arrasador ao cristianismo
(6). Não que ele acreditasse que o
cristianismo oferecia algum perigo às instituições do Império, antes os
cristãos eram gente tão miseravelmente “trouxa”, tão completos idiotas, que só
podiam ser levados no deboche.
“Foi então que ele [Proteus]
conheceu a maravilhosa doutrina dos cristãos, associando-se a seus sacerdotes e
escribas na Palestina. (...) E o consideraram como protetor e o tiveram como
legislador, logo abaixo do outro [legislador], aquele que eles ainda
adoram, o homem que foi crucificado na Palestina por dar origem a este
culto.(...) Os pobres infelizes estão totalmente convencidos, que eles serão
imortais e terão a vida eterna, desta forma eles desprezam a morte e
voluntariamente se dão ao aprisionamento; a maior parte deles. Além disso, seu
primeiro legislador os convenceu de que eram todos irmãos, uma que vez que eles
haviam transgredido, negando os deuses gregos, e adoram o sofista crucificado
vivendo sob suas leis." (Copiado de http://adcummulus.blogspot.com.br/)
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É difícil dizer até que ponto um escrito de cunho tão satírico e grotesco, como
o de Luciano, que privilegia situações tanto burlescas como escabrosas, como o
parricídio cometido por Peregrino, além de outros crimes, ajudava a aplacar, afinal
o cristianismo não era algo para se levar a sério, ou agravava a predisposição
da turba contra os cristãos, que, em Peregrino,
não passam de pobres coitados, embora fique a questão: quem gostaria que uma
pessoa amada sua, um filho ou filha, fosse transformado, por alguns
“esquisitos”, em um completo idiota. Mais sério, e mais bem argumentado, porém,
foi o ataque de um filósofo grego do final do século II, de nome Celso, em seu
livro Discurso da verdade.
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Sobre a vida de Celso nada se sabe, tampouco nada sobrou de suas obras, além do
que está escrito na resposta que o apologista cristão Orígenes, escreveu em sua
obra Contra Celso, uns 70 ou 80 anos
depois. O que sabemos de Celso, portanto, vem exclusivamente da pena de
Orígenes.
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Lendo aquilo que Orígenes deixou sobre Celso podemos deduzir que Celso é um
filósofo pagão, que admite o politeísmo, mas reprova as histórias mitológicas
criadas em torno dos deuses, aproximando-se do discurso dos platonistas, mas,
ao contrário de Luciano, seu escrito apresenta muito mais profundidade e é, certamente,
baseado em pesquisa muito mais abrangente, inclusive nos meios judaicos. Mas
há, em sua argumentação, um sério problema de origem: Celso parte do princípio
de que aquilo que ele já crê é absolutamente correto, de tal sorte que, a ideia
de criação a partir do nada, por exemplo, é-lhe completamente absurda, pois
para a filosofia grega era “evidente” que a matéria sempre existira e que, por
ser má, jamais poderia ter sido criada por um deus bom, o que o remeterá, inapelavelmente,
à condenação do cristianismo. Seria como um julgamento com
veredito prévio.
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Deus, segundo a concepção de Celso, “está
assentado muito longe, inacessível, e não pode revelar-se sem modificar o seu
ser e penetrar na história, sem por-se em perigo ao aproximar-se demasiado do
que é mau [a matéria]” (Jedin; p 263). Isso nega de antemão, e ao mesmo
tempo, os conceitos de “revelação” e de “profecia”, fundamentais ao
cristianismo. A possibilidade de encarnação de Deus é-lhe “totalmente ignominiosa: “Nenhum Deus ou filho de Deus, jamais baixou
nem baixará a este mundo”” (p 264). Para Celso Jesus seria “um mero homem que, utilizando-se de resursos
próprios dos magos do Egito, havia ganhado prestígio e autoridade”. Tanto
nisso, como no nascimento virginal de Jesus, Celso faz eco à mais grosseira
contrapropaganda judaica (7), que
fazia espalhar boatos muito ofensivos sobre o nascimento de Jesus e sua
pregação.
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Os cristãos, no entender de Celso, de uma certa forma fazendo eco ao discurso
de Luciano, “são, em sua maioria, gente
espiritualmente limitada, que não entendem suas próprias doutrinas [atitude
típica, da parte de Celso, de quem se considera intelectualmente “superior”] nem se prestam a discussão alguma... exaltam
intencionalmente a loucura e têm a insensatez como algo excelente [provável
alusão a 1Cor 1,25]. Sua fé é a fé dos tolos
ou da loucura... a atitude de alguns pregadores cristãos, ao prevenir contra a
sabedoria do mundo, o espanta e a todo
aquele que via na paideia grega (8)
um ideal” (idem), por isso não era de espantar que tal religião só
encontrasse eco nas classes mais baixas, como “entre os escravos, entre trabalhadores manuais e gente de ofício
semelhante, além de mulheres e crianças, ainda não dotadas de razão”
(idem). Celso, aqui, força um pouco, pois, vimos que na perseguição de
Domiciano, pessoas das mais altas esferas sociais começavam a se interessar
pelo cristianismo. Conclui Jedin:
“Celso funda a sua desestima moral aos
cristãos... no fato de que eles tomaram, propositalmente, conceitos forjados na
história cultural grega e os distorceram ou modificaram na sua propaganda,
desconsiderando a tremenda reverência que os gregos nutriam por esse passado
[tal “deformação” pode ser vista, por exemplo, no conceito do Logos, no início
do Evangelho de São João, contrário ao sentido original dado pelos filósofos
gregos]... adversários inconciliáveis do
verdadeiro logos que impera entre os gregos. Ademais, os cristãos pecam também
contra outro ideal do helenismo, a fidelidade ao nomos [a lei e os
costumes], em especial no reverente
respeito à tradição e às leis do culto religioso, que de alguma forma é
guardado na forma de leis não escrita por todos os povos [todos os povos da
bacia do Mediterrâneo, na Antiguidade, eram politeístas]... [Essa atitude
condenaria os cristãos a inevitável isolamento] cujos sequazes, compara Celso, a um montão de lombrigas, dispostas
sobre um lodaçal, a discutir interminavelmente, entre elas, quem seria a mais
pecadora” (idem; p 265).
__
Daí retira Celso sua conclusão final, de que os cristãos se constituem sim um
perigo para a ordem pagã, que ele deseja proteger, em especial à sua expressão
política, o Estado, o qual não deve a menor compaixão de tão maléfica malta de
malfeitores como são os cristãos. E depois de descer às mais abjetas acusações
e calúnias contra aquilo que os cristãos tinham como mais sagrado, Celso faz um
apelo ao retorno, dos já convertidos, ao paganismo anterior, que, por razões
óbvias, caiu no vazio, afinal eles já haviam sido colocados, por Celso, em um
leque de insanidades e malfeitorias, que iam da mais completa idiotia até o
mais repugnante banditismo.
Partindo para o
combate
__
Aos poucos, lá por volta da metade do século II, à medida que o movimento
cristão prospera e personalidades cultas, que têm algum reconhecimento na
sociedade romana e manejam a língua latina com mais desembaraço, se agregam a
ele, começa a surgir uma produção literária crsitã, de cunho apologético, que
os cristãos faziam de olho, principalmente na elite pagã, de quem queriam se
defender, e se possível converter. Segundo Jedin, essa produção tem algumas
características especiais.
a)
É toda escrita em língua grega.
b)
tenta não só fazer um resumo sistemático da crença cristã, mas avança no
esclarecimento de alguns pontos da crença. Nem sempre de uma forma feliz.
c)
Tenta rebater as acusações e calúnias absurdas, igualmente insidiosas, que se joga
contra o cristianismo.
d)
Em relação ao judaísmo focava no tema do Messias, ligando-o a Cristo.
__
Contra o paganismo a temática era mais abrangente. Diz Jedin;
“Neste campo era necessário, primeiramente,
desmentir tenazes rumores que atribuíam aos cristãos as mais abjetas desordens
sexuais, ateísmo e inutilidade social, que incitavam as massas pagãs contra
eles. Um espaço mais amplo é concedido à exposição positiva da mensagem cristã
e ao relato do alto nível moral e ético que acompanham seus afazeres diários. A
isso os apologistas ajuntavam, fatalmente, uma crítica mais ou menos acentuada
à fé pagã” (p 270).
__
Entre os primeiros apologistas se contam:
Cuadrato
__
Mencionado por Eusébio de Cesareia, em sua História
Eclesiástica, como alguém que teria, lá por volta de 125, entregue ao
imperador Publio Elio Adriano (117-138) uma defesa (apologia) do cristianismo;
fora isso não se tem nenhuma outra notícia de Cuadrato, que é, por alguns,
confundido com um bispo de Atenas de mesmo nome, nem de sua obra, que se
perdeu, exceto um parágrafo, chamado Fragmento de Cuadrato, que consta da História Eclesiástica – esse fragmento
está reproduzido em sua totalidade no verbete Fragmento de Cuadrato, na wikipedia em espanhol.
Arístides de Atenas
__
Era contemporâneo de Cuadrato, e parece que também escreveu uma apologia do
cristianismo ao imperador Adriano, mas ao contrário do que aconteceu com
Cuadrato, o seu escrito chegou até nós, graças a descoberta de uma versão dessa
apologia, acontecida em 1889, no mosteiro de Santa Catarina do Monte Sinai.
__
Os dados de Eusébio de Cesareia nos falam de um filósofo ateniense de nome
Arístides, que teria se convertido ao cristianismo e que escreveu uma apologia
dirigida ao imperador Adriano. O seu escrito faz uma digressão geral sobre a
caminhada da humanidade, rumo às luzes da verdade, dividida em quatro grupos:
bárbaros, gregos, judeus e, por fim os cristãos, que possuem “a verdadeira doutrina e a correta vida moral”
(p 271). O escrito de Arístide não causa impacto nem revela brilhantismo
formal.
“Este primeiro ensaio conservado de um
apologista cristão, que quer fazer a sua fé acessível aos seus concidadãos
politeístas, sugere a ideia de que foi um pagão recém-convertido, que abraçou
uma tarefa para a qual não estava em absoluto preparado” (p 272).
São Justino Mártir
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Justino nasceu em Flavia Neápolis, atual Nablus, na Cisjordânia; o ano é
incerto, por volta de 100, e morreu por volta de 165, em Roma, martirizado
durante o reinado de Marco Aurélio, por defender publicamente a sua crença.
Justino, quanto ao local de origem, era um samaritano, entretanto como nascera
do seio de uma abastada família pagã de fala grega, pode-se dizer que ele era
um gentio, que, graças aos estudos, se familiarizou bem com o pensamento grego,
até se tornar um mestre de filosofia, tendo feito sua opção pela escola
platônica.
__
Sua opção pela filosofia fê-lo viajar muito e conhecer diversas pessoas. Pesquisador
incansável da verdade, sua busca só encontrou seu objetivo quando conheceu “um
velho”, segundo seu testemunho em Diálogo
de Trifon, que debateu com ele sobre as premissas do cristianismo, fazendo
uma interessante ponte entre os profetas e os filósofos, cada um, a seu modo, levando
para Cristo, conseguindo converter a Justino, o que proporcionou um frutuoso
enlace da cultura Ocidental com a Bíblica-oriental – e é aqui, principalmente,
que está a vantagem do cristianismo sobre o judaísmo da época, que se recusava a
esse debate, exigindo a completa conversão espiritual e cultural dos
prosélitos. Justino terminou seus dias em Roma, onde fundou uma escola de
filosofia.
“Justino combate a mitologia politeísta pagã
com as armas que haviam sido fabricadas pelo racionalismo filosófico [combate
o adversário com suas próprias armas]. A
ela, à mitologia, ele opõe a imagem do Deus uno “pai do universo”... Que o Deus
uno seja pai, não justifica Justino pelo fato de ele ter dado a graça da
filiação divina a todos os homens, mas antes em ser a causa última da criação...
[Justino reforça a identificação de Cristo com o Logos (9) da filosofia] O Logos estava desde o princípio em Deus, é engendrado pelo Pai e
apareceu encarnado na sua completa divindade em Cristo... Não tem, portanto,
a mesma dignidade do Pai [aqui Justino afasta-se do que é considerado,
hoje, “ortodoxia”, mostrando o quão foi difícil chegar a um consenso a esse
respeito, e a quantos perigos não se expunham os primeiros cristãos, dentro e
fora da Igreja], mas participa, enquanto
Filho, da mesma natureza divina... antes de sua aparição, em Jesus Cristo, esse
Logos já estava ativo, pois não só por ele o Pai criou o mundo, senão que
apareceu por diversas vezes como “anjo do Senhor”. Falou pelos profetas do
Antigo Testamento, e a homens sábios como Heráclito, Sócrates e Musonio... de
tal sorte que esses homens também viviam conforme o Logos, que dirigia a sua
razão, e que, por isso, devem também ser contados entre os cristãos [algo
controvertido, mas não heterodoxo]... Deus
confiou aos anjos bons o cuidado dos homens e coisas deste mundo... Os anjos
não são espírito puro, mas antes possuem uma corporeidade aérea, que se nutre
de uma espécie de maná... A queda de
alguns anjos se deveu ao seu comércio carnal com mulheres (10), e seus filhos são os demônios que, dos ares, exercem funesta influência
sobre os homens... Eles são os inventores do culto idolátrico pagão, e também
foram eles que cegaram os judeus diante da revelação do Logos... e tentam agora,
pela astúcia, impedir a conversão da humanidade ao cristianismo... ” (p
273-274).
__
No âmbito do comportamento e da moral, ao contrário do que diziam seus detratores,
“o alto nível dos cristãos nesse campo era,
para ele, a prova irrefutável de que eles estão de posse da verdade. Os
cristãos são verazes e castos, amam seus inimigos, e morrem alegres pelos seus
ideais, não induzidos por raciocínios filosóficos... mas porque Jesus Cristo
exige uma vida de acordo com esses ideais... os cristãos cumprem as previsões
contidas no Antigo Testamento. Justino concede a este uma importância parelha
com os evangelhos, que são “a memória dos apóstolos” (p 274). Justino fala
também do batismo que “livra dos pecados
antes cometidos e cria um homem novo por Cristo”.
__
Entretanto:
“A forma mais pura do culto divino é o
sacrifício eucarístico, em que os crentes, unidos em comunhão fraterna,
apresentam o pão e o vinho, sobre os quais o presidente da comunidade apresenta
uma oração de ação de graças. Esses dons se distribuem novamente entre os
membros da comunidade, mas não mais como uma comida ou bebida comum, mas como
carne e sangue de Jesus Cristo... Essa transformação é operada pelas palavras
que Jesus Cristo pronunciou sobre o pão e o vinho, na última ceia, e que pediu
que os apóstolos a repetissem em sua memória... E este é o único sacrifício
“lógico”... porque seu centro é o Logos mesmo, Jesus Cristo (11)”
(p 274-275).
__
Enfim todo o discurso de Justino, tirado de obras que chegaram até nós, desde
época tão remota, como Diálogo com Trifão
e Apologia, atestam de maneira cabal
a antiguidade dos ensinamentos da Igreja Católica e a sua fidelidade à mensagem
original de Jesus Cristo.
Taciano
__
Nascido na Síria, no seio de uma família pagã, assim como Justino ele possuía
uma inteligência inquieta e afiada, e também se sentiu obcecado por uma busca da
“verdade”, o que o fez partir pelo mundo em busca de sentido e resposta para as
suas dúvidas existenciais. Essa busca o fez chegar até Roma, lá por volta de
152, onde se converteu ao cristianismo e entrou em contato com São Justino,
tornando-se não só cristão como um dos melhores discípulos deste. A morte de
Justino em 165, porém, deu uma guinada na sua vida, e ele foi se afastando da
ortodoxia cristã, para assumir uma versão extremamente rigorista da mensagem
cristã, descambando para a heresia. Em 172 ele viaja de Roma para o Oriente
onde, segundo seus adversários, cristãos ortodoxos, aprofundou ainda mais seus
erros, até morrer ignorado lá por volta de 180.
“[seu
livro Discurso aos gregos] supõe uma regressão em relação a apologia de
Justino. Enquanto este encontra na filosofia grega elementos de verdade,
Taciano só tem críticas e escárnio para as conquistas culturais do helenismo...
a teologia dos gregos é uma parvoíce, seus teatros, escolas de vícios, sua
filosofia está cheia de embustes, seu circo, música e poesia são fontes de
pecado... Um juízo condenatório tão taxativo e global não era nada propício a
que um adepto dessa cultura se abrisse á mensagem cristã de Taciano. O centro
desta é Deus uno e sem princípio, claramente distinto do mundo material... o
homem é dotado de livre arbítrio e pode, desse modo, escolher o bem e entrar na
imortalidade... Demônios são aqueles que querem fazer o homem acreditar no
destino [o “fado”, mencionado na religião e na filosofia dos gregos]... O homem pode libertar-se de seu domínio
[dos demônios], sob a condição de
renunciar, por meio de rigorosa mortificação, à matéria [uma possível referência
à teoria grega tradicional da maldade essencial da matéria?] (p 276).
__
Jedin arremata sua análise dizendo: “o
seu ataque desmedido contra a cultura helenística (e a helênica em geral) correspondia
a um traço do caráter de Taciano, sua tendência obsessiva ao extremo, que, na
sua volta à Síria... terminou por apartá-lo da Igreja e o levou a fundar a
seita dos encratitas, que condenava o matrimônio como um pecado e proibia em
absoluto o consumo de carne e vinho” (p 276-277). Foi um que se perdeu pelo
caminho, e nos faz meditar na assustadora previsão de Lc 13,24...
Atenágoras de Atenas
__
Sabe-se apenas que foi um “filósofo cristão de Atenas”, que lá por volta de 177
escreveu uma apologia ao imperador Marco Aurelio e seu filho Cômodo, em favor
dos cristãos, onde, segundo a Wikipedia em espanhol, “defende os cristãos das
três principais acusações que os pagãos lhes lançavam: ateísmo, antropofagia e
incesto. Desde as primeiras frases, a apologia se faz notar pela moderação e
cortesia de suas expressões. É uma obra-prima pelo seu alto voo literário, pela
clareza de sua argumentação e pela vasta erudição expressa pelo autor. Sua
composição é clara e metódica, a fraseologia bem acabada e rica em ideias, o
raciocínio é firme e vigoroso, o estilo é sóbrio, quase seco, mas simples e
preciso” (verbete Atenágoras de Atenas). O autor da Wikipedia ainda ressalta
que ele, nessa apologia, maneja a dialética melhor que São Justino, com a
vantagem de ser mais benevolente com a cultura grega que Taciano. Diz Jedin:
“Nobre, como o tom do conjunto de seu
escrito, é a atitude de Atenágoras diante da filosofia grega, entre cujos
representantes se pode descobrir, amiúde, tendências monoteístas, sem que se
assaque contra eles a pecha de ateus [como se fazia com os cristãos]... A existência desse Deus uno pode inclusive
demonstrar-se por argumentos racionais... e a revelação também nos permite
reconhecer a divindade do Logos; a ação do Espírito Santo, que é uma emanação
de Deus [ainda evoluiremos nessa questão], se torna palpável nos profetas. O alto nível da moralidade cristã se
faz notar pela pureza da vida conjugal e a estima da virgindade; um segundo
matrimônio não passa, para os cristãos, de um decente adultério [também
evoluiremos quanto a isso]... nesse apologista [conclui Jedin] a argumentação
filosófica cristã ganhou qualidade enquanto a teológica ganhou profundidade” (p
277-278) (12).
Teófilo de Alexandria
__
Nada se sabe da vida de Teófilo, exceto aquilo que sobre ele diz Eusébio de
Cesareia, que o apresenta como sexto bispo de Antioquia, com data provável de
sua morte em 183. A única obra dele que chegou até nós foram os três livros que
compõem a A Autólico, uma apologia do
cristianismo dirigida a um amigo pagão do bispo, Autólico, esclarecendo sobre
certos mal-entendidos e calúnias que este ouvira a respeito da doutrina cristã
(13). Diz Jedin:
“Quer fazer ver [a Autólico]... que os escritos cristãos, como o Antigo
Testamento, sobrepujam em antiguidade e em matéria de religião e filosofia tudo
o que já fora produzido pelo pensamento grego... Os autores dos evangelhos,
como os profetas, são para ele portadores do Espírito, e seus escritos, assim
como os de Paulo, têm a autoridade da “palavra santa e divina”... A alma humana
possui uma imortalidade potencial [algo controvertido]; a imortalidade se lhe é concedida apenas
pela livre observância dos mandamentos de Deus (14)” (p 278).
__
Além destes, pode se mencionar a Melitão de Sardes, Miltíades da Ásia Menor e
Apolinário de Hierápolis, cujas obras, por tão fragmentárias, não podem ser
corretamente aquilatadas. A respeito de todos esses apologistas vale a pena ler
a seguinte reflexão de Jedin:
“Uma abordagem global da obra dos apologistas
do século II já não permite sustentar sem restrições a tese [protestante] de que, em seu intento de fazer entender no
mundo helenístico, o cristianismo se helenizou [de onde a contrapartida,
tipicamente protestante, de sobrevalorizar o Primeiro Testamento e, em
consequência, a tradição e a cultura judaica, principalmente nos EUA, chegando
ao extremo, às vezes, de querer ligar o cristianismo às aventuras imperiais do
estado israelense]. O conteúdo
genuinamente cristão da literatura apologética contradiz inequivocamente essa
afirmação, sobretudo quando se tem em vista a sua finalidade, que, ao pretender
estabelecer um diálogo ao mesmo tempo com judeus e pagãos, não permitia uma
exposição completa da teologia cristã, e por isso tiveram que abrir mão, desde
o princípio, de uma descrição detalhada dos mistérios cristãos. Entretanto,
quando comparados aos Padres Apostólicos, esses apologetas apresentam um
desenvolvimento considerável da doutrina sobre Deus, da cristologia do Logos,
do pensamento trinitário e da antropologia cristã... o trabalho bíblico fez
consideráveis progressos; nota-se o princípio da formação do cânon, começa a se
desenvolver uma doutrina sobre a inspiração e o Antigo Testamento é explorado
em vistas de uma cristologia com fundamentação bíblica” (p 280).
__
É verdade, ainda segundo Jedin, que o principal objetivo da literatura apologética,
que era conseguir o reconhecimento do Estado romano e o respeito das
autoridades para como os cristãos e o cristianismo, não foi alcançado, mas o
trabalho deles encheu os cristãos de confiança para enfrentar o discurso e a
zombaria pagã usando das armas da argumentação em alto nível intelectual, sem o
uso da força, inviável, ou do espetáculo charlatanesco, como faziam algumas
seitas mistéricas, distinguindo nitidamente o cristianismo destas. Essas obras
certamente deram a uma comunidade espezinhada, acabrunhada, por tanta perseguição
e injustiça, a certeza de que faziam parte de uma projeto de salvação social e espiritual
bem mais amplo, que os propostos pelo paganismo, e isso, naquela hora, pode ter
salvo o cristianismo.
Nota
(1)
Esse foi o caso de São Justino Mártir, e mais seis companheiros, denunciados
como cristãos ao prefeito de Roma, Junio Rustico, que governou entre 162 e 168.
Compelidos por este a sacrificar aos deuses, eles se recusaram, o que os levou
a serem açoitados e decapitados. Publio, bispo de Atenas, foi martirizado entre
161 e 170. Ságaris, bispo de Laodiceia, martirizado por volta de 164. Thraseas,
bispo de Eumenia, seguiu o mesmo destino, além de um martírio coletivo em
Pérgamo, no qual foram mortos o bispo de Tiatira, Carpo, acompanhado do diácono
Papilo, além Agatodhoro, que era servo de Carpo e Agatônica, irmã de Papilo. Os
homens foram decapitados e a mulher foi estrangulada com tendões de boi.
(2)
Este fato é o seguinte: durante um festival religioso pagão, na colônia romana
de Lyon, na Gália, atual França, no ano de 177, a multidão, por razões
desconhecidas, espontaneamente atirou-se contra os cristãos que eles conheciam,
assacando-lhes as mais grotescas acusações, como canibalismo, infanticídio e
incesto, exigindo que as autoridades tomassem providências: os massacrassem
para evitar seu linchamento certo – alguns autores hipotetizam que a iniciativa
se deveu a adoradores de Cibele, que também prometiam vida eterna após a morte,
e, portanto, temiam a concorrência dos cristãos, e que teriam uma festa comemorativa
naquele ano, coincidindo com alguma celebração cristã, mas a arqueologia em
Lyon tem enfraquecido essa tese; outros afirmam que isso nasceu do preconceito
do povo contra os cristãos, que tendia a vê-los como “ateus”, por se recusarem
a sacrificar aos deuses, embora contra essa tese exista o fato de que os
romanos eram muito tolerantes em matéria de religião, o Imperador Marco Aurélio
mais ainda, e não existia por parte do Estado, ao que se sabe, nenhuma política
oficial dirigida contra os cristãos; outros autores falam de atitudes
provocativas por parte de cristãos montanistas, “confirmada” pelo radicalismo
de alguns, em especial um tal Alcibiades, sem falar que a pátria de boa parte
dos cristãos envolvidos nesse processo era a Frígia, pátria do montanismo. Para
mim essa explosão foi, decerto, fruto de uma contrapropaganda muito insidiosa,
feita por um grupo organizado e influente dentro da comunidade lionesa, com
fortes motivos para detestar os cristãos. Mas quem?
Instaurado
o processo, um homem, Vetios Epagatos, se prontifica para defender os cristãos,
mas ao saberem que ele também é cristão, as autoridades, com o populacho nos
calcanhares, o prendem. Tudo não passa de um linchamento oficial. Sob ameaças e
possibilidade de torturas, 10 cristãos renegam a fé e salvam suas vidas, já o
restante, uns 47, entre os quais 22 mulheres, preferiram antes enfrentar os
verdugos e a insalubridade da prisão, que, junto com a tortura descontrolada,
levou 18 a óbito, entre os quais o primeiro bispo de Lyon e das Gálias:
Potino, já ancião.
Aqueles,
em número de 22, que não negaram a fé, mas tinham cidadania romana, foram, após
as torturas, decapitados.
Seis
foram condenados ao suplício público, no anfiteatro Três Gálias, e a servir de
banquetes às feras, entre os quais se encontrava um adolescente, de nome Pônticos,
e sua grande amiga, uma escrava frígia de nome Blandina, cuja história é muito
edificante: quando presa, seus companheiros temeram que não suportasse as
torturas devido a fragilidade de sua compleição física. Mas ela sobreviveu com
galhardia às maiores sofrimentos e indignidades na prisão, sempre afirmando:
“sou cristã, e não cometi nenhum crime”, e, além disso, começou a incentivar os
outros a preservar a fé! Levada à arena, viu seus amigos serem torturados e
mortos até o último, enquanto ela, amarrada a um poste, por alguma razão não
foi atacada pelas feras, isso por vários dias. Cansados da resistência daquela
mulher, espancaram-na novamente a e fizeram deitar sobre uma grelha
incandescente, mas não conseguiram demovê-la da fé. Diz uma testemunha ocular
que a sua obstinação começava a mexer com os nervos do povo na plateia, que,
impressionado, pôs-se a clamar para que ela abjurasse logo da fé e sacrificasse
aos deuses. Em vão,
Por
fim ela foi posta destro de uma rede de cordas e posta na arena junto a touros
furiosos, que a chifraram inúmeras vezes, atirando-a para o ar. Mas como ao
final do espetáculo ela ainda estivesse viva, foi por fim degolada por um
soldado, num gesto de misericórdia.
(2a) Essa peste, chamada de Peste Antonina ou Praga de Galeno, foi uma das mais mortíferas da Antiguidade. Segundo as fontes da época ela teria começado na Ásia Menor, durante as operações de guerra empreendidas pelos romanos contra o Império Parto, por volta de 165, e de lá foi trazida pelos soldados, e se espalhou pelo Ocidente, em todo Império Romano. Segundo alguns cálculos, que aparecem na Wikipedia em italiano (Peste antonina), morriam cerca de 2 mil pessoas por dia em Roma, enquanto que o total de mortos no império pode ter chegado a 5 milhões. O exército ficou tão desfalcado que operações de guerra tiveram que ser suspensas, e a defesa da fronteira periclitou - Roma foi salva porque a epidemia também se espalhou além da fronteira e vitimizou muitas tribos germânicas. Os sintomas da peste, descritos por Galeno fazem lembrar da varíola, embora também se especule se não era sarampo. Seja como for dá para entender o estresse das pessoas com a resistência dos cristãos em participar dos ritos mágicos que, segundo a crença mais difundida, afastaria a doença.
(2a) Essa peste, chamada de Peste Antonina ou Praga de Galeno, foi uma das mais mortíferas da Antiguidade. Segundo as fontes da época ela teria começado na Ásia Menor, durante as operações de guerra empreendidas pelos romanos contra o Império Parto, por volta de 165, e de lá foi trazida pelos soldados, e se espalhou pelo Ocidente, em todo Império Romano. Segundo alguns cálculos, que aparecem na Wikipedia em italiano (Peste antonina), morriam cerca de 2 mil pessoas por dia em Roma, enquanto que o total de mortos no império pode ter chegado a 5 milhões. O exército ficou tão desfalcado que operações de guerra tiveram que ser suspensas, e a defesa da fronteira periclitou - Roma foi salva porque a epidemia também se espalhou além da fronteira e vitimizou muitas tribos germânicas. Os sintomas da peste, descritos por Galeno fazem lembrar da varíola, embora também se especule se não era sarampo. Seja como for dá para entender o estresse das pessoas com a resistência dos cristãos em participar dos ritos mágicos que, segundo a crença mais difundida, afastaria a doença.
(3)
Marcia seria a amante-consorte de Cômodo, depois que ele, em 181, se separou da
sua esposa, Brutia Crispina, uma mulher fútil e superficial do alto patriciado,
por quem nutria desinteresse e desprezo, banindo-a sob a falsa acusação de
adultério – Crispina seria assassinada em 191, por ordem dele. Segundo uma
informação do historiador greco-romano Dion Cassio, Marcia teria por mestre um
presbítero cristão de nome Jacinto, e mantinha relações amistosas com a
comunidade cristã de Roma, embora não haja qualquer prova ou notícia mais
consistente de que ela era cristã de fato e, batizada. Seus atos posteriores
apontam noutra direção. Na passagem do ano romano de 192, ela cometeu o “erro”
de não apoiar uma ideia tresloucada de Cômodo, e este a inscreveu em sua lista
negra, para ser executada no dia seguinte. Essa lista, porém, caiu nas mãos de
Márcia, que resolveu envenenar o imperador, mas este, sentindo-se mal, vomitou
a refeição, com o veneno junto, e foi tomar banho. Nesse momento, Marcia e
outros dois, que também estavam na lista, fizeram entrar um enorme lutador, nos
aposentos de Cômodo, que o estrangulou ali na banheira. O assassinato,
entretanto, deu início a uma confusa guerra civil, que levou à execução todos
os responsáveis pela morte de Cômodo, uma vez que sobre eles pesava a marca da
traição, e quem já traiu uma vez pode trair outra.
(4)
Em 17 de julho de 180 (Marco Aurélio morreu em 17 de março), na cidade de
Scillium, próxima a Cartago foram executados 12 mártires, 7 homens e 5
mulheres, a espada, por ordem do pro-cônsul Vigelio Saturnino; houve o martírio
do Senador Apolônio, que teria escrito uma defesa do cristianismo, lida no
Senado, mas que hoje está perdida. Fala-se também de martírios em Apameia, na
Frígia, e perseguições difusas na Síria, segundo Teófilo de Antioquia.
(5)
O cinismo foi uma escola filosófica, embora um de seus principais representantes,
o grego Diógenes Laercio (séc III), o considere antes uma forma de vida, que prega
a indiferença e um desprezo radical às convenções sociais – seu representante
mais conhecido foi Diógenes de Sinope (412–323 a.C), que viveu boa parte de sua
vida dentro de um tonel. Sobre Crescencio nada se sabe.
(6)
Peregrino seria o charlatão por excelência o canalha por vocação e por
essência, que é expulso da casa paterna, pelo pai exasperado com a sua
canalhice. Vagando pelo mundo, aplicando golpes por onde passava,
principalmente entre os cristãos que eram tolos o bastante para verem nele
alguma coisa mais que um esculachado mau-caráter. Luciano debocha do apoio e
conforto que os cristãos davam a Peregrino quando este esteve preso, sem
atinar, por lhe faltar a verdadeira sabedoria, que era justamente aí que estava
a maior força do cristianismo, pois a compaixão, inclusive para com os maus,
não era uma qualidade típica do antigo paganismo.
(7) “A partir de los fragmentos del Discurso verídico se puede deducir que los primeros
cristianos aducían el nacimiento virginal de Jesús como una prueba de su
divinidad. La insistencia con que Celso transmite calumnias en torno al nacimiento
de Jesús muestra la fuerza del argumento; y el hecho que estas calumnias sean
de origen judío _Celso las pone en boca de un judío_ muestra la antigüedad del
mismo argumento (cf. I,28; I,32; I,39; I,69; II,13). En este caso no hay un
verdadero cuestionamiento a la predicación cristiana, por parte de Celso, sino
simplemente la repetición de una calumnia que busca desacreditar a Jesús” (Fernández;
2004).
(8) Paideia é o nome que os gregos davam ao seu
ideal de autoformação e formação das futuras gerações. O seu significado pode
ser entendido como o de educação, ensino, formação, num sentido muito mais
amplo, abrangente e integrado que o da educação especializada, utilitarista e
burguesa da atualidade.
(9) O termo “logos”, que aparece na filosofia
grega com o filósofo Heráclito, “como princípio unificador universal que
sustenta o mundo em um fluxo perpétuo. Para os estoicos... o logos era o
princípio ativo e unificador do universo e fonte de todas as coisas existentes
por meio dos logoi esparmatikós, sementes, por meio das quais as coisas vêm à
existência. O logos era também a lei natural em conformidade com a qual as
pessoas devem viver. No judaísmo helênico de Filon, o termo “logos” denotava o
instrumento pelo qual o mundo fora criado e representava uma ponte entre o Deus
transcendente e o mundo material. Da perspectiva do AT, o conceito evoca a
palavra de Deus que chamou à existência a criação... a palavra reveladora que
veio aos profetas... a palavra como equivalente à Lei... como agente de
salvação... ou de juízo de Deus... João rompe com os conceitos gregos, indo
além da perspectiva do AT ao afirmar a preexistência pessoal e a encarnação do
Logos. Seu foco não se volta para qualquer dos conceitos metafísicos do Logos,
mas sim, para a identificação de Cristo como o Logos divino, por quem o mundo
foi feito... era Cristo por eles [os apologistas cristãos] entendido como a
razão imanente (logos endiatethos) do Pai, surgida e existente antes da criação
(logos prophorikos, a palavra proferida), sendo então, embora já existente no
pai, gerada, manifesta, para se tornar homem na encarnação. O Logos era, dessa
forma, entendido como: a) revelador e interprete do pai invisível e
transcendente; b) o princípio racional em Deus, relacionado à razão do homem
(para Justino Mártir e Clemente de Alexandria, o Logo era o inspirador da
melhor filosofia grega); c) a (expressão da) vontade do Pai mantendo assim a
unidade de palavras e atos... a ideia de “datação” da geração do Filho no tempo
[nascido no ano 14 do reinado de Augusto] criou dificuldade. Por outro lado o
conceito (de Fílon) do Logos como intermediário entre um Deus transcendental e
um mundo material (e.g. em Justino Mártir) levou facilmente a alguma forma de
subordinacionismo [crença que Jesus Cristo era subordinado ao Pai, rompendo a
igualdade fundamental e essencial ao conceito de Deus único, que deve existir
entre as pessoas da Trindade] ”
(Fergusson; p 622-623).
Eis uma passagem, traduzida da wikipedia em
espanhol, onde aparece, de uma forma clara, o subordinacionismo de Justino, no
seu Diálogo com Trifão, parágrafo LVI: “eu te convencerei, uma vez que
compreendes as Escrituras (da verdade), que há, conforme se diz que existe,
outro Deus e Senhor subordinado ao Criador de tudo; que é chamado Anjo, porque
ele anuncia aos homens qualquer coisa que o Criador, acima do qual não existe
outro deus, quer que ele saibam” (verbete Justino
Mártir)
(10) Velha
lenda derivada de antigos mitos, que narravam o intercurso sexual entre deuses
e seres humanos; muito comum entre gregos e romanos, porém, mais naqueles, difundida
também no judaísmo rabínico, de onde proveio, devido às duas narrativas da
criação do homem (Gn 1,27 e 2,4-25), a lenda de Lilite, a primeira mulher perversa
de Adão, que abandonou o paraíso para dar vazão à sua sexualidade exacerbada
com Satã, recém-despejado do céu, e que se transformou, posteriormente, na serpente
que seduziu Eva, só para destruir a felicidade do primeiro casal. É o símbolo
da mulher adúltera e vingativa, e, até certo ponto, da “fraqueza essencial” da
mulher, principalmente entre os povos do Oriente, o que justificaria a
vigilância constante e irrestrita de pais e maridos.
(11)
Eis o texto em espanhol sobre o discurso de Justino sobre as práticas
eucarísticas de seu tempo, copiado da wikipedia em espanhol, verbete Justino Mártir:
“El día que se llama día del sol tiene lugar la reunión en un mismo
sitio de todos los que habitan en la ciudad o en el campo. Se leen las memorias
de los Apóstoles y los escritos de los Profetas. Cuando el lector ha terminado,
el que preside toma la palabra para incitar y exhortar a la imitación de tan
bellas cosas. Luego nos levantamos y oramos por nosotros… y por todos los demás
dondequiera que estén, a fin de que seamos hallados justos en nuestra vida y
nuestras acciones y seamos fieles a los mandamientos para alcanzar la salvación
eterna.
"Luego se lleva al que preside el pan y una copa con vino y agua
mezclados. El que preside los toma y eleva alabanzas y gloria al Padre del
universo, por el nombre del Hijo y del Espíritu Santo, y da gracias largamente
porque hayamos sido juzgados dignos de estos dones.
"Cuando el que preside ha hecho la acción de gracias y el pueblo ha
respondido “amén”, los que entre nosotros se llaman diáconos distribuyen a todos
los que están presentes el pan y el vino “eucaristizados”. (SAN JUSTINO, Carta
a Antonino Pío, Emperador, año 155) “A nadie le es lícito participar en la
Eucaristía, si no cree que son verdad las cosas que enseñamos y no se ha
purificado en aquel baño que da la remisión de los pecados y la regeneración, y
no vive como Cristo nos enseñó. Porque no tomamos estos alimentos como si
fueran un pan común o una bebida ordinaria, sino que así como Cristo, nuestro
salvador, se hizo carne y sangre a causa de nuestra salvación, de la misma
manera hemos aprendido que el alimento sobre el que fue recitada la acción de
gracias, que contiene las palabras de Jesús y con que se alimenta y transforma
nuestra sangre y nuestra carne, es precisamente la carne y la sangre de aquel
mismo Jesús que se encarnó.
"Los apóstoles, en efecto, en sus tratados llamados Evangelios, nos
cuentan que así les fue mandado, cuando Jesús, tomando pan y dando gracias
dijo: “Haced esto en conmemoración mía. Esto es mi cuerpo”. Y luego, tomando
del mismo modo en sus manos el cáliz, dio gracias y dijo: “Esta es mi sangre”,
dándoselo a ellos solos. Desde entonces seguimos recordándonos unos a otros
estas cosas. Y los que tenemos bienes acudimos en ayuda de otros que no los
tienen y permanecemos unidos. Y siempre que presentamos nuestras ofrendas
alabamos al Creador de todo por medio de su Hijo Jesucristo y del Espíritu
Santo”. (SAN JUSTINO, Carta a Antonino Pío, Emperador, año 155). Há trechos
muito interessantes da obra de Justino, em espanhol, no seguinte endereço: http://www.mercaba.org/TESORO/427-11.htm
(12) Se o leitor quiser ter ler alguns trechos de
Atenágoras, em espanhol, recomendo o seguinte endereço: http://www.mercaba.org/TESORO/427-13.htm
(13) Trechos de Teófilo, em espanhol, podem ser
encontrados em: http://mercaba.org/TESORO/427-14.htm
(14) O texto da Wikipedia em espanhol é mais claro
quanto a isso e outros ensinamentos de Teófilo a saber:
“1. Teófilo de Antioquia foi o primeiro a usar o
termo grego Trias, na metade do
século II, para expressar a união em Deus de três pessoas divinas Deus (o Pai),
sua Palavra (Logos) e sua Sabedoria (Sofia). Dessa palavra surgiu o vocábulo
latino Trinitas [Trindade] de
autoria de um seu contemporâneo, Tertuliano, no início do século III.
2.
Foi o primeiro autor cristão a distinguir entre Logos endiazetos e Logos
proforiscos, o Logos interno e imanente de Deus, que estava Neste antes da
criação (endiazetos), e o Logos pronunciado por Deus, ao realizar a obra de
criação do mundo (proforiscos). Todas as epifanias do Antigo Testamento são
obras do Logos, não do Pai (é o Logos quem fala com Adão).
3.
Teófilo considera a imortalidade da alma não como algo imanente à sua natureza,
mas como uma recompensa pela observância dos mandamentos... A alma humana em si
não é mortal nem imortal, mas capaz de mortalidade ou imortalidade. Tudo
depende da fidelidade a Deus... Deus, portanto, fez o homem livre e dono de
seus próprios atos” (verbete Teófilo de
Antioquía). Como vemos os autores antigos dão um forte destaque ao livre
arbítrio, ao contrário do que acontece no cristianismo dos últimos
séculos.
Bibliografia – Fontes
Diversas
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vida privada – Do Império Romano ao ano mil; trad Hildegard Feist; 2ª
edição; Companhia das Letras; São Paulo; 1989
Bíblia de Jerusalém; 3ª impressão; Paulus; São Paulo;
2004
Bíblia Sagrada; 144ª edição; Ave-Maria; São Paulo;
2001
Bloch, Raymond e Cousin, Jean; Roma e o seu destino; trad Ma. Antonieta M Godinho;
Cosmos; Lisboa-Rio de Janeiro; 1964
Cornell, Tim e Matthews, John; Roma legado
de um império; col. Grandes Impérios e Civilizações; trad Maria Emilia
Vidigal; Del Prado; 2 vol; Madrid, 1996;
Diacov, V. e Covalev, S.; História da
Antiguidade – Roma; trad João Cunha Andrade; Fulgor; São Paulo; 1965
Feldman, Sergio A.; Entre o Imperium e a Ecclesia: os judeus no Baixo Império; Anais di
XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão; ANPUH/SP-USP;
São Paulo; 8-12 de setembro de 2008.
Fergusson, Sinclair – Wright, David – Paker, J. I.
(editor consultivo); Novo Dicionário de
Teologia; Hagnos; São Paulo; 2009 (online).
Fernández, Samuel; El discurso verídico de Celso contra los
cristianos. Críticas de um pagano del siglo II a la credibilidade del
cristianismo; Teologia y Vida; vol XLV, p 238-257; Santiago; 2004 (online).
Giordani, Mario Curtis; Antiguidade Clássica II – História de Roma; 9ª edição; Vozes;
Petrópolis; 1987.
Jedin, Hubert (org); Manual de Historia de la Iglesia – e la
Iglesia primitiva a los comienzos de la gran Iglesia - tomo primero;
versión castellana Daniel Ruiz Bueno; Herder; Barcelona 1966; (online)
Jewish Encyclopedia; 1906 - www.jewishencyclopedia.com
McKenzie, John L.; Dicionário bíblico; trad. Álvaro Cunha e outros; 8ª edição; Paulus;
São Paulo; 2003.
Mercaba.org (um site completíssimo sobre tudo
que diz respeito à fé católica, em espanhol)
Mora, Jose Ferrater; Diccionario de Filosofia; Sudamericana; Buenos Aires (online)
Reale, Giovanni – Antiseri, Dario;
História da Filosofia – Patrística e
Escolástica; trad. Ivo Torniolo; 4ª edição; Paulus; vol 2; São Paulo; 2009.
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