JUSTO O
CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO - 5
Prof Eduardo
Simões
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g1.globo.com
Quem, como professor de escola pública
em São Paulo, nunca assistiu a uma reunião onde um diretor ou burocrata não
começasse dizendo: “sem alunos não há escola!”, como uma forma de dizer: “sosseguem,
pois vocês valem bem menos do que imaginam!”, pois isso geralmente é dito após
os professores se queixarem da falta de interesse e/ou de respeito pelos
alunos, ou então com a possibilidade de reter alguns deles por completa
incompetência intelectual ou emocional.
É
verdade que sem aluno não há escola, mas e sem professor, ou sem gestão, ou sem
secretaria, ou sem faxineiras e inspetores de pátio, há? Um prédio escolar pode
passar vários dias só com os professores, mas quantos dias ele aguenta só com
crianças e adolescentes? Na verdade nenhum, nem sequer será permitido fazer tal
experimento. Tão certo é o desastre que existe uma lei punindo “abandono de
incapaz”, uma lei perfeitamente lógica e natural, uma vez que no mundo real
incapacidade é obstáculo à sobrevivência, é risco, ao grupo e ao indivíduo, mas,
na escola paulista, pelo visto, é privilégio.
No
portal g1.globo.com tem um testemunho interessante da baiana Luciana Pölönen,
casada com um finlandês, e que é professora de educação básica na Finlândia. As
primeiras palavras dela são: “eu me sinto como uma rainha... Ser professor na Finlândia
é ser respeitado diariamente”. Em seguida o segredo do sucesso: “Aqui na
Finlândia o sistema é outro, o professor é o pilar da sociedade”.
Luciana dá aulas de português numa
escola perto de Helsinque, para atender aos filhos de imigrantes luso-brasileiros,
pois toda criança bilíngue “tem o direito de assistir ao ensino de uma língua
estrangeira. Ou seja, todos os filhos de brasileiros têm o direito ao ensino de
português como língua mãe”. Quem já lecionou a alunos estrangeiros em escolas
daqui sabe o quanto é diferente!
Ela trabalha de forma provisória em
duas escolas, ganhando uns 6.500 reais/mês, afinal ela ainda não terminou o
mestrado, o que também acarreta uma redução de 15% do seu salário – quase mil
reais! Além de umas tarefas extras (isso não muda!). Mas não é só! "Tenho total
liberdade para avaliar meu aluno, tenho a lista de coisas de que ele tem de
aprender até o fim do ano, mas como vou fazer fica a meu critério. Não preciso
aplicar prova a toda hora, nem justificar nada para o coordenador",
afirma. "Temos cursos de aperfeiçoamento sem custo, descontos em vários
lugares com o cartão de professor, seguro viagem, entre outros”.
Todos se comprometem com a escola e com
alguns valores básicos: “Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade
vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário
mentir. Um professor quando adoece pode se ausentar até três dias”. Entre
esses valores ela destaca o respeito, inclusive, à etnia do outro: “Luciana diz
que, diferente do Brasil, nunca sentiu preconceito na Finlândia por ser negra
ou estrangeira. "Aqui as pessoas não parecem notar a cor de pele do outro
contanto que exista respeito mútuo."” Essa é a consequência de
morar em um país que não participou do grande comércio escravagista no início
do capitalismo.
Casos de bullying e violência escolar
são raros "Foram cinco casos de violência no ano, mas para eles é um
absurdo, não deveria acontecer. Eles sempre têm um plano para cada tipo de
aluno, não é uma única forma para a classe inteira”, ou para a escola
inteira, como acontece aqui, com muita conversa e pouco resultado.
Porém, segundo Luciana, há uma coisa lá
que é muito difícil de “engolir”. O professor é proibido, por lei, de tocar em
um aluno, sequer para abraçar (no caso de agressão, ou punição, estou de pleno
acordo)! Eu até entendo que uma sociedade onde as pessoas se comportem de forma
muito honesta e franca não haja a
necessidade de abraçar tanto, como que para acalmar a justa ira que, imaginamos, o outro possa ter contra nós, mas transformar isso em lei é um exagero, o
que de alguma forma demonstra a desconfiança das autoridades, de lá, que o
povo finlandês não conseguirá se controlar, e, naturalmente, não abusará de falsas e
espalhafatosas demonstrações de afeto, como se vê em outras culturas.
Para Luciana a receita do sucesso da
escola finlandesa está na “simplicidade”. Segundo Jaana Palojärvi, diretora do
Ministério da Educação e Cultura (aqui nós temos um ministério para cada um
desses temas e nenhum funciona: nem a educação nem a cultura), “o segredo do
sucesso do sistema finlandês de ensino não tem nada a ver com métodos
pedagógicos revolucionários [um bom método, apenas, não resolverá, tampouco um
método maravilhoso resolverá, se os professores não tiverem interesse ou
competência técnica para aplica-lo] uso da tecnologia em sala de aula ou avaliações
nacionais. O lema é treinar o professor e dar liberdade para ele trabalhar”.
Isso parece um sonho!
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