sábado, 14 de maio de 2016

A FALTA QUE ELES FAZEM

Prof Eduardo Simões

Obrigado aos amigos de Rússia, BR, EUA, Portugal, Argentina, Itália e Ucrânia. Deus os abençoe.

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__ Um dos comentaristas políticos mais respeitáveis, para mim, Gerson Camarotti, apareceu em um programa de TV, logo após a posse de Michel Temer, para destacar, desconsolado, a inexistência de “notáveis” no atual ministério, refletindo a opinião de não poucos. E eu fico pensado: “mas afinal o que essa gente entende por “notável”, e por que esse adjetivo adquire essa força na atual circunstância?”
__ Notável, em termos técnicos, são grandes especialistas em sua área. Senão vejamos: Albert Einstein foi o maior físico do mundo moderno, mas dado às suas excentricidades seu temperamento introvertido, quase antissocial, “teimoso como uma mula”, com ele próprio se qualificava, só um louco, ou um “notável”, o convidaria para fazer parte de uma equipe de governo, e quando o foi, Bem Gurion o convidou para ser presidente de Israel, ele recusou-se – reconheceu que era muito bom em lidar com fatos objetivos, mas não com pessoas. Com isso ele deixou de ser “notável” para ser inteligente, e mostrou mais juízo que o seu quase anfitrião. Nenhum dos maiores treinadores de futebol foi jogador de futebol de mesma envergadura.
__ Podemos entendê-lo também do ponto de vista político, com um homem capaz de mobilizar grandes multidões em torno de um ideal, embora aqui, como em circunstâncias análogas, valha mais a questão de quem veio antes: o ovo ou a galinha? Por exemplo: quem era Charles de Gaulle na derrocada francesa de 1940? Um mero coronel de infantaria, entusiasta de uma arma desacreditada. Foi o desejo da melhor parcela da população francesa em resistir ao nazismo que fez De Gaulle ser o que ele foi mais tarde. Não era Churchill, um velho prosaico e decadente político vitoriano, quando o desejo da nação inglesa de resistir a Hitler o convidou para liderar a nação? O único notável entre os grandes foi, decerto, Franklin Roosevelt, mas a política externa de Roosevelt era um horror! Os japoneses pegaram os americanos totalmente desprevenidos e as suas intervenções na Europa fizeram com a União Soviética saísse da guerra excessivamente prestigiada e a França quase rompida com a América. Notáveis eram também os grandes ditadores do momento: Hitler, Mussolini e Stalin. Desnecessário é falar de sua herança.
__ Resta-nos debruçar-nos sobre o sentido mitológico, no significado mais pejorativo possível deste termo, para entender-mos que “notáveis” são os velhos e surrados “salvadores da pátria”, absolutamente necessário aos povos que se recusam a amadurecer e teimam em agir como crianças diante da história, sempre esperando que alguém “maior” lhes diga o que fazer ou no que acreditar, ou pelos menos o impeça, com a sua presença, de fazer alguma bobagem ou crer que bobagens não estão sendo feitas, porque tudo isso, afinal, e uma grande bobagem. O que os “notáveis” do tempo de Collor fizeram que não estava previsto absolutamente em lei ou desbordasse das condições políticas do momento? Se não mudaram nada, porque são “notáveis”? Só por que deram uma aparência de que tudo estava bem, embora o país estivesse em pandarecos?
__ Nunca superaremos essa fase de um povo sem projeto, sem uma utopia nacional, pela qual valha a pena viver e até morrer, senão resistir, para defender essa utopia? Falo de uma utopia nacional, e não na de grupos fechados, de cunho patrimonialista, gestadas por elites econômicas, políticas e sindicais, de olho apenas no curto prazo e no segredo do cofre da nação. Vivemos e morremos, inclusive de doenças curáveis, pelas utopias dos outros, de facções, nunca por uma utopia que nos congregue como uma nação, simplesmente porque nenhuma nas duas ainda existe, nem uma utopia digna de uma nação nem o vice-versa, e a que existe, depois de outras seis, a Constituição de 1988, está com seu prazo de validade para lá de vencido...
__ É hora de construir outra utopia nacional, de zerar o país, mas não por meio de uma eleição presidencial a nos arrastar em um caudal de mentiras, calúnias e promessas irrealizáveis, com foram as eleições passadas, e Dilma só não é acusada e processada por crime de responsabilidade em virtude dessa campanha, porque a nação perdeu a sua bússola ética e moral, e precisa achá-la antes que não se ache mais nos mares revoltos de nosso momento histórico, mas antes de uma Assembleia Nacional Constituinte, que elabore uma outra utopia minimamente crível, que nos dê um norte e nos mantenha pelo menos navegando.

MAS QUE SONO!

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__ Vários analistas brasileiros, alguns dos quais reputados como pessoas ilustradas e inteligentes, que, inclusive, não são petistas, estão a repercutir, preocupados, as críticas vindas de alguns órgãos da imprensa estrangeira, especializada em ser estrangeira, sobre a ausência de mulheres, negros e outras minorias. Isso fede ao antigo modismo brasileiro de parecer politicamente correto ou não dar azo aos falatórios da vizinhança, mesmo sabendo que a vizinhança, e não falo apenas de alguns países da Amércia Latina, está longe de ser um modelo de seriedade institucional e até psiquiátrica, entenda-se aqui Venezuela, de onde vem a mais forte reação. Pobre gente!
__ A primeira questão é: o fato de o Governo Dilma estar lotado de mulheres, negros e outras minorias, impediu que este se tornasser o maior valhacouto de bandidos da República Brasileira? Como fica aquela conversa tão repetida nas eleições, quase como verdade de fé ou um dogma brasileiro, de que mulher sabe administrar melhor, mulher é mais honesta, blá, blá, blá? Isso é uma discriminação grosseira às avessas, ainda mais porque nós somos não o que nosso sexo, gênero ou coisa que o valha, além dos estereótipos sociais, culturais, nos impõem, mas antes frutos de uma escolha fundamental feita em um meio condicionante e estruturante, mas também pelo indivíduo condicionado e estruturado, que em um dado momento de sua vida, que só ele pode aquilatrar, faz a escolha que dirá que ele de fato é, que tipo de moral ou de escolhas ele fará ao longo de sua vida. A esse respeito reproduzo uma frase de ouro, feita por um homem de vida controvertida, mas inegavelmente muito inteligente e brilhante, o costureiro Clodovil Hernades, que disse: “EU NÃO ME ORGULHO DE SER HOMOSSEXUAL, ISSO FOI UMA ESCOLHA MINHA, EU ME ORGULHO DE SER QUEM EU SOU”, o que, inclusive o possibilitou de fazer a escolha que fez... Sábias, sábias, sábias palavras.
__ Precisamos parar de nos orientar pelo que outros, que não conhecem as especificidades de nossa cultura nem o nosso momento histórico, acham que seria o melhor para nós. Nesse item, por sinal, esquerda e direita dão um show de hipocrisia. Quando os manda-chuvas do FMI, que é um órgão da ONU, mandavam os brasileiros fazerem reformas liberalizantes na economia, abertura de mercado, etc. todos, em especial a esquerda, esganiçaram a defesa da soberania nacional, mas quando a UNESCO, que é órgão da ONU, começou a recomendar a inclusão de crianças especiais, prometendo inclusive financiamentos do Banco Mundial, os nossos políticos, em especial os da esquerda, acorreram supersônicos para lotar salas de aulas, já lotadas, de crianças especiais, que precisam de um tipo de assistência que as escolas públicas ainda não estavam, nem estão, preparadas para dar. Ninguém se importou, abalou ou fez qualquer manifestação mais contundente, afinal são só crianças! Bem diferente dos russos que, considerando as características de sua cultura, que são diferentes das do Brasil e do Ocidente em geral, recusaram-se, publicamente, a dar à questão ho homossexualismo o mesmo tratamento que é dado no Ocidente. É uma questão cultural, própria da evolução daquela sociedade, que, reitero, é diferente da nossa e da ocidental, e que não pode, por esta, ser obrigada e subvertê-la, para parecer politicamente correta, como nós as vezes nós fazemos, quando a questão envolve dinheiro.
__ Por fim ninguém pode ignorar que o PT aparelhou profundamente o Estado Brasileiro de sorte que, ao longo desses meses, e enquanto durar essa longa crise que o STF nos presenteou, ele fez e fará uso intensivo de todo o aparato a seu dispor para jogar seus aliados, dentro e fora do Brasil, contra o governo provisório, legítimo e legal que se abre. Ademais, se o povo não é “boçal”, como disse, em uma tirada muito infeliz, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, então porque os seus representantes legítimos e legais, deputado e senadores, por esmagadora maioria, não podem costurar uma saída provisória e emergencial para a hecatombe gerada por aqueles que subiram à rampa do Palácio nos braços desse mesmo povo, e que agora se encaminham, por suas próprias decisões, para as ladeiras da história?
__ O ritmo deve ser o nosso, a forma e o conteúdo devem ser os nossos, como nossos serão o prêmio e as desgraças que advirão se falharmos nessa tentativa. Que se danem eles! Vamos em frente!   

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