sábado, 11 de julho de 2015

JUSTO O CONTRÁRIO! OU DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO - 4

Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)

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         Professores e alunos finlandeses num intercâmbio no Canadá.

         O esvaziamento da profissão e da função de professor, no Brasil, iniciou-se com a Oligarquia Militar (1964-1985), justamente quando houve uma “explosão” educacional, com o crescimento exponencial do número de vagas nas escolas. Entretanto, foi justo nesse período que houve uma brutal retração no salário do professor, por meio de arrocho, artificialmente imposto pela oligarquia, a ponto de, no início dos anos 80, o analista Joelmir Beting, comentando a perda de 75% no poder de compra do salário do professor comentar: “é uma classe em extinção”.
         Como os militares, conseguiram algo que ia contra a lógica do mercado, que eles diziam defender, contra o intervencionismo “comunista”? Simples, através de grandes campanhas voluntárias – lembram-se do MOBRAL, que prometia erradicar o analfabetismo até fins da década de 80? – com a criação dos chamados “professores leigos”, que inundou as escolas, principalmente no interior de analfabetos e espertalhões, dando aulas por uma fração do salário mínimo. Nessas condições como lutar por aumento salarial?
         Certa vez, num encontro em Sobral, a segunda ou terceira maior cidade do Ceará e polo universitário, um político local informou-nos que, na periferia da cidade, havia gente com o 1º Grau incompleto, dando aulas no segundo Grau! Eu não tenho nenhuma dúvida em dizer que foi a partir desse esculacho, patrocinado pelos militares, que o povo simples e pobre do Brasil, que antes fazia todo tipo de sacrifício para ter seu filho na escola, e já ensinava em casa o respeito ao professor, perdeu a consideração tanto pela escola com pelo professor, sem falar dos novos ricos, e da eterna classe média remediada, sem remédio para suas descabidas pretensões elitistas. No Brasil dos militares, todo mundo era médico, louco ou professor.
         A chegada da democracia civil foi, para os professores, um alento de esperança, principalmente com as medidas moralizadoras quanto à formação dos professores. Mas os civis logo assumiram a bandeira dos militares de que, na educação, quanto mais barato melhor, sem falar de medidas compensatórias, via legislação, sem consideração pela realidade, em prol da juventude, que colocou as relações aluno-professor, de nosso jovem e frágil sistema educacional, de pernas para o ar. Com os civis, loucos para participar da festança capitalista, a ênfase deixou de ser a relação aluno-professor, para ser a gestão, cercada de termos pomposos, supostamente científicos. “Não existe escola ruim, dizem eles, existe escola mal administrada”; outra baboseira americana, imposta de cima para baixo, como no tempo da Oligarquia Militar, que, jogada numa realidade marcada pelo paternalismo e o autoritarismo, transformou as supostas “equipes gestoras” na versão moderna da feitoria escravagista.
Era o início de mais uma revolução educacional no Brasil com duas características básicas: professor e aluno não contam, ou quando muito são apenas “insumos” ou “clientes”, com um prazo de validade de apenas quatro anos, o tempo que transcorre de uma eleição para outra, antes que o partido adversário, ou o novo secretário/ministro, decrete outra “revolução”.
Bem diferente aconteceu na Finlândia, um país que, até os anos 1960, era pobre, para os padrões europeus, e com graves problemas educacionais, mas que resolveu congregar forças, convocar as maiores autoridades educacionais do país – ao invés de nós que perseguimos, exilamos e matamos nossos maiores educadores (Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima) e entregamos a nossa reforma a magos dos números e profetas do capitalismo, como Jarbas Passarinho e Arnaldo Niskier – com duas grandes verdades em mente: o professor é o principal esteio do sistema e nenhuma mudança ocorrerá senão a longo prazo.
E começaram. Enquanto nós apostávamos todas as fichas nos “professores leigos”, os finlandeses conduziam os seus às universidades, aos mestrados e doutorados, em cursos intimamente articulados com a realidade de seu país. O professor não é o mais bem pago profissional da Finlândia, mas tem um salário que lhe garante um confortável lugar na classe média de um país, com uma renda per capita quatro vezes maior que a nossa, sem falar de um respeito, derivado da grandeza de sua função, e não de sua renda, que nós nem sonhamos por aqui.
Por isso eles colhem agora, quarenta anos depois, os frutos saborosos de suas sábias decisões, e do tempo que deram para a maturação de propostas educacionais, que não se propunham revolucionárias, mas que queriam apenas dar escola de qualidade para todos os cidadãos. Enquanto nós seguimos levando trancos a cada quatro anos ou um pouco mais, quando troca o secretário/ministro de educação ou o grupo no poder. É verdade que os finlandeses também preveem possibilidades de mudanças e aperfeiçoamentos a cada dez anos, mas dentro de um padrão já claro e definido, sem falar que, eu desconfio, que eles debatem educação pensando no seu país e não nos interesses de grupos minoritários.


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