JUSTO O CONTRÁRIO! OU DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO - 4
Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)
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Professores e alunos finlandeses num intercâmbio no Canadá.
O
esvaziamento da profissão e da função de professor, no Brasil, iniciou-se com a
Oligarquia Militar (1964-1985), justamente quando houve uma “explosão”
educacional, com o crescimento exponencial do número de vagas nas escolas.
Entretanto, foi justo nesse período que houve uma brutal retração no salário do
professor, por meio de arrocho, artificialmente imposto pela oligarquia, a
ponto de, no início dos anos 80, o analista Joelmir Beting, comentando a perda
de 75% no poder de compra do salário do professor comentar: “é uma classe em
extinção”.
Como os
militares, conseguiram algo que ia contra a lógica do mercado, que eles diziam
defender, contra o intervencionismo “comunista”? Simples, através de grandes
campanhas voluntárias – lembram-se do MOBRAL, que prometia erradicar o
analfabetismo até fins da década de 80? – com a criação dos chamados “professores
leigos”, que inundou as escolas, principalmente no interior de analfabetos e
espertalhões, dando aulas por uma fração do salário mínimo. Nessas condições
como lutar por aumento salarial?
Certa
vez, num encontro em Sobral, a segunda ou terceira maior cidade do Ceará e polo
universitário, um político local informou-nos que, na periferia da cidade,
havia gente com o 1º Grau incompleto, dando aulas no segundo Grau! Eu não tenho
nenhuma dúvida em dizer que foi a partir desse esculacho, patrocinado pelos
militares, que o povo simples e pobre do Brasil, que antes fazia todo tipo de
sacrifício para ter seu filho na escola, e já ensinava em casa o respeito ao
professor, perdeu a consideração tanto pela escola com pelo professor, sem
falar dos novos ricos, e da eterna classe média remediada, sem remédio para
suas descabidas pretensões elitistas. No Brasil dos militares, todo mundo era
médico, louco ou professor.
A
chegada da democracia civil foi, para os professores, um alento de esperança, principalmente
com as medidas moralizadoras quanto à formação dos professores. Mas os civis
logo assumiram a bandeira dos militares de que, na educação, quanto mais barato
melhor, sem falar de medidas compensatórias, via legislação, sem consideração
pela realidade, em prol da juventude, que colocou as relações aluno-professor,
de nosso jovem e frágil sistema educacional, de pernas para o ar. Com os civis,
loucos para participar da festança capitalista, a ênfase deixou de ser a
relação aluno-professor, para ser a gestão, cercada de termos pomposos,
supostamente científicos. “Não existe escola ruim, dizem eles, existe escola
mal administrada”; outra baboseira americana, imposta de cima para baixo, como
no tempo da Oligarquia Militar, que, jogada numa realidade marcada pelo
paternalismo e o autoritarismo, transformou as supostas “equipes gestoras” na
versão moderna da feitoria escravagista.
Era o início de mais uma revolução educacional no
Brasil com duas características básicas: professor e aluno não contam, ou
quando muito são apenas “insumos” ou “clientes”, com um prazo de validade de
apenas quatro anos, o tempo que transcorre de uma eleição para outra, antes que
o partido adversário, ou o novo secretário/ministro, decrete outra “revolução”.
Bem diferente aconteceu na Finlândia, um país que, até
os anos 1960, era pobre, para os padrões europeus, e com graves problemas
educacionais, mas que resolveu congregar forças, convocar as maiores
autoridades educacionais do país – ao invés de nós que perseguimos, exilamos e
matamos nossos maiores educadores (Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Paulo
Freire, Lauro de Oliveira Lima) e entregamos a nossa reforma a magos dos
números e profetas do capitalismo, como Jarbas Passarinho e Arnaldo Niskier – com
duas grandes verdades em mente: o professor é o principal esteio do sistema e
nenhuma mudança ocorrerá senão a longo prazo.
E começaram. Enquanto nós apostávamos todas as
fichas nos “professores leigos”, os finlandeses conduziam os seus às
universidades, aos mestrados e doutorados, em cursos intimamente articulados
com a realidade de seu país. O professor não é o mais bem pago profissional da
Finlândia, mas tem um salário que lhe garante um confortável lugar na classe
média de um país, com uma renda per capita quatro vezes maior que a nossa, sem
falar de um respeito, derivado da grandeza de sua função, e não de sua renda,
que nós nem sonhamos por aqui.
Por isso eles colhem agora, quarenta anos depois,
os frutos saborosos de suas sábias decisões, e do tempo que deram para a
maturação de propostas educacionais, que não se propunham revolucionárias, mas
que queriam apenas dar escola de qualidade para todos os cidadãos. Enquanto nós
seguimos levando trancos a cada quatro anos ou um pouco mais, quando troca o
secretário/ministro de educação ou o grupo no poder. É verdade que os
finlandeses também preveem possibilidades de mudanças e aperfeiçoamentos a cada
dez anos, mas dentro de um padrão já claro e definido, sem falar que, eu
desconfio, que eles debatem educação pensando no seu país e não nos interesses
de grupos minoritários.
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