quarta-feira, 8 de julho de 2015

JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO  DA NOSSA EDUCAÇÃO - 1

Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)

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         Qual é, ou foi, o professor de escola pública que não tem, ou teve, um zeloso diretor, coordenador, supervisor, etc., nos seus calcanhares a dizer-lhe que ele precisa dar mais aulas, para não falar de uma que ameaçou-nos com a lei, caso não estivéssemos dando aula até o ultimo minuto do tempo de aula, além da proibição de ir ao banheiro, exceto na 2ª e na 5ª aula, etc.
         Como sinal do mais esculachado e ultrapassado behaviorismo, a ideia de “saturação”, de “vencer pelo cansaço”, domina as mentes brasileiras quando é hora de tratar da educação, e disso não escapam nem os leigos, como os da revista VEJA, que deram uma notícia inverídica, na página 87, do nº 2.431, de 24 de junho de 2015, afirmando que, como prova da superioridade finlandesa, nesse país os alunos têm 901 horas de aula/ano contra 800 no Brasil. Estaria, por conseguinte, provado o senso comum do quanto mais melhor, do “vamos empurrar mais matéria, que um dia eles aprendem: por bem ou por mal”.
         A primeira coisa a considerar é: os finlandeses não têm, nem cogitam ter, esse triturador de carne e ossos, que são as escolas de tempo integral – uma “solução” mais para a ineficiência do estado em combater o crime e a desagregação social, do que uma resposta psicopedagógica aos nossos problemas de educação, tanto é que na implantação destas, aqui em São Paulo, ninguém está discutindo pedagogia ou psicologia, mas apenas questões burocrático-administrativas: onde incidirá o aumento dos professores? Como serão preenchidos os tempos livres? Como será a formação do professor? etc., pois o aluno é só um detalhe.
         A segunda coisa, é que as cem horas a mais dos finlandeses, divididos pelos 200 dias letivos brasileiros, não dá mais que meia hora por dia. Muito pouco para fazer tanta diferença! Sem falar de um pequeno detalhe: os garotos finlandeses, de todas as séries, têm uma aula de 45 minutos, com um intervalo de 15 minutos, antes da aula seguinte, perfazendo um total de recreio de 75 minutos por dia, contra apenas 20, concentrado, aqui no Brasil. Um professor americano, Tim Walker, dando aulas na Finlândia, reconhece, maravilhado, que “as paradas frequentes, deixam os estudantes frescos durante o dia todo [do expediente escolar]”. Ele também conta do entusiasmo com que os alunos acorrem às salas de aula, quando acaba o intervalo e “o mais importante: eles ficam mais focados durante as lições” (http://www.theatlantic.com/education/archive/2014/06/how-finland-keeps-kids-focused/373544/).
         Qual é o professor, no Brasil, que não percebe o desalento, a queda de produtividade dos alunos, após o recreio, principalmente naquelas escolas, onde o lanche do recreio se torna, por vezes, a única refeição farta do dia. A escola pública no Brasil não foi feita para educar, formar cidadãos, e outros apensos, tão pomposos quanto inverídicos, mas como uma válvula de escape dos problemas sociais e até das mazelas de nossas administrações públicas, um depósito de crianças. E os professores finlandeses, o que fazem nesse período? Metade vai para a sala dos professores, se socializar, e a outra metade fica no pátio de olho nos meninos, revezando-se.
         Qual é o sentido disso? Não é o oposto ao que se pretende: criar uma pessoa disciplinada o bastante para suportar horas de trabalho contínuo numa empresa, quando adulto? Essa é a grande diferença, não percebida por um sistema que decidiu ignorar a quem pretende transformar: a criança! Criança e jovem, não são adultos, nem um adulto aprende, de uma hora para a outra, a ocupar, com eficiência, um cargo ou função que nunca desempenhou antes! Será que a inúmeras fugas para o cafezinho e para o banheiro, nas repartições e empresas, não são um sintoma de que, mesmo o horário de trabalho dos adultos, precisa ser mais flexibilizado para uma produtividade maior? As empresas de alta tecnologia já fazem isso!
         Todo ser humano, principalmente crianças e jovens, precisa se socializar, precisa interagir com o(s) outro(s). O grupo bem normatizado, orientado por professores que conheçam dinâmica de grupo e a boa psicologia do desenvolvimento, e não preconceitos alimentados pelo senso comum, protege, acolhe, motiva e cura os seus membros, e é justamente o que não ocorre nas infindáveis aulas expositivas, a que nossas autoridades educacionais se apegam tanto. O grande Piaget sintetizou como ninguém essa verdade, que os finlandeses exercitam desde os anos 1960: “o melhor brinquedo para uma criança é outra criança, de preferência do mesmo nível mental”.
         Depois de tudo isso será que nós ainda temos o direito de nos admirar quando sabemos de crianças e jovens chutando, queimando, espancando com cadeira, etc., a professores e até diretoras!! Ou ainda, professores que espancam alunos, torturam-nos psiquicamente, e os agridem fisicamente, quando não os perdem por aí, na tentativa de superar o baixo nível de produtividade no nosso sistema educacional!!
         Estamos combatendo fogo com mais fogo. Talvez não sobre nada, além das cinzas!
        
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