JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO - 1
Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)
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Qual é,
ou foi, o professor de escola pública que não tem, ou teve, um zeloso diretor,
coordenador, supervisor, etc., nos seus calcanhares a dizer-lhe que ele precisa
dar mais aulas, para não falar de uma que ameaçou-nos com a lei, caso não
estivéssemos dando aula até o ultimo minuto do tempo de aula, além da proibição
de ir ao banheiro, exceto na 2ª e na 5ª aula, etc.
Como sinal
do mais esculachado e ultrapassado behaviorismo, a ideia de “saturação”, de “vencer
pelo cansaço”, domina as mentes brasileiras quando é hora de tratar da
educação, e disso não escapam nem os leigos, como os da revista VEJA, que deram
uma notícia inverídica, na página 87, do nº 2.431, de 24 de junho de 2015, afirmando
que, como prova da superioridade finlandesa, nesse país os alunos têm 901 horas
de aula/ano contra 800 no Brasil. Estaria, por conseguinte, provado o senso
comum do quanto mais melhor, do “vamos empurrar mais matéria, que um dia eles
aprendem: por bem ou por mal”.
A
primeira coisa a considerar é: os finlandeses não têm, nem cogitam ter, esse
triturador de carne e ossos, que são as escolas de tempo integral – uma “solução” mais
para a ineficiência do estado em combater o crime e a desagregação social, do
que uma resposta psicopedagógica aos nossos problemas de educação, tanto é que
na implantação destas, aqui em São Paulo, ninguém está discutindo pedagogia ou
psicologia, mas apenas questões burocrático-administrativas: onde incidirá o
aumento dos professores? Como serão preenchidos os tempos livres? Como será a
formação do professor? etc., pois o aluno é só um detalhe.
A segunda
coisa, é que as cem horas a mais dos finlandeses, divididos pelos 200 dias
letivos brasileiros, não dá mais que meia hora por dia. Muito pouco para fazer tanta
diferença! Sem falar de um pequeno detalhe: os garotos finlandeses, de todas as
séries, têm uma aula de 45 minutos, com um intervalo de 15 minutos, antes da
aula seguinte, perfazendo um total de recreio de 75 minutos por dia, contra
apenas 20, concentrado, aqui no Brasil. Um professor americano, Tim Walker, dando
aulas na Finlândia, reconhece, maravilhado, que “as paradas frequentes, deixam
os estudantes frescos durante o dia todo [do expediente escolar]”. Ele também
conta do entusiasmo com que os alunos acorrem às salas de aula, quando acaba o
intervalo e “o mais importante: eles ficam mais focados durante as lições” (http://www.theatlantic.com/education/archive/2014/06/how-finland-keeps-kids-focused/373544/).
Qual
é o professor, no Brasil, que não percebe o desalento, a queda de produtividade
dos alunos, após o recreio, principalmente naquelas escolas, onde o lanche do
recreio se torna, por vezes, a única refeição farta do dia. A escola pública no
Brasil não foi feita para educar, formar cidadãos, e outros apensos, tão pomposos
quanto inverídicos, mas como uma válvula de escape dos problemas sociais e até
das mazelas de nossas administrações públicas, um depósito de crianças. E os
professores finlandeses, o que fazem nesse período? Metade vai para a sala dos
professores, se socializar, e a outra metade fica no pátio de olho nos meninos,
revezando-se.
Qual é
o sentido disso? Não é o oposto ao que se pretende: criar uma pessoa disciplinada
o bastante para suportar horas de trabalho contínuo numa empresa, quando
adulto? Essa é a grande diferença, não percebida por um sistema que decidiu
ignorar a quem pretende transformar: a criança! Criança e jovem, não são adultos,
nem um adulto aprende, de uma hora para a outra, a ocupar, com eficiência, um
cargo ou função que nunca desempenhou antes! Será que a inúmeras fugas para o
cafezinho e para o banheiro, nas repartições e empresas, não são um sintoma de
que, mesmo o horário de trabalho dos adultos, precisa ser mais flexibilizado
para uma produtividade maior? As empresas de alta tecnologia já fazem isso!
Todo ser
humano, principalmente crianças e jovens, precisa se socializar, precisa
interagir com o(s) outro(s). O grupo bem normatizado, orientado por professores
que conheçam dinâmica de grupo e a boa psicologia do desenvolvimento, e não
preconceitos alimentados pelo senso comum, protege, acolhe, motiva e cura os
seus membros, e é justamente o que não ocorre nas infindáveis aulas expositivas,
a que nossas autoridades educacionais se apegam tanto. O grande Piaget
sintetizou como ninguém essa verdade, que os finlandeses exercitam desde os
anos 1960: “o melhor brinquedo para uma criança é outra criança, de preferência
do mesmo nível mental”.
Depois
de tudo isso será que nós ainda temos o direito de nos admirar quando sabemos
de crianças e jovens chutando, queimando, espancando com cadeira, etc., a
professores e até diretoras!! Ou ainda, professores que espancam alunos,
torturam-nos psiquicamente, e os agridem fisicamente, quando não os perdem por
aí, na tentativa de superar o baixo nível de produtividade no nosso sistema
educacional!!
Estamos
combatendo fogo com mais fogo. Talvez não sobre nada, além das cinzas!
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